tag:blogger.com,1999:blog-37916748139772604582024-03-08T02:18:37.693-08:00Blog do MestreProf. Aroldo Teixeira de AlmeidaAroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.comBlogger567125tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-11888766172789724772019-02-07T11:27:00.000-08:002019-03-07T05:59:52.181-08:00SAUDADES DA RAQUEL<br />
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<br />
<br />Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-20956346608569780432018-11-21T12:03:00.000-08:002019-02-13T12:20:00.143-08:00O SILÊNCIO DE DEUSAroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-16552173573477122122018-04-02T13:46:00.000-07:002018-11-21T12:03:14.882-08:00A PÁSCOA ESPIRITUAL<br />
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<div style="text-align: justify;">
A Páscoa, que acabamos de celebrar, é a causa da salvação de todo o gênero humano, a começar pelo primeiro ser humano, que é salvo e vivificado em cada um de nós.</div>
<div style="text-align: justify;">
Mas a salvação foi preparada por diversas instituições, imperfeitas e provisórias, que eram símbolos e imagens das coisas perfeitas e eternas, para anunciarem em esboço a realidade que surge atualmente à plena luz da verdade. Contudo, uma vez que essa verdadeira realidade se tornou presente, a figura deixa de ter sentido. Quando chega o rei, ninguém, deixando de lado a pessoa própria do rei.</div>
<div style="text-align: justify;">
Assim se vê claramente em que medida a figura é inferior à realidade verdadeira, pois a figura representa a vida breve dos primogênitos dos judeus, ao passo que a realidade celebra a vida eterna de todos os seres humanos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não é grande coisa alguém livrar-se da morte por algum tempo, se pouco depois terá de morrer. O que é admirável é evitar a morte de uma vez para sempre, como aconteceu conosco por meio de Cristo, que foi imolado como nosso cordeiro pascal.</div>
<div style="text-align: justify;">
O próprio nome da festa, se compreendermos o seu verdadeiro significado, nos sugere a sua peculiar excelência. Páscoa, com efeito, significa "<i>passagem"</i> , pois o anjo exterminador, que feria de morte os primogênitos dos egípcios, passava adiante, sem entrar nas casas dos hebreus. Todavia, em relação a nós, a passagem do exterminador é um fato, porque passou realmente sem nos tocar, a nós que por Cristo ressuscitamos para a vida eterna.</div>
<div style="text-align: justify;">
E o que significa, em seu sentido místico, o fato de se determinar como início do ano, o tempo em que se celebrava a Páscoa e a salvação dos primogênitos? Significa que também para nós o sacrifício da verdadeira Páscoa constitui o início da vida eterna.</div>
<div style="text-align: justify;">
Na verdade, o ano é símbolo da eternidade. Sendo a sua órbita circular, o ano gira continuamente sobre ela sem nunca parar. Mas Cristo, pai do mundo novo, oferecendo-Se por nós em sacrifício, como que anulou a nossa existência anterior, proporcionando-nos, pelo batismo do novo nascimento, o começo de uma outra vida, à semelhança da Sua morte e ressurreição.</div>
<div style="text-align: justify;">
Por conseguinte, quem tiver consciência de que a Páscoa foi imolada em seu benefício, deve aceitar como início de sua vida o momento em que Cristo se imolou por ele. Ora, tal imolação atualiza-se em cada um de nós quando reconhecemos essa graça e compreendemos que a vida nos foi dada por esse sacrifício.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quem chegou a esse conhecimento, esforce-se por aceitar o começo da vida nova, sem pretender voltar à vida antiga que foi ultrapassada. De fato, "<i>se já morremos para o pecado,-</i> pergunta o apóstolo Paulo -<i> como vamos continuar vivendo nele?"</i> (Rm 6,2). </div>
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Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-69994210596870504042018-02-08T04:05:00.001-08:002018-02-15T05:23:11.353-08:00A FACE HUMANA DE DEUS<br />
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<div style="text-align: justify;">
Quem é Jesus de Nazaré, que acabamos de celebrar semanas atrás, nas festividades do Natal?</div>
<div style="text-align: justify;">
A Bíblia Sagrada nos afirma que Jesus de Nazaré é o Cristo de Deus, o Messias predito e esperado ansiosamente pelos profetas, com ênfase principalmente em Isaías, e que deveria vir ao mundo para trazer-lhe a salvação, conforme os desígnios de Deus.</div>
<div style="text-align: justify;">
Na Sua humanidade, Jesus de Nazaré, convém insistir, não é um<i> Deus-homem </i> neutro, impessoal e distante, mas é o Verbo de Deus ou o Filho encarnado e que, feito homem, Se relacionou sempre, de modo pessoal e constante, com o Seu Abbá/Pai, e eu acrescentaria a esse <i>Abbá/</i>Pai, pela ternura com que Jesus O apresenta, a característica materna, designando-O por <i>Abbá/Pai-Mãe</i>.</div>
<div style="text-align: justify;">
Celebrando a pessoa, a mensagem e os atos de Jesus na Sua vida pública nas estradas da Palestina, nós cristãos cultivamos aquilo que a Teologia chama de <i>cristocentrismo,</i> porque Cristo é o centro fundamental da obra de salvação querida por Deus, e que Jesus nos trouxe e testemunhou pela Sua morte e ressurreição.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não nos esqueçamos, porém, que o cristocentrismo, por sua própria natureza, é <i>teocêntrico</i>,</div>
<div style="text-align: justify;">
porque Jesus de Nazaré nos revela o mistério de Deus de modo único e incomparável. Assim, estudando a Cristologia, descobrimos que o cristocentrismo atinge as suas culminâncias, abrindo-nos caminho para o mistério do Deus/Trindade. Em Jesus Cristo, na Sua encarnação por obra do Espírito Santo, o Verbo de Deus entrou pessoalmente, na história humana, baixou até nós para fazer-nos participantes de Sua filiação divina. Por isso, confessamos, com certeza absoluta, que o acontecimento Jesus Cristo é a história humana de Deus.</div>
<div style="text-align: justify;">
Afirmamos que nessa história humana o Filho assumiu por nossa causa revelar-nos o segredo da intimidade divina: o Pai, que é fonte, a origem; o Filho, que vem eternamente do Pai e, através do Filho, o Pai nos envia eternamente o Espírito Santo. Mostrando-nos essas relações interpessoais, cerne da intimidade e da comunhão divina, o evento Jesus Cristo nos ensina que "Deus é Amor",</div>
<div style="text-align: justify;">
na memorável intuição do evangelista João, e que o amor que Deus é transborda abundantemente até a nossa humanidade.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em Jesus de Nazaré Deus Se revela um <i>"Deus diferente". </i>Não no sentido de que Ele é outro Deus, mas no sentido de que Ele é o Deus Único, e que nos falou e Se comunicou conosco pessoalmente, na pessoa de Seu Verbo feito carne, Jesus de Nazaré. Em consequência, Jesus é para nós, então, a <i>"face humana" </i>de Deus. Essa imagem de Deus impressa no rosto de Jesus constitui a realidade de um Deus que, livremente, por amor, quis, nos termos admiráveis do apóstolo Paulo, auto-esvaziar-Se em Sua própria auto-doação. Em Jesus, Deus Se tornou "o Deus-para-homem-e-mulher-de-modo-humano", como nos desvela o teólogo e pastor luterano Bonhoeffer, num texto inesquecível.</div>
<div style="text-align: justify;">
Livre em Sua auto-doação, o Deus de Jesus de Nazaré é também um Deus que nos liberta e nos resgata, transmitindo-nos, de forma humana, a liberdade gratuita com que Deus-Pai nos liberta para sermos filhos seus, conforme vários textos paulinos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em Jesus de Nazaré, nossa história humana se tornou também história de Deus. Para sempre e pessoalmente, Deus Se uniu com a humanidade, por um vínculo indissolúvel, e permanece comprometido conosco de maneira irrevogável, num diálogo de salvação e de dom de Si mesmo, pelo Seu Espírito Santo, que nos inspira e nos mostra o caminho do autêntico seguimento de Cristo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Todo este elenco de verdades sobrenaturais está implícito nas festividades do Natal de Jesus, que acabamos de celebrar semanas atrás em todas as igrejas do mundo inteiro.</div>
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<i>Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.</i></div>
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<i></i><br />Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-801181601657854992018-02-01T10:41:00.000-08:002018-02-01T11:25:46.048-08:00A FACE HUMANA DE DEUSAroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-21916083342964142652017-12-08T11:36:00.003-08:002019-01-17T11:28:55.460-08:00AOS MEUS FILHOS E NETOS<br />
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<div style="text-align: justify;">
"<i>Como um sopro se acabam os nossos anos. Pode durar setenta anos a nossa vida; os mais fortes talvez cheguem a oitenta."</i> (salmo 89).</div>
<div style="text-align: justify;">
Foi meditando nestas palavras do salmo 89, que rezo diariamente na "<i>Liturgia das Horas",</i> é </div>
<div style="text-align: justify;">
que me decidi a escrever-lhes esta carta, parafraseando, aliás, uma outra escrita pelo professor Afonso Antoniuk. Ele, com certeza, é também pai e avô, e por isso compreenderá o por quê eu me atrevi a imitá-lo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em janeiro entro no meu octogésimo terceiro ano, dentro, portanto, dos limites estabelecidos pelo salmista. Sendo assim, talvez muito em breve, ou talvez com maior demora, quando este velhote meio careca já não for o mesmo, peço-lhes a caridade de terem comigo um pouco mais de paciência e compreensão.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando eu derramar sopa ou café na roupa, ou esquecer de amarrar os cordões dos também velhos sapatos, lembrem-se das muitas vezes em que passei um bom tempo mostrando a vocês como amarrar os seus.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando amigos e vizinhos vierem conversar comigo e vocês me ouvirem repetir sempre as mesmas histórias de antigamente, e que vocês já sabem de cor e salteado como é que terminam, não me olhem com olhos gozadores, nem me interrompam. Lembrem-se de que, quando eram pequenos,</div>
<div style="text-align: justify;">
à beira de seus leitos eu lhes contava centenas de vezes a mesma história do Chapeuzinho vermelho e do lobo mau, até que o sono chegasse, e vocês conseguissem adormecer. Sem esquecer, é claro, que muitas vezes eu me atrevia até a cantarolar com voz desafinada ingênuas cantigas de ninar, quando o sono lhes custava a chegar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando me virem embasbacado e ignorante diante da parafernália eletrônica que hoje é café pequeno para vocês, tenham paciência e não me lastimem com sorrisos zombeteiros. Lembrem-se de que fui eu quem lhes ensinou as primeiras letras e a vencerem os obstáculos da vida, como agora vocês o fazem muito bem, manuseando com maestria teclados de computadores, engenhosos celulares ou cordas de guitarras elétricas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando eu for à igreja e demorar muito a sair de lá, atrapalhado entre os bancos ou porque me foi difícil encontrar a saída, sejam pacientes e saibam que dezenas de vezes me dirigi a esse lugar santo para pedir a Deus que nunca faltasse nada aos meus filhos e netos, nem alimentos, nem passeios, nem divertimentos sadios, nem tudo aquilo que pudesse dar-lhes alegria e torna-los contentes e felizes.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando me faltarem as pernas no caminhar, e nem a bengala conseguir manter-me em pé, </div>
<div style="text-align: justify;">
deem-me suas mãos para ajudar-me a trocar os passos, como eu fiz com vocês para ensiná-los mais depressa a andar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Se porventura eu molhar ou sujar as roupas íntimas por conta da incontinência própria da velhice, não me censurem, pois quantas vezes eu ajudei sua mãe ou avó a trocar as fraldas sujas ou molhadas de vocês...</div>
<div style="text-align: justify;">
Peço-lhes agora, e isto é muito importante para mim, perdão pelas minhas constantes ausências naqueles tempos já distantes em Barbosa Ferraz, vocês ainda crianças, ir e voltar do trabalho, manhã, tarde e noite, deixando-os dormindo de manhãzinha e encontrando-os adormecidos à noite, isto me fazia sofrer muito. Mas deveu-se à luta pela subsistência e para conseguir, com meu trabalho diuturno, proporcionar-lhes o melhor, o que nem sempre foi possível fazer, e aqui também lhes peço compreensão.</div>
<div style="text-align: justify;">
Quando me ouvirem dizer que estou cansado da vida e que me custa muito carregar nas costas oitenta e dois anos de idade, não fiquem zangados nem tristes, pois algum dia vocês entenderão que o que digo não contradiz o carinho e o amor que sempre tive por vocês.</div>
<div style="text-align: justify;">
Não fiquem chorosos ao me verem encurvado e trêmulo, muitas vezes perdendo o equilíbrio e desabando no chão, deem-me as mãos, ajudem-me a levantar e me amparem, como eu os acompanhei em suas caminhadas, e eu lhes devolverei gratidão e sorrisos pela atenção que tiverem comigo.</div>
<div style="text-align: justify;">
E se eu, em consequência da idade, começar a esquecer os seus próprios nomes e até a confundir uns com os outros, por caridade, nunca se esqueçam de mim!...</div>
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Seu pai, e seu avô, Aroldo.</div>
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Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-74286810297922513182017-11-18T13:09:00.000-08:002019-03-07T05:51:01.563-08:00<br />
<span style="background-color: cyan;"></span><br />
<i> Darcy minha irmã</i><br />
<i> quarenta e quatro anos</i><br />
<i> Raquel minha filha</i><br />
<i> quarenta e três anos</i><br />
<i> ambas meus dois amores</i><br />
<i><br /></i>
<i> morte e vida severina</i><br />
<i> </i><br />
<i> ambas na minha memória</i><br />
<i> Darcy</i><br />
<i> numa mesa de cirurgia plástica</i><br />
<i> procurando mais vida</i><br />
<i> na vida encontrou a morte</i><br />
<i> </i><br />
<i> morte e vida severina</i><br />
<i><br /></i>
<i> Raquel</i><br />
<i> num hospital a sofrer</i><br />
<i> lutava contra a morte</i><br />
<i> mas lutando contra a morte</i><br />
<i> na morte encontrou </i><br />
<i> a Vida eterna </i><br />
<i> </i><br />
<i> morte e vida severina</i><br />
<i><br /></i>
<i> Darcy e Raquel</i><br />
<i> ambas meus dois amores</i><br />
<i> descansem na Casa do Pai</i><br />
<i> do Pai de todos os pais</i><br />
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<span style="background-color: cyan;"></span><br />Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-44663670872977148702017-10-16T04:41:00.000-07:002019-01-17T11:34:21.126-08:00CUIDAR DE QUE OU DE QUEM?<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Eis aí uma questão que nos obriga a refletir: a Caridade nos convoca a estarmos sempre prontos a atender às necessidades de todos quantos nos rodeiam, sem distinção de classe, de cor, de religião. Como quer que seja, somos todos irmãos em Cristo, e responsáveis cada qual pelas necessidades e carências de cada um. Neste sentido, o desafio prático do cuidado com o outro consiste na determinação de seu objeto. Que valor, que pessoa, que causa, que bem, merece o esforço pessoal de nosso cuidado?</div>
<div style="text-align: justify;">
Por vezes a perspectiva da retribuição facilita a escolha, quer haja apenas reciprocidade ou até mesmo lucro. Muitos fenômenos de nossa vida de cada dia podem ser analisados do ponto de vista do cuidado: expressam escolhas de objetos privilegiados por e para nosso cuidado com o outro.</div>
<div style="text-align: justify;">
Como quer que seja, o preceito é amar o próximo como a si mesmo, onde e como ele estiver, e amar a Deus conjuntamente.</div>
<div style="text-align: justify;">
A humanidade, no fundo, não mudou muito depois do poeta latino da antiguidade romana, Ovídio, que estudei nos tempos de ginásio, e que em seus escritos dizia que "<i>a humanidade não mudou muito, porque o que conta sempre é o poder do dinheiro. Ele consegue honras, ele consegue amizades e, com isso, o pobre é sempre pisoteado."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>O crente piedoso reza sem saber como se entrosam o cuidado que cabe a nós e o cuidado para com o divino. A oração de pedido, muito exercida entre nossa gente, entende pressionar o cuidado divino num sentido que sempre nos pareça favorável, esquecendo-se de que o cuidado divino em resposta à nossa oração de pedido não toma obrigatoriamente a forma de milagre contrário às leis naturais quando atendido. </div>
<div style="text-align: justify;">
Diz-nos o catecismo que Deus age normalmente pelo jogo normal da natureza, de modo que o mesmo acontecimento pode, de um certo ponto de vista, explicar-se cientificamente e, de outro ponto de vista, ser atribuído pelo crente à vontade de Deus, no plano da oração de pedido e de ação de graças.</div>
<div style="text-align: justify;">
De qualquer maneira, o cuidado brota num contexto de solidariedade. Seu horizonte terrestre, humano, é a justiça e a paz. Muitos, entretanto, não conseguem ver que a paz, como todo bem, possui seu preço a pagar, pois resulta em benefício pessoal, este interesse pessoal sem o qual a maioria das pessoas não é capaz de levantar um dedo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Frequentemente se esquece que cuidar das coisas que se referem a Deus, cuidar da terra, cuidar do próximo, é também cuidar de si mesmo, tarefa de toda uma vida.<br />
É sempre bom pensar nisso de vez em quando.</div>
<div style="text-align: justify;">
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Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com1tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-13428197241579020072017-08-31T13:18:00.001-07:002018-12-31T04:48:36.257-08:00O PROBLEMA DO MAL E O DILEMA DE EPICURO<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><br /></span>
<br />
<div style="text-align: justify;">
<span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"> </span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>"Ou Deus quer eliminar o mal do mundo, mas não pode, ou pode, mas não quer eliminá-lo, ou não pode nem quer; ou pode e não quer. Se quer e não pode, é impotente; se pode e não quer, não nos ama; se não pode nem quer, não é o Deus bom e, ademais, é impotente. Se quer e pode - e isto é o mais seguro - então, de onde vem o mal e por que Ele não o elimina?", </i></span><span style="font-family: "arial" , "helvetica" , sans-serif;"><i>(Epicuro, apud Lactâncio, in "Ira Dei" - "A ira de Deus)."</i></span></div>
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<span style="font-family: "arial";"><br /></span></div>
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Nesse livro, escrito provavelmente em 313, Lactâncio adverte os partidários de Epicuro de que Deus não é somente bondade, mas também é justiça vindicativa contra os maus. <br />
Antes de entrar no tema em foco, peço licença ao benévolo e eventual leitor, para uma ressalva: quando, pelas minhas colocações, pareço atribuir a Deus a responsabilidade pela presença do mal físico e moral no mundo, ou uma alusão mais desairosa à Igreja, isto não representa necessariamente, e em sua totalidade, o que penso a respeito. Minha intenção é provocar uma reflexão mais aprofundada sobre alguns problemas da vida eclesial e da Teologia, porque não podemos instalar-nos sobre as conquistas já feitas, sob o pretexto de coisa definitiva e absoluta. Tratando do problema do mal no mundo, eu o trato sob as perspectivas abertas por Andrés Torres Queiruga, em três de suas obras: "<i>Do terror de Isaac ao Abbá de Jesus", "Recuperar a Salvação", e "Creio em Deus Pai". </i>E o cito:<br />
-"<i>Desde que a primeira mãe deu à luz com dor e a primeira criança nasceu chorando, foi posto o problema. A vida humana está assediada pelo mal, o mundo está cheio de crucificados, e surge a pergunta pelo porquê disso tudo. Pergunta inaugural e permanente". (</i>Andrés Torres<i> </i>Queiruga<i>, "Teologia em Diálogo").</i><br />
<i> </i>Lendo também o livro de H. Bechert, "<i>Buddismus", </i>na página 322, em que ele fala da concepção budista do nirvana como símbolo da aniquilação absoluta da existência pessoal, encontrei um dito que vem muito a propósito do que pretendo tratar neste nosso diálogo: -"<i>Tudo é dor."</i><br />
<i> </i>À<i> </i> primeira vista, nada tão oposto ao Deus de Jesus de Nazaré, que conhecemos pelos Evangelhos como Pai de amor e de bondade infinita, que a presença do mal no mundo criado por Ele, presença terrível e sem remédio, que se estende por todos os tempos e a todos os seres, sem exceção. Em forma de catástrofe cósmica, de enfermidade e sofrimento orgânico, de padecimento ou deformação física ou moral, o mal se ergue como uma barreira, aparentemente intransponível, entre a sensibilidade espontânea do homem e mulher, e a bondade presente em Deus.<br />
"<i>O problema do sofrimento e do mal está na raiz de numerosas crises de Fé. Se Deus existe, por que este fracasso, esta morte prematura, esta traição ao nosso amor, este acidente de trânsito, esta doença que me faz sofrer, esta perda de emprego, este revés na vida?" </i>(Missal Dominical, segundo domingo da Quaresma).<br />
Andrés Torres Queiruga, ao tratar do tema em seu livro "<i>Do Terror de Isaac ao Abbá de Jesus", </i>nos lembra que, considerando-se em abstrato a onipotência divina, impõe-se reconhecer que, em pura honestidade lógica, as alternativas propostas pelo Dilema de Epicuro são insuperáveis. Com efeito, nessa perspectiva, se no mundo há mal, é porque Deus onipotente não quer eliminá-lo. E da mesma forma, se considerarmos o dilema sob o prisma da possibilidade de um mundo sem mal, e se apesar de tudo, o mal existe, é porque o Deus<i> "bom" </i>não pode evitá-lo.<br />
Sendo assim, não seria o ateísmo a única solução lógica para o ser humano acossado pelo mal sem remédio, conforme proclama pelo mundo inteiro o profeta do ateísmo moderno, Richard Dawkins, com seu livro recente, "<i>Deus, um delírio?"</i><br />
<i> </i>Diga-se o que se disser, apresentem-se os mais consoladores argumentos, recorra-se à teodiceia ou à retórica piedosa, atéia ou agnóstica, o fato é que um <i>"deus</i>" que em si mesmo fosse impotente e limitado não seria Deus. Um "<i>deus</i>" bom que, podendo, não quisesse evitar o imenso horror do mal no mundo, tampouco seria Deus. Inclusive, qualquer pessoa simples e decente estaria em patamar superior a esse pretenso "<i>deus", </i>pois ninguém que possua um mínimo de humanidade deixaria, se estivesse em seu poder, de acabar com a miséria e a fome de milhões de crianças em vastas áreas do planeta, com o espanto dos crimes e das guerras, do terrorismo sem freio, ou com os tormentos da doença e da morte.<br />
Este é o dilema que proponho à consideração do prezado e benévolo leitor.<br />
Como católico, lembro que o Concílio do Vaticano II abriu a Igreja Católica para o mundo, arejou o marasmo em que se encontrava a sua teologia, e se tornou uma alvorada de esperança para as pessoas de boa vontade de toda a ecumene e, na sequência, o novo Código de Direito Canônico, a seguir publicado, deveria continuar esta abertura e inserção no mundo, mas o Código frustrou as expectativas ao insistir na centralização do poder eclesiástico na Cúria Romana, castrando assim a colegialidade do episcopado e a efetiva participação do Povo de Deus nas decisões de interesse de suas comunidades.<br />
Tomo aqui a liberdade de fazer ao benévolo leitor os seguintes questionamentos: a Igreja Católica, tanto em nível local como em nível universal, continuará exibindo essa estrutura fortemente piramidal, conforme o espírito do Concílio Vaticano I, em uma única mão, a do Papa? ou, ao contrário, estará mais próxima das bases eclesiais, segundo o Vaticano II? Ou ela continuará centralista ou pluralista, dogmática ou dialógica, de forma ingenuamente autocentrada ou, apesar de todas as dúvidas da Fé, capaz de encarar decididamente o futuro?<br />
Neste enfoque, trago um texto do grande e controvertido teólogo suíço, Hans Kung, no seu livro "<i>Teologia a Caminho"</i>. A citação é um tanto longa, mas creio que é de suma e vital importância para o que venho tratando até aqui. A seguir:<br />
- "<i>A Igreja Católica procurou conservar seu paradigma medieval e da Contra Reforma até o Concílio Vaticano II, por meio de decretos autoritários, sanções disciplinares e estratégias políticas. (...) Ela se refugiou na centralização e burocratização. Será que a imposição autoritário-inquisitorial por parte da Cúria, de uma estrutura hierárquico-burocrática corresponde à situação religiosa pós-moderna, embora essa estrutura fosse legitimada e elevada à condição de dogma de fé pelo Vaticano I (1870)? Será que a atual ressacralização dessas estruturas eclesiais, </i>(no pontificado de João Paulo II), <i>feudais e pré-modernas, é a resposta correta à situação religiosa pós-moderna de esvaziamento de um catolicismo culturalmente hermético e fechado em si mesmo?"</i><br />
<i> </i>O certo é que não podemos permanecer enclausurados na repetição por assim dizer mecânica de um passado morto, mas devemos abrir-nos para a recriação autêntica de uma experiência que há de ser tão atual como a refletida nos textos tradicionais e que exige de nós seja traduzida em palavras vivas que falem à nossa compreensão, e alimentem as possibilidades de nossa vida e de nossa história, nos tempos em que vivemos. Gostemos ou não, temos que pagar nosso tributo à pós-modernidade e aos sinais dos tempos, como diria o saudoso João XXIII.<br />
Devo dizer que não aceito uma leitura literalista ou fundamentalista da Bíblia Sagrada, isto é, tomar ao pé da letra o que nela está contido, sem uma segura exegese histórico-crítica de seu conteúdo. Muitas denominações evangélicas fazem isto, e acabam resvalando para os maiores absurdos. Vários setores do catolicismo também o fazem, inclusive boa parte do "<i>Catecismo da Igreja Católica" </i>e a comunidade<i> "Canção Nova", </i>sem esquecer, é claro, a maioria das pregações nos púlpitos de nossas igrejas. Por causa dessa leitura fundamentalista da Bíblia, há muitas verdades que os cristãos, católicos e protestantes, afirmam, mas no íntimo chegam a não crer nelas. São demasiadas as palavras da Bíblia que dizem aceitar, mas suspeitando que alguma coisa pode não ser bem assim como está nela.<br />
Diz-nos o teólogo Andrés Torres Queiruga ("<i>Recuperar a Salvação</i>") que atualmente, diante dos progressos da pesquisa e da hermenêutica bíblica, nem o mais conservador dos teólogos pode - embora o pretendesse - levar ao pé da letra a estrela de Belém, ou a fuga para o Egito, ou a ascensão física de Jesus atravessando as nuvens para chegar ao Céu. Como dificilmente poderá "<i>crer" </i>na milagrosa entrada de uma legião de demônios numa vara de porcos, nem na moeda na boca do peixe para pagar o imposto devido aos romanos.<br />
E mais:<br />
- Quem é capaz de pensar que Deus castigou durante milênios a milhões de seres humanos por um pecado pretensamente atribuído a nossos primeiros pais, quando nenhuma pessoa decente é capaz de maltratar uma criança, por maior que seja o crime que seu pai ou sua mãe tenham praticado?<br />
- Acredita-se que o pecado de Adão e Eva tenha sido transmitido ao longo da linhagem masculina de acordo com santo Agostinho. Que tipo de filosofia ética é essa, que condena todas as crianças, mesmo antes de nascer, a herdar o pecado de um ancestral remoto?<br />
- Qual a mãe que poderia crer de verdade que sua pequenina criatura recém-nascida, diante da qual seu coração se desfaz em ternura, está em pecado e condenada a nunca fruir da visão beatífica, se morrer antes de ser batizada?<br />
Felizmente a nova liturgia do Batismo, após o Concílio Vaticano II, abandonou aquela esdrúxula fórmula usada até tempos atrás, quando o sacerdote, depois de soprar três vezes sobre o rosto da criança a ser batizada, dizia com voz enfática: -"<i>Sai dela, ó espírito imundo, e dá lugar ao Espírito Santo Paráclito..."</i><br />
<i> - </i>Em que cabeça cabe que Deus pudesse <i>exigir </i>a morte violenta de Seu filho feito homem, Jesus de Nazaré, para resgatar os pecados da humanidade, como lemos nos manuais de piedade em uso por aí?<br />
William P. Loewe, em seu livro "<i>Introdução à Cristologia</i>", adverte-nos de que esta maneira de falar <i>"pode levar a imagens grotescas de Deus como um tirano sanguinário, que exige a morte de um filho inocente para apaziguar Sua ira, imagens da morte de Jesus como um caso supremo de crueldade divina contra o próprio filho."</i><br />
<i> </i>Esta afirmação de Loewe é corroborada por Joseph Ratzinger (mais tarde Papa Bento XVI) em "<i>Introdução ao Cristianismo", pág. 208: _ "Diante da atitude expressa em certas práticas religiosas impõe-se, praticamente, a convicção de que a Fé cristã na cruz se baseia na imagem de um Deus que, em Sua justiça intransigente, exige de um pai o sacrifício de um ser humano, o sacrifício do próprio filho. Aterrorizadas, muitas pessoas mais sensíveis viram as costas a uma justiça que, com sua ira sinistra, torna implausível a mensagem do amor."</i><br />
<i> - </i>É aceitável a monstruosidade de um Deus que, chamado <i>"Pai"</i> pelos cristãos, tenha exigido de um outro pai, Abraão, que lhe sacrificasse seu filho único e querido, Isaac, como prova de obediência?<br />
- Quem pensaria hoje em louvar a Deus dizendo que Ele é um guerreiro que "<i>Se cobriu de</i> <i></i><i></i><i></i><i></i><i></i><i></i><i></i><i></i><i>glória afundando no mar cavalo e cavaleiro</i>", como rezamos semanalmente na "<i>Liturgia das Horas</i>"?<br />
- Quem veria hoje um gesto de fidelidade e religiosidade profunda no cumprimento de um voto que, como no caso de Jefté, no livro dos "<i>Juízes", </i>implicava sacrificar a Javé sua filha inocente?<br />
- <i> "Se Deus previu o pecado de Adão com todas as suas funestas consequências, e não tomou medidas bem seguras para evita-lo, carece de boa vontade para com o homem... e se fez tudo o que pôde para impedir a queda do homem e não o conseguiu, então voltamos ao dilema de Epicuro: não é todo-poderoso como supúnhamos."</i> (Pierre Bayle, <i>"Réponses aux questions</i>", citado por Queiruga, em "Recuperar a Salvação").<br />
A respeito do problema do pecado de Adão ser transmitido a toda a sua descendência, o teólogo luterano Pannemberg, em sua "Teologia Sistemática II", tem colocações muito oportunas que peço licença para citar:<br />
<i>-"Foi rejeitado como revoltante para a sensibilidade ética a afirmação de que Deus teria imputado o pecado de Adão a seus descendentes como culpa, ainda antes que tivessem cometido, de sua parte, qualquer ato mau. Este princípio, imputar aos filhos de Adão o pecado de seu ancestral, pareceu inconciliável com a fé na justiça de Deus e em Seu amor que perdoa."</i><br />
<i> - "Pode-se conceber que um Deus que é amor, na ousada afirmativa do evangelista João, se dedique a castigar com tormentos inauditos e por toda a eternidade, no assim dito inferno, um ser humano que em momentos de fraqueza tenha cometido uma ação que os moralistas chamam de mortal? </i><br />
<i> - "E sem falar que o teólogo oficial da Igreja até tempos atrás, São Tomás de Aquino, tenha afirmado na sua "</i>Suma Teológica" (questão XCIV, art. III) <i>que a contemplação dos tormentos padecidos pelos condenados no inferno aumenta o gozo dos bem-aventurados no Céu?"</i><br />
<i> </i>Verdadeiro absurdo.<br />
Estes são apenas alguns exemplos do modo de falar dos cristãos, mas que não tem mais lugar hoje em dia, diante de uma leitura crítica da Bíblia Sagrada. Nesta leitura é de fundamental importância que se faça uma distinção urgentíssima entre aquilo que os autores bíblicos pensavam em seu tempo, e tudo aquilo que nós, aprendendo com eles, devemos pensar nos dias de hoje.<br />
Voltando finalmente ao dilema de Epicuro, não importa a que deus se refere ele, seja Marduc, Baal, Moloc, Júpiter, Javé, ou outro qualquer do panteão dos povos. O que interessa é que o seu questionamento atravessou os séculos, e tem intrigado filósofos e teólogos; teses e livros têm sido escritos sobre tal dilema, tanto entre católicos como entre protestantes. Inclusive homens sem religião, agnósticos, ateus, ou como Hegel, Kant, Kierkegard, Feuerbach, entre outros, se debruçaram sobre esse famoso dilema, e cada qual deles procurou dar-lhe uma resposta, o que nem sempre conseguiram.<br />
<i>"Admitir que o mal tem sua origem na liberdade e no livre arbítrio do ser humano não é capaz de desonerar o Criador da responsabilidade por essa Sua criação. Seja qual for o modo como a criatura é livre, ela é criatura de Deus justamente nessa sua liberdade." </i>(Pannenberg, "<i>Teologia Sistemática", II).</i><br />
Este é o âmago da questão, e é por esse âmago que Epicuro questiona os sábios de seu tempo, e esse fato ressoa até os dias de hoje, como nos atesta Torres Queiruga ao tratar do tema em vários de seus livros:<br />
- "<i>Existe Deus? Se existe, onde está Ele, quando nos acontece uma desgraça, ou nos sentimos infelizes? Como se situa Ele em nossa vida e em nossa história? "</i><br />
<i> </i>E eu ponho ponto final no meu blog de hoje propondo, ao eventual e benévolo leitor, dois pensamentos que me perturbaram durante todo o tempo em que redigia este texto:<br />
- "<i>Toda a ciência do mundo não vale as lágrimas de uma criança que sofre, implorando a Deus, em vão, o fim desse sofrimento."</i> (Dostoievski, "<i>Os irmãos Karamazov</i>").<br />
- "<i>Eu me recuso até à morte amar uma criação na qual crianças, seres inocentes, são torturadas." </i>(Camus, "<i>A Peste"</i>).<br />
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(Quem visitar o Hospital Pequeno Príncipe, ou o setor de cancerologia do Hospital Erasto Gaertner, ambos aqui em Curitiba, poderá ser testemunha pessoal da terrível verdade das palavras do romancista russo).<br />
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Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-33627458853140653902017-08-07T05:59:00.002-07:002017-08-07T06:09:19.728-07:00MEU VIZINHO E O DANADO DE SEU GATO...<br />
<br />
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Conversando hoje com um vizinho, que é Ministro da Eucaristia na minha Paróquia cá em Curitiba, nosso assunto eram pormenores interessantes da Bíblia Sagrada.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em certo ponto de nosso bate-papo ele me disse:</div>
<div style="text-align: justify;">
- "<i>A título de curiosidade, nunca encontrei na Bíblia qualquer alusão ao gato, enquanto o cachorro é citado muitas vezes..."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>Então foi a minha deixa para mostrar-lhe que a Bíblia, na verdade, fala várias vezes do cachorro, mas não se esquece do gato, animal para mim tão encantador. E lhe respondi:</div>
<div style="text-align: justify;">
-<i> "Engano seu. Abra sua Bíblia em Baruch , capítulo 6, versículos 20-21, e lá Você encontrará o seu gato".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>Dei-lhe minha Bíblia para procurar o texto citado, e o vizinho o encontrou e o leu em voz alta:</div>
<div style="text-align: justify;">
- "<i>Suas faces estão negras da fumaça que se espalha na casa. Corujas, andorinhas e outros pássaros voam sobre seus corpos e suas cabeças, e gatos também passam sobres eles."</i></div>
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<i> </i>Referência aos ídolos da Babilônia... É ali que o gato aparece na Bíblia... O homem agradeceu-me pela informação, e eu fiquei satisfeito com a dica que lhe dei gratuitamente...</div>
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Para que o benévolo leitor também encontre o danado do bichano em seu texto sagrado, não se esqueça, lembro mais uma vez: </div>
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- "<i>Procure Você também: Livro de Baruch, 6, 20-21."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>E assim consegui praticar uma boa ação, satisfazendo a curiosidade do meu vizinho, e eventualmente também a sua!...</div>
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<i></i><br />Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-6434061011909597552017-06-22T05:03:00.001-07:002019-02-07T11:41:11.631-08:00DEPOIMENTO PESSOAL<br />
<span style="-webkit-text-stroke-width: 0px; background-color: transparent; color: black; display: inline !important; float: none; font-family: Times New Roman; font-size: 16px; font-style: normal; font-variant: normal; font-weight: 400; letter-spacing: normal; orphans: 2; text-align: justify; text-decoration: none; text-indent: 0px; text-transform: none; white-space: normal; word-spacing: 0px;"> dois</span><b></b><i></i><u></u><sub></sub><sup></sup><strike></strike><br />
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Oitenta e três anos de idade, boa saúde, e ainda com o <i>privilégio </i>de ser amante de um bom vinho, não me falta melhor fortuna que me sentar à sombra de bela árvore no quintal de minha casa e mergulhar na leitura de meus autores prediletos: os lá dos primeiros séculos da história da Igreja, como o que estou lendo atualmente, São Cipriano, bispo e mártir do século III depois de Cristo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Antes do mais, ele, Doutor da paz e Mestre da unidade, não gostava que um cristão rezasse sozinho e em particular, como que rezando só para si mesmo. De fato, não dizendo: - "<i>Meu Pai que estais no Céu";</i> nem "<i>Meu pão de cada dia dai-me hoje". </i>O correto, para São Cipriano, seria dizer: "<i>Nosso Pai; Nosso pão".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>Do mesmo modo, rezando-se o "<i>Pai nosso</i>", não se pede só para si o perdão da dívida de cada um, ou que não caia em tentação e seja livre do mal, rogando cada um para si mesmo. Nossa oração, dizia ele, deve ser pública e universal, pois quando oramos não o fazemos para um só, mas para o povo todo, já que todo o povo forma uma só realidade, que é a Igreja.</div>
<div style="text-align: justify;">
O Deus da paz e Mestre da concórdia, Jesus, que nos ensinou a viver a unidade, quis que orássemos um por todos, como Ele em Si mesmo se lembrou de todos, na Sua obra de redenção.</div>
<div style="text-align: justify;">
Lemos no Antigo Testamento que os três jovens, lançados na fornalha ardente, observaram esta lei da oração, harmoniosos na prece e concordes pela união dos espíritos. A firmeza da Bíblia Sagrada assim o declara e, narrando de que maneira eles oravam, apresenta-os como exemplo a ser imitados em nossas preces, a fim de que nos tornássemos semelhantes a eles. Então, nos ensina a Bíblia, os três jovens, como que por uma só boca, cantavam um hino de louvor e bendiziam a Deus. Falavam como se tivessem uma só boca e que Cristo ainda não lhes havia ensinado a orar.</div>
<div style="text-align: justify;">
Por isto a palavra foi favorável e eficaz para os orantes. De fato, a oração pacífica, simples e espiritual, mereceu sempre a Graça do Senhor.</div>
<div style="text-align: justify;">
De igual modo oravam os apóstolos e os discípulos depois da ascensão do Senhor: -"<i>Eram perseverantes, todos unânimes na oração com as mulheres e Maria, a mãe de Jesus, e seus irmãos".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
Perseveram unânimes na oração, manifestando tanto pela persistência como pela concórdia de sua oração, que <i>Deus os faz habitar unânimes</i> na Sua casa, só admite na Sua eterna e divina casa aqueles cuja oração é unânime.- "<i>Rezai assim, </i>diz o Senhor: <i>Pai nosso, que estais nos céus".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>Homem e mulher, renascidos pela Graça, restituídos a Deus, dizem, em primeiro lugar,<i> "Pai",</i></div>
<div style="text-align: justify;">
porque já começaram a ser filhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
- "<i>Veio ao que era seu e os seus não O receberam. A todos aqueles que O receberam, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus, a todos aqueles que creem em Seu nome. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
Quem, portanto, crê em Seu nome e se fez filho de Deus, deve começar por aqui, isto é, por dar graças e por confessar-se filho de Deus ao declarar ser Deus o seu Pai nos céus.</div>
<div style="text-align: justify;">
E paro por aqui, encerrando o texto de hoje com uma oração muito do gosto de São Cipriano, e que ela se torne também para nós a oração de todo o dia, mesmo naqueles dias em que não pudermos passar sem uma bela taça de vinho:</div>
<div style="text-align: justify;">
-<i> "Ó Deus, anunciarei o Vosso nome a meus irmãos enólogos pela alegria que nos dais ao degustarmos sobriamente o fruto da videira, lembrando que Vós, no Vosso amor para conosco, deu-nos a graça de Vos termos sempre conosco, no sacrário de nossas igrejas, sob as espécies sacramentais do pão e... do vinho, consagrados pelo sacerdote, durante a Santa Missa.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> Assim seja. Amém.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-76261316750459037012017-06-07T13:11:00.002-07:002017-06-08T07:37:36.792-07:00O CRISTÃO E O MUNDO SEM DEUS<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Volto ao tema, porque ele me parece importantíssimo em nossa peregrinação pelos caminhos muitas vezes tortuosos e espinhentos da vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Em Português, a palavra "<i>mundo"</i> comporta uma grande variedade de sentidos. Na cristandade da Idade Média e em épocas posteriores o conceito de "<i>mundo" </i>era religioso, além de que parecia algo que devia ser rejeitado e esquecido pelo crente.</div>
<div style="text-align: justify;">
Para isto era sempre lembrada a primeira carta de João (2, 15-17) na qual eram os cristãos exortados: </div>
<div style="text-align: justify;">
- "<i>Não ameis o mundo nem as coisas do mundo. Quem ama o mundo, não está nele o amor do Pai, porque todas as coisas do mundo, tais como a concupiscência da carne, a concupiscência dos olhos e o fausto da vida não vêm do Pai, mas do mundo. E quem faz a vontade do Pai permanece eternamente."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>É muito clara esta advertência, não deixando margem a nenhuma dúvida porque, neste caso concreto, "<i>mundo" </i>é o reino do egoísmo e do pecado. O mundo, assim considerado, <i>"não pode receber o Espírito Santo"</i> (Jo 14,7), porque a paz de Cristo não é um dom semelhante aos dons deste mundo. Com certeza, "<i>mundo", </i>neste sentido, deve ser tomado como uma "<i>criação má", </i>algo puramente material oposto por sua natureza ao mundo espiritual.</div>
<div style="text-align: justify;">
Infelizmente, esta interpretação derivada do maniqueísmo e do agnosticismo nos foi imposta durante muito tempo no decorrer da História, como uma visão <i>"tenebrosa"</i> do mundo, carente da luz de Cristo e oposta à vontade de Deus.</div>
<div style="text-align: justify;">
Entretanto, o mundo material, porque criado por Deus, no rigor do termo não pode ser <i>"tenebroso", </i>e nem por sua natureza se opõe a Deus. As trevas do mundo não estão no seu aspecto</div>
<div style="text-align: justify;">
material, mas unicamente no pecado de homem e mulher, que rejeitaram o amor de Deus, muitas vezes sob o pretexto de uma religiosidade mal compreendida. Neste sentido, o mundo "<i>tenebroso"</i> não passa de um mundo sem amor, distante de Cristo, um mundo formado por pessoas enrodilhadas sobre si mesmas, egoístas e sem calor humano.</div>
<div style="text-align: justify;">
Tradicionalmente, a oposição cristã ao <i>"mundo"</i> é uma oposição de fundo teológico, enquanto rejeita o mundo na medida em que confina a liberdade de homem e mulher numa escravidão a preconceitos e paixões, sumariamente descritos pelo apóstolo Paulo na sua Carta aos Romanos (1, 18-32).</div>
<div style="text-align: justify;">
Creio que há, sem dúvida nenhuma, o lado positivo deste quadro. Se o cristão deve permanecer <i>"no mundo</i>", mas não ser <i>"do mundo" </i>(Jo 15, 18-19; 17,11), deve entretanto permanecer no mundo como testemunho e manifestação de Cristo, que é a "luz do mundo" (Jo 8,12) e que por Sua morte e ressurreição expulsa dele o mal e atrai homens e mulheres para Si, para um mundo novo, mundo este vivido pelo cristão, no qual não há mais lugar para o mal, o ódio, a ganância, o egoísmo, a mentira, a frustração e o desespero; mas que, muito mais que isso, tem como seu trabalho </div>
<div style="text-align: justify;">
central e mais íntimo a realização das promessas salvíficas de Deus, no Reinado de Cristo e na Sua obra de redenção.</div>
<div style="text-align: justify;">
A Fé cristã, ao confessar esta verdade, esta presença redentora de Cristo num mundo de pecado, e por isso mesmo pecador, assume a chave do sentido pleno de homem e de mulher, do mundo e da história, inclusive de todas as injustiça e desumanidades, que corroem a profundamente a vida humana.</div>
<div style="text-align: justify;">
Precisamente porque a Fé não se baseia na evidência clara, externa e científica, mas na fidelidade ao Deus das promessas bíblicas, ela exige de nós um compromisso pessoal com a pessoa de Cristo, que ama o mundo e sua História, que redimiu homem e mulher, e que sustém a vida, o mundo e seu destino em Suas próprias mãos benéficas e benfazejas.</div>
<div style="text-align: justify;">
E esta é a esperança que nos anima a caminharmos sem descanso, apesar de todos os pesares e percalços trazidos pelos nossos pecados, em busca deste Reino que nunca terá fim: o reinado de nosso Deus e redentor, Jesus Cristo, o Filho de Maria. Amém. </div>
Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-45284605863919047762017-05-26T05:46:00.000-07:002017-06-13T05:50:22.738-07:00VIDA PARA ALÉM DA MORTE<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Esta frase que serve de título ao meu texto de hoje, e lembrando-me também de meus filhos inesquecíveis, minha filha Raquel e meu filho Júlio, que flecharam o Céu buscando o Infinito, levou-me a meditar nesta manhã de sexta-feira e perguntar a mim mesmo: dentro da Fé que professo, se é possível uma visão positiva do fenômeno universal da morte. E a Fé que me anima responde-me que sim, porque dentro da vida humana há uma chance única na qual homem e mulher, pela primeira vez, nascem totalmente ou acabam de nascer, justamente na morte.</div>
<div style="text-align: justify;">
Esta resposta pode ser profundamente frustrante, pois a morte sempre foi entendida como o fim da vida. Ela é dolorosa e triste como um final de festa ou como o derradeiro e definitivo aceno de uma despedida.</div>
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A morte é, sim, o fim da vida. Ela marca a ruptura de um processo vital. Como que criando um corte entre o tempo presente e a eternidade. Mas ela, felizmente, cobre um aspecto apenas do ser humano: o biológico e o temporal. Homem e mulher constituem algo muito superior ao biológico, porque são mais do que um animal. São também superiores ao tempo, porque suspiram pela eternidade do amor e da vida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Homem e mulher são pessoas, e mais que isso, interioridade. Para eles, a morte não é simplesmente um fim, mas um fim-plenitude, um fim alcançado, o lugar do verdadeiro e definitivo nascimento. Lembra-me a mulher grávida que, entre angústia, dor e esperança, segura o filhinho recém-nascido e murmura, agradecida: atingi, ó Deus, minha meta de mulher: sou mãe!</div>
<div style="text-align: justify;">
Este fim-plenitude alcançado pela morte só é encontrado por nós na Fé. É nesta Fé que encontramos a base para a Esperança de que nossa vida não se perde no vazio do nada. Esta nossa convicção se baseia em Deus. Neste Deus que Se revelou na ressurreição de Jesus de Nazaré, e que ressuscitará também a nós pelo Seu poder infinito.</div>
<div style="text-align: justify;">
E foi nesta Fé que meus filhos inesquecíveis, a Raquel e o Júlio, alcançaram, na morte, o seu nascimento definitivo, que é o Deus de Jesus Cristo e de todos nós, cristãos!</div>
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<br /></div>
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Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-82505603758141716242017-05-12T07:42:00.003-07:002017-12-01T09:20:56.922-08:00RELENDO O "DIÁRIO DE ANNE FRANK"<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Estou lendo, pela terceira ou quarta vez, o diário de Anne Frank, a menina que, a seu tempo, por ocasião da segunda guerra mundial, emocionou o mundo inteiro, com a publicação de seu <i>"Diário".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
Anne Frank morreu, juntamente com sua irmã, Margot, num campo de concentração nazista. (Margot morreu na câmara de gás, e Anne morreu de morte natural, vitimada pelo tifo).</div>
<div style="text-align: justify;">
Alguns dias antes de morrer Anne Frank escreveu em seu <i>"Diário"</i> estas palavras que sempre me emocionam quando eu o releio:</div>
<div style="text-align: justify;">
<i> - "Verdadeiramente minha vida mudou, e para muito melhor, porque Deus não me abandonou, e não me abandonará jamais."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>Estas palavras me fazem lembrar daquelas outras proclamadas não pelo Deus de Israel, mas por Seu Filho, tornado homem na Terra, para assumir a condição e os sofrimentos de homens e de mulheres, bem como a dar a eles e a elas um novo sentido à sua esperança: - "<i>Deixai vir a Mim os pequeninos."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>Apesar de sua saúde frágil, marcada por sofrimentos horríveis nos tempos de cativeiro, a alma de Anne Frank era daquelas que, desde sempre, responderam às palavras de Jesus de Nazaré: Deus, de fato, nunca a abandonou.]</div>
<div style="text-align: justify;">
Naquele campo de torturas e de mortes, em Bergen-Belsen, com seus fatídicos fornos crematórios e com o desencadeamento demoníaco das mais atrozes demonstrações da barbárie nazista, é preciso confessar que este Deus que Anne Frank mal conseguia definir, mas cuja imagem estava presente em seu coração, nunca haveria mesmo de abandoná-la até seus últimos dias, como nos comprova o <i>"Diário".</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>E eu o creio, porque Deus, o<i> "Abbá" </i>de Jesus é Pai, e também porque, no mais profundo de nossas fraquezas humanas diante do sofrimento, no recesso mais sombrio de nossas angústias e revoltas, Anne Frank representa para nós uma das mais eloquentes certezas da realização plena de nossa esperança teologal..</div>
<div style="text-align: justify;">
Ela, que se considerava um nada, conseguiu romper a muralha de silêncio culposo das religiões (o <i>Papa Pio XII</i>?) e mostrar ao mundo inteiro nas páginas de seu "Diário", a chaga sangrenta das deportações em massa e do extermínio dos judeus nos campos de concentração. E pensar que nós, no Brasil,</div>
<div style="text-align: justify;">
estivemos bastante próximos dessa nefasta ideologia nazista na sua versão tupiniquim do integralismo de Plínio Salgado, cópia mal feita do fascismo de Mussolini, aliado confesso de Hitler.</div>
<div style="text-align: justify;">
O Prêmio Nobel da Paz, o Padre Pire, que à sua sexta aldeia européia acolhia os refugiados de todas as regiões da Europa, deu-lhe o nome de Anne Frank, a pequenina mártir que emocionou a todos nós, e se tornou a menina querida do mundo inteiro..</div>
<div style="text-align: justify;">
E termino o meu texto recomendando a todos que tenham oportunidade, que leiam o "<i>Diário de Anne Frank", </i>pedindo a Deus que nunca mais aconteça neste nosso mundo a tragédia da guerra e dos fatídicos campos de concentração, onde milhares e milhares de inocentes pagaram com a vida a bestialidade dos que se julgam os senhores do mundo.</div>
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<br /></div>
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Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-67660334911688865292017-05-01T14:14:00.001-07:002017-05-31T07:02:20.717-07:00O BATISMO QUE NOS PURIFICA<br />
<br />
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Sou um <i>"curioso" </i>inveterado dos assim ditos "<i>Padres da Igreja",</i> da mais remota antiguidade que deixaram para nós, cristãos deste nosso século, obras teológicas de grande valor e de perene riqueza de Fé a fortalecer-nos em nossa caminhada para Deus.</div>
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Tenho hoje diante dos olhos um texto do grande bispo São Basílio, que viveu e pontificou no século IV, escrevendo sobre o Espírito Santo. Como eu gostei muito do texto, peço licença ao eventual e benévolo leitor para transcrevê-lo aqui, valorizando o meu modesto blog:</div>
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<br /></div>
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"<i>Do Livro sobre o Espírito Santo, de São Basílio, Bispo da Igreja Católica":</i></div>
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<i><br /></i></div>
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<i> O Espírito vivifica</i><br />
<i><br /></i></div>
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<i> O Senhor, que nos vivifica, e que nos concede a vida, estabeleceu conosco a aliança do Batismo, como símbolo da morte e da vida. A água é imagem da morte e o Espírito nos dá o penhor da vida. Assim torna-se evidente o que antes perguntávamos: por que a água está unida ao Espírito? É dupla, com efeito, a finalidade do Batismo: destruir o corpo do pecado para que nunca mais produza frutos de morte, e vivificá-lo pelo Espírito, para que dê frutos de santidade.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> A água é a imagem da morte porque recebe o corpo como num sepulcro, e o Espírito, por sua vez, comunica a força vivificante que renova nossas almas, libertando-as da morte do pecado e restituindo-lhes a vida. Nisto consiste o novo nascimento da água e do Espírito: na água realiza-se a nossa morte, enquanto e Espírito nos traz a vida.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> O grande mistério do Batismo realiza-se em três imersões e três invocações, para que não somente fique expressa a imagem da morte, mas também a alma dos batizados seja iluminada pelo dom da ciência divina. Por isso, se a água tem o dom da Graça, não é por sua própria natureza, mas pela presença do Espírito. O Batismo, de fato, não é uma purificação da imundície corporal, mas o compromisso de uma consciência pura diante de Deus. Eis porque o Senhor, a fim de nos preparar para a vida que brota da ressurreição, propõe-nos todo o programa de uma vida evangélica, prescrevendo que não nos entreguemos à cólera, sejamos pacientes nas contrariedades e livres da aflição dos prazeres e do amor ao dinheiro. Isto nos manda o Senhor, para nos induzir a praticar, desde agora, aquelas virtudes que na vida futura se possuem como condição natural da nova existência em Deus.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> O Espírito Santo restitui o Paraíso, concede-nos entrar no Reino dos Céus e voltar à adoção de filhos. Dá-nos a confiança de chamar a Deus nosso Pai, de participar da Graça de Cristo, de sermos chamados filhos da luz, de tomar parte na glória eterna, numa palavra, de receber a plenitude de todas as bênçãos, tanto na vida presente quanto na futura.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> Dá-nos ainda contemplar, como num espelho, a graça daqueles bens que nos foram prometidos e que pela Fé esperamos usufruir como se já estivessem presentes.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> Ora, se é assim o penhor, qual não será a plena realidade? E, se tão grandes são as primícias, como não será a consumação de tudo na presença de Nosso Senhor Jesus Cristo?</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
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<i> ***********************</i></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>E eu encerro este blog de hoje, com a seguinte prece, que retiro da <i>"Liturgia das Horas": </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> Quando emerge nossa carne das águas do Batismo,</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> Deixando ali sepultos os crimes do pecado,</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> A pomba do Espírito vem voando para nós,</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> e vem do Céu, trazendo a paz que Deus nos dá,</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> e a Igreja é figurada pela Arca da Aliança..</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> Bendito sacramento da Água Batismal</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> pela qual nos tornamos capazes</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> de entrar na Vida Eterna</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> purificados de todos os pecados da vida passada.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> Amém. Aleluia.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> *********************** </i></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<br />Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-24064320966350739552017-04-21T07:39:00.000-07:002017-04-23T06:29:45.129-07:00PINGOS E RESPINGOS...<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
*** O Deus de minha Fé não é o Deus que muda as leis da Natureza a Seu bel prazer, ou segundo Suas conveniências. E muito menos o Deus que desatende as súplicas de nós, Seus filhos, ainda que sejam justas, como acabar com a fome de populações inteiras em várias partes deste nosso mundo, mandar a chuva benfazeja para regiões martirizadas pela seca, ou curar nossas doenças.</div>
<div style="text-align: justify;">
*** Nosso Deus é, antes de tudo, amor. É o grande companheiro que está com os deserdados da sorte, com o enfermo, e não com a enfermidade, contra a qual Ele pouco pode intervir, porque ela permanece na esfera autônoma da Natureza, que Ele respeita.</div>
<div style="text-align: justify;">
*** O homem de Fé e o ateu não habitam mundos diferentes; simplesmente habitam de maneira diferente um só e o mesmo mundo. Ambos vivem a mesma vida, só que a vivem de modo diferente.</div>
<div style="text-align: justify;">
*** A bondade de Deus é tão universal, que não exclui ninguém, nem mesmo os maus, os pecadores, ou mesmo os que O negam. Faz nascer o sol igualmente sobre os bons, como também sobre os justos e injustos. Por isso, perdoa sempre, até ao ponto de, como o pai da parábola do filho pródigo, não castigar nem repreender, mas alegrar-se e fazer festa pelo regresso do filho á casa paterna.</div>
<div style="text-align: justify;">
*** Aquilo por que Deus Se interessa no homem e na mulher é tudo, enquanto realização positiva do homem e da mulher. Literalmente tudo, como corpo e alma, cultura e alimento, trabalho e religião. Aliás, Deus não é nada religioso, porque religião é pensar e servir a Deus, mas o Pai de Jesus de Nazaré não pensa em Si mesmo nem precisa ser servido por homem e mulher. Na verdade, Ele pensa em nós e busca exclusivamente nosso bem, não quer servos nem incensários que proclamem Sua glória. Busca-nos a nós mesmos, deseja nossa existência e nossa felicidade. Para isso criou o mundo e o colocou em nossas mãos.</div>
<div style="text-align: justify;">
*** Isto me acontece dia e noite, e talvez para todo o sempre: diante do sofrimento angustiante de minha falecida filha Raquel, nos quatro anos de sua doença, com um insidioso câncer que tomou todo o seu cérebro, me custou muito tentar convencê-la de que Deus nos criou por amor. Confesso francamente hoje, diante da dolorosa ausência de minha inesquecível Raquel, que em certos momentos sou tentado a crer que eu, que me digo cristão, me sinto totalmente consciente desta cruel dúvida: - Será mesmo verdade que Deus nos criou por amor? Que Ele, na Sua misericórdia, me perdoe!</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-72010295747346878552017-04-17T07:34:00.000-07:002017-09-25T05:01:38.982-07:00O PERTURBADOR SILÊNCIO DE DEUS<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Num certo sentido, homens e mulheres deste nosso mundo estão cercados por todos os lados pelo doloroso e angustiante silêncio de Deus, abandonados totalmente à própria sorte de seres contingentes, finitos, entregues à morte.</div>
<div style="text-align: justify;">
"<i>Homens e mulheres sentem que suas vidas se intercalam entre duas gigantescas noites: a noite da não existência. Ontem não eram. Esse ontem recua bilhões de anos até o famoso big-bang inicial. E antes dele paira o silêncio do nada. Após a morte, abre-se nova noite escura sem término. Entre essas duas ameaças do caos inicial e final, homem e mulher caminham solitários, sem luz. </i></div>
<div style="text-align: justify;">
É o que leio em "<i>Introdução à Teologia</i>", de Libânio/Murad.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ou nas perturbadoras palavras do cientista J. Monod: </div>
<div style="text-align: justify;">
- "<i>Homem e mulher sabem que estão sós na cega imensidão do universo, de que saíram por puro acaso).</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>Ou como diria Albert Einsten:</div>
<div style="text-align: justify;">
-<i> "Estranha é nossa situação aqui na Terra. Cada um de nós vem para uma curta passagem, sem saber por quê, ainda que algumas vezes tentando adivinhar um propósito".</i> (Dawkins, <i>"Deus, Um Delírio").</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>Continuando, poder-se-ia invocar Pascal, nos seus<i> "Pensamentos</i>":</div>
<div style="text-align: justify;">
- <i>"Aspiramos à verdade, e só encontramos incertezas. Buscamos a felicidade e só achamos miséria e morte. O silêncio eterno desses espaços infinitos nos apavora..."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>O saudoso Papa Bento XVI em seu livro "<i>Jesus de Nazaré", </i>comentando o salmo 73, em que o justo sofredor protesta diante de Deus contra os males que nos acometem, pergunta:</div>
<div style="text-align: justify;">
- "<i>Deus não vê nada, realmente? Não ouve? Não se preocupa com o destino do homem?" </i>E cita um dos lamentos do salmista:</div>
<div style="text-align: justify;">
-<i> "Foi então para nada que conservei um coração puro? Sou provado a cada hora e molestado continuamente..."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>É de fato um grande enigma, e diante dele os crentes sentem duramente o peso do silêncio divino, não como negação da existência de Deus, mas sim como sensação de abandono e indiferença por parte de Deus. Este silêncio enigmático e sufocante desconcerta a muitos cristãos menos prevenidos, sempre desejosos de qualquer manifestação sensacional de Deus. Uma espécie de teofania do Antigo Testamento, com raios e trovões, que purificasse para sempre o mundo corrompido, curasse todas as mazelas e sofrimentos da humanidade, e reconduzisse à Fé teocêntrica os povos e as nações.</div>
<div style="text-align: justify;">
Acossados por este silêncio de Deus para eles incompreensível, homem e mulher de todas as etnias fazem ouvir o seu gemido angustioso, um gemido que vem de longe, expresso por boca humana, e que parece refletir uma dor primeira que remonta às origens do mundo. Não um gemido genérico do animal ferido que sente a terra entreabrir-se para devorá-lo, mas o gemido existencial do homem e da mulher, isto é, o gemido da alma erguida que se levanta e interroga a Deus, pedindo-Lhe explicações para a onda de mal e de sofrimento que envolve por todos os lados o mundo por Ele criado.</div>
<div style="text-align: justify;">
Começando pelo bíblico Jó (<i>"Pereça o dia em que nasci, que sobre ele não brilhe a luz); </i>continuando pelos salmistas; assumido dramaticamente por Jeremias nas suas elegias, até culminar no angustiado grito de Jesus de Nazaré na cruz, este gemido secular perpassa por toda a Bíblia, num clamor contínuo e sem respostas:</div>
<div style="text-align: justify;">
- "<i>Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste? Clamo de dia, e não respondes; grito de noite, e não encontro repouso..." - </i>(Salmo 22).</div>
<div style="text-align: justify;">
Nos quatro evangelhos a tradição existencial do silêncio de Deus aparece de forma muito explícita em dois momentos muito importantes da vida de Jesus de Nazaré: no Horto das Oliveiras (Mt 27, 36-46, Mc 14, 32; Lc 22, 39-46 e, em seguida, na cruz (Mt 27, 46; Mc 15, Lc 23,46, Jo 19-28).</div>
<div style="text-align: justify;">
Já em nossos dias, visitando o campo de concentração de Auschiwtz, onde um milhão e meio de judeus foram mortos pelos nazistas, o Papa Bento XVI deixou-se levar pela emoção e lançou também este brado, que surpreendeu e comoveu o mundo inteiro:</div>
<div style="text-align: justify;">
- <i>"Por que, ó Deus, o Senhor permaneceu em silêncio? Como pôde tolerar tudo isso? Onde estava Deus naqueles dias? Por que ficou Ele em silêncio? Como pôde permitir esse massacre sem fim, esse triunfo do mal?</i></div>
<div style="text-align: justify;">
E eu, parodiando a pungente pergunta do judeu alemão Hans Jonas na Europa do pós-guerra, tomo a liberdade de acrescentar:</div>
<div style="text-align: justify;">
- "<i>Onde está Deus, que não vem libertar-nos da violência das guerras e do terrorismo desenfreado que acomete regiões inteiras deste nosso mundo?</i><br />
<i> </i>E poderia ainda acrescentar com Andrés Torres Queiruga, no seu livro <i>"Recuperar a Salvação": </i></div>
<div style="text-align: justify;">
-<i> "Onde está Deus quando nos acontece uma desgraça, ou nos sentimos infelizes? Onde se situa Deus em nossa vida e em nossa História?"</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>A tentação exercida entre nosso povo simples e marginalizado, principalmente os das periferias, pelo baixo espiritismo e pelas incontáveis seitas pentecostais e milagreiras, é prova de uma fome quase doentia de milagres, fome de apalpar, de apreender, de agarrar essa presença ou ausência misteriosa que governa o mundo:</div>
<div style="text-align: justify;">
<i>-"Ah! Se rompesses os céus e descesses! As montanhas se desmanchariam diante de Ti!" (</i>Isaias, 63,19).</div>
<div style="text-align: justify;">
Para a mentalidade contemporânea, homem e mulher experimentam uma dificuldade quase insuperável no seu ansiado contato com Deus. Isto porque <i>"Deus, enquanto mistério indizível, não pode ser encontrado em nosso mundo, parece não poder entrar nesse mundo com que nós temos de nos haver, pois que assim Ele Se tornaria o que não é, a saber: uma realidade singular lado a lado com outra realidade que não Ele."</i> (Karl Rahner, "<i>Curso Fundamental da Fé</i>").</div>
<div style="text-align: justify;">
Na verdade, para nós cristãos-católicos, Deus nos fala sem cessar. E é justamente a Liturgia que nos vem continuamente lembrar esta realidade empolgante: Deus está no mundo. Deus desceu sobre a Terra e se fez como um de nós. Não é apenas uma presença figurada como na Arca da Aliança. É uma presença tão difundida e tangível, que nos envolve como uma atmosfera por todos os lados, como envolve o mundo. Já o disse Teilhard de Chardin, sacerdote e cientista, no seu livro "<i>El Medio Divino":</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> - "Que nos falta então para que O possamos abraçar? Somente uma coisa: vê-Lo."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>Presença que se tornou concreta e palpável na Encarnação. Deus Se fez carne, na pessoa de Seu Filho, levantou Sua tenda entre nós, entrando na história humana para dela não mais sair. Portanto, para nós, "<i>a vida histórica de Jesus é a revelação mais plena do Deus cristão</i>." (Leonardo Boff, "<i>Jesus Cristo Libertador").</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>Deus Se nos manifesta, sim, e nós O conhecemos pela mediação de Jesus de Nazaré. Em Jesus, Deus Se manifestou a nós como Aquele que Se interessou de tal modo por nós, que quis participar intimamente do nosso destino, e assim tornar-Se o Deus próximo e familiar, o <i>"Deus conosco",</i> o <i>"Emanuel" </i>que conhecemos pelos Evangelhos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Como cantou o padre Zezinho, evangelizando através da música: <i>"Em Jesus, Deus Se tornou refeição e Se fez o caminho."</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>Lembremo-nos, também, do que está escrito no <i>Apocalipse:</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> - "Eis que estou à porta, e bato", </i>significando que Deus está na soleira e bate à porta, mas, se não a abrirmos livremente, Ele não entrará. Por absoluto respeito à nossa liberdade, recusa-Se a forçar a entrada do nosso coração e da nossa vontade livre. Permanece, entretanto, presente sempre, perdoando e salvando, não Se vai embora, e continua a bater.</div>
<div style="text-align: justify;">
Por isso, é muito salutar que tomemos consciência desta verdade terrível: -<i> É próprio da liberdade humana poder, com sua minúscula recusa, perdida nas imensidades do tempo e do espaço, deter o oceano da Graça divina."</i> (Charles Moeller, "<i>A Fé em Jesus Cristo").</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> </i>Jesus de Nazaré, pela Sua vida e pela Sua prática, como o<i> "Abbá"- Seu </i>Pai - é bom e misericordioso. Não quis ofuscar-nos com a luz de Sua glória e poder; por isso penetrou sorrateiramente entre homens e mulheres, fez-Se um entre muitos, e é preciso descobrir a Sua presença escondida, encarnada sob as vestes do quotidiano. Ele está aí e nos chama; nós, porém, nem sempre ouvimos Sua voz, nem sempre queremos abrir nosso coração à Sua Palavra que Se fez carne, que Se fez Eucaristia.</div>
<div style="text-align: justify;">
Assim, este perturbador "<i>silêncio de Deus"</i> é um silêncio causado por nós próprios, que sufocamos os apelos divinos com os nossos barulhos inúteis. Não há "<i>silêncio de Deus</i>", e sim incapacidade humana para captar imediata e claramente Sua voz. Voz que insiste, apesar de tudo, e que é experimentada, quando A percebemos como dom pessoal e gratuito, porque Deus não Se mostra de modo arbitrário, mesquinho ou favoritista. Revela-Se a todos e desde sempre na generosidade irrestrita do Seu amor por todos nós.</div>
<div style="text-align: justify;">
E é o que acabamos de celebrar na quaresma, e estamos ainda a celebrar neste tempo pós-pascal, em nossas igrejas e no recesso de nossos lares.<br />
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
***************************</div>
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</div>
Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-80172740679107507472017-04-13T14:29:00.000-07:002017-04-17T04:32:09.093-07:00CRISTO, O CORDEIRO PASCAL<br />
<br />
"<i>O Cordeiro Pascal Jesus Cristo, imolado na cruz, libertou-nos da morte para a vida!"</i><br />
<div>
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> "Muitíssimas coisas foram preditas pelos profetas sobre o mistério da Páscoa, que é Cristo, "a quem seja dada a glória pelos séculos dos séculos. Amém". </i>Palavras do Apóstolo Paulo, que leio em Gálatas, 1,5."</div>
<div style="text-align: justify;">
O Senhor Jesus Cristo desceu dos céus à Terra para curar a enfermidade de homem e mulher, maculados pelo pecado e condenados à perdição eterna, não fosse a misericórdia gratuita de Deus. Revestido da nossa natureza no seio da Virgem Maria, Jesus Se fez homem, tomou sobre Si os sofrimentos do homem num corpo humano sujeito ao sofrimento e à morte. Seu espírito, que não pode morrer, fez morrer a morte homicida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Foi levado à cruz como cordeiro pascal e morto como ovelha, libertou homem e mulher das seduções do mundo e do pecado, como outrora tirou os israelitas da escravidão no Egito, como salvou-nos da escravidão do demônio, como outrora salvara o povo eleito das mãos do faraó, marcando nossas almas com o sinal de Seu espírito e nossos corpos com o Seu sangue redentor.</div>
<div style="text-align: justify;">
Jesus venceu a morte e confundiu o demônio, como outrora Moisés ao faraó. Foi Ele que destruiu a iniquidade e condenou a injustiça à esterilidade, como Moisés no Egito.</div>
<div style="text-align: justify;">
Foi Jesus que nos fez passar da escravidão do pecado para a liberdade, das trevas para a luz, da morte para a vida, da tirania para o reino sem fim, e fez de nós um sacerdócio novo, um povo eleito para sempre. Foi Jesus a Páscoa da nossa salvação eterna.</div>
<div style="text-align: justify;">
Foi Ele que tomou sobre Si os sofrimentos de muitos: foi morto em Abel, vendido em José, amarrado de pés e mãos em Isaac, exilado de Sua terra em Jacó, exposto em Moisés infante, sacrificado no cordeiro pascal, perseguido em Davi e ultrajado nos profetas.</div>
<div style="text-align: justify;">
Foi Ele que Se encarnou no seio da Virgem Maria, foi traído por um amigo, suspenso na cruz, sepultado na terra fria, mas, sustentado por Deus, ressuscitado dos mortos pelo Pai, e subiu ao mais alto dos céus.</div>
<div style="text-align: justify;">
Foi Ele o cordeiro que não abriu a boca, o cordeiro imolado, nascido de Maria, foi Ele a ovelha retirada do rebanho, levada ao matadouro, imolada à tarde e sepultada perto da noite. Ao ser crucificado, não lhe quebraram osso algum, e ao ser sepultado, não experimentou a corrupção do corpo; mas ressuscitado dos mortos, ressuscitou também a humanidade das profundezas do sepulcro.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
***************************</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
Da Liturgia das Horas, da quinta-feira santa:</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
<i>Todos os homens e mulheres pecaram</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> e carecem da glória de Deus</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> sendo justificados, de graça,</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> mediante a libertação</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> realizada por meio de Cristo,</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> Deus destinou que Cristo fosse, por Seu sangue,</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> a vítima da propiação</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> pela Fé</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> que recebemos nEle mesmo.</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> Eis aqui o Cordeiro de Deus,</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> o que tira o pecado do mundo</i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i><br /></i></div>
<div style="text-align: justify;">
<i> *****************************</i></div>
<i></i><br />Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-1851479692515732132017-04-09T07:13:00.002-07:002017-09-25T04:39:31.695-07:00 LIGEIRA MEDITAÇÃO SOBRE O DOMINGO DE RAMOS<br />
<div style="text-align: justify;">
"<em>Bendito o que vem em nome do Senhor!"</em></div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
<div style="text-align: justify;">
<em> </em>Vinde comigo, benévolos leitores, subamos juntos ao monte das Oliveiras e corramos ao encontro de Cristo, que volta da aldeia de Betânia onde estava com o amigo Lázaro e suas irmãs, e Se encaminha voluntariamente para aquela venerável e santa Paixão, a fim de realizar o mistério de nossa salvação.</div>
<div style="text-align: justify;">
Caminha o Senhor Jesus livremente para Jerusalém, Ele que desceu do Céu por nossa causa - prostrados que estávamos por terra - para elevar-nos consigo "<em>bem acima de toda autoridade, poder, potência e soberania, ou qualquer título que se possa mencionar (</em>Ef 1,21), como lemos na Bíblia Sagrada.</div>
<div style="text-align: justify;">
O Senhor vem, mas não rodeado de pompa, como se fosse conquistar a glória. <em>Ele não discutirá, </em>diz-nos a Escritura,<em> e ninguém ouvirá Sua voz (</em>Mt 12,19). Pelo contrário, vem manso e humilde, e Se apresentará com vestes pobres e aparência modesta.</div>
<div style="text-align: justify;">
Acompanhemos o Senhor, que corre apressadamente para a Sua Paixão, e imitemos os que foram ao Seu encontro. Não para estendermos à sua frente, no caminho, ramos de oliveira ou de palma, tapetes ou mantos, mas para nós mesmos nos prostrarmos a Seus pés, com humildade e retidão de espírito, a fim de recebermos o Verbo de Deus que Se aproxima, e acolhermos Aquele Deus que lugar algum pode conter.</div>
<div style="text-align: justify;">
Alegra-Se Jesus, porque deste modo nos mostra a Sua mansidão e humildade, e<em> Se eleva</em>, por assim dizer, sobre o ocaso de nossa infinita pequenez. Ele veio ao nosso encontro e conviveu conosco, tornando-Se um de nós, para nos elevar e nos reconduzir a Si.</div>
<div style="text-align: justify;">
Portanto, em vez de mantos ou ramos sem vida, em vez de folhagens que alegram nosso olhar por pouco tempo, mas perdem depressa o seu verdor, prostremo-nos aos pés de Cristo. Revestidos de Sua Graça, ou melhor, revestidos dEle próprio, - <em>vós todos que fostes batizados em Cristo, vos revestistes de Cristo </em>(Gl 3,27) - prostremo-nos a Seus pés como se fôssemos mantos e palmas estendidos diante dEle.</div>
<div style="text-align: justify;">
Antes, éramos como escarlate por causa de nossos pecados, mas hoje purificados pelo Batismo da salvação, nos tornamos brancos como a neve. Por conseguinte, não ofereçamos mais ao vencedor do pecado e da morte, ramos e palmas, porém o prêmio de Sua vitória, que é nossa alma redimida.</div>
<div style="text-align: justify;">
Agitando à Sua passagem ramos espirituais de nossa conversão, O aclamemos todos os dias, dizendo estas mesmas palavras com que Ele foi saudado pelos Seus seguidores: </div>
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- <em>"Bendito seja Aquele que vem em nome do Senhor, o Rei de Israel</em>."</div>
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Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-82871683701577688632017-04-03T06:33:00.000-07:002019-01-01T04:51:07.443-08:00CAPITU, A MENINA DOS OLHOS DE RESSACA<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Estou relendo pela quinta ou sexta vez o "<em>Dom Casmurro</em>", obra prima de Machado de Assis. Releio, não tanto por causa do autor, mas o releio porque, cada vez que o faço, mais me apaixono pela Capitu, a menina dos olhos de ressaca.</div>
<div style="text-align: justify;">
E, terminada a releitura, sempre me vem à cabeça, queira eu ou não queira, a interrogação que nunca deixa de martelar-me o cérebro: por que será que o ranzinza Machado de Assis foi tão ruim com a Capitu?</div>
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Sempre ouvi dizer que, apesar de ser considerado o maior escritor brasileiro, era ele um sujeito cínico, perverso mesmo, mas nunca imaginei que fosse Capitu quem deveria sofrer as malvadezas dele.</div>
<div style="text-align: justify;">
Saudosa e pobre Capitu!</div>
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Não me chamo Bentinho, não morei nunca no casarão da Matacavalos, mas não consigo perdoar o que o Machado fez com Você, nem a esquecerei jamais!</div>
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Quantas vezes ainda hoje, apesar dos oitenta e um anos no costado, nas balbúrdias da vida, no silêncio do estudo, na concentração da prece, ou nos gestos do amor, eu me vejo de repente ensimesmado, distraído, pensando em Você, conversando com você, namorando-a à distância, nós dois sentados à beira do poço, na chácara do velho Pádua!</div>
<div style="text-align: justify;">
Parece-me vê-la novamente, aquela criatura de quatorze anos, alta, forte e cheia, apertada em um vestido de chita meio desbotado, os olhos de cigana oblíqua e dissimulada, o riso claro, espontâneo e alegre. Os cabelos grossos, feitos em duas tranças negras, com as pontas atadas uma à outra, a descer-lhe pelas costas, à moda do tempo...</div>
<div style="text-align: justify;">
Ainda me lembro daquele dia em que, ao entrar na sala de visitas, ouvi proferir meu nome e escondi-me atrás da porta. E ali, trêmulo, com medo de um espirro, ouvi o José Dias contar à minha mãe muita coisa de nós dois, que andávamos pelos cantos, aos segredinhos, e que, se pegássemos de namoro, então é que seria a dificuldade para me botarem no seminário, fazerem-me padre, promessa de minha mãe!...</div>
<div style="text-align: justify;">
Fugi da varanda. Ia tonto, atordoado, as pernas bambas, o coração parecendo querer sair-me boca a fora. Vozes confusas me repetiam o discurso do José Dias:</div>
<div style="text-align: justify;">
- <em>"Sempre juntos... " - "Aos segredinhos..." - "Se eles pegam de namoro..."</em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em> </em>Ah! Capitu! Naquele tempo tudo isso eram apenas travessuras de crianças, ainda não sabíamos analisar o que nos ia pelo coração. Você se lembra do dia em que eu a surpreendi escrevendo no muro com a ponta de um prego? Eu quis ver de perto e dei um passo. Você agarrou-me, mas , ou por temer que eu acabasse fugindo, ou por negar de outra maneira, correu adiante e tapou o escrito com o corpo. Foi o mesmo que atiçar em mim o desejo de ler o que era. Dei um pulo, e antes que Você raspasse o muro, li dois nomes abertos ao prego, e esses nomes eram os nossos!</div>
<div style="text-align: justify;">
Voltei-me para Você. Você tinha os olhos no chão. Ergueu-os logo, devagar, e ficamos a olhar um para o outro...</div>
<div style="text-align: justify;">
Confissão de crianças, tu valias bem duas ou três páginas, diria o velho Machado. Na verdade, eu e Você não falamos nada, o muro falou por nós. Daí então, Capitu, poderíamos ter sido muito felizes. Mas mamãe tinha feito promessa de botar-me para padre. E não havia jeito de tirar-lhe isso da cabeça, pois até o vigário da paróquia estava a seu favor.</div>
<div style="text-align: justify;">
Você preferia tudo ao seminário. Até fugir Você me propôs, ou então ligar uma canoa a muitíssimas outras, fazer até Roma uma ponte de canoas, e lá pedir ao Papa dispensa da promessa de minha mãe. Nada lhe parecia difícil, pois Você era Capitu, isto é, uma criatura muito particular, muito mais mulher do que eu era homem.</div>
<div style="text-align: justify;">
E o tempo correu. Alguns dias antes de partir para o seminário, fui visitá-la em sua casa. Encontrei-a na varanda, penteando os cabelos. Tomei o pente de suas mãos, desmanchei-lhe os cabelos, e eu mesmo quis penteá-los. E o fiz muito devagar, demoradamente, com carinho, </div>
<div style="text-align: justify;">
desmanchando e penteando de novo, indefinidamente, como se quisesse segurar o tempo!</div>
<div style="text-align: justify;">
Você refletia. A reflexão não era coisa rara em Você, mas nesse dia era uma reflexão toda especial. Você pensava em algum último e desesperado recurso para me livrar do malfadado seminário. Fiquei tão comovido com a sua dedicação que corri à janela e comprei duas cocadas de um moleque que passava. Tive de comê-las sozinho. Em meio à crise, eu ainda achei tempo para cocadas, ao passo que Você não quis saber delas, e quanto Você gostava de doces! E o moleque foi cantando rua a fora o pregão das velhas tardes, tão sabido do bairro e da nossa infância: <em>-"Chora, menina, chora; chora porque não tem vintém."</em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em> </em>Creio que a letra, destinada a ferir a vaidade das crianças, foi que aborreceu minha amiga, pois logo me disse: - "<em>Se eu fosse rica, Você fugia, metia-se num navio e ia para a Europa..."</em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em> </em>Como se vê, Capitu, Você aos quatorze anos já tinha ideias atrevidas. Mas apesar delas, apesar do juramento que fizemos certa tarde à beira do poço, de que um dia nos casaríamos, apesar dos mil <em>"pai-nossos", </em>e das mil "<em>ave-marias</em>" que prometi aos céus, minha mãe me botou no seminário!</div>
<div style="text-align: justify;">
E a nossa despedida, Capitu? Você se lembra? Foi de tardezinha, debaixo do caramanchão; e ali ficamos, não sei quanto tempo, somando as nossas ilusões, os nossos temores, começando já a somar as nossas saudades.</div>
<div style="text-align: justify;">
Vieram depois as lutas. Eu não queria saber do seminário. Os padres lustrosos e enfatuados me enfaravam. Enjoava-me o cheiro do incenso. Enfastiavam-me as longas rezas. A carolice dos companheiros dava-me nos nervos. E inventava planos para sair. E monsenhor Cabral, o reitor, não deixava. O José Dias, cúmplice, não descobria logo a maneira mais honrosa de safar-me da batina. Mamãe continuava esperançosa de ainda me ver um dia dizendo missa. E Você lá na sua janela, pensando... sofrendo... E como eu sofria também nesse tempo, Capitu!</div>
<div style="text-align: justify;">
Depois... depois... Ah! Machado de Assis!... O que é que Você foi fazer da minha Capitu de olhos de ressaca, de cigana oblíqua e dissimulada?</div>
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<br />
Fecho o livro no ponto em que um dia o deixei, para chorar a traição da Capitu. E, chorando sua traição, sinto vontade de chorar a morte da minha juventude e dos mal- ajambrados sete anos que passei num seminário da Capital paulista, também promessa de minha inesquecível mãe, que Deus a tenha na Sua paz!<br />
<br />
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<br />
Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-3342534162397400462017-03-30T13:00:00.000-07:002017-03-30T13:41:18.688-07:00SUBLIME MISSÃO CRISTÃ: HUMANIZAR E IRMANAR<br />
<div style="text-align: justify;">
Tenho plena convicção de que todos nós, humanos que somos, recebemos de Deus uma solene missão: humanizar e irmanar homem e mulher nos caminhos de peregrinos neste mundo. E esta é uma tarefa sobretudo do cristão, que confessa e professa que Deus Pai criou os homens e mulheres em Cristo e os tornou filhos seus em Seu Filho, Jesus, estabelecendo um novo modo de relacionamento na humanidade. Neste sentido, esta tarefa se estende desde o Papa, os bispos, sacerdotes, os fiéis cristãos, até chegar à lavadeira Dona Joaquina, cá do meu bairro, o Tingui, em Curitiba.</div>
<div style="text-align: justify;">
É claro que, para humanizar, é preciso, antes de tudo, sermos humanos, e para construir uma efetiva fraternidade é preciso que todos nós sejamos irmãos.</div>
<div style="text-align: justify;">
Disto, os pobres nos dão uma grande lição de vida. Entre os pobres não falta o espírito de solidariedade, de partilha, de fraternidade, de simplicidade, de serena misericórdia. Na minha já longínqua infância na cidade de Caldas, sul de Minas Gerais, a extrema pobreza de meus pais não os impediu de viver a solidariedade com seus vizinhos tão pobres como eles, e partilhar, juntos, a fraternidade e a misericórdia, que são os <i>"sinais" </i>que Jesus ensinou e que eles aprenderam na meditação diária da Bíblia Sagrada...</div>
<div style="text-align: justify;">
Vivendo sempre com a Bíblia à mão, meus saudosos pais me deixaram a lição de que é questão de vida ou morte viver a proposta de Jesus, para uma vida dedicada à fidelidade ao Evangelho.</div>
<div style="text-align: justify;">
Aprendi com eles que essa fidelidade depende em primeiro lugar da força do Espírito Santo, que nos fortalece e nos orienta como seguir, com segurança, em meio a tantos caminhos tortuosos</div>
<div style="text-align: justify;">
que nos surgem à frente.</div>
<div style="text-align: justify;">
E hoje, com os oitenta e um anos que me pesam no dia-a-dia da velhice, tenho a plena certeza de que o ensinar de Jesus - "<i>misereor super turbas</i>" - (<i>tenho compaixão deste povo</i>) - revelando-me assim o rosto misericordioso do Pai de todos os pais, principalmente ali onde acontece o exercício da misericórdia, que tem um lugar bem preciso: encontrar o ferido no caminho, aproximar-se do indefeso, defendê-lo contra os salteadores, descentrar-se para anunciar o Reino de Cristo, enfrentar e assumir os riscos e perseguições do mundo da antimisericórdia, viver o gozo antecipado da Ressurreição e levar a Esperança da libertação a quem perdeu toda esperança.</div>
<div style="text-align: justify;">
E fico pensando que, se minha vida de cristão passar a reger-se pelo "<i>princípio da misericórdia</i>", terá como centro de minha Fé "<i>o Deus dos feridos no caminho</i>", porque aprendi com Monsenhor Roxo, meu professor nos tempos de estudante de Teologia, na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, na Capital paulista, que viver o seguimento de Jesus é tarefa não só para o cristão individualmente, mas para toda a comunidade cristã.</div>
<div style="text-align: justify;">
Oxalá esta tarefa se concretize em toda a ecumene cristã, em prol da libertação também não só de indivíduos, mas de povos inteiros escravizados e vitimados pela injustiça.</div>
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</div>
Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-48370171282517206482017-03-27T05:21:00.003-07:002017-03-30T04:20:48.458-07:00A POLÍTICA, A POLITICALHA E O CRISTÃO<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Os profissionais da <i>"coisa</i>" já começaram (ou estão SEMPRE começando) a mover os pauzinhos para as próximas eleições que estão para vir. Num texto que publiquei tempos atrás, escrevi que as igrejas, tanto a Católica como as Evangélicas, não deveriam identificar-se com qualquer sistema político, econômico ou similar, pois isto não é competência das igrejas.</div>
<div style="text-align: justify;">
No âmbito da Igreja Católica, que é aquela à qual pertenço, lembro que o Concílio Vaticano II, a seu tempo, proclamou solenemente a autonomia das realidades temporais terrestres, cuja incumbência pertence por direito ao Estado. Nestes termos, também o Estado não pode imiscuir-se no plano espiritual-religioso, que é campo exclusivo das Igrejas. O Estado não pode impor a religião aos seus súditos, mas isto sim, garantir a inteira liberdade de crença e a paz entre os praticantes das diversas religiões.</div>
<div style="text-align: justify;">
O objetivo e a medida intrínseca da Política é a promoção de uma ordem justa na sociedade, em todos os seus setores. A Política é mais do que uma simples técnica para a definição dos ordenamentos políticos, como quer que se queira defini-los. O pensamento social não pretende conferir à Igreja poder sobre o Estado. Ela deseja e deve simplesmente contribuir para a purificação do estamento político e prestar a própria ajuda para fazer que tudo quanto for justo possa, aqui e agora, ser reconhecido e realizado para o Bem Comum da sociedade.</div>
<div style="text-align: justify;">
As Igrejas não podem nem devem tomar nas próprias mãos a batalha política para realizar uma sociedade mais justa e consentânea com o Bem Comum. Esta é uma tarefa do Estado. Mas também não podem ficar "<i>em cima do muro</i>", não podem nem devem ficar à margem quando se trata da luta pela justiça. Uma sociedade justa não pode ser obra das Igrejas; deve ser realizada pelo Estado, através de uma prática política autêntica, voltada para os legítimos interesses da sociedade.</div>
<div style="text-align: justify;">
Na esfera política, o dever imediato de trabalhar por uma ordem justa na sociedade é próprio dos fiéis leigos, e não das Igrejas, como instituição. Os fiéis de qualquer Igreja, como cidadãos do Estado, são chamados a participar pessoalmente da vida pública. Eles não podem abdicar da múltipla e variada ação econômica, social, legislativa, executiva e cultural, destinada a promover orgânica e institucionalmente o Bem Comum.</div>
<div style="text-align: justify;">
A missão do fiel de qualquer Igreja, dentro das realidades terrestres, é configurar retamente a vida social, respeitando a sua justa autonomia e cooperando, segundo sua competência e responsabilidade com os demais cidadãos. E sempre, como pessoa religiosa, deve sentir-se animado pela Caridade Cristã, e sua vida pública deve ser vista como Caridade Social porque, homem e mulher, além da Justiça, têm e terão sempre necessidade do Amor.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br />Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-18615414299947249042017-03-23T06:35:00.001-07:002017-03-27T04:10:13.519-07:00SAUDADES DE MINHA FILHA RAQUEL<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
Neste mês de março de 2017, em que comemoramos, chorando, mais um ano após a morte de minha inesquecível filha Raquel, pus-me a meditar sobre o significado da morte de um ente querido, e, dentro da fé católica que professo, é possível uma visão positiva do fenômeno angustioso da morte? E a fé que me anima responde-me que sim, porque dentro da vida humana há uma chance única na qual homem e mulher, pela primeira vez, renascem totalmente ou acabam de nascer na morte. Com efeito, de acordo com meu mestre de Teologia na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, não há um problemático tempo intermediário entre a morte e a ressurreição, porque essa ressurreição acontece justamente no momento da morte.</div>
<div style="text-align: justify;">
Esta opinião de meu mestre, Padre Leonardo Boff, pode ser profundamente frustradora, pois a morte sempre foi entendida como um final de festa, ou como o derradeiro aceno de uma despedida.</div>
<div style="text-align: justify;">
A morte é, sim, o fim da vida terrena. Ela marca a ruptura de um processo vital. Como que criando um corte entre o tempo presente e a eternidade . Mas a morte, como eu a entendo, cobre apenas um aspecto do ser humano, o biológico e o temporal. Homem e mulher constituem algo muito superior ao biológico, porque são mais do que um animal. São também superiores ao tempo, porque suspiram pela eternidade do amor e da vida, numa esfera superior.</div>
<div style="text-align: justify;">
Homem e mulher são pessoas e, mais que isso, interioridade. Para eles, a morte não é simplesmente um fim, mas um fim-plenitude, um fim-meta-alcançada, o lugar do verdadeiro e definitivo nascimento. Lembra-me a mulher grávida que, entre dor e angústia, mas iluminada por uma doce esperança, logo pode segurar o filhinho recém-nascido em seus braços, e murmura, agradecida: atingi meu fim, alcancei minha meta como mulher: sou mãe!</div>
<div style="text-align: justify;">
Este fim-plenitude, que é alcançado pela morte, só pode ser encontrado em um espírito de fé. É nesta fé que encontramos a base para a esperança de que nossa vida não se perde no vazio do nada. Esta nossa convicção está profundamente fundada em Deus. Neste Deus que Se revelou na ressurreição de Nosso Senhor Jesus Cristo, e que ressuscitará também a nós pelo Seu poder infinito.</div>
<div style="text-align: justify;">
E foi nesta fé que minha inesquecível filha Raquel alcançou, na morte, o seu nascimento definitivo! Junto ao Pai de todos os pais, junto ao qual não existe mais a morte, mas a Vida Eterna!<br />
</div>
<div style="text-align: justify;">
</div>
Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-74924573692943201642017-03-21T05:55:00.000-07:002017-03-23T05:54:55.912-07:00SAUDADES DA RAQUEL<span style="font-size: large;"></span><br />
<br />
<span style="font-size: large;"> Saudades da Raquel - no seu aniversário</span><br />
<span style="font-size: large;"></span><br />
<span style="font-size: large;"> </span><span style="font-size: small;">Minha filha Raquel, que te partiste</span><br />
tão cedo, desta vida, descontente:<br />
repousa lá no Céu, eternamente,<br />
e viva eu cá na Terra sempre triste.<br />
<br />
Se lá no assento etéreo aonde subiste<br />
lembrança desta vida se consente,<br />
não te esqueças daquele amor ardente<br />
que em meus olhos de pai tu sempre viste<br />
<br />
E se vires que pode merecer-te<br />
alguma coisa, a dor, que me ficou<br />
da mágoa sem remédio, de perder-te,<br />
<br />
Roga a Deus, que teus anos encurtou,<br />
que tão logo daqui me leve a ver-te, <br />
quão cedo de meus olhos te levou!<br />
<br />
****************************************<br />
<br />
<br />
<div style="text-align: justify;">
I - Continuando viva entre nós, por essa humilde, invisível e misteriosa presença de cada dia, de cada hora, de cada momento, com que impregnamos de esperança a nossa saudade, como também a grande alegria da certeza de que ela, na Casa do Pai de todos os pais, passou a velar por nós, agora na plenitude de sua vida com Deus e com os santos do Céu. Foi da Raquel bíblica que escolhi o nome para minha filha, ao batizá-la.</div>
<div style="text-align: justify;">
Raquel, do hebraico "hael"<em> (ovelha), </em>era filha de Labão, irmão de Rebeca, e pertencia à linhagem do patriarca Abraão. Conheceu Jacó à beira do poço da aldeia e os dois logo se apaixonaram à primeira vista. Labão contratou Jacó para trabalhar durante sete anos para ele, em troca da mão de sua filha Raquel. Começou assim a história das doze tribos de Israel, o Povo de Deus.</div>
<div style="text-align: justify;">
O texto bíblico mostra-nos Raquel como a mãe de José, o patriarca de uma grande tribo do Povo de Deus. - "Então Deus se lembrou de Raquel. Deus atendeu às preces dela, tornando-a fecunda. Ela concebeu e deu à luz a um filho, e disse: - <em>"Deus retirou a minha desonra</em>". Deu ao filho o nome de José, e rogou que Deus lhe desse mais um filho.</div>
<div style="text-align: justify;">
A história da Raquel bíblica revela que os filhos dela com Jacó nasceram sempre com a ajuda direta de Deus, que interveio na vida dela e curou-lhe a esterilidade. Como nos conta a Bíblia, Deus se lembrou de Raquel, e ela deu à luz José, o patriarca da grande tribo que recebeu as bênçãos de Deus e que se destacou entre seus outros irmãos.</div>
<div style="text-align: justify;">
A história das duas mulheres de Jacó, Lia e Raquel, personagens de um dois mais belos sonetos da língua portuguesa, pela pena mágica de Camões, e mães dos doze filhos que formaram as doze tribos de Israel, vem contada nos capítulos 29 a 31 do "<em>Gênesis</em>". Jacó trabalhava havia sete anos para seu tio Labão. Seu "<em>salário" </em>seria o casamento com a prima mais jovem, Raquel. Labão, porém, seguiu os costumes da região e, na noite de núpcias, introduziu furtivamente na tenda nupcial a filha mais velha, Lia.</div>
<div style="text-align: justify;">
O autor bíblico diz que Lia era odiada, mas não revela quem a odiava. O pai a entregou a um homem que não a amava. A mulher que Jacó amava era realmente sua prima Raquel. Nas sociedades patriarcais a posição das mulheres era determinada pelo número de seus filhos. Lia tornou-se mãe de quatro. Com o nascimento de cada filho ela esperava ganhar o amor de Jacó, mas em vão. Foi uma mãe feliz pelos filhos que teve, mas mal amada pelo marido.</div>
<div style="text-align: justify;">
A Bíblia narra com detalhes os nascimentos dos descendentes de Lia e de Raquel. Elas são as grandes matriarcas de Israel. Infelizmente, não havia meios para Lia, a irmã mais velha e menos atraente, de segurar o amor de seu marido. Até o fim da vida, Raquel foi a predileta de Jacó.</div>
<div style="text-align: justify;">
Retornando ao nosso tempo atual: assim como para o tão grande amor de sua filha Isabela, de seus irmãos Carlos e Júnior, assim também foi tão curta a vida de Raquel, minha filha inesquecível. Mas, como a Raquel bíblica, que deixou dois filhos que foram os fundamentos do Povo de Israel, assim também minha falecida filha Raquel deixou uma filha, Isabela, que na sua radiosa personalidade, é a esperança e a alegria de seus velhos e sofridos avós.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
II - Que Deus a tenha na Sua Paz</div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
17 de março de 2017 - Se minha filha Raquel fosse ainda viva até essa data , iria completar 50 anos de idade. Não podemos festejar seu aniversário natalício, apenas chorar, desconsolados, a sua ausência física dentre nós. A morte inexorável a levou para a Casa do Pai/Mãe de todos os pais e mães que ainda peregrinam pelas estradas deste mundo.</div>
<div style="text-align: justify;">
Ela separou-se fisicamente de nós, mas passou a viver mais intensamente com sua filhas Isabela, com seus irmãos Carlos e Aroldo Júnior, e com seus chorosos pais, após o seu falecimento em 21 de agosto de 2010, em hospital de São José dos Pinhais, vitimada por insidioso câncer.</div>
<div style="text-align: justify;">
Numa união misteriosa e singular no Espírito Santo, comunicada às coisas que deixou e aos acontecimentos do dia-a-dia em que viveu conosco por esse tão curto tempo, a verdade é que ela partiu para a eternidade, mas continua a viver conosco pela dor sem remédio da saudade.</div>
<div style="text-align: justify;">
Sua morte fez com que a revivamos nos objetos em que tocou, nas vestes que deixou e que nós conservamos com carinho, na lembrança das palavras que com ela trocávamos, nos fatos alegres ou tristes que juntos vivemos, e agora até nos fatos que se seguiram à sua morte, e que nós lhe comunicamos diariamente na prece, e com ela conversamos como se estivesse ainda viva em nosso hoje solitário lar.</div>
<div style="text-align: justify;">
A morte, destino de todos os viventes, a levou, mas a devolveu de novo a nós, banhada pela luz da Eternidade com Deus e pela gloriosa certeza de sua ressurreição NA morte, que é a Fé que anima e conforta seus pais, e que os mantém ainda vivos para cultuarem sua memóriabém a grande alegria da certeza de ela, na Casa do Pai de todos os pais, passou a velar por nós, agora na plenitude de sua vida com Deus e os santos do Céu.</div>
<div style="text-align: justify;">
Nesta certeza, nós a temos sempre a nosso lado, em nossa vida de cada dia, velando por sua filha Isabela, por seus irmãos, por seus já idosos pais.</div>
<div style="text-align: justify;">
Presença permanente nos labores do dia-a-dia, no silêncio e na solidão das noites indormidas, enxugando-nos as lágrimas da saudade que não passa.</div>
<div style="text-align: justify;">
<br /></div>
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<br /></div>
<div style="text-align: justify;">
III - Vida para além da morte</div>
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A morte de minha filha Raquel fez-me refletir sobre o seu sentido espiritual e, com isso, perguntar a mim mesmo: dentro da Fé cristão-católica que professo é possível uma visão positiva do fenômeno doloroso da Morte? E a Fé que me anima responde-me que sim, porque dentro da vida humana há uma chance única na qual homem e mulher, pela primeira vez, nascem totalmente ou acabam de nascer: na Ressurreição, que acontece justamente no instante da morte, como defendem os maiores teólogos da atualidade, contestando a doutrina tradicional, segundo a qual a Ressurreição só acontecerá no final dos tempos.</div>
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Com isso, afirmo que a morte significa já o final dos tempos, o fim do mundo para a pessoa que morre. Na morte, homem e mulher entram num modo de ser que anula as coordenadas do tempo e passam para a atmosfera de Deus, que é a Eternidade. Já a partir deste ponto de vista se deve dizer que não é mais compreensível afirmar qualquer tipo de <em>"espera", </em>de "<em>tempo intermediário" </em>entre a morte e uma suposta Ressurreição no final dos tempos. Por isso, a <em>"espera</em>" pela Ressurreição no final dos tempos é uma representação mental inadequada ao modo de existir da Eternidade.</div>
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Para acabar com esta concepção errada e muito comum, é preciso repetir sempre: na Eternidade não há tempo. A Eternidade é um eterno hoje, um eterno presente. Se na Eternidade não há tempo, como é que os mortos vão esperar o tempo final? O final dos tempos para a pessoa que morre é justamente o seu falecimento. </div>
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Na morte, a pessoa, pela Ressurreição que acontece na morte, nem antes nem depois, entra no final dos tempos, e aí recebe a sua destinação final. Nesta concepção concordam os mais influentes teólogos dos tempos modernos.</div>
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A morte sempre foi entendida como o fim da vida corporal. Ela é dolorosa e triste como um fim de festa ou como o derradeiro aceno de uma despedida.</div>
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A morte é sim o fim da vida. Ela marca a ruptura de um processo. Como que criando uma cisão entre o tempo presente e a Eternidade. Mas ela cobre apenas um aspecto do ser humano: o biológico e o temporal. Homem e mulher constituem algo muito superior ao biológico, porque são mais do que um animal. São também superiores ao tempo, porque suspiram pela perenidade do amor e da vida.</div>
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Homem e mulher são pessoa e, mais que isso, interioridade. Para eles a morte não é simplesmente um fim, mas um fim-plenitude, um fim-meta alcançada, o lugar do verdadeiro e definitivo nascimento, alcançado na Ressurreição. E eu tenho a firme convicção que a Ressurreição acontece no próprio instante da morte, como me ensinou o mestre em teologia, Frei Leonardo Boff.</div>
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Lembra-me a mulher grávida que, entre angústia, dor e esperança, segura o filhinho recém-nascido e murmura, agradecida: atingi meu fim: sou mãe!</div>
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É nesta Fé que minha filha Raquel, alcançando na morte a sua Ressurreição, alcançou também o seu nascimento definitivo.</div>
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Se a sua ausência física entre nós enche-nos de uma angustiosa e pungente tristeza, paradoxalmente, pela sua vida plenamente vivida, pela sua Caridade ardente por todos que a rodeavam, a certeza inabalável de que a Raquel descansa hoje no Reino de Deus, enche-nos também de uma radiosa e prazerosa alegria...<br />
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IV - Descanse na paz do Senhor</div>
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Neste 21 de agosto de 2013 , na Igreja Paroquial, durante a Santa Missa celebrada pelo Padre Alceu, em sufrágio da alma da Raquel, mais uma vez familiares, ex-companheiros de trabalho na Caixa Econômica Federal, e inumeráveis membros da comunidade paroquial, nos irmanamos na imorredoura saudade e no dolorido pranto por ocasião de mais um aniversário do falecimento de nossa inesquecível filha.</div>
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A tristeza infindável que nos martiriza pela ausência física da pessoa amada é, paradoxalmente, aliviada pela alegria da certeza absoluta de que ela, pela sua vida cristãmente vivida, pela Caridade ardente que animava todo o seu relacionamento com as pessoas com quem convivia, descansa hoje na Bem-aventurança eterna, junto ao Pai de todas as vida.</div>
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Com seu organismo debilitado pelo câncer que lhe corroía coluna vertebral, pulmões e cérebro, ela esperava a morte, com plena consciência, mas transfigurada pela resignação, pela acendrada confiança em Deus e pelo amor de toda a sua pequena família, que também sofria em comunhão com ela.</div>
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Permanece a dor da saudade no coração de sua filha Isabela, de seus pais Aroldo e Cleusa, de seus irmãos Carlos e Aroldo Júnior, que dedicam à saudosa Raquel este singelo poema nascido da dor, abrandada, porém, pela certeza de que ela repousa em paz junto ao <em>"Abbá</em>" de Jesus de Nazaré, junto ao Pai de todas as vidas:</div>
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<em>Eu esperei a morte como se espera o Bem Amado</em></div>
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<em> ignorava como ela viria</em></div>
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<em> nem como viria</em></div>
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<em> mas eu a esperava</em></div>
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<em> e não havia medo nessa expectativa</em></div>
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<em> havia somente ânsia e curiosidade</em></div>
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<em> porque a morte do cristão é bela</em></div>
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<em> porque a morte do cristão é uma porta</em></div>
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<em> que se abre para mundos desconhecidos</em></div>
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<em> mas imaginados</em></div>
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<em> como o amor</em></div>
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<em> que nos leva para um outro mundo</em></div>
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<em> como o Amor</em></div>
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<em> que nos promete uma outra vida</em></div>
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<em> diferente da nossa</em></div>
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<em> Eu esperei a morte como se espera o Bem Amado</em></div>
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<em> porque eu sei que em breve ela viria</em></div>
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<em> e me receberia</em></div>
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<em> em seus braços amigos</em></div>
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<em> Seus lábios frios tocarão a minha face</em></div>
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<em> e sob a sua carícia</em></div>
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<em> eu adormeceria o sono da Eternidade</em></div>
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<em> como nos braços do Bem Amado</em></div>
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<em> Sei que este sono</em></div>
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<em> será um ressurgimento</em></div>
<div style="text-align: justify;">
<em> porque sei que a morte é Ressurreição</em></div>
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<em> é Libertação</em></div>
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<em> é Comunhão Total</em></div>
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<em> com o Amor Total e Infinito</em></div>
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<em> do Pai de todas as vidas</em><br />
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<em> </em>V - O último andar</div>
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Hoje, de manhãzinha, este velhote já meio careca, ralos cabelos brancos na cabeça, bastante carcomido pelo peso de seus 81 anos, confessa francamente, de público, que chorou .Estava dando uma arrumadela em seus livros, na estante, e encontrou ali, meio escondido entre pesados livros de Teologia, um pequeno volume intitulado <em>"Um olhar sobre a cidade</em>", do saudoso Dom Hélder Câmara, falecido em 28 de agosto de 1999.</div>
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O velhote chorou, confesso mais uma vez, porque encontrou na primeira página do livro esta dedicatória: -"<em>Para o pão-duro, munheca e boco-moco do meu irmão, que esta oferta grátis faça que o próximo ano marque para Você uma maior abertura de si mesmo. Darcy".</em></div>
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<em> </em>Darcy. Minha irmã. Quem tem a pachorra ou a curiosidade de entrar no meu <em>"blog do mestre</em>"</div>
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encontra lá uma espécie de poema intitulado "<em>Meus dois amores</em>", e nele se fala da Darcy que, procurando mais vida numa mesa de cirurgia, na vida encontrou a morte, ao lado de Raquel, aquela que lutando contra a morte num leito de hospital, na morte encontrou a Vida Eterna</div>
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Pois é, ambas, meus dois amores: Darcy, minha irmã; Raquel, minha filha</div>
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Folheando o belo livro de Dom Hélder, encontrei lá nas últimas páginas um poema de Cecília Meireles, com o sugestivo título de "<em>O último andar".</em></div>
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<em> </em>Peço licença à Cecília Meireles para transcrever aqui os versos maravilhosos que também me fizeram chorar:</div>
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<em>No último andar é mais bonito</em></div>
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<em> do último andar se vê o mar</em></div>
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<em> é lá que eu quero morar</em></div>
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<em> O último andar é muito longe</em></div>
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<em> - custa-me muito lá chegar -</em></div>
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<em> mas é lá que eu quero morar</em></div>
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<em> todo o céu fica a noite inteira</em></div>
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<em> sobre o último andar</em></div>
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<em> é lá que eu quero morar</em></div>
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<em> Quando faz lua</em></div>
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<em> no terraço fica todo o luar</em></div>
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<em> é lá que eu quero morar</em></div>
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<em> Os passarinhos lá se escondem</em></div>
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<em> prá ninguém os maltratar</em></div>
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<em> No último andar</em></div>
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<em> de lá se avista o mundo inteiro</em></div>
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<em> tudo parece perto, no ar</em></div>
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<em> É lá que eu quero morar</em><br />
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<em> </em>Chorei de manhãzinha porque, relendo o poema de Cecília Meireles, lembrei-me da Raquel,</div>
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minha filha querida que flechou verticalmente o Céu em busca do infinito. E este infinito, novo nome para <em>"O último andar</em>", é ali que se tornou definitivamente a morada eterna da Darcy e da Raquel, ambas os meus dois amores.</div>
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Ambas no último andar. Será vaidade querer morar no último andar, onde ambas agora estão morando? Se de lá se vê o mar, se a noite inteira todo o Céu fica sobre o último andar; se de lá se avista o mundo inteiro, como não querer ir para o último andar? Sobretudo se é lá, no último andar, que os passarinhos se escondem para ninguém os maltratar, como pode ainda haver dúvida, quanto a meus dois amores terem querido ir morar no último andar?</div>
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Para os meus dois amores, a Darcy e a Raquel, como foi também para os santos do Céu, a morte não lhes apareceu como um horrendo esqueleto com uma foice nas mãos. Elas, como os santos, não tiveram medo de morrer. Se morrer, para elas, é ressuscitar, sei que elas nunca falaram em morrer. Quando fosse o caso, elas falavam em ressurreição na morte, ou então preferiam falar em partir...</div>
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E como fez São Francisco de Assis, uma que procurava mais vida, e procurando mais vida se </div>
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deparou com a morte, a outra, que lutava contra a morte num leito de hospital, e lutando contra a morte, na morte encontrou a Vida Eterna, saíram ambas vitoriosas, porque saudaram a Morte como uma irmã querida, que veio para leva-las para a Casa da Vida Eterna.<br />
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Para o ´<em>Ultimo Andar".</em></div>
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Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com0tag:blogger.com,1999:blog-3791674813977260458.post-25624116338161905082017-03-19T09:53:00.000-07:002017-12-01T09:16:19.410-08:00Para a Isabela: um testemunho de dor<i></i><br />
Hoje, lembrando-me da Raquel, confesso que chorei. Antes de ela ser sua mãe, é minha filha, e por isso, lembrando-me dos seus últimos dias neste mundo, não nego, chorei, e chorarei sempre que me lembrar dela.<br />
Seu fim eu o presenciei, dolorosamente, desta maneira:<br />
Certa manhã, estávamos na sala sua avó, eu e sua mãe, a Raquel. Num certo momento, a Raquel disse que ia subir para seu quarto, levantou-se e dirigiu-se para a escada. Eu vi que ela tentou três vezes colocar o pé sobre o primeiro degrau, e não conseguiu. Senti um estalo na cabeça, imediatamente peguei o telefone e liguei para o Ecco Salva.<br />
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Colocaram a Raquel em uma maca e a levaram para a ambulância. Eu fui junto. Chegando ao Hospital Erasto Gaertner e, examinada, o médico disse apenas: - <i>Mega metástase</i>! </div>
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Informando que o câncer tinha tomado todo o seu cérebro; fecharam-lhe a cabeça e ela ficou internada.</div>
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Conversando com seu médico, ele me explicou que ela estava em estado terminal e que nada mais havia a fazer. Entrei no quarto e percebi que ela já sabia de seu estado. Ela me pediu que eu sentasse à beira da cama, pegou em minha mão, apertou-a até doer, e me disse: <i>- Pai, você vai me fazer uma promessa.</i></div>
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Eu respondi que faria a promessa que ela quisesse, e ela então me disse que desejava que eu fizesse Você, Isabela, feliz. Eu lhe prometi chorando. E assim foi. Mais tarde o médico entrou de novo no quarto, disse-nos que ia aplicar-lhe uma injeção para ela não sofrer mais. Como ela dormiu, voltei para casa, ficando sua mãe com ela. </div>
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Hoje em dia, refletindo sobre esse fato, e sabendo por terceiros do costume do Erasto Gaertner, cheguei à conclusão de que, estando ela em estado terminal, a injeção que lhe foi aplicada era para apressar-lhe o fim, já que nada mais havia a fazer.</div>
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Algum tempo depois, já em casa, tocou o telefone, era o Carlão que ficara com a Raquel no hospital, e disse que se quiséssemos vê-la ainda com vida, era para irmos imediatamente ao hospital. Você, querida Isabela, era muito pequena e achei que não deixariam você entrar, então sua avó foi sozinha, eu abracei você, nós dois sentados chorando à beira da cama, e ai ficamos não sei por quanto tempo.</div>
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De madrugada a Raquel morreu. Deixou este mundo de dor e sofrimento, e partiu para a Casa do Pai de todos os pais.</div>
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Não sei onde foi o velório. Só sei que o sepultamento foi no Memorial da Saudade. Eu não consegui ir à beira do sepulcro onde ela estava sendo sepultada. Fiquei à distância, sentado em um banco, chorando. Só me lembro que um antigo vizinho, o senhor João, hoje ministro da Eucaristia na paróquia, sem dizer nenhuma palavra, sentou-se ao meu lado, silencioso, até terminar toda a cerimônia. Dias atrás mandei-lhe um bilhete agradecendo sua atitude caridosa, simplesmente sentando-se ao meu lado, dando-me apoio e conforto, mesmo sem palavras, pois elas de nada adiantariam, diante das circunstâncias.</div>
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Terminado o sepultamento, voltamos para a solidão de nossa casa, que continua solitária até os dias de hoje, apesar do valioso presente que a Raquel nos deixou, que é você, minha querida neta Isabela!</div>
Aroldo Teixeira de Almeidahttp://www.blogger.com/profile/10136084101351971931noreply@blogger.com1