domingo, 21 de junho de 2015

SE EU PUDESSE...


             Já publiquei este texto tempos atrás, mas ele me parece tão pleno de atualidade, que  me atrevo a publicá-lo novamente, na esperança de que ele seja útil a algum eventual leitor.
           Se eu pudesse... Tal é o título do texto. É uma frase, como aprendi na escola, de sentido condicional. Realizar-se-ia se se desse tal ou qual condição. É o que tenciono explorar em seguida, se os fados me presentearem com pachorra e inspiração!...
                Se eu pudesse...
             contrataria barcos que deslizassem suavemente nos mares do Paraná, na hora em que a grande Cidade, ao cair da tarde, volta em disparada para casa, depois de uma profícua jornada de trabalho...
              Se eu pudesse, à noite, perambulando pelas avenidas de Curitiba, e encontrando no meu caminho pessoas desanimadas, pessimistas, amargas, revoltadas contra o Governo, contra a alta generalizada dos preços, contra a corrupção que lavra desvairada em todos os setores da Nação, contra o frio inclemente que me obriga a um exagero de agasalhos, numa palavra, se eu pudesse de verdade, arranjaria rodas de crianças cá no Tingui, meu bairro, que brincassem à luz dos postes da Copel, cantando as modinhas que me tocam o coração envelhecido:

                                                   "...sozinho eu não fico
                                                     nem hei de ficar
                                                     pois uma dama destas
                                                     tem de ser o meu par..."

            Se eu pudesse:
            na hora triste e dolorosa dolorosa em que o caixão mortuário de meus filhos queridos, a Raquel e o Júlio, eram conduzidos e colocados terra a dentro, eu faria que uma revoada de andorinhas voasse sobre a cabeça dos presentes, anunciando-lhes que a morte não é o fim de tudo, pois eu creio firmemente  na Ressurreição dos mortos...
            Se eu pudesse:
            pertinho das casas em que houvesse pessoas se sentindo sós e abandonadas por parentes e amigos, eu faria ouvir uma voz bonita cantando belas canções, dessas que não morrem nunca, são sempre belas e vão diretas ao coração que sofre:

                                                 "...sempre em meu coração


                                                  Eu sei e Você sabe...

                                                  Faz tanto tempo que perdi minha felicidade
                                                  com a morte dos filhos amados
                                                  a Raquel e o Júlio...
                                                  Faz tanto tempo, e eu ainda me lembro
                                                  como se fosse hoje..."


            Se eu pudesse:

            essa voz solitária
            seria acompanhada por algum instrumento bem tocado,
            bem bonito, bem saudoso:
            um violão, um bandolim, uma flauta,
            uma clarineta...

           Aqui no meu bairro, o Tingui, a meio quarteirão, tenho uma vizinha viúva e sexagenária, que possui o dom sagrado de adivinhar quando estou triste, pensando em meus mortos, e de repente ouço o toque de seu piano, cantando músicas de sempre, numa mensagem de harmonia, de beleza, que afastam de mim a tristeza, me trazem beleza e paz..
           Se eu pudesse:
        nas minhas  caminhadas à tarde,  por vezes trôpegas de quem enfrentasse estradas sem fim, sem luz, sem companhia, eu faria surgir vagalumes alumiando o caminho, e desejaria  nem que fosse o canto estridente de  uma cigarra, para quebrar-me a solidão...
           Se eu pudesse:
          ao cair da noite, quando o sol se esconde por trás das nuvens, eu pediria que todas as igrejas, principalmente aquela mais perto de mim, a de São Pedro e São Paulo, tocassem o "Ângelus", convidando-me a pensar em Deus, induzindo-me a rezar... É, para mim, uma hora diferente, tocada pela Graça divina..
           No cair da noite, até as pedras do calçamento perdem aquela desagradável aspereza. Os enormes edifícios de cimento armado não esmagam tanto a gente: quase se harmonizam com a magia do entardecer, perdendo de todo a agressividade...
           Se eu pudesse:
           a banda de música da Polícia Militar de vez em quando marcharia pelo bairro, tocando aqueles "dobrados" que foram a alegria de minha infância despreocupada... Lembro que alguns deles ficaram para sempre no ouvido da gente...
            Se eu pudesse:
        , pediria sempre ao Pai de todos os pais que estendesse no céu o arco-íris, se possível, até durante as minhas noites endormidas...
             Se eu pudesse:
            pediria  também ao arco-íris, como fez nos tempos dos profetas e patriarcas, que aparecesse de novo no céu deste nosso Paraná, com a sua força mágica de desfazer ódios, intrigas, corrupções de todo gênero, de modo que ele valesse, de fato, como sinal de entendimento, de amizade e de paz...
            Ah! Se eu pudesse!...
            E Você, benévolo leitor, se Você também pudesse, o que aconteceria?!...

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Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado do sofrido Quadro Próprio do Magistério Paranaense, que pede ao Governo maior apoio na sua nobre missão de ensinar as novas gerações!


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