domingo, 13 de maio de 2012
DIA DAS MÃES:- o cântico do filho
Mãe
deixa que neste teu dia eu cante um hino para ti
deixa que minha alma se engolfe nas vagas de teu amor por mim
e se expanda veementemente
em cadadupas de gratidão
meu cântico será breve
tão mais breve quanto os meus raros instantes de felicidade
mas nele as catedrais de todo o meu ser em festa
carrilhonarão o glória in excelsis de teu louvor
vê minha Mãe
sou uma folha arrastada pelo vento impetuoso do inverno
mas teus braços se estendem para mim
como as sombras das árvores seculares
sou um peregrino pelos desertos sem oásis
um viandante açoitado continuamente pelo frio das madrugadas
mas teu nome é um raio de luz em meio às trevas
eu era como uma criança deixada no escuro do quarto
era como lázaro em todos os festins da vida
e meus dedos encarquilhados tateavam as sombras
em busca de míseras migalhas esperdiçadas
meus amigos desprezavam-me como a um louco
filho pródigo perdi os caminhos do retorno
e meus próprios irmãos envergonhavam-se de mim
tu porém velhinha de cabelos brancos
deixaste as contas gastas de teu rosário
e saíste à minha procura pelo mundo
tu me encontraste bem longe pobre e faminto
como as plantas selváticas que brotam sem raízes no rochedos
deixei então as babilônias da vida
e voltei redimido para os teus braços
deixei para trás em meio à escuridão da noite
as milhares de quimeras que andei sendo
nos desertos sem oásis donde me arrancaste
por tudo isso minha Mãe deixa que eu te louve
és como uma campina imensa na primavera
teu amor é sem limites como os vagalhões do mar
que nunca visitam praias
estar junto de ti ouvindo o pulsar de teu coração
é como ouvir as notas agrestes de uma agreste flauta
que bem longe soam nas mãos firmes do pastor
enchendo-nos o peito
com um não sei quê de indizível em linguajar humano
tuas palavras maternais de encorajamento e de perdão
banham minha alma
como o orvalho suspirado pelos campos ressequidos
teus conselhos são para mim mais cheios de sabedoria
que as mais sublimes exortações dos mestres
ouve por fim minha Mãe
se um dia ruírem as paredes ante o fragor das guerras
se se partirem os diques da caridade
sob a avalanche infrene das paixões revoltas
e o ódio se espalhar pela terra
tudo afogando num dantesco mar de chamas
se um dia os céus enegrecidos ribombarem
desfeitos em mil estilhas
com os tentáculos de aço dos canhões a vomitarem morte
se os monstros apocalípticos dos robôs teleguiados
silvarem pelo ar anunciando o armagedon
e os homens se encolherem transidos de terror
como se pendesse sobre eles a espada flamejante do arcanjo vingador
então minha Mãe eu nesse dia de lágrimas
deitarei minha fronte febril em teu regaço
bem longe dos gritos ululantes das multidões crispadas
então eu morrerei tranquilo sobre os teus joelhos
e tu me cantarás tua última cantiga de ninar
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