sexta-feira, 28 de agosto de 2015

O MEU TÁXI E EU


            Nestes meus sofridos 79 anos de idade, em Barbosa Ferraz, querida cidadezinha do interior paranaense onde residi por trinta anos, três carros passaram pelas minhas mãos de motorista bisonho e desastrado: um fusquinha 63 vermelho, depois trocado por uma Brasília também vermelha, pois a família era grande e o fusquinha não dava conta do recado. Não sei o destino da Brasília, só sei que eu não mais a possuía e, precisando de outro carro, adquiri um Uno, novinho em folha, e ele serviu bem à família, até que meu falecido filho Júlio o destruiu, numa batida que não deu para aproveitar nem os restos mortais do veículo.
            Não sei por que cargas d´agua, mas noites atrás sonhei que era motorista, mais propriamente motorista de praça, Pois é, sonhei que era motorista e estava para sair com meu táxi. Eu o chamo de meu porque o comprei e paguei, e muito mais pelo amor que tenho a ele, pois é quem dá o pão de cada dia a mim e à minha família.E saibam que é um pão muito sofrido e suado!
            Pois é, foi um sonho, dentre muitos que costumo ter e anotar para a posteridade. Sonhei que ia sair com o meu táxi, pois preciso, antes de tudo, ganhar e reservar um dinheirinho para pagar o seu financiamento junto à Caixa. Além do combustível, pneus e manutenção, e só depois é que poderei cuidar do feijão e do arroz do dia-a-dia de minha família.
            Antes de sair com ele, costumo sempre fazer uma prece ao santo de minha devoção, São Cristóvão, para que eu não perca a cabeça e não faça a loucura de sair por aí em disparada, arriscando-me a morrer e a matar...
            Por mais cansado que eu esteja, com os nervos rebentando, que meu santo me ajude ainda a ser delicado com os eventuais passageiros, mesmo que receba grosserias deles... em lugar de uma bem merecida gorjeta!...
           Que São Cristóvão livre a mim, e aos meus companheiros, de assaltos de malfeitores que além de levarem nossa féria, rebentam nosso carro quando nos deixam com vida...
            Que eu dirija com atenção e ainda me defenda dos que não sabem dirigir, principalmente se forem mulheres... Que eu jamais atropele ninguém, nem mesmo animaizinhos, como cachorros vadios, terror de muitos motoristas por aí...
            Que eu tenha o maior cuidado com idosos e com crianças à saída da escola. Mas, Senhor, livra-me de muito pedestre  que tem a imprudência de atravessar ruas movimentadas sem prestar a mínima atenção ao tráfego de veículos. A cidade, para o meu gosto, está cada vez mais ficando quase impossível de guiar.
            Há momentos em que o tráfego fica de tal modo engarrafado, que só pedindo de novo paciência ao meu São Cristóvão prá não perder a calma e não fazer alguma besteira...
            Mas o que eu te peço mesmo, meu santo, é que dirigindo meu carro, eu aprenda a dirigir minha vida, com segurança interior, com calma, sem atropelos... 
            Será que eu vou conseguir ir para o Céu, de táxi?
            Li na minha Bíblia que Você, meu Jesuzinho, andava montado num jumentinho pelas estradas da Galiléia... Então, se por acaso eu Te encontrar na estrada, eu Te peço de joelhos: aceita a minha carona. Está claro que para Você é de graça, e me sentirei muito bem pago por todas as canseiras da vida.
            Aliás, estou me lembrando agora que Você anda sempre no meu velho táxi  -  pois o padre da minha igreja me disse que Você está vivo no meu próximo, em cada cliente que eu atendo:
           É só abrir os olhos e Te descobrir em cada  meu freguês!

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