terça-feira, 7 de maio de 2013

A PARÁBOLA DOS ESPONSAIS



          Há um texto bíblico que medito frequentemente, porque ele sempre me impressionou:

          "Por ocasião do teu nascimento, no dia em que vieste ao mundo, não te foi cortado o umbigo nem te lavaram com água, para te limpar, nem te esfregaram com sal, nem te envolveram em faixas. Ninguém se compadeceu de ti para te prestar algum desses serviços, por compaixão para contigo... E, passando por ti, eu te vi manchada do teu próprio sangue, e te disse: - "Vive, e cresce como a erva dos campos".
         Tu te desenvolveste, cresceste, e chegaste à idade núbil. Teus seios firmaram-se, tua cabeleira tornou-se abundante. Mas estavas nua e descoberta. Então eu passei junto de ti e te vi. E eis que o teu tempo era tempo de amores... E comprometi-me por um juramento, e fiz um pacto comigo - oráculo do Senhor Javé - e tu ficaste sendo minha para sempre".

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         Este "resto de Israel", esta criança recém-nascida, abandonada à beira da estrada, banhada em seu sangue, debatendo-se, evoca os milhares de náufragos da vida que se deitam para morrer nas ruas e nas favelas de nossas metrópoles, ou as milhares de meninas, nossas irmãs, que morrem nos caminhos da prostituição induzida,  antes mesmo de terem verdadeiramente nascido.
        E eis que um misterioso transeunte se debruça sobre a menina, a lava, a agasalha, a educa, a prepara para crescer e se tornar a noiva virginal que, no tempo dos amores, será aquela que ele ama. Deus disse à Igreja e a nós, em Israel, que ela é dEle, e estas núpcias serão indissolúveis!
         -"Vive e cresce como a erva dos campos!" - disse Deus àquela que escolheu para Sua esposa, a alma cristã, a alma de cada um de nós. A história deste crescimento não foi, o mais das vezes, senão o das infidelidades e prostituições sob toda árvore verde, falou o profeta. Mas é também a história da fidelidade de Deus, educando sua esposa, ensinando-lhe a deixar seu país, a esquecer o seu povo e a casa de seu pai, tornando-se então verdadeiramente adulta.
        No amor não se queimam etapas. Assim como não se colhe um fruto ainda verde, também não se pode oferecer ao beijo nupcial um ser ainda infantil. É entre cuidados, aflições, lágrimas e alegrias, que a menina se vai tornar moça. Pequenina, saltitante em seus primeiros anos, não tarda a ficar mais séria, como que admirada, e logo misteriosamente próxima, em sua maturidade, da visitação dos esponsais.
         E todos, irmãos e irmãs mais novas, pai e mãe, surpreendidos, admiram aquela beleza vinda de algures e que pousou sobre os ombros da jovem. Mas foram eles que a fizeram descer sobre aquele rosto humano, com o correr dos anos; foram eles que pacientemente educaram na menina aquela que será verdadeiramente uma mulher para aquele que a ama.
       Não se queimam as etapas da vida de cada um de nós. Somos nós, juntamente com Deus, com o poder de Seu Espírito, que preparamos a noiva, a nossa alma, o nosso espírito, para as núpcias. Como a mocinha tem medo de deixar os seus, também nós temos medo de ir ao encontro dos esponsais. Desejaríamos continuar criança ao lado dos nossos brinquedos. Mas o Senhor não disse que devíamos permanecer crianças, mas que devemos ser semelhantes a elas na pureza e na simplicidade dos sentimentos.
       Os esponsais são juventude, sem dúvida,  mas são também plenitude. E essa plenitude não se alcançará sem um esforço diuturno, de cada instante de nossa vida.  Ignoramos que tesouros se santificarão em nossa alma que os nossos esforços, juntamente com a Graça de Jesus e pelo poder de Seu Espírito Santo, terão preparado para os esponsais. Mas tudo o que tivermos feito após o nosso batismo, que nos tornou irmãos e seguidores de Cristo, será selado nos Céus, e tudo que não tivermos feito, e dependido de nós, que Deus e Sua Graça em nós, esperava que fizéssemos e não o fizemos, não será selado na Eternidade.
         Cada vez que se deixa entrever, na Eucaristia e nos demais sacramentos, o que se oculta aos nossos olhos de sonâmbulos, é uma realidade de juventude e de plenitude que se manifesta. E saberemos então, com uma certeza que nos fará pular de alegria, que a aventura cristã, a aventura sacramental, vale realmente a pena, e que nada do que tenhamos verdadeiramente assumido em nossa vivência cristã do dia-a-dia, nada do que tenhamos de fato amado na Fé, na Justiça, na Paz e na Caridade, será perdido, porque "é vestida com trajes de beleza, cercada de suas companheiras", que a alma cristã é levada para dentro, para o palácio do Rei.
       - "Escuta, minha filha, olha e apura os ouvidos, esquece o teu povo  e a casa de teus pais."
       - "Vestida de brocados, com um séquito de virgens, a filha do Rei é levada à presença do Rei."
       No dia dos esponsais, quando a alma cristã pronuncia o seu Sim definitivo a Cristo-Rei, ela passa de sua casa para outra Casa. 

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        Foi assim que o Senhor chamou Abraão e lhe disse:
        - "Abraão!"
        E ele respondeu:
        - "Eis-me aqui!"
        E disse Deus:
        - "Sai da tua terra, e da tua parentela, e da casa de teu pai, para a terra que Eu te mostrarei."
        E Abraão obedeceu à voz do Senhor. Levantou as suas tendas e foi fixar-se no vale dos carvalhos, que estão em Hebron.
         E ali edificou um altar ao Senhor!










         


         











        

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