domingo, 22 de novembro de 2015

A SALVAÇÃO COMO DADO OBJETIVO

           

            Não sei se Você conhece a anedota sobre alguém que pretendia escrever uma dissertação sobre o camelo. Se ele fosse um escritor alemão, com toda certeza no seu texto distinguiria o camelo "subjetivo" e o camelo "objetivo"... Tomo a liberdade de retomar essa divisão.
             Do ponto de vista objetivo, o homem moderno é abrangido por três aspectos da "salvação": a Justiça, a Vida e o Amor, sem menosprezar a consciência da Responsabilidade, que pode determinar até mesmo o sentimento de culpabilidade pessoal.
              Do ponto de vista subjetivo, digo desde já, a noção de  "salvação", tal como pretendo deslindá-la neste texto,  implica num dom que só Deus nos pode conceder. É uma Graça, um apelo a que homem e mulher devem responder, e esta resposta se concretiza na Graça, por ela e com ela.
              Parece-me, porém, que para o homem e a mulher, modernos, qualquer aceitação é problemática, pois homem e mulher são "seres que se devem fazer", que devem agir, transformar o mundo, "criando valores".
             Antes de tudo, devem conscientizar-se de que a "Salvação" é Justiça. Neste nosso mundo, a verdade insofismável é que muitos cristãos têm até mesmo a impressão de que Deus é ineficaz quanto à salvação. A salvação deveria realizar a Justiça terrestre. E onde encontrar essa Justiça? É verdade que o Reino de Deus não é "deste"mundo, mas Ele deve começar "neste" mundo.
             Todos os que levaram a sério a Graça e o Amor de Deus -  homens e mulheres -  realizaram na Terra um começo desta Justiça, que é um dos atributos de Deus revelados pela Bíblia.
             No âmbito da Igreja, São Vicente de Paulo, Santa Catarina de Gênova, São João Bosco encontraram, cada um a seu tempo, soluções onde outros haviam desanimado. Representam, eles, a Esperança corretamente vivida.  Mas, no meu modesto entender, esta Justiça realizada pelos santos, por lhe faltar "institucionalização", não conseguiu realizar-se em plenitude, não pôde transformar para melhor as estruturas econômicas e sociais, políticas e culturais da sociedade humana.
            Lendo um livro do escritor francês François Mauriac, ali encontrei um comovente texto sobre as palavras de Cristo, - "Tive fome e Me destes de comer. Fui prisioneiro e Me visitastes. A Mim é que o fizestes." Era Cristo esse prisioneiro, esse desempregado. Através de todos os relatos piedosos, corre esta lenda do pobre que bate à porta noite a dentro, é aceito ou repelido, e é Cristo em pessoa..." 
            Mas afinal o que me interessou não foi o texto de Mauriac, mas sim a história real. Terão os homens e mulheres  deste nosso século tratado menos cruelmente a outros homens e mulheres desde o momento em que dizem ter acreditado no Verbo Encarnado, Cristo Jesus? Há homens e mulheres que massacram e queimam vivos a seus semelhantes, e cometem tais crimes em nome de crenças religiosas, invocando o nome de Deus, como fazem os terroristas islâmicos nestes nossos dias...
            Diante de tantos fatos estarrecedores que a imprensa nos traz diariamente, o homem e a mulher, testemunhas de tantas brutalidades, esperam que uma Religião bem compreendida e vivida se empenhe na busca de solução para essas calamidades que assombram a todos.
            Transformar este mundo de pecador para sagrado depende do esforço de homens e mulheres de boa vontade; é de sua responsabilidade e lhes cabe a urgente necessidade de transformá-lo.
            E eu acrescento que a verdadeira generosidade para com o futuro de nossa geração consiste em dar tudo ao nosso tempo presente.
            Se todos nós procuramos a salvação, temos que recebe-la como um "dom". Para se receber esse dom, é preciso acolhê-lo, estar disponível.
            Deus nos fala nas Escrituras. Fala-nos na Igreja. É preciso escutá-Lo e responder a Ele. É necessário crer nEle. Aprendi estudando Teologia que a Fé é um ato de obediência à Graça recebida. O "sim" do homem e da mulher é um dom gratuito de Deus.
.           Mas homem e mulher modernos, parece-me, se mantêm desconfiados diante da atitude que a salvação exige deles: "aceitar" livre, consciente e fraternalmente, o dom de Deus.
             Que não percamos tempo em discutir eventuais divergências ou lideranças; o importante para nós seja unir-nos e caminhar, firmes, para o nosso objetivo, lembrados de que o tempo corre contra nós!..


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