sexta-feira, 31 de maio de 2013

O MISTÉRIO DOS ESPONSAIS


          Está na Carta de Paulo aos romanos, no capítulo VIII, versículos 18 a 24:

          - "Nós sabemos que toda a criação geme e está juntamente em trabalhos de parto até agora. E não só ela: nós mesmos que possuímos as primícias do Espírito, também gememos em nós mesmos, à espera da redenção do nosso corpo. Porque em esperança somos salvos."

          Esta passagem da "carne" para o "espírito", isto é, da fragilidade da criatura entregue a si mesma, para o poder divino, provoca as dores do parto, porque toda transformação é dolorosa. Porém, não há  nascimento sem mudança de estado de vida. A morte é "dies natalis",  dia de nascimento, diz a liturgia católica.
         A morte do mundo  é também um nascimento. Por outras palavras, não são as esperanças humanas como tais que serão destruídas no fim dos tempos, mas apenas a forma frágil que revestem presentemente; então a ganga de argila rebentará, cairá a casca, para que melhor apareça o miolo secreto que era, desde agora, neste mundo, Justiça e Caridade.
          Para além do nascimento do fim dos tempos, homens e mulheres poderão "passar o seu Céu a fazer o bem na Terra". Com Cristo, participando do Seu poder de ressuscitado, os que morreram nEle poderão como Ele multiplicar-se entre os vivos. Assim como se diz de uma mãe que o amor duplica a sua presença entre os filhos,  eles se multiplicarão entre os que trabalham ainda que na fragilidade.
       Este nascimento do mundo para a verdadeira vida é também abertura ao amor, porque o "fim dos tempos", em sua plenitude, é mistério de esponsais.
       A história destas núpcias entre Deus e a humanidade começou há muito tempo, na miséria e na fraqueza, e na força de Deus, como lemos no capítulo XVI, do livro de Ezequiel:

         -"Por ocasião do teu nascimento, no dia em que vieste ao mundo, não te foi cortado o umbigo nem te lavaram com água, para te limpar, nem te esfregaram com sal, nem te envolveram em faixas.Ninguém se compadeceu de ti para te prestar algum desses serviços, por compaixão para contigo... Então eu passei junto de ti e te vi... E me comprometi por juramento e fiz um pacto contigo, oráculo do Senhor Javé, e tu ficaste sendo minha."

        Esta criança recém-nascida, abandonada à beira da estrada, banhada em seu sangue, evoca as milhares de meninas que morrem nos caminhos do mundo antes mesmo de terem verdadeiramente "nascido". E eis que um misterioso transeunte se debruça sobre a menina, a lava, a agasalha, a educa, a prepara para crescer e se tornar a noiva virginal que, no tempo dos amores, será aquela que ele ama. Este transeunte é Deus mesmo, que disse à humanidade, em Israel, "que ela é dEle", e estas núpcias são indissolúveis.
          Nós não sabemos que tesouros se manifestarão no "corpo deste mundo" que os nossos esforços e trabalhos, juntamente com os de Jesus presente pelo poder do Seu Espírito, terão preparado para os esponsais. Mas tudo o que tivermos feito no tempo de nossa peregrinação na Terra, será selado na eternidade. Nada do que tenhamos verdadeiramente amado na Justiça, na Paz e na Caridade, será perdido, porque, nas palavras bíblicas, é vestida com trajes de beleza, cercada de suas companheiras, que a humanidade-esposa, que a esposa-Igreja "é levada para dentro", para o palácio do Rei:
        No dia dos esponsais, a noiva deixa o seu país, passa de seu povo e da casa de seus pais, para "outra casa". Esta passagem, esta Páscoa, a humanidade inteira a realizará definitivamente, quando, vestida de brocados e cercada de suas companheiras, a plenitude deste mundo será visitada pela plenitude de Deus, conforme a promessa do livro do Apocalipse:

        - "E vi um novo Céu, uma nova Terra... E vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que de Deus descia do Céu, que se fizera bela como uma esposa bem vestida para seu esposo."

         Entrar na plenitude das núpcias não é ver morrer a esperança, porque a consumação do amor é também ressurgimento e ressurreição. Porque a Igreja, neste mundo, esposa de Cristo, é fecunda, é "Nossa Mãe";  engendra seus filhos para a eternidade, e com eles participará do mesmo ressurgimento e da mesma ressurreição de Cristo porque, no fim dos tempos, os esponsais serão também peregrinação e apaziguamento no Reino dos Céus.

     

quarta-feira, 29 de maio de 2013

A ESPERANÇA DO MUNDO


           Neste meu segundo texto que tem por tema a Esperança, lendo Charles Moeller,
 no terceiro volume de sua monumental obra "Literatura do Século Vinte e Cristianismo", deparei-me com estas palavras:
          - "É ao Ocidente, de agora em diante, que se propõe a questão da esperança do mundo. Ele tem de optar pelo delicioso tédio de Françoise Sagan, ou pela calma e paciente busca da terra prometida, que se entrevê de maneira sóbria na obra de Bombard, e de maneira lírica na de Ladislau Reymont. Num tempo em que a avalanche do mal em todos os setores da vida humana se torna avassaladora, é indispensável ouvir uma voz de verdadeira esperança, aquela que nossos irmãos humanos percebem como um apelo ao futuro. É necessário que se ouça essa voz. E não a minha."
          Na verdade, a esperança, de que fala Charles Moeller, esconde-se no tempo em que vivemos. Basta-nos ter olhos de ver e ouvidos para ouvir, para que ela se nos torne presente. Deus, nosso Pai, prepara a revelação da esperança cristã àqueles que ama. E Deus ama a todos, indistintamente, sem distinção de sexo, de raça, de cor, ou de crença, qualquer que ela seja, mesmo que seja contra Ele.
            Será que eu consigo, neste mísero blog, fazer com que este cântico de esperança que é um triunfo, embora modesto, seja ouvido, por ser ressuscitado de mortos?
           Tenho a firme certeza de que a síntese do movimento e do repouso, da ordem e da aventura, do risco e da certeza, é a duração criadora, o compasso da esperança.
             Sei também que a história de Alain Bombard, que acabei de ler, ele, que foi um náufrago voluntário, que partiu, que esperou no seio do desespero, mas que confiou na Providência, lutou, agradeceu a Deus, e chegou ao seu destino. Os vivos que continuamente estão passando por catástrofes terríveis, os mártires que em todo o mundo morrem por aquilo que creem, um dia chegarão à terra prometida, talvez antecipando-se a nós, porque Deus lhes pediu que iniciassem mais cedo a viagem "ao fim da noite",  como a Abraão e como a Tobias, do qual se diz que "por ter agradado ao Senhor, era preciso que a tentação o assaltasse"; como a Jó, que "amaldiçoou o dia de seu nascimento", mas que também "se cala e espera", como a Cristo, enfim, na cruz. Nesses olhos que não têm mais lágrimas, uma luz misteriosa nascerá.
           Essa terra prometida é decerto "a praia de Barbados", como no livro de Alain Bombard, mas também, visto que toda terra é de "Deus",  essa terra prometida é  o próprio Senhor Jesus Cristo, que não está "algures",  está "aqui", conosco, até a consumação dos séculos.
         Ele está com os felizes, é certo, mas principalmente com os desgraçados, os desesperados, sobretudo quando estes não O conhecem.


     
            
         

segunda-feira, 27 de maio de 2013

A PARÁBOLA DA ESPERANÇA


          Eis aqui, expressa pela pena de uma menina de 15 anos, uma questão que também afeta a todos nós, peregrinos deste mundo que Deus entregou às nossas mãos:

          - "Amsterdam, sexta-feira, 26 de maio de 1944. Mais de uma vez tenho-me perguntado se não teria sido preferível para todos nós não nos escondermos e estarmos mortos a esta hora, do que passar toda esta miséria, sobretudo por causa dos nossos protetores, que pelo menos não estariam em perigo. Mesmo que esta idéia nos faça  recuar, amamos ainda a vida, não esquecemos a voz da natureza, esperamos, apesar de e contra tudo.
           Terça feira, 6 de junho de 1944. A mais bela coisa do desembarque dos americanos é a idéia de me tornar a reunir a meus amigos. Tendo sentido a faca na garganta e oprimidos há tanto tempo por esses horríveis nazistas, não podemos impedir-nos de estar impregnados de confiança, pensando na salvação de nossos amigos.
          ... Margot diz que talvez eu possa enfim ir à escola em setembro ou outubro.

                                                             ***************

          Anne Frank era judia e teve de se esconder com sua família, durante meses, nos fundos da loja de uma pequena casa holandesa. Foi num livro consagrado a Israel que encontrei o texto acabado de citar. Em frente, em página inteira, a fotografia de uma menina levando na mão estendida um pinheirinho, um dos seis milhões que a juventude vai plantar nos arredores de Jerusalém, floresta de mártires, floresta dos "seis milhões"  de judeus mortos pelos nazistas e que o deserto vai reviver.
          Essa menina parece pensar em Anne Frank, da qual um texto me diz que não foi à escola, porque "morreu deportada no campo de concentração nazista de Bergen-Belsen". A cabeça da menina está ligeiramente voltada para quem olha (à sua direita vê-se o braço de um rapaz levando também uma muda de pinheiro); tem o corpo envolvido em roupas pesadas, por cima da calça masculina; apenas um leve lenço lhe feminiza o perfil; as feições são pueris e sérias, porque os jovens dessa geração cresceram depressa. A cabeleira é basta, penteada  "à la diable", negra e dura; lábios pequenos e carnudos. Os olhos é que nunca se esquecem: muito abertos, calmos e sombrios, olham.
          Aí está a esperança que nasce, inscrita num gesto, e cantada pelo profeta Ezequiel quando disse: 
- "Filho do homem, estes ossos são toda a casa de Israel. Eis que eles dizem: Os nossos ossos secaram, e pereceu a nossa esperança... Assim diz o Senhor: - Eis que eu abrirei as vossas sepulturas, e vos farei sair das vossas sepulturas, ó meu povo, e vos trarei à terra de Israel".
          Que "terra de Israel"  Anne Frank encontrou neste mundo? Eis a pergunta que nos faz esta jovem judia, porque o povo de Israel, no seu tempo,  foi a imagem mais nua, mais vulnerável da condição de homens e de mulheres. É a pergunta que nos fazem os milhões que morreram, cativos e aflitos, em seus corpos ou em suas almas, nas nossas intermináveis guerras:
          - "Que fizestes das esperanças dos homens? Que fizestes do Senhor Jesus, esperança do mundo? 
          

sábado, 25 de maio de 2013

OS QUE NÃO QUEREM PROCURAR DEUS


          No meu modesto entender, existem duas atitudes perante o problema religioso, conforme aprendi nas aulas do saudoso Monsenhor Roxo, professor de Dogmática na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo. Foi sob a sua orientação criteriosa e amiga que me tornei, com muito orgulho, licenciado em Teologia.
      Conforme as aulas do Monsenhor Roxo, existem aqueles que procuram Deus, porque desejam descobrir o sentido final da vida; e a atitude daqueles que não querem procurar Deus, por entenderem, mais ou menos explicitamente, que homem e mulher são os únicos responsáveis pela sua própria existência, perfeitamente capazes de se arranjarem neste nosso universo.
          Aqueles que procuram Deus acolherão de bom grado a Seu respeito toda a luz, por pequena que seja e seja qual for o meio de a obter, comportando-se quanto a essa luz como um investigador contente de descobrir uma pista eventual, e não como um juiz que tudo pretendesse submeter ao seu critério de investigação, e fixar a priori  as condições em que essa luz deveria apresentar-se para que ele se dignasse ocupar-se dela.
         Aqueles que não procuram Deus, ao contrário, serão os juízes de que fala um belo texto bíblico, e que não tardarão a mudar-se em inquisidores:  colocados em presença dos vestígios de passos de Deus na areia de nosso vida, vão se esforçar por reduzi-los a uma qualquer das hipóteses materialistas e atéia;, porém acuados em seus últimos refúgios pela evidência do fato religioso, volver-se-ão com todas as forças contra esse Deus que lhes ameaça a liberdade. Proclamarão, em altas vozes, o ateísmo e o antiteísmo. Perante os vestígios de uma presença misteriosa na ilha "deserta" de suas vida,  esforçam-se por negar, e depois explicar.
          Perante o fracasso das suas "explicações", darão meia volta para replicar: - "Vós dizeis que Deus existe, eu admito; mas nesse caso peço contas a Deus pelo mal presente no mundo; eu o intimo a explicar-se, Ele que me castigue se O provoco; que colabore nas minhas boas obras, pois desejo muito fazer a experiência religiosa. Mas se os vestígios de passos encontrados na areia são de alguém, que esse "alguém" se mostre; Quero ver o visitante das praias desertas; quer eu o odeie ou ame, ele deve mostrar-se, não pode permanecer escondido no Seu mistério."
         O desenlace é sabido: diante do "silêncio de Deus", eles concluirão, felizes pela sua descoberta: - "Deus não existe! Alegria! Lágrimas de alegria"!
          O ateu, no seu íntimo, sabe que Deus existe; mas não quer que Ele exista. Atrevo-me a compará-lo a um náufrago que estivesse, também, numa ilha "misteriosa", porém, ao contrário dos que se alegram ao se verem ajudados secretamente pelo benfeitor invisível, se revoltassem contra aquela presença oculta.
         Esse náufrago da vida consideraria uma covardia utilizar semelhante ajuda, preferindo prescindir-se dela. E começaria então uma luta de todos os instantes contra o visitante indesejado.
           Não é assim a nossa vida, diante da presença de Deus, que achamos muito bom dispensá-La?





quarta-feira, 22 de maio de 2013

O MILAGRE DE DOM MALAQUIAS


            "Silêncio de Deus" -  seria esta uma frase apta para traduzir o absurdo do universo? Diante deste silêncio enigmático de Deus, seriam homem e mulher uma "paixão inútil", como diriam tempos atrás os filósofos existencialistas? Certos cristãos, um tanto quanto afoitos, em face deste silêncio divino, desejariam uma manifestação sensacional de Deus, uma espécie de trovoada celeste, com raios e trovões, que limpasse de uma vez por todas a atmosfera e reconduzisse à Fé a massa da humanidade. Esta seria a opinião de  Charles Moeller, expressa no primeiro volume de sua monumental obra "Literatura do Século Vinte e Cristianismo."
           Diz ele que a fascinação exercida pelas diversas formas do espiritismo prova essa fome doentia de "tocar", de agarrar, de apreender, como se segura pela gola um malfeitor, a eficiência religiosa no mundo. 
             Os cristãos que desejam milagres espetaculares, e os incrédulos que sonham com uma falsa invasão mística, enganam-se. A prova está, de maneira humorística, no romance de Bruce Marshall, "O milagre de Dom Malaquias", que acabo de ler nesta semana.
          O enredo do romance nos conta que um frade, em virtude de certa aposta com um pastor protestante, havia pedido a Deus que atirasse para cima de um rochedo da Escócia a taberna equívoca que cinicamente se instalara bem em frente à sua igreja. E sua prece foi atendida. Edifício, móveis, copos e garrafas, mulheres de escassa virtude, mundanas em disponibilidade, bons moços extraviados, tudo voou para a Escócia. O frade proclamou o milagre por todos os alto-falantes da cidade, cantou-se o "Te Deum" na igreja, a comunidade religiosa sentiu-se fortificada na sua Fé.
         Uma só pessoa, entretanto, manteve-se na defensiva. O bispo local não foi na onda: - "A Igreja não gosta muito de milagres!" - confia ele ao monsenhor seu secretário.
        O bispo tinha carradas de razão: após uma corrida fantástica para a igreja paroquial, as pessoas começam a rarear. Os protestantes, observando o fenômeno, dizem que a coisa se explica perfeitamente: foi um ardil papista; os mais instruídos falam que foi auto-sugestão. Pouco a pouco a igreja paroquial fica de novo quase deserta. E supra-sumo dos azares, na visão do frade: a taberna maldita, transferida para um lugar "sensacional", quadruplica os seus negócios em poucas semanas.
         Felizmente o frade se convence de ter sido impaciente, e reconhece que homem e mulher são feitos de tal maneira que, não estando moralmente preparados para irem ao encontro de Deus, nem o milagre mais estrondoso os convencerá. É preciso ser paciente. Não querer antecipar-se aos desígnios de Deus. É preciso ter Fé e Esperança. Nunca querer interpretar ou forçar os atos da Providência.
        Após o frade reconhecer sua impaciência com uma breve e contrita oração, a taberna volta ao seu lugar primitivo, e tudo "recomeça como antes..."

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         A história de Dom Malaquias, como eu a vejo, é bonita, mas poder-se-iam contar muitas outras. Esta, por exemplo. Certa família do meu bairro, aqui em Curitiba, gasta um bom dinheirinho para levar um filho doente até a cidade de Aparecida, com a esperança de obter a sua cura, sob as bênçãos da Virgem Maria. Irmãos e irmãs, amigos, vizinhos, colegas de escola do menino, todos rezam, as comunidades religiosas prodigalizam as suas preces e penitências. O menino não se cura e morre.
       Na verdade, um milagre não converte o mundo, mas uma cura miraculosa transforma a vida espiritual dos beneficiados. Mas, por que se cura este, e não se cura aquele outro?
      Mistério terrível, mas atrevo-me a dizer que a Fé e a Esperança de um pai e de uma mãe que tudo sacrificaram para obter a cura de um filho, sem serem atendidos, é especialmente colocada à prova por Deus. É a lição que nos ministra o livro bíblico de Tobias: - "Se agradas a Deus, terás de ser submetido à tentação!"
         A Bíblia inteira nos chama para esta verdade, e sobretudo o Filho de Deus, Jesus Cristo, que no Getsêmani pede que o Pai lhe afaste o cálice da dor, apesar de tudo o bebe, livremente, por amor ao Pai e a Seu povo!


      
    
             

terça-feira, 21 de maio de 2013

VINDE, SENHOR JESUS!



      Os cristãos deste século querem pão, pão verdadeiro, que os sacie; querem água, água verdadeira que lhes estanque a sede; querem luz, a luz da verdade, que não se apaga. Querem ouvir a Palavra divina, simples, poderosa, indo até à junção do espírito e das medulas.
      Essa Palavra de Deus é Jesus Cristo, o Verbo Encarnado.
      Lembro-me até hoje que no ano de 1963, estudante de Teologia na Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, na capital Paulista, eu passava os domingos, com um grupo de colegas estudantes, numa das maiores favelas de São Paulo, a favela da Vila Prudente, em trabalho de evangelização.
    Num certo mês, comecei a explicar o Evangelho de São Mateus ao meu público, uma centena de adultos, homens, mulheres, e grande número de jovens. A partir da terceira aula, o  sacerdote que nos acompanhava e orientava nos disse que o número de ouvintes duplicou, e que houve até conversões. É que se falou de Jesus Cristo. Bastava pensar nEle!
     A Igreja Católica, por esse tempo, restabeleceu a Vigília Pascal. As igrejas ficavam cheias; os fiéis cantavam, ajoelhavam-se, deixavam o respeito humano à porta; rezavam e meditavam o Evangelho. Saíam da igreja com a certeza de terem vivido um novo "batismo". A razão é muito simples; falava-se a eles da ressurreição de Cristo, pedia-se que se associassem a Ele, na fé batismal.
     Aqueles homens, mulheres, jovens, da favela, acreditaram na Palavra. Sem o saber. Diante de Jesus Cristo, surpreenderam-se crentes. É que se falava de Jesus Cristo. Bastava pensar nEle!
      O centro de nossa pregação deve sempre ser a pessoa de Jesus Cristo. É nEle que a Igreja pede que se creia. Em mais ninguém. Porém, com Ele, nEle, no Pai e no Espírito Santo.
      Também os meus ouvintes da favela da Vila Prudente, depois de muitos rodeios, pareceu-me que se convenceram de que bastava pensar nEle. Na verdade, a finalidade do trabalho dos jovens estudantes de Teologia, na favela, era despertar na população favelada a necessidade de em todo tempo, em todo dia, em toda hora, repetir sempre, no mais íntimo da alma: - "Vinde, Senhor Jesus!"

sábado, 18 de maio de 2013

O SONHO DE KARL BARTH


      Na abalizada opinião do teólogo católico Hans Urs von Balthasar, - "o teólogo cristão-protestante e pastor da Igreja Reformada na Suíça, Karl Barth, foi um dos maiores teólogos do protestantismo do século XX, nascido em 1886 e falecido no ano de 1968."
      Pois Karl Barth teve um sonho, acabo de ler na sua biografia. Sonhou com o grande mestre da música, Mozart. Aliás, convém lembrar que nela também tomei conhecimento de que ele sempre se sentiu melindrado pelo catolicismo de Mozart, e pelo fato de o grande e famoso compositor rejeitar o protestantismo. Pois é de Mozart esta afirmação: - "O protestantismo está todo na cabeça, e os protestantes não conhecem o sentido do Agnus Dei qui tollis peccata mundi." (Cordeiro de Deus, que tiras os pecados do mundo).
     No sonho, Barth foi indicado para examinar Mozart em Teologia, desejando tornar o resultado do exame tão favorável quanto possível. Assim, nas suas perguntas, ocupava-se expressamente das famosas Missas do compositor. Dizem os biógrafos de Barth que Mozart não lhe respondia nada.
        Creio, salvo melhor opinião, que o sonho de Barth tem muito a ver com a sua salvação, e que  ele está se esforçando, talvez, por admitir a si próprio que será salvo mais pelo Mozart que nele existe, do que por sua própria Teologia.
        O certo é que, dizem os biógrafos, cada dia, durante anos, Barth tocava Mozart todas as manhãs antes de iniciar seu trabalho sobre os dogmas. Por quê? Procurava, talvez inconscientement, despertar o Mozart nele oculto, a sabedoria interna que se harmoniza com a música divina e que é salva pelo amor, mesmo que seja pelo eros, o amor carnal.
     Ao passo que o outro ser, o do teólogo, estava mais  preocupado com o amor como ágape, mais severo e cerebral. Um amor que, afinal de contas, não está em nosso próprio coração, mas somente em Deus.
        Acentua ainda a biografia de Barth que ele afirmava, com muito sentido, que "é uma criança, mesmo uma criança divina, que nos fala na música de Mozart.  Alguns sempre consideraram Mozart uma criança em relação às coisas práticas da vida. Ao mesmo tempo, ao menino-prodígio Mozart nunca foi permitido ser criança no sentido literal da palavra."  
        Mozart tinha seis anos de idade quando deu seu primeiro concerto. Contudo, foi sempre uma criança  no sentido mais elevado da palavra.
         E eu, porque também comecei a gostar de Barth, atrevo-me a dizer-lhe: - "Não temas, Karl Barth!  Confia na misericórdia divina. Sei bem que cresceste e te tornaste um teólogo de fama entre os protestantes, como também entre os católicos.. É Cristo que permanece em ti uma criança. Teus livros, que eu leio com prazer, valem menos do que poderíamos pensar! O que importa, acima de tudo, é que há em nós, em ti como em mim, um Mozart que será a nossa salvação."

  
      

quinta-feira, 16 de maio de 2013

GASTAR-SE SERVINDO, SEMPRE SERVINDO!


          O poema abaixo é de autoria do arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara, falecido em
vinte e oito de agosto de mil, novecentos e noventa e nove:

                                           A velha estrada ficou em meus olhos
                                           porque os caminhos, também, envelhecm, e morrem.
                                           Somos da mesma idade, querida estrada!
                                           Vê com que amizade contemplo
                                           tuas barrancas meio gastas,
                                           enquanto olhas, fraternalmente,
                                           minhas rugas sempre mais fundas...
                                           Tua glória e a minha
                                           é a de servirmos de caminho,
                                           a de não retermos,
                                           e de gastar-nos
                                           conduzindo, conduzindo, conduzindo...


           Não sei se o eventual e corajoso leitor deste despretensioso blog conseguiu entender esta conversa de Dom Hélder com a velha estrada, certamente muito palmilhada por ele, nas suas andanças apostólicas  pelo nordeste do Brasil.
            Ele a chamou de "velha estrada", porque as estradas também se gastam, também se tornam velhas, como nós, pobres mortais. Se a velha estrada não for mantida em forma, se não for sendo renovada, ela vai envelhecendo e pode até se acabar, ficar instransitável, como a estrada em cuja  beirada eu morei por vários anos, na pequena  cidade de Barbosa Ferraz, neste nosso Paraná, celeiro do Brasil. 
          Nós dois, eu e a velha estrada, nos olhamos como velhos amigos que se viram ainda crianças, e  hoje, lado a lado, contemplam as marcas comprometedoras do tempo...
          Mas o importante foi lembrar à estrada, e a todos quantos me dão a imerecida honra de acessar este blog, que todos nós, humanos, nos parecemos com estradas - e lembrar que o importante para as estradas, como também para nós, é servir de caminho, é ajudar a caminhar...
          Pobre da estrada que, em lugar de facilitar nossa caminhada, nos prendesse no solo, não nos deixasse atravessá-la... Aliás, papel da estrada, como o nosso, é ajudar a caminhar, a não-parar, a seguir em frente.
          Mesmo que a estrada se gaste com a passagem de pesados caminhões, de ônibus lotados, de carros e carroças, mesmo que ela ainda se gaste com o grande número de pessoas que por ela passam a pé, - quem sabe, também, se for uma estrada rural por onde passa o gado para a engorda ou para o matadouro, se a estrada se gasta servindo, eis aí um gasto favorável e bendito!
          Como a estrada, nossa alegria deve ser, também, servir. E servir sempre, com alegria.
         Certa vez, no ônibus, perguntei ao motorista, já calejado no ofício, quantas pessoas chegaram ao seu destino, levadas por ele. Não soube calcular, mas sorriu muito feliz pensando na multidão de usuários a que já serviu.
          Também o velho e simpático taxista que mora a duas quadras de minha casa, com mais de trinta anos de serviço, não conseguiu calcular quantas pessoas transportou nos dois ou três carros que já possuiu. Mas me disse estar muito feliz, por ter servido a centenas e centenas de pessoas pelas ruas, avenidas e bairros da capital dos paranaenses.
        Se Você, carteiro, que me entrega a correspondência, já tem na cabeça quantas cartas entregou até hoje?  E a telefonista, do posto cá no Bacacheri, seria capaz de calcular, nos seus oito anos de serviço, quantas chamadas recebeu, e quantas transmitiu?  E a simpática e atenciosa garçonete, ali do Restaurante Boi na Brasa, saberia dizer quantos fregueses serviu, e as melhores gorjetas que ganhou?
          E, curioso, perguntei a uma conhecida parteira aqui do Tingui, a respeito de seu benemérito trabalho entre as famílias mais pobres do bairro, e ela me deu a resposta exata  de quantas crianças "aparou". Sem vacilar, ela me respondeu: - "Tenho vinte e dois anos de trabalho, em Londrina e aqui, em Curitiba, e 
sempre anoto num caderninho: até ontem, quarta-feira, quinze de maio, aparei  mais de trezentas  crianças, sem perder nenhuma..."
        Que glória, velha estrada, a de nos gastar, você e eu, sempre gastar-nos e gastar-nos, servindo, servindo sempre, a todos quantos precisaram, precisam, ou precisarão de nós!


terça-feira, 14 de maio de 2013

O MISTÉRIO DAS MÃOS


          Você, corajoso leitor, que se aventura por estas mal traçadas linhas, certamente usou suas mãos para ligar seu micro, por acaso deu  de cara com este meu texto e, levado mais pela curiosidade despertada pelo título desta minha arenga, decidiu-se a ler o que escrevi. Já que tomou essa decisão, eu tomo a liberdade de perguntar-lhe:
          Você algum dia teve a pachorra de refletir sobre esta riqueza tão grande que a criatividade e o amor  de Deus por nós levou-O a premiar-nos com estas duas maravilhas que são as nossas mãos? Pois é, temos duas mãos e nós as usamos para mil e uma coisas, e talvez nunca tenha passado pela nossa mente o dever de agradecer ao Criador por nos tê-las dado.
        Este dom que Deus nos deu, as nossas mãos, se soubermos usá-las, como certamente foi a intenção de Deus, prestam-se a mil gestos e ações altamente construtivas, grandes e belas, se as usarmos dentro das perspectivas do Criador.
        Mãos postas, acompanhando nossas preces na igreja ou no recesso do lar. E eu penso, com minha experiência de pai, na delicadeza com que minha mulher ensinava nossa filhinha Raquel a juntar suas mãozinhas, quando à noite devia rezar um Pai Nosso antes de dormir.
       Mãos de minha avó Julieta, mãos trêmulas, segurando um rosário, enquanto pedia pelos seus outros filhos e netos espalhados aí por Minas Gerais e pelo Paraná afora...
        Mãos como que milagrosas, dos cirurgiões e obstetras, que ajudaram, com extrema habilidade, meus quatro filhos a nascer.
      Mãos calosas de trabalhadores, pedreiros e marceneiros, que nestes dias andam atarefados, procurando dar um aspecto melhor à casa onde moramos.
       Mãos ágeis de datilógrafas, que vencem por minuto, um número incrível de batidas, nos papéis que fui  procurar no cartório.
      Mãos de músicos, da banda que aos domingos e dias festivos vêm tocar no coreto que fica aqui na pequena praça de meu bairro; mãos que me deliciam e me transportam, pela música, para além do espaço e do tempo.
       Mãos de linotipistas, que compõem o jornal que todo dia de manhã cedo me traz uma síntese de tudo o que acontece no Brasil e no mundo.
      Não posso esquecer-me das mãos que acariciam: mãos de minha mãe, mãos de minha esposa, mãos de meus filhos e netos...
      Seria facílimo continuar. Mas, ao lado de tantas coisas maravilhosas que nossas mãos podem fazer, é preciso lembrar também, infelizmente, que há mãos que se fecham, egoístas e avaras. Há mãos, e a imprensa diária está cheia delas, mãos que se crispam, cheias de ódio, chegando por vezes ao extremo, capazes de de arrasar, de ferir, de matar...
     Há mãos que fecham a porta, diante de quem pede alguma coisa de que necessita, e que merecia ser bem  atendido...
      Há mãos preguiçosas, especializadas em jogar em cima dos outros o trabalho que lhes cabia fazer...
    Há mãos que roubam de ricos e até de pobres. E o noticiário policial nos noticia que há mãos que sequestram pessoas.
     Felizmente para nós, Deus nos concedeu sacerdotes que usam suas mãos para nos abençoar, para erguê-las ao céu orando por nós, mãos que, na igreja, durante o Santo Sacrifício da Missa, nos trazem o Pão Consagrado, a Eucaristia, a presença de Cristo na Hóstia consagrada!
      Ó Cristo Jesus, em Tua Vida Mortal, usaste Tuas Mãos de modo admirável! Elas passaram fazendo o bem! Por isso, faça com que nossas mãos estejam também a serviço do Bem e da Caridade!
       Que nossas mãos, à imitação das Tuas, sejam semeadoras de Tranquilidade, de Esperança, de Amor e de Paz, para todos quantos com quema convivemos neste nosso mundo!



    

      
      

sábado, 11 de maio de 2013

O CÂNTICO DO FILHO - ( À memória da Raquel, mãe de minha neta Isabela)



Mãe, deixa que neste dia eu cante um hino para ti
deixa que minha alma se engolfe nas vagas de teu amor por mim
e se expanda veementemente
em catadupas de gratidão

meu cântico será breve
tão breve como os meus raros instantes de felicidade
longe de ti
mas nele as catedrais de todo o meu ser em festa
carrilhonarão o gloria in excelsis de teu louvor

vê, minha Mãe
sou uma folha arrastada pelo vento impetuoso da saudade
mas teus braços se estendem para mim
como a sombra das árvores seculares
sou um viandante no deserto sem termo
um viandante açoitado pelo frio das madrugadas
mas teu nome é um raio de luz em meio às trevas

eu era como uma criança deixada no escuro do quarto
era como lázaro em todos os festins da vida
e meus dedos famintos tateavam as trevas
em busca de míseras migalhas esperdiçadas
meus amigos desprezavam-me como a um louco
e meus próprios irmãos se envergonhavam de mim

tu, porém, velhinha de cabelos brancos
deixaste as contas gastas de teu rosário
e foste à minha procura pelas estradas da vida
tu me encontraste bem longe pobre e raquítico
tal como plantas selvagens que brotam sem raízes nos rochedos
então voltei todo alegre para os braços teus
deixando para trás em meio aos fantasmas das noites
as milhares de quimeras que andei sendo
 no deserto sem oásis donde me arrancaste

por tudo isso, minha Mãe, deixa que eu te louve
és como uma campina imensa na primavera
teu amor por mim sempre foi como as vagas do mar
que não têm praias
estar junto de ti ouvindo o pulsar de teu coração
é como ouvir as notas agrestes de uma agreste flauta
que bem longe soam nas mãos fortes do pastor
e nos enchem o coração e a alma
com um não sei quê de intraduzível em linguajar humano

tuas palavras de encorajamento
descem na minha alma
como o orvalho suspirado pelos campos ressequidos
teus conselhos são para mim mais plenos de sabedoria
que as mais sublimes elocubrações da metafísica

ouve finalmente minha Mãe
se um dia ruírem as paredes ante o fragor das guerras
se se partirem os diques da caridade
sob a avalanche infrene das paixões revoltas
se o ódio se espalhar pela terra
tudo engolfando num dantesco mar de sangue

se um dia os céus enegrecidos ribombarem
desfeitos em mil estilhas
com os tentáculos de aço dos canhões a vomitarem chamas
se os monstros apocalípticos dos robôs teleguiados
silvarem pelo ar anunciando a morte
se homens e mulheres se encolherem transidos de terror
como se pendesse sobre eles a espada flamejante do arcanjo

então minha Mãe
eu nesse dia de lágrimas incontidas
deitarei minha cabeça em teu regaço
bem longe dos gritos ululantes das multidões crispadas

então eu morrerei tranquilo sobre os teus joelhos
e tu me cantarás tua  última cantiga de ninar

                      ***************


quarta-feira, 8 de maio de 2013

CAMINHAR NA ESTRADA DE JESUS



          Um dos títulos mais belos que os primeiros cristãos encontraram para descrever a missão de Jesus foi  o de "Defensor".  Este termo designava o parente mais próximo que devia resgatar seus irmãos e suas irmãs, ameaçados de perder seus bens por algum motivo imperioso, diante das autoridades legais.
          No Novo Testamento, este termo recebe traduções variadas: salvador, redentor, libertador, advogado, irmão mais velho, consolador, e outros.
        Jesus é o irmão mais velho, que assumiu a defesa e o resgate da sua família, do seu povo.  Ele veio ajudar seus irmãos e suas irmãs, para que pudessem viver novamente em fraternidade. Foi este o serviço que Ele prestou aos seus e a todos nós. Foi assim que realizou a profecia de Isaías que anunciava a vinda do Messias Servo. E ele mesmo dizia: - "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a sua vida em resgate por muitos."
          Paulo expressou esta descoberta na seguinte frase: - "Ele me amou e se entregou por mim!"
         O que levou Jesus a fazer a entrega de si mesmo para resgatar Seus irmãos foi a experiência que Ele tinha de Deus como Pai. Se Deus é Pai, então todos nós temos que viver como irmãos e irmãs. Esta é a Estrada Real que Jesus abriu, de novo, na vida do Seu povo. 
        Os Evangelhos nos convidam a caminhar nesta Estrada, desde a Galiléia, onde tudo começou à beira do lago, até o Calvário de Jerusalém, onde tudo termina e recomeça gloriosamente na Ressurreição.
        Ao lermos as narrações contidas nos Evangelhos, encontramos em Marcos esta certeza: - "Jesus vai na frente de vós."
       No momento em que tivermos compreendido e experimentado que Seguir Jesus é segui-Lo no caminho da cruz, da doação e do serviço aos irmãos, com a Fé de que Ele mesmo vai na nossa frente, já vencemos o fracasso ou os fracassos desta nossa vida.
      Por isso, é hora de exclamarmos bem forte: -  Já ressuscitamos! Já caminhamos na estrada de Jesus!"
         Demos graças a Deus! Porque, caminhando na estrada de Jesus, estamos a caminho da Casa do Pai de todos nós!
         

terça-feira, 7 de maio de 2013

A PARÁBOLA DOS ESPONSAIS



          Há um texto bíblico que medito frequentemente, porque ele sempre me impressionou:

          "Por ocasião do teu nascimento, no dia em que vieste ao mundo, não te foi cortado o umbigo nem te lavaram com água, para te limpar, nem te esfregaram com sal, nem te envolveram em faixas. Ninguém se compadeceu de ti para te prestar algum desses serviços, por compaixão para contigo... E, passando por ti, eu te vi manchada do teu próprio sangue, e te disse: - "Vive, e cresce como a erva dos campos".
         Tu te desenvolveste, cresceste, e chegaste à idade núbil. Teus seios firmaram-se, tua cabeleira tornou-se abundante. Mas estavas nua e descoberta. Então eu passei junto de ti e te vi. E eis que o teu tempo era tempo de amores... E comprometi-me por um juramento, e fiz um pacto comigo - oráculo do Senhor Javé - e tu ficaste sendo minha para sempre".

                                                    **********************

         Este "resto de Israel", esta criança recém-nascida, abandonada à beira da estrada, banhada em seu sangue, debatendo-se, evoca os milhares de náufragos da vida que se deitam para morrer nas ruas e nas favelas de nossas metrópoles, ou as milhares de meninas, nossas irmãs, que morrem nos caminhos da prostituição induzida,  antes mesmo de terem verdadeiramente nascido.
        E eis que um misterioso transeunte se debruça sobre a menina, a lava, a agasalha, a educa, a prepara para crescer e se tornar a noiva virginal que, no tempo dos amores, será aquela que ele ama. Deus disse à Igreja e a nós, em Israel, que ela é dEle, e estas núpcias serão indissolúveis!
         -"Vive e cresce como a erva dos campos!" - disse Deus àquela que escolheu para Sua esposa, a alma cristã, a alma de cada um de nós. A história deste crescimento não foi, o mais das vezes, senão o das infidelidades e prostituições sob toda árvore verde, falou o profeta. Mas é também a história da fidelidade de Deus, educando sua esposa, ensinando-lhe a deixar seu país, a esquecer o seu povo e a casa de seu pai, tornando-se então verdadeiramente adulta.
        No amor não se queimam etapas. Assim como não se colhe um fruto ainda verde, também não se pode oferecer ao beijo nupcial um ser ainda infantil. É entre cuidados, aflições, lágrimas e alegrias, que a menina se vai tornar moça. Pequenina, saltitante em seus primeiros anos, não tarda a ficar mais séria, como que admirada, e logo misteriosamente próxima, em sua maturidade, da visitação dos esponsais.
         E todos, irmãos e irmãs mais novas, pai e mãe, surpreendidos, admiram aquela beleza vinda de algures e que pousou sobre os ombros da jovem. Mas foram eles que a fizeram descer sobre aquele rosto humano, com o correr dos anos; foram eles que pacientemente educaram na menina aquela que será verdadeiramente uma mulher para aquele que a ama.
       Não se queimam as etapas da vida de cada um de nós. Somos nós, juntamente com Deus, com o poder de Seu Espírito, que preparamos a noiva, a nossa alma, o nosso espírito, para as núpcias. Como a mocinha tem medo de deixar os seus, também nós temos medo de ir ao encontro dos esponsais. Desejaríamos continuar criança ao lado dos nossos brinquedos. Mas o Senhor não disse que devíamos permanecer crianças, mas que devemos ser semelhantes a elas na pureza e na simplicidade dos sentimentos.
       Os esponsais são juventude, sem dúvida,  mas são também plenitude. E essa plenitude não se alcançará sem um esforço diuturno, de cada instante de nossa vida.  Ignoramos que tesouros se santificarão em nossa alma que os nossos esforços, juntamente com a Graça de Jesus e pelo poder de Seu Espírito Santo, terão preparado para os esponsais. Mas tudo o que tivermos feito após o nosso batismo, que nos tornou irmãos e seguidores de Cristo, será selado nos Céus, e tudo que não tivermos feito, e dependido de nós, que Deus e Sua Graça em nós, esperava que fizéssemos e não o fizemos, não será selado na Eternidade.
         Cada vez que se deixa entrever, na Eucaristia e nos demais sacramentos, o que se oculta aos nossos olhos de sonâmbulos, é uma realidade de juventude e de plenitude que se manifesta. E saberemos então, com uma certeza que nos fará pular de alegria, que a aventura cristã, a aventura sacramental, vale realmente a pena, e que nada do que tenhamos verdadeiramente assumido em nossa vivência cristã do dia-a-dia, nada do que tenhamos de fato amado na Fé, na Justiça, na Paz e na Caridade, será perdido, porque "é vestida com trajes de beleza, cercada de suas companheiras", que a alma cristã é levada para dentro, para o palácio do Rei.
       - "Escuta, minha filha, olha e apura os ouvidos, esquece o teu povo  e a casa de teus pais."
       - "Vestida de brocados, com um séquito de virgens, a filha do Rei é levada à presença do Rei."
       No dia dos esponsais, quando a alma cristã pronuncia o seu Sim definitivo a Cristo-Rei, ela passa de sua casa para outra Casa. 

                                                       **********************

        Foi assim que o Senhor chamou Abraão e lhe disse:
        - "Abraão!"
        E ele respondeu:
        - "Eis-me aqui!"
        E disse Deus:
        - "Sai da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei."
        E Abraão obedeceu à voz do Senhor. Levantou as suas tendas e foi fixar-se no vale dos carvalhos, que estão em Hebron.
         E ali edificou um altar ao Senhor!










         


         











        

sábado, 4 de maio de 2013

OH, SE ME LEMBRO, E QUANTO!...



       Parodiando o poeta Casimiro de Abreu, me lembro muito bem que nos meus tempos de criança, primeiramente em Caldas, e depois em Poços de Caldas, sul de Minas, o mês de maio era todo dedicado à  Mãe de Cristo, que nós chamamos de Nossa Senhora. Nas igrejas e capelas, às vezes até nos lares mais devotos, havia em todo começo de noite preces, cânticos, rezas do terço ou rosário, tudo em louvor a Ela.
        Atualmente, me parece, pode haver a impressão de que tenha diminuído a devoção e o prestígio de Nossa Senhora, não digo dentro da Igreja e muito menos dentro dos lares cristãos, mas em muitos setores determinados do Cristianismo.
          É claro que continua havendo o mesmo respeito e o mesmo amor à Mãe de Jesus, Maria, mas dentro de uma visão mais teológica, mais clara e mais segura. Tem-se cada vez mais presente que fomos salvos por um só Salvador, Jesus Cristo, o Filho Unigênito de Deus, que se fez Homem para salvar homens e mulheres deste nosso mundo.
         Quanto à Sua Mãe, que os católicos chamam de Maria Santíssima, Ela continua sendo uma criatura, mesmo sendo Mãe de Cristo, Mãe de Deus! Nós A veneramos e A consideramos gloriosa  porque é Mãe do Filho muito amado, a Quem o Pai nada sabe negar. 
        Aprendemos já no catecismo qual a maior virtude que devemos apreciar em Maria, fazendo todo esforço para seguir os exemplos de vida que Ela nos deu. E aprendemos também no catecismo, e hoje, adultos, na leitura e meditação da Bíblia Sagrada, que  glória maior atribuída a Ela, não é apenas a de ser a Mãe do Filho de Deus, mas a de ter ouvido a Palavra de Deus, guardado essa Palavra em Seu coração, vivê-La no Seu dia-a-dia, em contínuo êxtase na presença de Deus.
           Se dependesse de mim, se estivesse em meu poder, eu, como fazem os prefeitos municipais, baixaria um Decreto ordenando que em todo mês de maio - que a tradição católica consagra a Maria - as roseiras do Mundo inteiro façam abrir suas mais lindas e perfumadas rosas em louvor dAquela que, nas nossas ladaínhas, chamamos de "Rosa Mística".
        Se dependesse de mim, eu faria que todas as estrelas do céu cintilassem com um brilho ainda mais puro em louvor da "Estrela da Manhã".
         Se dependesse de mim, em todos os nossos hospitais houvesse curas de todos os enfermos, em louvor da "Saúde dos Enfermos".
           Faria também que houvesse um perdão total para todos nós, pecadores, dado a nós por intercessão dAquela que a piedade católica venera como "Refúgio dos pecadores".
          E mais importante: decretaria que ninguém mais ficasse triste, porque temos em nosso favor a "Causa da Nossa Alegria"!

          Exagero meu? Superstição? 

          Absolutamente não!
          Ela é Mãe de Deus, Mãe da Divina Graça, Mãe dos homens e das mulheres deste mundo e, mais do que tudo, Ela é Mãe dos pecadores!

         
     

quarta-feira, 1 de maio de 2013

O POETA E A VIRGEM



         Para mim,  isto é algo de insofismável: 
        Na Arte de todos os tempos, a mulher está presente. A alma do artista sempre peregrinou com sede à procura de um tipo ideal de mulher, uma mulher de verdade, que pudesse cativar de vez o coração do homem.
         É verdade que os antigos gregos e romanos tinham lá no Olimpo as mais belas mulheres que é possível imaginar. Mas Vênus era volúvel e impudica. Minerva, soberba e belicosa. Diana era virgem, sim, mas sua virgindade não passava de traiçoeiro laço para os incautos. O pastor Endimião, da lenda, que o diga.
        E os artistas, apesar da arte grega e romana parecer mostrar o contrário, ainda peregrinavam em busca da mulher ideal.
       Foi então que uma estrela misteriosa surgiu nos céus do oriente. E daí, bem cedo, logo ao amanhecer do Cristianismo, madrugou também a arte marial:

                                    Nenhum artista,
                                    Nem o doce Virgílio, nem Horácio,
                                    Nenhum cantor do Lácio
                                    Jamais sonhara essa doce visão:
                                    Maria!

      Na penumbra das catacumbas, nas iluminuras e afrescos sombrios da Idade Média, na inspiração suprema da iconografia bizantina, ou nas preces talhadas em pedra, das agulhas góticas das imensas catedrais européias, Ela esteve presente.
     Em Giotto, em Boticelli, em Fra Angélico, nos pincéis vigorosos de Michelângelo. Foi a alma de mãos postas, a Virgem Gótica das catedrais. Viveu a vida de cada dia nos quadros de Cellini, Van Dick e Rafael. É uma alma tremulante na "Pietá". Uma floração radiosa de vida nas "Madonas" de Leonardo. Mas é nas "Virgens" de Picasso que Ela ressumbra serenidade com maior vigor. Também no feitio de paz e simplicidade que Portinari Lhe dá nos seus painéis. Aliás, até parece que a Arte estilizada não A deixa tocar no chão. Ela fica mais leve. Menos terra.
       É que o artista trabalha com o espírito!

      Foi para contemplá-La que subi à montanha de que fala a lenda. Subi e contemplei. Vi os monumentos que Lhe plantaram os homens. As madonas untadas de serenidade. As virgens. Quantas, meu Deus do Céu! E eram lindas demais para não ser Ela mesma, ou então, sonhos reais de apaixonados artistas!
      Depois, veio uma plêiade de poetas. Li e interpretei a todos. Uns me fizeram lembrá-La com amor. Com outros, fui indiscreto, indelicado, empurrei-os, coloquei-lhes de lado as páginas mal escritas, antipáticas, cheias de emendas e rasuras. É que se tratava dEla, e Ela merece o melhor.
     Continuei, fiz-me analista de almas. Queria dissecar todos os olhos que derramaram lágrimas diante dEla. Os lábios que Lhe rezaram num sorriso ou na dor. Não me esqueci nem mesmo de bisbilhotar nas poucas linhas em que os Evangelhos contam avaramente a Sua história!...

     Como seria a Mulher?

     No princípio era o Verbo, e o Verbo era Artista.
     Mas o Artista é anterior a tudo quanto os homens chamam de Arte. A Mãe, que O há de gerar, precisa estar a Seu gosto: para Ele, a perfeição está na simplicidade. Aliás, identifica-se com ela. Sua Mãe, portanto, há de ser simples. Simples para independer sempre de todas as formas de Arte que os homens puserem a Seu serviço através dos séculos. Pois não é verdade que todas as gerações A chamarão bem-aventurada?
     Paradoxalmente, porém, a Mulher  há de ser um ponto de convergência e de busca. Luz quente, capaz de germinação. Simplicidade não quer dizer carência.
     A Virgem será cheia de Graça, já predissera o Anjo.
    Toda essa gente que se diz Seus filhos, que escreveu e falou dEla, daria para formar uma grande cidade, aproveitando, para começar, os versos de Anchieta a Ela dedicados e escritos nas areias da praia. Começar por aí e não parar mais.
  Se quisermos ser indiscretos, poderíamos entrar, por exemplo, na pobreza da cela do frade Monte Alverne. Sem licença mesmo. E se ele fosse tão orgulhoso como muitos historiadores bissextos o pintam, não entraríamos lá, nem o Papa se lembraria dele como, dos brasileiros, o defensor mais vigilante do dogma da Imaculada!
    E, como este, são milhares os que a Graça pôs agarrados à saia materna, que amaram e quiseram provar em versos os seus sentimentos.
   Muitos outros há, porém, que não são filhos. Ou melhor, são mais filhos que os outros - são os poetas rebeldes. Se alguém encetasse a viagem para encontrá-los, garanto, levaria uma surpresa em cada canto do caminho.
    Um, em meio a tanto verso blasfemo, na languidez do desespero, onde "o pecado é belo, a violência é bela, tudo o que afirma a vida é belo", faz brotar de seu lirismo uma luz desconcertante. É Antero de Quental:

                                        Num sonho todo feito de incertezas,
                                        De noturna e indizível ansiedade,
                                        É que eu vi Teu olhar de piedade,
                                        E mais que piedade, de tristeza.
                                        Ó visão, visão triste e piedosa!
                                        Fita-me assim calada, assim chorosa
                                        E deixa-me sonhar a vida inteira!

      Noutra curva da estrada está sentado o Eça de Queirós, ele e sua angústia, apesar de não ser poeta de profissão, mas simplesmente bissexto:

                                       Eu me enojei tanto de imundícies
                                       Que Ela se enojaria, eu sei, de minha prece...

     O brasileiro Humberto de Campos, numa curva mais além, não cessa de clamar aos viandantes:

                                      Diante dessa Mulher ideal eu me ajoelho,
                                      Mas falta-me o alento de rezar.
                                      Ela me parece bela demais para eu crer,
                                      Crer em Sua realidade.

        Não vamos muito longe. Aquele cavalheiro de nome berrantemente italiano, mas um poeta dos mais brasileiros, o Menotti del Picchia, amigo do "Juca Mulato" sensual, ele também encontrou um dia

                                     A Matriz geradora da vida e da santidade,
                                     O altar onde a humanidade
                                     Adora o quotidiano milagre do Verbo.

       Ele também acreditou que existe uma mulher mais mulher do que a sua Dulcinéia. Há de ser sempre assim. Hoje mais ainda. Entre a Religião Católica e a nossa Literatura houve um grande desentendimento. Porque a Literatura Brasileira nasceu justamente quando o Materialismo, a Enciclopédia e o Iluminismo de Voltaire mandavam no mundo. E os escritores e poetas tinham vergonha de pronunciar o santo nome de Deus.
      O intelectual só teria possibilidade de encontrar no Cristo a verdade, quando a primeira grande guerra mundial desmascarasse a "Razão" divinizada, fazendo-o descrer da técnica e do progresso. Assim foi. E os ateus e materialistas, que tinham o monopólio da literatura mundial, encontraram o seu "caminho de Damasco": Chesterton, Belloc e Graham Greene, na Inglaterra; Gertrud von Le Fort, na Alemanha; Papini, na Itália; Claudel, Pèguy, Léon Bloy, Psichari, na França; Thomas Merton, nos Estados Unidos.
     No Brasil, a fermentação espiritual começou com uma reação ao que era caduco, entrevado, como o academicismo, o formalismo, o parnasianismo estéril, o marasmo. Uma rebelião chamada modernista. Uma busca insofismável de autenticidade. Jovens que deixaram os discursos acadêmicos, para escreverem programas de vida.
     Jackson de Figueiredo, sob a direção do Cardeal Leme e do Padre Leonel Franca, converte Alceu de Amoroso Lima, o famoso Tristão de Athayde que, convertido, se faz líder de toda uma geração. Outro, Gustavo Corção, no Centro Dom Vital e na imprensa, foi uma pena ferina e demolidora de ídolos que pretendiam subverter sua querida Igreja Católica...
      Deixo de lado dezenas e dezenas de outros, para  não me alongar mais. Lembro apenas que, daí então, em nossa Literatura, a simplicidade e a autenticidade se tornaram possíveis. Porque as coisas de Deus encontraram seu lugar na Prosa e na Poesia.
       
      Rodrigues de Abreu, por exemplo, um poeta sofredor, confessa francamente, sem respeito humano, que é católico praticante, com a mesma simplicidade com que diz ser tísico e que se acha em tratamento.

     Há o caso curioso de insatisfação espiritual com Jorge de Lima. Rei na poesia parnasiana, regionalista glorioso com a sua "Nêga Fulô", abandona tudo. Esse homem que cantou a sensualidade negra, e que era ele próprio um mulato sensual, nos seus últimos dias não escrevia mais poemas: compunha orações. Simples, humilde na aceitação de seu dom poético, assim como foi humilde a Virgem diante do Anjo e da aceitação do Verbo.

      Tasso da Silveira, modernista, com raiva do Capitalismo e dos católicos medíocres, foi um cristão, e dos bons. E gostava mais ainda da Mãe:

                                      "...gosto de Ti, Senhora,
                                       Porque em Tua presença
                                       Posso andar descalço,
                                       Sentar-me de qualquer modo
                                       E dizer o que sinto..."

      Depois de tudo isto, talvez saibamos um pouco mais das coisas de nossa Literatura. Como também do que é Poesia. E creio que a Virgem também deve ter lucrado alguma coisa.
     Poeta, não é quem sabe tamborilar com os dedos sobre um dicionário de rimas. Alinhar meia dúzia de palavras, colocar tudo em fila, rimar, e pronto. Poesia não é isso.
    O poeta, o Poeta de fato, é esquivo, não gosta de muito circunlóquio, diz muito em poucas palavras, enquanto os outros, os pseudopoetas, dirão menos em palavras demais. E os que condenam a Poesia, por ela frequentemente desprezar a gramática, rir-se da sintaxe e ludibriar a regência verbal e nominal, esses, não são nem ao menos matriculados nos "cursinhos" da Arte. 
    Ignoram que o Poeta tem duas infâncias, e que a Poesia não pode ser produto enlatado, produzida em série, nem obra de cenáculos. A Poesia é gerada na simplicidade, na solidão. Somente no silêncio e no recato é que se encontra tempo para ser simples, para encontrar a perfeição que Deus goteja em cada ser que criou sobre a Terra.
     O Poeta autêntico, essa espécie de homem ou mulher ideal que eu invejo, esse "filósofo intuitivo", como o chamou Sertillanges, saberá sempre ver o que Deus ama. E entre os amores de Deus, a Virgem nunca Lhe será despercebida.
    Se a Poesia seguir este rumo, a Senhora há de purificá-la sempre mais, divinizá-la com a Sua simplicidade, transfigurá-la com a Sua pureza.
      E se o Poeta é forçosamente alguém que conservou por longo tempo o estado de inocência infantil, transformando-o em estado de inocência poética, certamente Ela, a Virgem, a Senhora,  receberá com prazer e alegria a infância que o Poeta  traz na sua alma.
     Assim, ele poderá derramar aos pés da Virgem a riqueza íntima que só ele, Poeta, pode possuir, em confidências de candura, em eclosões espirituais de quem vê a Luz, em colóquios de beleza e suavidade, somente possíveis entre o filho extremoso e a Virgem-Mãe amada!