terça-feira, 8 de maio de 2012

A FÉ E AS BOAS OBRAS


      Esta é uma das grandes intuições do protestantismo que encontrei lendo Karl Barth, famoso teólogo da Igreja Reformada: - "Todos os que têm de lutar com a incredulidade deveriam ser aconselhados a não levar demasiadamente a sério sua própria incredulidade. Somente a Fé deve ser levada a sério. E se nossa Fé é do tamanho de um grão de mostarda, isso basta, pois o diabo já perdeu o jogo."
      Apesar de não ser teólogo de profissão, mas apenas por formação, desconfio de que, do ponto de vista estritamente católico, pode-se encontrar um erro nessa frase de Barth. Mas por quê? Dizer "só a Fé deve ser levada a sério" pode ser compreendido à luz daquela humildade cristã - e católica - que coloca toda a sua confiança em Deus. Nossas "boas obras", como católicos, são necessárias; não devem, porém, "ser levadas muito a sério." 
      A doutrina católica da justificação nunca disse a ninguém que suas boas obras devessem ser levadas a sério, no sentido de confiar inteiramente em sua própria "justiça".  Levar demasiadamente a sério suas boas obras é agir como um fariseu. Só a Fé deve ser levada a sério, pois somente a misericórdia de Deus é algo de sério.
      Se colocamos demasiada ênfase na seriedade daquilo que fazemos, não só tornamos o juízo de Deus a mais séria realidade em nossa vida, mas nos consideramos, de fato, já julgados. Seremos homens e mulheres julgados que tomamos com seriedade algo que não é a infinita misericórdia de Deus. Aquele ou aquela que leva a sério suas próprias obras não serão preservados, por esta seriedade, de pecar. É uma pseudo-seriedade. E isto só não basta.
      Que dizer então da incredulidade, como linhas acima Karl Barth lembrou?  Penso que se a Fé deve ser levada a sério, creio que a incredulidade também poderia ter algo de sério. Mas não: pois levar a sério a Fé, é a Deus que levamos a sério, não a nós, nem mesmo a nossa Fé. Não levamos a sério a Fé como algo que possuímos definitivamente, mas levamos a sério Deus, que nos faz o dom da Fé e renova esse dom, por sua misericórdia, a todo momento, apesar da nossa incredulidade.
      Esta é, parece-me, afirmo outra vez, uma das intuições centrais do cristianismo protestante, e é algo que nós, católicos, devemos aprender. Lembrando que é algo, também, de que muitas confissões protestantes  se esqueceram. Tornaram-se obcecados com a Fé tal como eles a posssuem. Vigiam-se constantemente para ver se a  Fé ainda está ali. Isto, para mim, significa transformar a Fé numa "boa obra" e, em consequência,  serem eles também justificados pelas obras.
      "Crer é ser livre para confiar nEle somente, e só nEle", - diz Barth - e é ser livre em relação a toda outra forma de dependência e apoio.
      Essa, com efeito, é a verdadeira liberdade, e dela brota a capacidade para toda boa obra, pois remove de nosso coração e de nossa alma todos os obstáculos ao amor a Deus e ao amor de Deus.

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