segunda-feira, 30 de novembro de 2015

"...E POR QUE NÃO PENSAR NA MORTE?"



          Estando para entrar no meu octogésimo ano de vida, comentei com minha mulher que esse fato me leva a pensar que dei mais um passo em direção à morte. Minha mulher me repreendeu, dizendo que sou um pessimista, um neurótico, pois pois só penso em situações ruins e destrutivas...
           Tive que defender-me, mostrando a ela que a morte pertence ao próprio conceito de vida terrestre. Esta é sempre vida mortal ou morte vital. Argumentei que, muito antes que homem e mulher tivessem emergido, na evolução, já as plantas mirravam e morriam os animais.
           Esta constatação, aliás, tem sua importância porque a Bíblia e a Teologia apresentam a morte  de homem e mulher como consequência do pecado de Adão, transmitido a todos os seus descendentes, através dos séculos e das gerações.
          O apóstolo Paulo o diz claramente:
          - "Através do pecado a morte invadiu o mundo."
          E a Igreja, desde os concílios de Orange (529)  e de Trento (1546) o relevam com igual clareza: "a morte é o preço do pecado".
          Como entender tal afirmação?
          Uma reflexão atenta sobre a sentença conciliar nos fará compreender a validade destas duas posições: uma que afirma a morte como fenômeno natural e outra que sustenta a morte como consequência do pecado.
          A teologia clássica da Igreja, seguindo Santo Agostinho, sempre ensinou que a morte é um fenômeno natural enquanto a vida biológica vai se desgastando até homem e mulher terminarem seus dias. Não podemos dizer: homem e mulher não podem morrer. Constitucionalmente, homem e mulher são seres mortais. 
          Entretanto, em virtude de sua orientação original para Deus e na sua situação matinal, o homem primitivo (Adão) estava destinado à imortalidade, podemos deduzir dos dados bíblicos. Ele podia não morrer. O famoso teólogo Karl Rahner no seu livro "Sentido Teológico da Morte" afirma que é evidente que homem e mulher teriam terminado sua vida temporal. Teriam certamente permanecidos em sua forma corporal, mas sua vida teria chegado a um ponto de consumação e plena maturidade a partir de dentro... Adão e Eva teriam tido "uma certa morte".  (Na sequência do texto, continuo desenvolvendo o ensinamento de Karl Rahner).
          Quer dizer: haveria uma cisão entre a vida terrestre e a vida celeste, entre o tempo e a eternidade. Haveria uma passagem. Haveria, então, morte. Mas essa morte estaria integrada na vida. Devido à harmonia total do homem e mulher, a morte não seria sentida como perda, nem vivida como um assalto nem sofrida como um despojamento. Seria passagem natural, como natural é a passagem da criança do seio materno para o mundo, da meninice para a idade adulta.
         Alcançada a madureza interior e esgotadas as possibilidades para homem e mulher corpo-espírito no mundo terrestre, a morte os introduziria para o mundo celeste... Adão e Eva morreriam como o "Pequeno Príncipe" de Saint-Exupéry: sem dor, sem angústia, sem solidão...
           A realidade é que a morte é consequência do pecado original, que afeta o homem e a mulher, que perderam sua harmonia com a vida. A morte, para eles, é sentida como um elemento alienador e roubador da existência. É medo, é angústia, é solidão. A morte concreta e histórica, assim como é vivida (viver a morte e morrer a vida são sinônimos) resulta do pecado. Por um lado, como termo da vida é natural. Por outro, "no modo alienador" como é sofrida, é desnatural e dramática.
          A morte implica uma derradeira solidão. Por isso homem e mulher a temem e fogem dela, pois a morte simboliza e sela uma situação de pecado que é a solidão do homem e da mulher que romperam a comunhão com Deus e com os outros.
          Contudo, a Fé cristã nos ensina que é possível integrar a morte na vida. abraçá-la com total despojamento e derradeiro ato de amor como entrega confiante a Deus, não vendo nela a ladra traiçoeira da vida, mas a irmã que liberta e introduz na casa da Vida e do Amor, que é Deus!
          
         
          

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

A PROPÓSITO DA RESSURREIÇÃO FINAL



              O Apóstolo Paulo chamava o homem ressuscitado de corpo espiritual. Com isso, entendia o homem todo inteiro  -  alma/corpo  -  mas totalmente realizado e repleto de Deus.
               E eu, como chamaria ao homem ressuscitado?
            Utilizando-me de uma categoria própria da antropologia baseada no "princípio esperança", talvez pudesse dizer: "homo revelatus".
            É preciso fazer, daqui em diante, um pouco de Teologia, para o que peço ao eventual leitor certa dose de paciência: com a ressurreição, se revelou realizado o verdadeiro homem que estava crescendo dentro da situação terrestre, aquele homem que Deus realmente quis quando o colocou dentro do processo evolutivo. O homem verdadeiro, em sua radical "patência"(do Latim "pathein" =  suportar, sofrer, ser passivo),  é só o homem escatológico. Pela ressurreição o "poder ser" do homem se realiza exaustivamente: ele sai totalmente de sua latência, pois nele se revela o desígnio de Deus sobre a natureza humana, o desígnio de fazê-la participar de Sua divindade em toda a realidade dela, "corpo-espírito-aberta-para-a-totalidade". 
            O "homo revelatus"  participa da ubiquidade cósmica de Deus e de Cristo, pois possui uma presença total no mundo por Ele criado; assim nasce o homem que chamo de "homo cosmicus".
            Agora, em nossa presente condição espácio-temporal, existe o "homo revelatus", mas ainda na sua latência, porque preso às realidades deste mundo, vivendo na condição de simultaneamente justo e pecador. Somente a morte o libertará e lhe possibilitará uma penetração mais profunda no coração do mundo.
           Acredito, com meu mestre em Teologia, Leonardo Boff, que a ressurreição acontece no próprio momento da morte e, pela ressurreição NA morte,  homem e mulher participam do Cristo ressuscitado e cósmico.
           Na consumação do mundo-universo, eles mesmos, homem e mulher, se potencializarão ainda mais, porque o cosmos lhes pertencerá essencialmente.
           No termo da vida terrestre, homem e mulher deixarão atrás de si um cadáver. É como um casulo que possibilitou o emergir radiante da crisálida e da borboleta, agora não mais presa pelos limites do casulo, mas aberta ao horizonte vasto de toda a realidade.
           Neste ponto, poderá surgir a pergunta fundamental de toda a antropologia: que será do homem e da mulher? Que é que eles poderão esperar no evento da eternidade?
           Minha Fé lhes responderá, jubilosa: vida eterna do homem e da mulher- corpo- espírito em comunhão íntima com Deus, com os outros e com todo o cosmos.
           Lembro aqui o ensinamento do Concílio Vaticano II:
          - "Certamente passa a figura deste mundo, deformada pelo pecado, mas aprendemos que Deus nos prepara nova morada e nova terra. Nela habitará a Justiça, e sua felicidade irá satisfazer e superar todos os desejos da paz que brotam nos corações de homem e de mulher. Então, vencida a morte, os filhos de Deus ressuscitarão em Cristo..."
          Seria muito bom para nós tomarmos consciência das consoladoras palavras do prefácio da Santa Missa consagrada aos mortos, e que resumem toda a Teologia que fundamentou este texto:
          - "Em Cristo brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição. E aos que a certeza da morte os deixa tristes, a promessa da imortalidade consola. Ó Pai, para os que creem em Vós, a vida não é tirada, mas transformada, e desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, no Céu, um corpo imperecível."
          Assim seja. Amém.

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domingo, 22 de novembro de 2015

A SALVAÇÃO COMO DADO OBJETIVO

           

            Não sei se Você conhece a anedota sobre alguém que pretendia escrever uma dissertação sobre o camelo. Se ele fosse um escritor alemão, com toda certeza no seu texto distinguiria o camelo "subjetivo" e o camelo "objetivo"... Tomo a liberdade de retomar essa divisão.
             Do ponto de vista objetivo, o homem moderno é abrangido por três aspectos da "salvação": a Justiça, a Vida e o Amor, sem menosprezar a consciência da Responsabilidade, que pode determinar até mesmo o sentimento de culpabilidade pessoal.
              Do ponto de vista subjetivo, digo desde já, a noção de  "salvação", tal como pretendo deslindá-la neste texto,  implica num dom que só Deus nos pode conceder. É uma Graça, um apelo a que homem e mulher devem responder, e esta resposta se concretiza na Graça, por ela e com ela.
              Parece-me, porém, que para o homem e a mulher, modernos, qualquer aceitação é problemática, pois homem e mulher são "seres que se devem fazer", que devem agir, transformar o mundo, "criando valores".
             Antes de tudo, devem conscientizar-se de que a "Salvação" é Justiça. Neste nosso mundo, a verdade insofismável é que muitos cristãos têm até mesmo a impressão de que Deus é ineficaz quanto à salvação. A salvação deveria realizar a Justiça terrestre. E onde encontrar essa Justiça? É verdade que o Reino de Deus não é "deste"mundo, mas Ele deve começar "neste" mundo.
             Todos os que levaram a sério a Graça e o Amor de Deus -  homens e mulheres -  realizaram na Terra um começo desta Justiça, que é um dos atributos de Deus revelados pela Bíblia.
             No âmbito da Igreja, São Vicente de Paulo, Santa Catarina de Gênova, São João Bosco encontraram, cada um a seu tempo, soluções onde outros haviam desanimado. Representam, eles, a Esperança corretamente vivida.  Mas, no meu modesto entender, esta Justiça realizada pelos santos, por lhe faltar "institucionalização", não conseguiu realizar-se em plenitude, não pôde transformar para melhor as estruturas econômicas e sociais, políticas e culturais da sociedade humana.
            Lendo um livro do escritor francês François Mauriac, ali encontrei um comovente texto sobre as palavras de Cristo, - "Tive fome e Me destes de comer. Fui prisioneiro e Me visitastes. A Mim é que o fizestes." Era Cristo esse prisioneiro, esse desempregado. Através de todos os relatos piedosos, corre esta lenda do pobre que bate à porta noite a dentro, é aceito ou repelido, e é Cristo em pessoa..." 
            Mas afinal o que me interessou não foi o texto de Mauriac, mas sim a história real. Terão os homens e mulheres  deste nosso século tratado menos cruelmente a outros homens e mulheres desde o momento em que dizem ter acreditado no Verbo Encarnado, Cristo Jesus? Há homens e mulheres que massacram e queimam vivos a seus semelhantes, e cometem tais crimes em nome de crenças religiosas, invocando o nome de Deus, como fazem os terroristas islâmicos nestes nossos dias...
            Diante de tantos fatos estarrecedores que a imprensa nos traz diariamente, o homem e a mulher, testemunhas de tantas brutalidades, esperam que uma Religião bem compreendida e vivida se empenhe na busca de solução para essas calamidades que assombram a todos.
            Transformar este mundo de pecador para sagrado depende do esforço de homens e mulheres de boa vontade; é de sua responsabilidade e lhes cabe a urgente necessidade de transformá-lo.
            E eu acrescento que a verdadeira generosidade para com o futuro de nossa geração consiste em dar tudo ao nosso tempo presente.
            Se todos nós procuramos a salvação, temos que recebe-la como um "dom". Para se receber esse dom, é preciso acolhê-lo, estar disponível.
            Deus nos fala nas Escrituras. Fala-nos na Igreja. É preciso escutá-Lo e responder a Ele. É necessário crer nEle. Aprendi estudando Teologia que a Fé é um ato de obediência à Graça recebida. O "sim" do homem e da mulher é um dom gratuito de Deus.
.           Mas homem e mulher modernos, parece-me, se mantêm desconfiados diante da atitude que a salvação exige deles: "aceitar" livre, consciente e fraternalmente, o dom de Deus.
             Que não percamos tempo em discutir eventuais divergências ou lideranças; o importante para nós seja unir-nos e caminhar, firmes, para o nosso objetivo, lembrados de que o tempo corre contra nós!..


"



    
          

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

MEMORIAL DA SAUDADE


Meus mortos queridos e inesquecíveis:






                              Darcy = minha irmã:  + falecida em 23-03-1981 - 43 anos - hemorragia decorrente
                                                                  de acidente operatório em cirurgia plástica

                              Valdir = irmão: + falecido em 26-11-1982 - 43 anos - câncer na garganta
 
                              Raquel = minha filha: falecida em 21-08-2010 - 43 anos - câncer nos seios
                        
                              Júlio = meu filho: falecido em 12-09-2013 - 42 anos - suicídio





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                             Que Deus os acolha na Sua paz.




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quinta-feira, 19 de novembro de 2015

UMA CONVERSA ENTRE IRMÃOS



            Em todos os recantos desta nossa querida e maltratada Terra, dentro de todas as raças, todas as línguas, todas as religiões, todas as ideologias por mais estranhas que sejam, tenho a firme certeza de que, apesar das reclamações dos pessimistas, existem ainda criaturas que nasceram para dedicar-se, para gastar-se ao serviço do próximo, dispostas a não medir sacrifícios para ajudar de verdade, e enfim a construir um mundo mais justo e mais humano para nossos filhos e netos.
            São criaturas ligadas ao meio em que se acham inseridas, mas que se sentem responsáveis pelo destino de todos com que convivem e que os consagram como irmãos e irmãs, homens e mulheres de todas as latitudes, de todos os climas, de todos os tamanhos, de todas as cores, de todos os graus de riqueza e de miséria, de todas as diferentes manifestações de cultura...
             É preciso que todos nós, independentes de quaisquer preconceitos e divergências políticas ou religiosas, tentemos juntos atingir o essencial da Mensagem a nós deixada pela nossa tradição humanista e  cristã, e que só terá êxito se for adotada como essencial para nossa vida, e traduzida nas próprias categorias e na própria linguagem  por todos e cada um dos diferentes extratos sociais, sejam eles minorias ou não, crentes ou não, mas cuja vocação é doar-se!...
             Sou um cidadão já octogenário nascido em Minas Gerais, um brasileiro, um latino-americano, um cristão católico. Não costumo forçar meu pensamento nem minha linguagem. Que cada um que me leia, ao invés de irritar-se com minhas constantes alusões a Deus (se não crê em Deus) ou a Cristo (se não é cristão), traduza, em termos do seu próprio esquema interior, um conjunto de verdades em que creio firmemente e que transformo em palavras, que não são meras criações de uma fantasia pessoal, mas realidades vividas em comum por todos quantos pertencemos à mesma família humana.
            Não pense, meu benévolo leitor e irmão que, por eu não o conhecer pessoalmente, eu o ignore como um longínquo desconhecido. Peço-lhe que vá traduzindo em "sua" linguagem o que eu vou dizendo na "minha". Onde falo em Deus, quem sabe, talvez Você o traduza por Natureza, ou Evolução, ou Acaso... Isto não é o mais importante.
            Se sente, em seu íntimo, o desejo de responder às qualidades humanas que possui, se o egoísmo lhe parece estreito e irrespirável; se experimenta fome de Verdade, de Justiça e de Amor, saiba que pode e deve caminhar comigo e com todos os que partilham da mesma convicção.
            Sem saber e, talvez sem querer, por partilhar de outra Fé diferente da minha, de frequentar outra Igreja que não a minha, Você é meu irmão ou minha irmã em Cristo. Aceite, pois, a minha fraternidade: nós nos entenderemos e poderemos caminhar juntos, se partilharmos dos mesmos sentimentos de doação e de amor ao próximo.

domingo, 15 de novembro de 2015

O SEGREDO DA ETERNA JUVENTUDE



            Estou para completar oitenta anos de idade, numa existência iniciada na então pequenina cidade de Caldas, em Minas Gerais, passando depois por Poços de Caldas, São João da Boa Vista, Ribeirão Preto, Brodosqui, Aparecida, Campinas, São Paulo, Barbosa Ferraz, e agora em Curitiba, onde espero sejam sepultados os meus cansados ossos, após findar minha peregrinação por este mundo de Deus.
           Sinto-me velho por quase um século de vida? De maneira nenhuma. Creio que o segredo de ser sempre jovem  -  mesmo quando os anos passam deixando marcas visíveis no corpo  - o segredo da perene juventude de alma é ter tido uma causa a que dedicar a vida.
             Tenho plena convicção de que cumpri a missão a mim dada por Deus. Casei-me com a mulher de meus sonhos, tive quatro filhos maravilhosos (infelizmente dois deles, a Raquel e o Júlio, já partiram para a Caso do Pai de Todos os Pais),  uma infinidade de netos, sendo que uma deles, a Isabela, órfã, de minha falecida filha Raquel, mora conosco.  Em sua radiosa adolescência, a Isabela é o consolo e a alegria de seus já avelhentados avós, a "dona Cida" e eu...
           Com vinte anos, sem sombra de rugas no rosto ou de cabelos brancos, é sempre possível, para muitos, ser um vencido na vida, um amargo pessimista, um velho...
           Quem pergunta a si mesmo, sem encontrar resposta válida, o que é afinal a vida e que motivos podem ser invocados para enfrentá-la com decisão, está com a juventude correndo sério risco...
         Quando se fala em causa a que dedicar a vida, é óbvio que é preciso distinguir entre causa e causa.
           Abraçar uma grande causa, ser-lhe fiel, sacrificar-se por ela, é tão importante como  acertar na escolha da vocação.
        Nestes meus oitenta anos de vida fui testemunha e ator de grandes causas no decorrer dos tempos que, de uma ou de outra maneira, tiveram profunda influência em meu modo de ser e de pensar
           Em Poços de Caldas, fui engraxate nas ruas da cidade, mais tarde charreteiro, alugava um belo cavalo  aos turistas do Pálace Hotel.
           Em São João da Boa Vista meu pai arrumou duas carrocinhas, adaptou-as com uma vitrine para a venda de pés-de-moleques, amendoim torrado, paçoquinhas e outros comestíveis, e ao cair da tarde meu irmão e eu as estacionávamos na maior praça da cidade, e ali ficávamos até alta noite, atendendo eventuais fregueses.
       

           - quando, em países como o Brasil, houve durante séculos a vergonha da escravidão africana e, em dado momento, rebentou o Movimento Abolicionista, é fácil entender a vibração dos jovens que corriam, alegremente,  sérios riscos, ajudando escravos a escapar para a liberdade e promovendo um grande e belo movimento de opinião pública para derrubar a estrutura da escravidão.
           Poetas, jornalistas, escritores, tribunos, sacerdotes  -  homens e mulheres, profissões diferentes - confraternizavam-se na luta sagrada de querer livres todos os filhos de Deus!
          - quando, em países como os da América Latina (no século XX), surgiu o movimento anticolonialista, no sentido de obter a independência política para todos os povos, o Mundo percebeu que seria inglório e inútil pretender manter a estrutura colonialista.
          E com isso cada país liberto conheceu os seus heróis, seus poetas, romancistas, polemistas, seus mártires, seus santos.
          Sem prejuízo de outras numerosas causas dignas de dedicação total e de sacrifícios, muitas vezes da própria vida, todos nós podemos com razão dizer que existe a causa do século: completar a libertação dos escravos sem nome e que são, hoje, dois terços da Humanidade vivendo na miséria; completar a independência política dos países da América Latina, da Ásia, da África e do Oriente Médio, que vão conquistando, a trancos e barrancos, a própria soberania, encorajando-os a obter a independência econômica, sem a qual de pouco adiantaria o próprio ingresso nos países do primeiro mundo e  na Organização das Nações Unidas..
          No meu modesto entender, o que há de apaixonante é que, desta vez, ao contrário de outros tempos idos e vividos, o esforço tem sido de todos, por todos e para todos.
          Neste sentido, faço minha a prece de Francisco de Assis, e que seja ideal de minha vida concretizá-la em todos os meus atos:

                                          Senhor, fazei de mim um instrumento de Vossa paz!
                                          Para onde houver ódio, que eu leve o amor
                                          Para onde houver ofensa, que eu leve o perdão
                                          Para onde houver discórdia, que eu leve a união
                                          Para onde houver erro, que eu leve a verdade
                                          Para onde houver dúvida, que eu leve a fé
                                          Para onde houver desespero, que eu leve a esperança
                                          Para onde houver trevas, que eu leve a luz
                                          Para onde houver tristeza, que eu leve a alegria
                                          Ó Mestre
                                          Possa eu preferir
                                          Consolar do que ser consolado
                                          Compreender do que ser compreendido
                                          Amar do que ser amado
                                          Pois eu bem sei
                                          Que é dando que se recebe
                                          É no auto-esquecimento que se pode encontrar
                                          É perdoando que se é perdoado
                                          É morrendo que se ressuscita para a Vida Eterna


            Entrando no meu octogésimo ano de existência, e se nos dias de vida que me restam, a misericórdia divina me conceder a graça de realizar mesmo que seja em parte o que o poema de São Francisco de Assis propõe, creio que me considerarei plenamente recompensado e imensamente feliz!


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sexta-feira, 13 de novembro de 2015

A NOSSA SALVAÇÃO EM CRISTO



            O termo "salvação", comum a todas as religiões, exprime a mais acendrada esperança de homens e mulheres, em todos os tempos e lugares.
            A raiz em hebraico significa "soltar os laços".
            Fundamentalmente é a sensação vivida de um "perigo", em que homem e mulher estariam ameaçados de sucumbir. Só Deus é o "rochedo da salvação", conforme o que nos ensina a Bíblia Sagrada. Só Ele dará a "felicidade" dentro do Reino Messiânico, onde reinarão a Justiça e a Equidade.
            Todo o povo é chamado a sair em permanente êxodo do reino de trevas e morte para a Terra Prometida de luz e de vida eterna, em uma "nova criação", segundo as palavras do profeta Isaías.
             Resposta a este apelo de Deus existe apenas uma: a Fé, a ardente esperança da salvação. Os "humildes", os de coração contrito, só eles podem chamar a Javé de seu salvador, nos diz o Salmista.
             Jesus oferece a salvação, livrando do pecado, que é morte total, pois a salvação é vida: ser salvo é ser transferido do reino da morte ao reino da vida, porque a salvação é "Jesus ressuscitado". Sua vida ressuscitada nos redime. O apóstolo Paulo assevera que "só na Esperança é que somos salvos", escreve ele nas suas cartas.
             E a esperança não nos ilude, "porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado".
             Soltar os laços de um povo que acredita na Vida Eterna dada por Jesus aos que se libertam do pecado; soltar os laços naquele Reino onde devem imperar a Justiça e a Caridade; soltar os laços numa criação nova em que reinaremos com Cristo: eis o que nos há de colocar numa situação avantajada, como nos diz esta verdade básica da vida espiritual: "tenho apenas uma alma e é preciso salvá-la".
            Salvação é Vida, Justiça e Amor, profundo laço que une homens e mulheres entre si, na unidade. É obra comum a todos, nesta jornada terrena em que estamos juntos para o melhor e para o pior. Estamos ligados a esta missão, situados, encarnados, e a salvação só pode realizar-se neste mundo através da Justiça e do Amor, sob a mediação de Jesus, o Cristo, o Salvador.
            É bom ouvir o apóstolo Paulo, na sua Carta aos Romanos:
            - "A nossa salvação está agora mais próxima do que quando abraçamos a Fé. A noite vai muito avançada, e já se aproxima o dia... E não há salvação em nenhum outro, senão em Nosso Senhor Jesus Cristo."


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segunda-feira, 9 de novembro de 2015

PAI NOSSO, QUE ESTÁS NOS CÉUS...



            A minha oração de todas as manhãs:

                        Meu Pai, que estás nos céus
                        Eu sou Teu filho e a minha verdadeira pátria é junto de Ti
                        Seja santificado o Teu nome
                        Dá-me ter sempre o sentido do Teu mistério
                        Venha até mim o Teu reino
                        Seja feita a Tua vontade, nesta Terra como no Céu
                        Eu espero que Tu reines em tudo aquilo que criaste
                        Para que Teu desígnio se cumpra
                        E que somente Tu sejas o meu Rei e Senhor
                        Dá-me hoje e sempre o meu pão de cada dia
                        Mantém a minha vida neste instante
                        Porque já pus em tuas mãos o meu amanhã
                        Perdoa os meus pecados,
                        Como também eu perdoo a todos
                        Que de uma ou outra maneira me ofenderam
                        A minha dívida de filho Teu que sou
                        E que eu pago tão mal
                        Sei que é corresponder ao Teu amor
                        E Te peço
                        Ensina-me a Te amar
                        E saber perdoar
                        Como Tu me amas e me perdoas
                        Não me abandones nas provações
                        E livra-me do mal
                        Desse mal que me assalta de fora
                        E de dentro de meu coração
                        Que Teu reino seja para sempre
                        E que Teu Poder e Tua glória
                        Perdurem por todos os séculos
                        Amém.

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quinta-feira, 5 de novembro de 2015

NÃO HAVIA LUGAR PARA ELE...



          Permita-me o benévolo e eventual leitor iniciar o blog de hoje com os versos de pé quebrado, abaixo:

                                                  Quando Você passar pela minha rua
                                                  abrigado contra o frio 
                                                  protegido contra a fina garoa curitibana
                                                  e descobrir na sua intuição
                                                  e na Pessoa de um pobre
                                                  Jesus Cristo todo molhado
                                                  de roupa colada ao corpo
                                                  de ossos gelados
                                                  de alma tiritando de frio      
                                                              
                                                                mesmo que não possas parar
                                                                mesmo que não haja lugar em seu carro
                                                                ou não lhe seja possível
                                                                levar para casa
                                                                o teu Senhor na pessoa do pobre
                                              
                                                  vai rezando
                                                  para que um dia
                                                  sem grande demora
                                                  haja lugar para Ele
                                                  em todos os carros
                                                  em todas as casas
                                                  em todos os corações
                                                  em todas as almas

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            Deus me livre de querer afligir, inutilmente, a Vocês, irmãos e irmãs, que encontrarem pobres caídos nas calçadas, não raro em dias de chuva, sem agasalho, e que, no entanto, mesmo contra sua vontade, Você não tem nenhuma possibilidade de parar...
            Sei por experiência própria o quanto é tão raro, é tão difícil a gente estar completamente livre para fazer tudo o que o coração me pede!... Talvez a culpa não seja totalmente minha.. Não vivo sozinho. Dependo de muitas situações, de muita gente! E mesmo que eu não dependesse de ninguém, que gesto nobre foi o de pensar que poderia levar comigo o Irmão caído na rua, em plena chuva!  Talvez por que eu, instintivamente, pensasse então na narrativa bonita do bom Samaritano, nos Evangelhos...
            Mesmo não sendo eu um "louco sagrado" como São Vicente de Paula ou São Francisco de Assis, logo uma trovoada de raciocínios rebentou em minha cabeça:
            - "se eu levasse aquele pobre para minha casa hoje, pode ser que amanhã chegariam dez, e o número só tenderia a crescer, diante da triste situação social e econômica em que vivemos hoje..."
            Horrível mesmo seria eu fazer de conta que nada vi. Aprendi que é antievangélico e falta de Caridade para com o próximo não parar um instante para examinar o que fazer, com a ajuda necessária, indispensável, de vizinhos ou de algum membro da paróquia a que pertenço...
             O que sozinho, eu não conseguiria fazer, quem sabe, com outros, seria também impossível?!
           Um abrigo, um cobertor, uma sopa quente, seriam preciosos neste caso. Mais importante ainda seria que não nos contentássemos com a ajuda necessária, indispensável, mas passageira e incapaz de solução mais profunda. O ideal, dentro  de nossas possibilidades, seria completar a ajuda mais urgente com um emprego que permitisse a nosso irmão caminhar com os próprios pés.
            Se eu deixasse de lado meu comodismo e meu egoísmo, poderia até ir mais longe, perguntando como ajudar a construir um bairro, uma cidade mais humana. Concretamente, se sou um cidadão que paga em dia seus impostos e demais obrigações para com Prefeitura  e Estado, por que não exigir que todo e qualquer plano urbanístico resolva primeiro e de verdade o problema de habitação de quem tiver de ser deslocado pela construção de estradas, ou alargamentos de ruas, ou construção de trincheiras ou viadutos?...
            Por que não exigir que a modernização das indústrias pense menos no industrial, pense menos na produção e no lucro da empresa, mas criando primeiro soluções realmente humanas para os trabalhadores que poderão sobrar e perder seus empregos?
           Afinal de contas, mesmo que não sejamos pessoas religiosas, por acaso não temos o mesmo Pai e, portanto, somos todos Irmãos?...





segunda-feira, 2 de novembro de 2015

NÃO JULGUES E NÃO SERÁS JULGADO



            Com que facilidade eu costumo julgar meus semelhantes, tanto os familiares como  estranhos! Não apenas julgo, mas também condeno com comentários, ferindo, agravando em cheio a discreção e a Caridade!
            Cristo, nas minhas leituras diárias da Bíblia, está sempre me avisando:  - "Não julgue, e você não será julgado. Com a mesma medida com que você medir, você será medido!"
            Estas palavras querem significar que, em rigor, eu poderia escapar do julgamento. E muito melhor: se eu não tivesse este péssimo hábito de julgar os outros, se conseguisse passar pela terra, sem julgar ninguém, quando eu chegasse, tímido, diante do Juiz, Ele me surpreenderia, dizendo:
            - "Não, Aroldo, você não será julgado porque, em vida, você nunca pretendeu ser juiz, julgando os seus irmãos humanos!..."
            Engraçado... Tenho a impressão de que gosto mesmo é  de ser julgado no miudinho, no picadinho, porque também costumo julgar e condenar até erros insignificantes, cometidos por minha mulher, minha neta, meus vizinhos e amigos.
            E no entanto sei muito bem que o Senhor Jesus tem prá lá de razão: eu tenho que parar com essa mania de julgar os outros...
            Para julgar seria necessário estar dentro de meu próximo e acompanhá-lo, desde seu nascimento, medindo  as influências positivas e negativas que condicionam seu procedimento atual. Mais ainda: como cada um já traz sua herança, seu equipamento hereditário, seria preciso conhecer, de perto e por dentro, até seus pais e avós...
            Às vezes eu me defendo: - "Eu não julgo: eu vejo."
            Mas o que é que eu vejo, na verdade? Vejo a fachada, pois me é impossível mergulhar no pensamento e no coração daquele que estou julgando. E isso de só ver o lado de fora engana muito; pode ser cara de santo e o íntimo ser uma miséria, como também pode haver cara suspeita e o coração ser de primeira, muito bom.
            E eu me ponho a matutar comigo mesmo: Deus permita que  eu seja julgado de maneira errada, para ver se me convenço de que é impossível julgar corretamente os outros.
            Se diante de mim, a vida de alguém for estraçalhada, sem parecer que julgo e condeno os que jogam pedradas, sem parecer que eu sou o bonzinho, é bom que eu me lembre de alguma qualidade boa do infeliz que está sendo apedrejado... E que jamais eu acredite que existem pessoas que são pura maldade.  Isto é simplesmente impossível. Ninguém, absolutamente ninguém é pura ruindade, da cabeça aos pés...
           Quando é que eu vou me convencer de que, neste nosso mundo, há muito mais fraqueza do que maldade?... Seria bom que eu me lembrasse da atitude de Jesus no Calvário... Os bandidos não fizeram apenas matar o Senhor Jesus. Há humilhações piores do que a morte: Ele recebeu bofetadas e escarros no rosto; foi deixado despido, diante da multidão zombadora.
          Quando se poderia pensar que ao menos aqueles carrascos seriam severamente castigados; quando se poderia pensar que ao menos sobre eles Cristo pediria fogo do Céu, o Mestre disse ao Pai:
          - "Pai, perdoai; eles não sabem o que fazem".
          Um pensamento que me vem à mente, e que eu acho digno de ser guardado para o resto de minha vida, é o aviso precioso de Nosso Senhor Jesus Cristo:
          - "Não julgue, e você não será julgado.  Com a mesma medida com que medir, você também será medido."

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(Estivemos hoje no cemitério visitando, a Isabela, o túmulo de sua mãe, a inesquecível Raquel; sua avó e eu, visitando também os túmulos da Raquel minha filha, e o do Júlio meu filho. Que o Pai de todos os pais tenha na Sua paz estes entes queridos, a Raquel e o Júlio, precocemente falecidos.