domingo, 30 de março de 2014

"VINDE, SENHOR JESUS!"



          Benévolo leitor:
          Não sei o que Você pensará de mim e deste meu mal-ajambrado blog.
          Ele possui, entretanto, um objetivo bem claramente definido: estabelecer um intercâmbio  -  ainda que unilateral - entre o eventual leitor e este medíocre escriba: o desejo de levar  até o eventual leitor o que sinto, integralmente, a respeito de Jesus Cristo, que tenho por meu Senhor e meu Deus.
          Nunca me passou pela minha mente a veleidade de pretender atrair o meu eventual leitor para o que penso e creio sobre a pessoa de Jesus e Sua mensagem de salvação que trouxe para homem e mulher de todas as idades e épocas.
          Sei que jamais um homem ou uma mulher converterá à Fé outro homem ou outra mulher, senão apenas o Espírito Santo, que desvenda a face do Salvador.
          Se Você é incrédulo, o testemunho de um cristão talvez lhe provoque algum dissabor. Oxalá o meu não o ofenda. Sobretudo, que o Deus da Verdade lhe revele o que talvez Você busque sem o saber.
           - "Se a repulsa de Israel foi para o mundo a reconciliação, que será a sua reintegração senão uma ressurreição dos mortos?"  -  escreveu o apóstolo Paulo.
            Atrevo-me a parafraseá-lo e a dizer a meus talvez pouquíssimos leitores:
            - "Se a vossa recusa da Verdade Cristã se honra com tanta grandeza humana, que será para o mundo a vossa adesão à Fé, senão "uma ressurreição dos mortos"?
             Esses valores humanos, que meus irmãos incrédulos os conservam nas redes de seu ateísmo, como desabrochariam em riquezas, se eles as trouxessem a Jesus Cristo, e aos cristãos que que sufocam lentamente em sua pobre Fé, aparentemente tão débil diante dos triunfos e das riquezas atéias!
             Se os ateus e os incrédulos trouxessem a Jesus Cristo essas riquezas humanas de que estão abundantemente providos, quanto mais ricos seriam ainda, e quantos pobres além disso poderiam enriquecer, a esses pobres, que constituem legião entre os cristãos! Isto se ateus e incrédulos algum dia ouvirem Jesus!
             Benévolo leitor, se Você também é incrédulo, peço-lhe que abra pelo menos uma vez O Livro, a Bíblia Sagrada. Esse Livro é um espelho em que o próprio Deus se reflete.
             Tenho certeza de que a descrença que o assoberba é talvez uma crença que se ignora.
             Talvez Você esteja próximo, imaginando-se longe.
              Lembro-me de uma frase, já perdida no turbilhão dos tempos, dita por Orígenes:
              - "Existem muitos que, julgando-se fora da Igreja, estão na realidade dentro dela. E muitos outros que, julgando-se na Igreja, na verdade estão fora dela."
             E eu acrescento, atrevendo-me a repetir palavras do Senhor Jesus:
             - "Há os que dizem: Senhor! Senhor! - mas que não entrarão no Reino de Deus."
                                                              
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            Benévolo leitor:
            Se Você, por infelicidade, for incrédulo, saia deste blog, porque foi Jesus quem disse:
            - "Eu vim salvar o que estava perdido."
            E o pobre de que fala o Evangelho, batendo no peito, suplicava:
            - "Eu creio, Senhor, mas ajudai a minha incredulidade!"


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            Benévolo leitor:

            Se Você é incrédulo, deixe este blog e tente escutar a Palavra. Aquela que a Igreja proclama  na Liturgia, na Santa Missa. Somente essa Palavra, que é vivida, rezada, encarnada na Liturgia, só ela é que ajudará a sua incredulidade.
            Este modesto blog não pretende ser mais que um andaime provisório.Quando a casa fica pronta, retira-se o andaime.
            Benévolo leitor, entre na Casa de Deus, a Igreja, o "grande signo erguido entre as nações."
            Há um só livro que vale a pena ser lido e meditado: a Bíblia Sagrada: -"Palavra viva, divina, eficaz, penetrante até à junção da alma e do espírito. A Escritura Sagrada é Jesus Cristo."


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            Há uma frase que não é minha, mas da jovem e nascente Igreja cristã. Num império pagão que a esmagava por todos os lados, ela testemunhava sua Fé na ressurreição do Filho de Maria. Essa frase é divinamente simples, porque inspirada no espírito de amor:

             - "VINDE, SENHOR JESUS!"

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Aroldo Teixeira de Almeida  é professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério Paranaense, licenciado em Letras Portuguesa e Francesa.  Bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, SP.
          
              
    
    

sexta-feira, 28 de março de 2014

O CRISTÃO E A FÉ



                      Neste meu blog, hoje, gostaria de expor algo que sempre foi objeto de minhas elocubrações: o diálogo da Fé que se trava entre Deus de um lado, e do outro lado o homem e a mulher.
                      Homem e mulher devem reconhecer que são seres engendrados, que é a mesma coisa que seres criados e, portanto, finitos, contingentes (= podem existir, como também podem não existir). Sendo seres criados e finitos, estão sujeitos a todas as deficiências próprias dos seres finitos, como a degeneração, a doença, a morte. Como seres livres, estão sujeitos também, diante do Criador, ao pecado.
                      Dentro da cosmovisão cristã, homem e mulher não podem barrar o seu acesso ao "sobrenatural". Em consequência, devem sair do inferno mundano: devem reconhecer-se egoístas, mentirosos, confessar que são pecadores.
                      Homem e mulher devem conjuntamente respeitar a "sua razão" e não fazer dela um ídolo: devem confessar a sua necessidade de um "suplemento de luz". Este suplemento é a Graça Divina.
                      Homem e mulher devem ser fiéis à Graça de Deus, que continuamente os procura e os incentiva à conquista de uma vida melhor.
                      Homem e mulher devem confessar a si mesmos que só a Fé realizará neles a unidade de corpo e de alma diante de Deus.
                      Paternidade de Deus, salvação de Deus, luz de Deus, Graça de Deus  -  homem e mulher estarão no caminho de descobrir estas quatro riquezas se fizerem essa quádrupla confissão. Estas quatro riquezas encontram-se na pessoa de Jesus Cristo, de que a Igreja é testemunho, livremente, racionalmente e sobrenaturalmente.l
        A Fé é racional porque, na Igreja, o espírito encontra ao mesmo tempo as obscuridades inevitáveis e as claridades suficientes que dão um sentido à vida de homem e mulher concretos. Acreditando no testemunho da Igreja, a inteligência descobre a chave do seu próprio mistério, a solução das suas próprias penumbras.
        A Fé é livre porque, na Igreja, é o amor de Deus que se oferece por inteiro ao homem e à mulher, e este amor reclama a resposta livre do amor.
        A Fé é sobrenatural porque, na Igreja, é a Graça Divina que nos solicita, nos ilumina.
        O fato externo da santidade na Igreja, que é o "signo erguido entre as nações", constitui para nós o testemunho de Deus, conforme o Concílio do Vaticano.
        A Igreja é Cristo comunicado no Espírito. Em última análise, o que se deve ver na Fé é o Verbo encarnado.
        A Fé é livre, racional, sobrenatural, porque não se refere, desde logo, a uma doutrina impessoal, nem a um código de moral, mas a uma Pessoa -  Jesus Cristo  -  que nos chama, nos ensina e nos ama.
        A Fé é racional, porque Jesus é a Verdade. 
        A Fé é livre, porque Jesus é o Amor encarnado.
        A Fé é sobrenatural, porque Jesus é Deus encarnado.

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         A Fé cristã é uma penumbra luminosa porque essa penumbra tem também outro nome  -  o de Deus    - que nunca amou tanto os homens e as mulheres, como no dia em que quis revestir a condição humana, na pessoa de Nosso Senhor Jesus Cristo.

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Aroldo Teixeira de Almeida é professor do Quadro Próprio do Magistério Paranaense. Licenciado em Letras Portuguesa e Francesa pela Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras, de Jandaia do Sul, Pr. Bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, SP.


        

        

quinta-feira, 27 de março de 2014

BELLINI, A TAÇA JULES RIMET E MEU PAI NOÉ TEIXEIRA



          A Gazeta do Povo, na edição desta sexta-feira, nove  de maio, traz um texto do José Carlos Fernandes, intitulado "O craque Bellini lá perto de casa".  Pois é. Em minha casa, quando eu residia em São João da Boa Vista, SP, Bellini não só esteve perto de minha casa, mas era muitas vezes recebido dentro dela, por meu pai, minha mãe, meus irmãos e eu. Ainda guardo, com carinho, uma foto autografada do grande e vitorioso "capitão" da Seleção Brasileira de Futebol, erguendo a Taça Jules Rimet, conquistada em memorável campanha.
          Taça merecida após muita luta de nossa Selleção para conquistá-la. E o fez com inegáveis méritos, e a foto de Bellini, com a taça erguida acima de sua cabeça, é a prova do valor e do heroísmo da Seleção Brasileira de Futebol, que a conquistou com muita honra e muita luta.
           Mas, a bem da verdade, preciso dizer que o gesto de Bellini, erguendo ao alto a Taça, teve uma ajuda de meu saudoso pai, Noé Teixeira, para que Bellini realizasse o gesto aclamado por toda a torcida brasileira.
            A carreira vitoriosa de Bellini teve inícios modestos, o que muita gente desconhece. Nascido em Itapira, interior de São Paulo, começou jogando em times de várzeas, até que, caindo nas vistas de dirigentes da "Sociedade Esportiva Sanjoanense", de São João da Boa Vista, SP, foi por ela contratado para reforçar a zaga do time.
            Acontece que o salário pago pela Sanjoanense não era suficiente para as despesas de Bellini, e ele teve que trabalhar nas suas horas de folga.
            É aí que entra em cena meu saudoso pai. Proprietário e profissional do "Salão e Barbearia do Noé", considerado, aliás, uma das melhores "barbearias" de São João da Boa Vista, ele foi procurado por dirigentes da Esportiva pedindo emprego para Bellini no seu salão, uma vez que o jogador fora também "barbeiro" na sua cidade natal.
            Com muito gosto  -  ele também apaixonado por futebol  - meu pai conseguiu  comprar mais uma cadeira de "barbeiro" para o seu salão, e a entregou aos cuidados do Bellini que, além de bom futebolista, nada ficava devendo à sua profissão anterior nas "barbearias" de Itapira...
           Pois é por isso que eu disse, no início de meu texto que, junto às mãos de Bellini, erguendo a gloriosa Taça Jules Rimet, estava também um dedo de meu pai ajudando-o a levantá-la!...
          "Empregado" de meu pai no "Salão e Barbearia do Noé,"  Bellini passava mais tempo ali do que no gramado da"Esportiva Sanjoanense", time modesto, sem grandes craques, mas que se destacava nos campeonatos regionais. E a presença de Bellini era imprescindível para as suadas vitórias do time.
         Nas suas folgas, tanto da "barbearia" de meu pai como dos treinos e jogos da "Sanjoanense" , Bellini era sempre benvindo em nossa casa, onde muitas vezes almoçava e jantava.
             Pena que sua presença na cidade foi por pouco tempo, visto que seu futebol começou a chamar a atenção da crônica especializada, e logo ele foi para outras paragens, contratado por times de melhor categoria.
             Guardo ainda com carinho a foto sua, levantando com muito orgulho a "Taça Jules Rimet", conquistada com honra e garra no friozinho da Suécia!
 
               

       

quarta-feira, 26 de março de 2014

OS ATEUS E O "CADÁVER" DE DEUS



          A Teologia, criteriosamente estudada, nos ensina que a Fé é sobrenatural, livre e racional.
         É sobrenatural porque, no princípio, no meio e no fim, é sempre o apelo de Deus que solicita homem e mulher, os ampara e os faz chegar à Fé.
         É livre porque, sem o consentimento da Vontade, nem todo o oceano da Divindade conseguiria franquear os umbrais do nosso tabernáculo interior.
          É racional, enfim, porque no começo, no meio e no fim, o ato de Fé consiste, entre outras coisas, em manter vivo o equilíbrio desses três polos entre os quais, como num campo de forças elétricas, oscila o ato de Fé.
      Para os que não são cristãos, esses três aspectos não passam de três faces do mesmo  absurdo. Homem e mulher modernos pretendem edificar um certo "humanismo" que dispensa Deus.
        O sobrenatural da Fé - dizem - só pode ser uma "alienação" da dignidade humana. Repete-se a cada passo que as "igrejas" têm explorado suficientemente homem e mulher, agitando, diante daqueles aos quais ludibriam, a armadilha da Vida Eterna. Em suma, a religião seria  mesmo o "ópio do povo"...
        Tempos atrás o assim dito existencialismo ateu também não poderia admitir que a Fé seja "livre", pela mesma razão: homem e mulher são seres solitários, abandonados, jogados no mundo. Sua única dignidade está em sua liberdade; só que essa liberdade não serve "para nada", mas 'É."  E vêm agora  reclamar por ela. Em nome de quê?
      Em nome de uma coisa absolutamente "irracional - , afirmo eu. Isto porque não existe verdade objetiva, senão apenas "valores" que homem e mulher "criam" por sua própria liberdade - afirmam eles. Admitir que o "absurdo" deste nosso mundo seja o inverso de um mundo transcendente,  -  "crer porque é absurdo" - é cometer o suicídio do espírito, bem mais grave que o do corpo. De qualquer maneira, seria desertar do mundo.
      O que os ateus modernos mais censuram à Fé é a "facilidade" que ela traria aos que a admitem. Antes, acusavam-na de grave e morosa; agora é o contrário: os homens e as mulheres sérios, graves, trágicos, estão do lado do ateísmo. Os gozadores da vida, os covardes, os alienados, são os que "descansam" em Deus...
     Nunca tais afirmações foram tão categóricas, nunca se proclamou tão audaciosamente como agora, este "evangelho"  às "avessas".
      No meu modesto entendimento, isto prova pelo menos uma coisa: os ateus modernos, além de festejarem a morte que deram a Deus, agora vivem obcecados pela dificuldade em dar fim ao "cadáver"...

                                                             *****************

Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado do Quadro Próprio do MagistérioParanaense.
É bacharel em Teologia pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, SP.




segunda-feira, 24 de março de 2014

GASTAR-SE SERVINDO, SERVIR SEMPRE...



                                         A velha estrada ficou em meus olhos
                                         A verdade é que os caminhos, como eu, também envelhecem
                                         E morrem.
                                         Somos da mesma idade, querida estrada!
                                         Vê com que amizade contemplo
                                         Tuas barrancas meio gastas
                                         Enquanto olhas,
                                         Fraternalmente,
                                         As rugas de meu rosto a cada dia mais fundas...
                                         Tua glória e a minha
                                          Sempre foi a de servirmos de caminho
                                          Para a passagem das multidões
                                          Como também a  glória de não nos retermos
                                          A glória de nos gastarmos
                                          Eu e Você, velha estrada
                                           Conduzindo conduzindo conduzindo....

          Nem sei se Você, benévolo e eventual leitor, entendeu esta minha conversa com a velha estrada da minha vida... Sua placa de inauguração tem a mesma data do ano e mês em que nasci... Uma eternidade de anos e meses!
          Mas estrada também se gasta e se desgasta. Se não houver cuidado de mantê-la em forma, se não for sendo renovada dia a pós dia, ela vai envelhecendo e pode até se acabar, ficar intransitável...
          Nós dois, eu e Você, velha estrada da minha vida, nos olhamos como velhos amigos que se viram crianças, e hoje, lado a lado, contemplam as marcas do tempo que por nós passou, implacável...
          Mas o importante foi lembrar à estrada  -  e principalmente a mim,  pois sempre me pareci com estradas  -   lembrar que o importante é servir de caminho, é ensinar e ajudar a caminhar...
          Ai da estrada que, em lugar de facilitar a caminhada, prendesse a si quem quisesse atravessá-la... Papel da estrada, como também meu, é ajudar a caminhar, a não parar, a seguir sempre...
         Mesmo que a estrada se gaste com a passagem de carros, ônibus e caminhões, mesmo que ela se gaste com o número de pessoas que passam a pé  -  quem sabe, também, com o féretro que leva ao cemitério um morto para sua última morada  -  se mesmo assim a estrada se gasta, servindo, que gasto bendito!
         Como a estrada, minha alegria deveria ser, também, servir.
         Gosto de fazer perguntas amáveis que em geral as pessoas não sabem responder...
         Subindo, no elevador ainda dos antigos, para uma consulta ao meu cardiologista, perguntei ao  cabineiro, já velho no ofício, quantas pessoas subiram e desceram, levadas por ele, em seu elevador... Não soube calcular, mas sorriu feliz pensando na multidão a que já serviu...
         De volta para casa, também o velho e simpático chofer do táxi, com cinquenta e um anos de praça  -  me disse  -  nem conseguiu calcular quantas pessoas transportou nos três ou quatro carros que já possuiu... Mas ele, também, ficou feliz, pensando em como tem servido à Humanidade...
         Pergunte Você ao carteiro de sua rua quantas cartas entregou até hoje. Pergunte à telefonista da repartição quantas chamadas recebeu e quantas transmitiu... E àquele velho pescador, seu vizinho, quantos peixes pescou no rio ali por perto... E à cozinheira de seu hotel, quantos pratos preparou e quantos pratos e panelas já lavou...
         Até hoje só encontrei uma velha parteira, de apelido delicioso  -  "Mãe Benta"  - com a resposta na ponta da língua quando lhe perguntei quantas crianças ela "aparou" nos seus muitos anos de benemérito trabalho:
         - "Tenho trinta e dois anos de serviço, na Bahia e aqui no Paraná, e tenho sempre anotado: até ante-ontem "aparei" setecentas e cinquenta e oito crianças...
         Quanta glória, velha estrada da minha vida, a de gastar-me, gastar-me, gastar-me, servindo, servindo, servindo, sempre feliz!















      

sexta-feira, 21 de março de 2014

CORAÇÕES AO ALTO



          Durante a celebração da Santa Missa há um incisivo convite para quem dela participa: - "Sursum corda!" - Elevemos nossos corações ao alto, para Deus e logo mais para o Cristo Eucarístico que se fará presente sob as espécies sacramentais.
          Palavras agradáveis de ouvir. Nossos corações ao alto, mas também nossa cooperação e missão para que outros muitos corações se elevem até nosso Deus e Senhor.
          Infelizmente, porém, há corações cheios de travo, de revolta, de ódio. Ora, tudo isto pesa de maneira muito terrível. Como pesa a inveja. Como pesam o orgulho, a soberba, a vaidade, que tornam penosa a ascensão de nossa alma para o alto, para Deus!
          Mas nem sempre o problema é o peso.
          O coração avaro se afoga de tal modo nos cuidados com o dinheiro, com lucros sempre maiores a obter, com economias a realizar, que um emaranhado o prende a ponto de lhe ser impossível arrancar-se para o alto.
          Há corações que sobem a dois, ajudando-se e estimulando-se mutuamente...
          Há corações tão vazios, tão sem amor, que flutuam como penas ao vento: não chegam a subir, porque qualquer sopro os arrasta para longe...
          Nos meus tempos de professor, gostava de ver uma esponja ou apagador que, de tanto apagar um quadro-negro, cheio de garatujas, permanecia impressionantemente seco... Creio que há corações assim.
          Há corações que viraram uma pedra de gelo; outros, simplesmente uma pedra; outros se tornaram metálicos, de tanto pensar e lidar com dinheiro...
          Será que meu próprio coração se eleva facilmente? E os corações à minha volta?
          Importante é saber como dar asas aos corações, ajudando-os a elevar-se, com mais facilidade e rapidez.
         A oração, a prece, vindo de dentro da alma, alivia o coração, torna-o alado como um pássaro...
         Gestos de autêntico amor ao próximo, feitos como o Evangelho ensina  -  sem que ninguém saiba, nem a mão esquerda o que faz a direita  - tornam o coração um pássaro de asas velozes e firmes.
         - "Sursum corda".  -  Corações ao alto!  -  Cada vez que dissermos ou escutarmos estas palavras, lembremo-nos dos que andam de corações na fossa, na tristeza, sem ânimo, sem esperanças, sem razão de viver.
          Corações ao alto!
          Que esta expressão seja, em meus e em teus lábios, uma prece para que todos os corações de todas as criaturas humanas se ergam, se elevem para Deus, nosso Criador e Pai de todos os pais!

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Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério Paranaense e
bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, SP.
    

        

terça-feira, 18 de março de 2014

SAUDADES DA RAQUEL

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         A gente se acostuma quase sempre para preservar a pele, para evitar feridas e sangramentos emocionais, para poupar os dissabores do dia-a-dia. Aos poucos, de tanto acostumar, nos acostumamos conosco mesmos, a ponto de não sabermos mais desfrutar das alegrias da vida.
         A gente se acostuma com muitas coisas para não sofrer. Em doses pequenas, fingindo não perceber, vamos afastando uma dor aqui, um ressentimento ali, uma revolta acolá.
         Mas, será também verdade que o tempo nos fará acostumarmo-nos com a ausência de uma pessoa querida, como sempre foi e como sempre será minha querida e falecida filha Raquel?!

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          É a mais pura verdade:
          Hoje, de manhãzinha, este velhote meio careca, ralos cabelos  brancos na cabeça, já bastante carcomido pelo peso de seus 78 anos e pelas batalhas da vida, confessa francamente, de público, que chorou.
          Estava dando uma arrumadela em seus livros, na estante, e encontrou ali, meio espremido entre grossos livros de Teologia, um pequeno volume intitulado "Um olhar sobre a cidade",   de autoria do saudoso e inesquecível Dom Hélder Câmara, arcebispo de Olinda e Recife, falecido no dia 28 de agosto de 1999.
         O velhote chorou, confessa mais uma vez, porque encontrou na primeira página do livro esta dedicatória:
         - "Para o pão duro, munheca e boco-moco do meu irmão, esta oferta grátis para que 1979 marque para Você uma maior abertura de si mesmo. Darcy, janeiro de 1979."
         Darcy. Minha irmã. Aquela que, procurando mais vida numa mesa de cirurgia plástica, na vida encontrou a morte, ao lado da Raquel, minha filha que, lutando contra a morte num leito de hospital, na morte encontrou a Vida Eterna.
         Pois é, ambas, meus dois amores: Darcy, minha irmã. Raquel, minha filha.
         Folheando o belo livro de Dom Hélder, encontrei lá nas últimas páginas um poema de Cecília Meireles, com o sugestivo título de "O Último Andar".
         Poeta,  poetisa. Qual dos mortais seria tão insensível que não amasse estes seres tão misteriosos, quase etéreos, quase anjos, que com suas palavras conseguem nos arrancar das baixadas deste mundo e conduzir-nos para as sublimes alturas da fantasia, da parábola, da beleza, através de seus versos?
         E tanto é verdade, que me atrevo a transcrever aqui os versos maravilhosos de Cecília Meireles, que também fizeram o velhote chorar de manhãzinha:

                                                 O último andar
                                                 No último andar é mais bonito
                                                 Do último andar se vê o mar
                                                 É lá que eu quero morar
                                                 O último andar é muito longe
                                                 - custa-me muito a chegar -
                                                 Mas é lá que eu quero morar
                                                 Todo o céu fica a noite inteira
                                                 Sobre e último andar
                                                 É lá que eu quero morar
                                                                     Quando faz lua
                                                                     No terraço fica todo o luar
                                                                     É lá que eu quero morar
                                                                     Os passarinhos lá se escondem
                                                                     Prá ninguém os maltratar
                                                                     No último andar
                                                                     De lá se avista o mundo inteiro
                                                                     Tudo parece perto, no ar
                                                                     É lá que eu quero morar

          O velhote chorou de manhãzinha porque, relendo o poema de Cecília Meireles, lembrou-se da Raquel, sua filha querida que "flechou verticalmente o céu em busca do infinito". E este infinito, novo nome para o "Último Andar", é ali que se tornou definitivamente a morada eterna da Darcy e da Raquel, ambas os meus dois amores.
         Ambas no último andar.
         Será vaidade querer morar no último andar, onde ambas hoje moram? Se de lá se vê o mar, se a noite inteira todo o céu fica sobre o último andar, se de lá se avista o mundo inteiro  -  como não querer ir para o último andar? Sobretudo se é lá, no último andar, que os passarinhos se escondem para ninguém os maltratar, como pode ainda haver dúvida, quanto a meus dois amores quererem morar no último andar?
         Há muita gente que não gosta de falar em morte. O velhote, que chorou de manhãzinha, também não gostava de falar em morte, pois o falar ou o lembrar da morte o fazem chorar. 
         E tem duas fortes razões para isso: a Darcy, sua irmã, e a Raquel, sua filha.
         Cumpriram ambas uma missão cá na Terra, que lhes fora confiada pelo Pai. Ele, ao fazê-las participar da Sua própria natureza divina, deu-lhes, como a todos os seres humanos, a missão de dominar a Natureza e completar a obra da Criação.
         Homens e mulheres, na sua vida mortal, foram fiéis a essa missão, que consideraram como a mais apaixonante que lhes foi dada pelo Criador: a de agir como cocriadores com o Criador, de lutar como colibertadores deste mundo com o também Libertador.
         Para os meus dois amores  -  a Darcy e a Raquel  -  como o foi para os Santos, a Morte não lhes apareceu como um horrendo esqueleto com uma foice nas mãos. Elas, como os Santos, não tiveram medo de morrer. Se morrer, para elas é ressuscitar, sei que elas nunca falaram em morrer. Quando fosse o caso, elas falavam em "ressurreição na morte", ou então preferiam falar em "partir".
         E no seguimento de São Francisco de Assis, uma, que procurava mais vida, e procurando mais vida se deparou com a morte;   -  a outra, que lutava contra a morte, e lutando contra a morte encontrou a Vida Eterna  -  saíram ambas vitoriosas, porque saudaram a Morte como uma irmã querida, que veio para levá-las para a Casa da Vida Eterna.
         Para o Último Andar! 


                                                            **************



         Descanse em paz, minha filha querida, na Casa do Pai de todos os pais!...



                                                                                                       Seu pai.


                                                            **************
  


    

























                                            

                                                 


  
        







    
                                                                                                


             




















                        .



            
            
                    

















    


         







                                                                  










                                













































sábado, 15 de março de 2014

FALANDO EM FERRÕES E ESPINHOS...



                                           Senhor,
                                           não foi sem razão
                                           - certamente não foi -
                                           que à abelha
                                           com o mel
                                           deste o ferrão
                                           e à rosa
                                           com o perfume
                                           deste o espinho...
                                           nem sei se
                                          sem ferrão
                                          a abelha seria abelha
                                          e a rosa seria rosa...

            Permita-me o benévolo leitor que eu lhe faça umas tantas  perguntas:
            - Será que se deve concluir que ninguém pode ser apenas mel, apenas bondade, apenas doçura?
            Será preciso concluir que todo mundo deve ter ferrão?
            Será que se deve concluir que ninguém pode ser apenas e sempre macio como a pétala de rosa, e que ninguém deve deixar de ter seus espinhos para defesa própria na hora necessária?
            E eu lhe digo: minha conclusão é diferente.
            Meu sonho mais frequente é um Mundo sem ferrões e sem espinhos.
            Infelizmente, na prática diária, não há ninguém que só fabrique mel. Quando menos se espera, lá vem o danado do ferrão...
           Repito: infelizmente, na prática, não há ninguém que não tenha seus espinhos  -  não importa que sejam maiores ou menores, mais rijos ou menos rijos, mas o certo é que não há quem deixe de ter suas pontas ferinas... Às vezes, até há espinhos venenosos...
           Gosto de lembrar a quem é bom e de repente se surpreende ferroando o próximo, que Deus nosso Pai sabe o que faz.
           Explico:
           Quem jamais leva um tombo, acaba sem entender como se cai.
           Quem jamais teve uma fraqueza e vai subindo de perfeição em perfeição, de luz em luz, acaba não entendendo quem é fraco e tem de recomeçar dezenas, centenas de vezes...
            Nunca é demais lembrar a felicíssima exclamação do Salmo bíblico:
            - "Tu, Senhor, és bom porque me humilhaste,"  -  isto é, Tu és bom porque consentiste na minha queda para que eu entenda e não condene os que caem..
            Também é verdade que merece ser recordada uma definição de santidade muito verdadeira e encorajante:
            - "Ser santo é recomeçar, humilde e alegremente, depois de cada queda, depois de cada pecado, por mais grave que seja..."
            Não é preciso não pecar nunca, não cair nunca, para ser  santo.
            Se aquele que peca tem bastante humildade e confiança para recomeçar  -   sem perda de tempo, com coragem, com fé na Misericórdia de Deus e na  ajuda do Senhor Jesus  -  pode cair um milhão de vezes...
            Se se levantar um milhão e uma vez, é santo!...

                                                            ***************

O autor é professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério Paranaense.
Bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital  paulista









    
 















quarta-feira, 12 de março de 2014

MORRER OU PARTIR?!...



            Faz hoje seis meses que meu filho Júlio César partiu desta vida para a Casa do Pai de todos os pais. Não falei em "morte", mas em "partir" porque, mesmo não sendo meu caso, há muita gente que não gosta de falar em morte.
            É que não vemos a Morte como a vêem os Santos e os Poetas.
            Para eles  -   os Santos e os Poetas  -   a Morte é o começo da verdadeira Vida. Sem dúvida nós, seres humanos contingentes e finitos, estamos ligados à Terra. Temos aqui uma missão que nos é confiada pelo próprio Pai.
           Ele, ao fazer-nos participar da Sua própria natureza divina, encarrega-nos de dominar a Natureza e completar a Criação. Bem por isso torna-se cada vez mais apaixonante nossa passagem pela Terra. Nunca homem e mulher tiveram tantas condições de cumprir a ordem do Criador, de agirmos na Terra como
co-Criadores, e como co-Libertadores.
          Mesmo assim eu  não posso esquecer que estou de viagem, que sou peregrino, que não tenho aqui morada permanente. Com a agravante de que sou pecador e, não fosse a proteção e a misericórdia de Deus, o que não seria a minha vida, diante da como que invencível tendência para o pecado?
          Não obstante, sei que tenho laços profundos com a Terra e com os Homens e Mulheres meus Irmãos,  e continua sendo verdade que sou mesmo peregrino, em marcha para meu destino eterno, que é a Casa do Pai.
          Que ninguém pense que eu seja um egoísta, por querer partir, dia mais, dia menos, em direção à Casa Eterna, onde não haverá mais dor nem sofrimento.
          Por isso, é que repito que devo sempre ver a Morte como a vêem os Santos e os Poetas.
          Para os Santos, a Morte não aparece como um horrendo esqueleto com uma foice na mão.
          Aliás, os  Santos nem falam em morrer: preferem falar em partir!
          Portanto, não devo mais falar que meus dois filhos, primeiro a Raquel, e agora o Júlio César, morreram, mas que eles partiram em viagem definitiva para a Casa da Eternidade...
         Para o "último andar", como disse Cecília Meireles em maravilhoso poema:

                                         No último andar é mais bonito
                                         É lá que eu quero morar
                                         Os passarinhos lá se escondem
                                         Prá ninguém os maltratar
                                         No último andar
                                         De lá se avista o Mundo inteiro
                                        Tudo parece perto, no ar
                                        É lá que eu quero morar.

                              ********************************

        Há três anos atrás publiquei nesta mesma página, inteiro, o belíssimo soneto da Cecília Meireles, por ocasião do falecimento de minha saudosa filha Raquel.
        Confesso que agora, três anos depois, a emoção e a tristeza me impediram de reproduzi-lo até o fim, porque choro de novo outro falecimento, o de meu filho Júlio César  -  faz hoje seis meses de sua partida definitiva para a Casa do Pai de todos os pais.
         Não sei se estou blasfemando ou não, mas a minha prece de todo instante, dia e noite, é uma só, uma interrogação que não me sai da mente: -  Por que, meu Deus, por que?
         O silêncio de Deus me parece esmagador, e eu estou constantemente  contemplando e questionando  as alturas do Céu. E sem resposta.
         Mas ambos estão lá  -  minha filha Raquel e meu filho Júlio.
        Que Deus os tenha na Sua Paz!

                             ********************************

  




        









                                         














      
         

segunda-feira, 10 de março de 2014




                                                 Ad perpetuam rei memoriam
                                    DARCY TEIXEIRA DE ALMEIDA GOMES

                                                               ******

            Carta do Padre Redentorista A. Haus enviada a minha mãe por ocasião do falecimento da
             Darcy, minha irmã:

            Prezada Senhora Julieta:

           Hoje recebi sua carta com a triste notícia do falecimento da Darcy. Quase não acreditei. 
           Realmente naquele dia estive em sua casa e ela estava fechada. Como ia viajar no outro dia,     não mais lá voltei.  
          Grandes meus amigos todos Vocês, e sempre nas horas difíceis ela recorria a mim como seu conselheiro.
          Agradeço a notícia que muito me comoveu, pois me apanhou de surpresa.
          Que fatalidade! Nunca pensei que tal acontecesse... São coisas que só Deus sabe porque Ele permite que aconteçam.
          Certamente o Pai do Céu lhe deu um melhor lugar do aquele em que nós estamos.Quando não entendemos os mistérios de Deus, só nos resta inclinar-nos diante de Seus desígnios e dizer: - Seja feita a Sua vontade.
          A vida é curta, e nós estaremos reunidos um dia no Céu. Não vou apresentar pêsames, mas orações, como hoje já fiz pelo descanso de sua alma. O sangue de Cristo  -  como a senhora diz na carta  -  é a maior prova de que Deus nos ama e nos congrega a todos junto dEle.
         Não fique triste, porque ela partiu para a Casa do Pai. Amanhã e nos dias seguintes rezarei muito por essa amiga querida que partiu para o Céu.
         Abençoando a todos, Padre Haus.

                                                        *************************
      











           

sábado, 8 de março de 2014

APRENDER COM AS ONDAS



            Inicio o texto de hoje com uma espécie de poema:

                                         Aprender com as ondas
                                         recuar 
                                         mas para voltar
                                         para insistir
                                         sem cansaço
                                         sem desistência
                                         noite e dia
                                         enquanto a Mão Divina
                                         não der sinal
                                         de ter sido atingida
                                         a plenitude
                                         das grandes águas da vida

            Se Você já foi à beira-mar deve ter-se admirado de como as ondas não se cansam.
            É impressionante como elas vão recuando, recuando, mas, de repente, voltam. Teimam. Insistem.
            E se há horas de maré vazia, há também horas de maré enchente; horas de maré cheia...
            É por isso que eu digo e repito:
            Nós temos muito que aprender com as ondas do mar...
            Há quem desanime na primeira dificuldade.
            Tentam aprender inglês, ou aprender a dirigir, ou aprender manusear o computador...
            Se não aprendem logo de início, se têm de repetir, há muita gente que desanima e não quer continuar...Simplesmente desistem...
            Há quem desanime com seu próximo, com os outros...
            O marido prometeu tantas e tantas vezes uma viagem de recreio com a esposa e os filhos, e sempre falhou nas suas promessas...
            O filho mais velho parecia tomar jeito e deixar de "encher a cara" no bar da esquina e, no entanto,
mais de uma vez chega em casa amparado por um amigo...
            O Apóstolo Pedro perguntou um dia a Jesus se era uma boa conta perdoar sete vezes...
            Foi mais ou menos assim a resposta do Senhor:
            - "Que sete vezes qual nada, Pedro! Mas setenta vezes sete..."
            O que, na linguagem do Mestre, poderia significar, no meu modo de entender:
            - "Pedro, cada vez que houver uma sombra de arrependimento e de boa vontade, perdoa, perdoa sempre, sem medir, sem contar..."
             Diz o provérbio popular que "papagaio velho não aprende a falar".
             E eu tomo a liberdade de completar que isto serve de desculpa a muita gente que começa a aprender, mas desanima no meio do caminho...
             Mais: pode ser que o papagaio velho não aprenda. Mas Gente, quando toma uma decisão, não há idade que atrapalhe.
             Muita gente se desculpa diante de falhas cometidas:
             - "Eu sou assim; nasci assim e minha natureza é esta... Quem me quiser, é assim: não vou mudar..."
             O que estou tentando provar é o seguinte:
             Quem começa, começa, e torna a recomeçar; quem não desanima, e teima, e insiste, e não desiste nunca, um dia acabará vencendo!...
              Quem ainda tiver alguma dúvida, volte ao início e medite mais uma vez no poema que abriu este texto...

                                                               *****************

Macárioi oi acúntes ton lógon tu Theú xai filássontes = Felizes os que ouvem a palavra de Deus e
a colocam em prática.    (Lc 11,28).

                                                              ******************

                                                        











 








                                 

quarta-feira, 5 de março de 2014

A VOZ DOS SINOS



          Quarta-feira de cinzas... Chuva miúda e fria, como é tradição nesta nossa Curitiba dos pinheirais... Estou sozinho em casa, meus familiares no litoral, fruindo necessárias férias..
         A voz dos sinos, que acabo de ouvir, é um convite para que eu adentre o período litúrgico da Quaresma, com novo espírito: espírito de contrição pelas falhas cometidas e propósito de vida mais positiva e mais centrada em Deus - em Jesus Cristo, cuja paixão e morte o povo cristão começa a celebrar no dia de hoje... Mas é preciso lembrar: se Ele sofreu, foi crucificado e morreu... no entanto, para esperança nossa em sua vitória, Ele RESSUSCITOU! - penhor também de nossa Ressurreição.

                                                         ********************

         Este proêmio, um tanto quanto pomposo, me fez dar à luz este poemeto, que talvez não agrade nem a gregos e muito menos aos troianos da vida. Em todo caso arrisco-me a divulgá-lo:

                                                        Gostaria de subir
                                                        à torre da Matriz
                                                        para estudar bem de perto
                                                        os sinos de bronze
                                                        e descobrir
                                                        o que dá a cada um
                                                        este som inconfundível
                                                        e o que dá ao conjunto
                                                        a impressão de harmonia
                                                        difícil de esquecer.
                                                                       A escada é íngreme
                                                                       e interminável...
                                                                       mas terei que subir
                                                                       - sou sineiro das almas
                                                                       e de cada uma
                                                                       quando não de todas
                                                                       gostaria de arrancar
                                                                       deles e de meu coração vazio
                                                                       os sons mais agradáveis
                                                                       ao meu Senhor e meu Deus

                                                           **********************************

        Sinos! Sinos de minha infância quando, pendurado perigosamente nas cordas, eu fazia o vilarejo vibrar com os seus acordes festivos, convocando o Povo de Deus para a prece e o louvor!...
        Sinos! É pena, mas vai ficando cada vez mas raro,  na minha Curitiba e nas grandes cidades, ouvir sino bater!
        Lembro-me de minha infância em Caldas, Minas Gerais: o sino da igrejinha do vilarejo tocava o "Ângelus" às seis horas da manhã, ao meio-dia e à tarde, principalmente, convidando para as Ave-Maria, para saudar Nossa Senhora e agradecer o mistério da Encarnação do Verbo Divino.
        O sino tocava, durante a Missa solene, na elevação da Hóstia e na elevação do Cálice.
        Houve tempo na pequena cidade em que o sino tocava até para alertar o povo sobre um incêndio numa casa qualquer... ou para sepultar um irmão que acabava de falecer...
        Sinos! Cada sino tem mesmo um som inconfundível, só dele, e o melhor é a harmonia do conjunto, que sempre me pareceu um mistério.
        Sineiro das almas! Feliz de quem sabe obter de cada criatura de Deus o melhor som de que ela é capaz.
        Cada um de nós tem suas harmonias secretas. Às vezes, vejo pessoas que me dão a impressão de não terem nenhum som harmonioso a desprender. Há pessoas que, ao se saberem comparadas a sinos, seriam as primeiras a responder:
        - "Só se for sino rachado, porque nem sombra de harmonia existe em mim!..."
        Pessoas assim sempre me fizeram meditar: por que será que seus sinos interiores foram emudecidos, pararam tão de repente de tocar?
       Você, que tem a bondade de me ler, escute bem o que vou lhe dizer:
       - Todos nós temos nossos sinos interiores...
       - Em horas de alegria, eles repicam felizes e festivos. Pelo contrário, em horas de sofrimento e de dor, eles dobram tristes, convocando-nos para participarmos do sofrimento do nosso irmão.]
       E Você, meu benévolo leitor, é mesmo verdade que Você há muito tempo deixou de escutar seus sinos interiores? Eles desaprenderam repiques festivos nos dias de alegria? Ou, mais triste ainda, eles deixaram de tocar?...
      Escute o conselho de um irmão mais velho e muito sofrido:
      - Não deixe que emudeçam seus sinos da alma! Descubra pessoas amigas cujos sinos interiores se somem, se completem, se harmonizem com os seus, cantando louvores ao nosso Senhor e Pai!...







      
      
      
      








































                               












                                        

    

segunda-feira, 3 de março de 2014

A ANGÚSTIA DO HOMEM E DA MULHER NOS DIAS DE HOJE



          Bloqueados pela soma das invenções técnicas e, pode-se dizer, por suas próprias criações, homem e mulher de hoje, apesar das brechas que lhes consintam entrever perspectivas promissoras de realização grandiosa, se encontram emaranhados em problemática aguda, cuja solução se coloca em termos de sobrevivência ou não-sobrevivência.
          Homem e mulher de hoje, tragicamente em crise, apelam por uma "saída honrosa", que não lhes manche a dignidade de Seres livres e responsáveis.
          Forças inusitadas lhes pressionam a exigência de soluções rápidas, supercerebralizadas, para desarticular esquemas montados por eles próprios.
          E essa situação se refaz tanto mais angustiante,quanto mais precisa se torna a realidade de terem homem e mulher sido acusados pela queima de todos os sistemas de segurança do passado.
          É por essa razão que um e outro me parecem despojados de confiança, porque saborearam os frutos da "árvore da ciência do bem e do mal", de que nos fala a Bíblia Sagrada.
          No Antigo Testamento, Israel se agarrara ao rochedo de salvação, - Javé -  enquanto os cristãos da Nova Aliança puseram sua esperança na Cruz.
          E ao homem e à mulher deste nosso século tumultuoso, o que lhes resta?
          Que Fé, que Esperança de salvação?
          Em que máquinas ou supercomputadores há de dissolver a angústia que lhes frustra a existência diante de mil e um problemas que os dilaceram na vivência do seu dia-a-dia?
          Fundamentalmente, no meu entender, é a sensação vivida de um "perigo" em que homem e mulher estariam ameaçados de sucumbir.
          E a salvação somente seria possível se ambos realmente se agarrassem ao "rochedo da salvação" que é só Deus, e que lhes poderá dar a felicidade  dentro do Reino Messiânico, onde reinará a Justiça e a Caridade.
          Neste clima, todo o povo é chamado a sair em permanente êxodo do reino de trevas e morte para a Terra Prometida de luz e vida eterna, na "nova criação" sonhada pelo profeta Isaías.
          Em linguagem mais direta, é isto:
          Homem e mulher se acham numa situação concreta que eles próprios receiam; vivem sob o signo da ameaça, do perigo, diante de obstáculos que lhes advêm de todos os quadrantes deste mundo.
          E então se lhes propõe o problema fundamental, anterior a todos os outros, segundo o qual é saber se ainda é possível ser "humano" pura e simplesmente, se ainda se poderá viver uma vida realmente humana.
          Se é verdade que no mundo dois terços de homens e mulheres não dispõem do mínimo necessário para viver, para levar uma vida simplesmente humana; se essas criaturas não estão na pobreza mas na miséria, na angústia permanente do pão de amanhã, da possibilidade de não ter um emprego no dia seguinte, -  então a vida humana está descendo de fato a um nível infra-humano.
          A obsessão daqueles que  "vivem"  hoje é a de "sobreviver".
          Existe por aí uma literatura e uma pregação de salvação nas várias igrejas que têm seu ponto de partida na tomada de consciência desse estado de coisas.
          Essa literatura e essa pregação de uma pretensa salvação está marcada pela angústia de não se poder levar decente e cristãmente  uma vida humana.
         Dentro dessa literatura e dessa pregação, o que pode significar ainda para esse homem e essa mulher do nosso século, por exemplo, o compromisso de fidelidade mútua?
         No meu entender, nada, absolutamente, já que eles se acham numa situação que não lhes permite compreender em profundidade tal matéria de tanta relevância para si mesmos.
         Isto não signfica, porém, que se possa tirar a conclusão: primeiro mudar a situação temporal, para em seguida anunciar o Evangelho.
        Estou agora apenas levantando o problema, e não sei se tenho ou se terei condições de apontar-lhe uma solução.
        Neste caso concreto, os sociólogos muito teriam a dizer a respeito, para não falar dos médicos, dos advogados e de outros especialistas no ramo.
        E também a responsabilidade pela procura de solução é nossa, porque cada um de nós é parceiro do problema e, na voz do monge cisterciense norte-americano, Thomaz Merton, "homem algum é uma ilha"  -    embora morramos sozinhos, é juntos que vivemos!...

                                                             **************

Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério, e bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo, Capital.