domingo, 20 de maio de 2012

É VERDADE QUE JESUS "SUBIU" AO CÉU?



       Neste domingo, a comunidade católica de todo o mundo comemora a ascensão, ou a "subida" de Jesus de Nazaré, ressuscitado, ao céu. Façamos, portanto, algumas reflexões sobre o tema.
      Dom Moacyr José Vitti, arcebispo metropolitano de Curitiba, afirma na sua coluna dominical na Gazeta do Povo que há no Monte das Oliveiras, em Jerusalém, um pequeno santuário octogonal construído pelos cruzados e transformado em mesquita pelos muçulmanos em 1200 d.C. Nos dias de hoje ele tem um telhado, mas quando foi construído estava descoberto, para lembrar a ascensão de Jesus ao céu.
      À primeira vista, a narrativa da ascensão pelos evangelistas se desenrola com fluidez e espontaneidade, mas, considerando todos os detalhes,  experimentamos certa perplexidade; parece pouco plausível que Jesus se tenha comportado como um astronauta que, em se afastando da Terra, se eleva em direção ao céu e desaparece entre as nuvens.
      Na parte final do seu Evangelho, Lucas afirma que o Ressuscitado levou seus discípulos para Betânia, e "enquanto os abençoava, separou-se deles e foi arrebatado ao céu; depois de O terem adorado, voltaram para Jerusalém, com grande júbilo."
      Afirmar que Jesus subiu ao céu é exatamente a mesma coisa que afirmar que Ele "ressuscitou", que foi glorificado, que entrou na glória de Deus. O seu corpo, é verdade, foi colocado no sepulcro, o apóstolo Paulo chama de "corpo espiritual".
      Não houve nenhum deslocamento no espaço, nenhum rapto do Monte das Oliveiras rumo ao céu, 40 dias após a Páscoa. A Ressurreição e a  Ascensão aconteceram, sim, mas no mesmo instante da sua morte, embora os discípulos tenham começado a entender e a acreditar somente a partir do "terceiro dia".
      A narrativa de Lucas é uma página de teologia, não uma afirmativa sobre fatos, extraída de um jornal. Nessa página nos é ensinado que Cristo, por primeiro, atravessou o "véu do templo" que separava o mundo dos homens do mundo de Deus, e mostrou que tudo o que aconteceu aqui na terra, sucessos ou fracassos, injustiças, sofrimentos, e até mesmo os fatos mais absurdos, como uma morte ignominiosa, não estão excluídos do propósito de Deus. Se a Ascensão de Jesus é tudo isso, não devemos causar espanto que os Apóstolos tenham saudado com "grande júbilo."
      Não devemos entender em sentido material a indicação que o Ressuscitado "está sentado à direita de Deus." Deus, puro espírito, não tem direita nem esquerda, e não é possível pensar que no céu a gente se cansa de ficar de pé. Trata-se de afirmações teológicas transmitidas através de uma imagem que relembra os costumes das cortes dos soberanos da Antiguidade.
      Quando os reis do Oriente queriam homenagear um súdito que tinha demonstrado uma fidelidade heróica, convocavam os notáveis do reino e diante de todos o convidavam a sentar-se à sua direita. Usando desta imagem, o evangelista quer nos dizer: Jesus de Nazaré, o derrotado segundo a lógica dos homens, é proclamado por Deus "Servo fiel", o Rei do Universo. 

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