terça-feira, 31 de dezembro de 2013

REFLEXÕES AO PÉ DO FOGO


          "Reflexões ao pé do fogo" é o novo livro que estou preparando, e que deve vir à luz até meados do novo ano que se inicia.
           São vinhetas breves, retratando momentos de minha vida ao sabor das circunstâncias, ao mesmo tempo em que rememoro fatos de antanho, que me deixaram  marcas profundas e que até hoje condicionam muita coisa que penso e que executo, nem sempre correspondendo integralmente com a vida de cristão católico que eu deveria viver, mas que infelizmente não vivo.
            Em todo caso, quero trazer a público tais experiências que informararm os meus setenta e oito anos de existência,  simplesmente com a finalidade de massagear meu amor próprio e levar até meus netos alguma coisa que os faça conhecer um pouco mais da jornada de seu carcomido avô pelos caminhos da vida.

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            A meditação que fiz hoje, ao levantar-me às seis horas da manhã, sozinho há quatro dias em casa, já que minha esposa e neta se encontram em merecidas férias no litoral do Estado:
            "Aqueles ou aquele (no meu caso) a quem Deus pede a mais perfeita esperança têm a obrigação de olhar mais de perto os seus pecados. Quero significar com isto que devo deixar o Senhor focalizar Sua luz e Sua Graça sobre os mais escuros recantos de minha alma pecadora."- palavras do monge cisterciense norte-americano, Thomas Merton.
            Minha responsabilidade perante meus próprios pecados é muito grande, e não tenho o mínimo direito de minimizá-los ou de tentar escondê-los debaixo do tapete. Fui criado numa família muito religiosa, tive uma irmã, Darcy, que foi freira franciscana, e meu irmão Valdir, e eu mesmo, passamos muitos anos estudando em seminários, mas nem ele nem eu conseguimos chegar ao sacerdócio, como pretendíamos (ou nossos pais pretendiam?). Meu irmão, porque faleceu prematuramente vitimado pelo câncer, e eu, não sei se por desígnio de Deus ou por malícia humana, fui acusado de comunista, e os superiores do seminário, por via das dúvidas, vetaram minha ordenação ao presbiterato.
            Neste início de ano e às vésperas de nova idade - setenta e oito anos - não me é lícito procurar demasiadamente esconder aquilo que eu, deveria de fato encontrar. Nem considero certo, neste momento, que eu tenha qualquer obrigação urgente de "encontrar" mais pecados em mim. Não certamente pelo temor de que eles me levem ao inferno, ou pelo menos, ao Purgatório, entidade esta em que eu, como católico, acredito, mas que é considerada lenda por muitos crentes que não acham para ele fundamentos na Bíblia Sagrada.
            Na verdade, não posso calcular quantos pecados me são ocultados por Deus, não por eventuais "boas obras" minhas, mas pela infinita misericórdia de Deus. Mesmo porque Ele os esconde a Seus próprios olhos!
            Apesar de tudo, tenho uma glória e uma esperança: sou parcela do Corpo de Cristo, a Igreja, e Cristo me ama e se une a mim em Sua própria carne. Será que não me basta isso? A realidade dolorosa, entretanto,  é que não vivo suficientemente, no meu dia-a-dia, esta verdade que pode salvar-me.
            Não! Que eu me contente com isso! - sussurra-me aos ouvidos algo ou alguém que não consigo identificar. - Basta-me a mediocridade de todo dia! - Continua a sussurrar-me a tentação.
            Apesar de tudo, tenho muito que agradecer a Deus, e  isto, repito, é a minha glória. Faço parte do Corpo de Cristo! Eu O encontrei porque Ele me procurou primeiro. Ele, Cristo, Filho Unigênito de Deus, veio ao mundo para fazer sua morada em mim, um pobre e obscuro pecador.
            Por essa razão nada mais tenho que procurar. Só posso voltar-me para Ele, ali onde Ele já está presente. Na Sua presença, devo aquietar-me, deixar minhas vãs preocupações de lado.
            Aquietar-me,  ver e crer que Ele é Deus!

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(O autor é bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, na Capital Paulista).

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sábado, 28 de dezembro de 2013

A DIFICÍLIMA ARTE DO BOM FALAR


          Na porta de entrada de uma casa vizinha há uma vinheta de muito bom gosto com esta singela frase:

          - "Falem! - Alegres, rindo,
              mas sem ferir a Caridade,
              nem a Humildade,
              nem a Discreção!"

          Agradou-me, bastante, o convite a ser espontâneo, natural, o convite a falar e a rir...
          Quando nos sentimos à vontade, geralmente falamos, como se diz, pelos cotovelos... Falando de minha própria experiência, quando tenho algum problema com alguém, ou quando ando mal-humorado, "na fossa",  - meu solícito Anjo da Guarda! - que dificuldade para falar! Confesso que nessas ocasiões, cada vez mais frequentes nestes meus pesados 78  anos, estou ficando perigosamente "monossilábico":
          - "Sim", "Não", "Talvez", "Pode ser"...
          As palavras, me parece, acabam ficando como que arrancadas a sacarrolhas!
      Seria muito bom o conselho de não deixar que as pessoas ao meu redor paguem pelas minhas contrariedades, meus problemas pessoais, meu mau humor constante, quase sempre sem motivo!
          O ideal que eu deveria esforçar-me por alcançar: - Falar sem ferir a Caridade!
          Você, heróico leitor deste mal ajambrado blog, já reparou como rara é a nossa conversa em que alguém não seja "tesourado?!...
          O lamentável é que às vezes, ou melhor, muitas vezes, a tesoura da maledicência desce fundo e rasga forte! Não raramente a reputação alheia é estraçalhada, com a maior leviandade, sem que haja nenhuma certeza do que está sendo dito contra ela...
          E mesmo que o  fato seja plena verdade, quem me autoriza a despir uma criatura diante dos outros?!
          A verdade triste  é que frequentemente julgo, condeno, ataco, como se isto fosse virtude cristã, sem nenhuma sombra de falha! Parece muito difícil para mim falar sem ferir a Humildade!
          A conversa vai se animando e então, quase sem notar, saio contando e recontando minhas vantagens,  cantando e floreando meus feitos heróicos!...
          Falar e não ferir a Discreção seria mais fácil do que falar sem ferir a Caridade e a Humildade?
          Ledo engano!... Não é nada fácil, para mim, guardar para mim mesmo o que me é dito, mesmo com a condição de não ser passado adiante...
          E lembro que os três avisos constantes da vinheta na entrada da casa amiga, por mais importantes que sejam, ainda são avisos tentando evitar faltas contra a Discreção, contra a Humildade, contra a Caridade...
          Entretanto, creio sinceramente que é perfeitamente possível usar o dom divino da palavra procurando unir e aproximar irmãos e vizinhos, para alegrar a todos sem ferir ninguém e, em sociedade, sustentar a conversa dando vez aos mais tímidos e mais humildes...
          Está lá no Novo Testamento, no terceiro capítulo do Apóstolo Tiago. Vale a pena ler, reler e meditar o que ele escreve sobre o hábito de dar na língua...
         Nosso povo costuma dizer que certas pessoas precisariam ter sempre à mão dois cartões: um para o controle do corpo e outro, muito maior, para o controle da língua!...
         Felizes daqueles que merecessem escutar e refletir sobre o lembrete bíblico:
         - "Usaste tua língua de modo adequado. Nem falaste a mais, nem a menos. Louvaste teu Criador e Pai. Fizeste de tua língua um instrumento de paz e de amor!..."

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(O titular deste blog é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista).

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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

De Domini Nativitate secundum Lucam


        
          In diebus Caesaris Augusti exiit edictum ut describeretur universus orbis,  et ibant omnes  ut profeterentur singuli in suam civitatem.
          Ascendit autem et Ioseph a Galilaea de civitate Nazareth in Judaeam, in civitatem David, quae vocatur Bethlehem; eo quod de domo et familia David, ut profiteretur cum Maria desponsata sibi uxore praegnante.
          Factum est autem, cum essent ibi, impleti sunt dies ut pareret. Et peperit filium suum primogenitum, et pannis eum involvit, et reclinavit eum in praesepio: quia non erat eis locum in diversorio.
          Et pastores erant in regione eadem vigilantes, et custodientes vigilias noctis super gregem suum. Et ecce angelus Domini stetit juxta illos, et claritate Dei circumfulsit illos, et timuerunt timore magno.
           Et dixit illis angelus:
           - "Nolite timere: ecce enim evangelizo vobis gaudium magnum, quod erit omni populo: quia natus est vobis hodie Salvator, qui est Christus Dominus, in civitate David. Et hoc vobis signum: Invenietis infantem pannis involutum, et positum in praesepio".
            Et subito facta est cum angelo multitudo militiae caelestis laudantium Deum, et dicentium:
            - "Gloria in altissimis Deo, et in Terra pax hominibus bonae voluntatis."

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            Traduzindo:

            O NASCIMENTO DO SENHOR SEGUNDO LUCAS


          Nos dias (do imperador César Augusto) saiu um decreto ordenando o recenseamento de toda a Terra. Todos iam alistar-se, cada um em sua cidade. Também José subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia, a cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi, para se alistar com Maria, sua esposa, em estado de gravidez.
         Estando ali, completaram-se os dias para o parto, e ela deu à luz o filho primogênito. Envolveu-o em panos e o deitou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria.
         Naquela mesma região havia uns pastores no campo velando à noite, vigiando o rebanho. Apresentou-se-lhes um anjo do Senhor e a glória do Senhor os envolveu de luz e eles ficaram possuídos de grande temor.
         Disse-lhes o anjo:
         - Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria, que é para todo o povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que é Cristo Senhor, na cidade de Davi. Este será o sinal: encontrareis o menino envolto em panos e deitado numa manjedoura".
         Imediatamente ao anjo se achegou uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus, dizendo:
         - "Glória a Deus nas alturas, e paz na Terra aos homens por Ele amados". 
       
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Explicando:-

Nos meus tempos de Faculdade de Teologia, nos idos de 1960, o Grego e o Latim eram disciplinas curriculares e eu, não sei por quê cargas dágua, tornei-me apaixonado por essas duas línguas, e as cultivo até hoje. Leio a Bíblia Sagrada em latim, e o Novo Testamento em grego, sem maiores dificuldades. Este fato, aliás, faz parte de minha "higiene mental" nestes meus bem vividos 77 anos (78 em janeiro)... É conselho de meu médico geriatra, que me aconselhou a continuar com essa prática, pois ela fará muito bem à minha vida cerebral... Que Deus o ouça, e torne efetiva o conselho do médico. Aliás, mentalmente, considero-me mais lépido agora, do que nos meus tempos de Faculdade...


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domingo, 22 de dezembro de 2013

O DIA DE DAR PRESENTES!...




        
          Nestes dias que antecedem a comemoração do nascimento - Natal - de Jesus Cristo, a TV e a mídia escrita e falada bombardeiam nossos olhos e ouvidos com a mensagem cansativa e diuturna de que é tempo de dar (e receber) presentes...
          Presentes para a esposa, para os filhos, para os parentes. Presentes para todos quantos nos possam abrir uma porta para o êxito social ou profissional.
          Estou sabendo que os vizinhos da casa ao lado já estão comprando, me disseram. Minha mulher me falou que os vizinhos da direita também já compraram.
          Sei que é praxe. É costume. Esquecendo-se completamente do Natal do Nascituro em Belém de Judá, tornou-se moda fazer o que a deusa televisão e a mídia falada e escrita mandam e impõem ou, como se diz por aí, é prova de boa educação e sociabilidade.
         Todo mundo fica contentíssimo por entrar nessa equação consumista e desenfreada,  um costume, uma praxe,  um modismo social, que afirmam a boca cheia  ser necessário para que nos mostremos gente fina e bem educada.
        E trocam-se cumprimentos efusivos, e dão-se tapinhas amigáveis nas costas, e permutam-se presentes, e ouvem-se risinhos de satisfação e gritinhos de prazer, em meio a toda uma mistura de sofisticação e artificialismo, fruto de uma sociedade superficial, sofisticada e egoísta.
         Sociedade egoísta, sim. Pois não é Natal? E Natal não é festa dEle? Alguém por acaso neste dia se lembra dEle, ao menos por um momento? 
         - "Ele veio para o que era Seu, e os seus não O receberam."
         Estas palavras de terrível significado são o testemunho do evangelista João, que afirma não haver lugar para Ele na hospedaria. Negam-Lhe um lugar à mesa, entre a alegria dos comensais, homens e mulheres de todos os tempos.
         Com que eloquência fácil seria possível ampliar cada vez mais esta frase desoladora. Não há lugar para Ele. Nem na família, nem na escola, nem na fábrica, nem na política, no judiciário, nas instituições públicas, no mercado financeiro, na mídia, nem no recesso das almas pecadoras.
          No entanto, Ele não reclama, Ele vem para todos. Chegada a plenitude dos tempos anunciada pelos profetas de Israel, Ele toma carne de mulher, veste-se de pobre, empunha o bastão de peregrino, e bate a toda porta, pedindo um lugar à mesa.
           Escorraçam-No, lançam-No para fora, pois a festa precisa continuar. Aí está a orquestra a todo volume já esquentando o salão; as champanhas e champanhotas espoucando em todas as mesas; o uísque importado ou falsificado amenizando o gelo pesado dos corações e desfazendo naturais inibições.
           Que Ele apareça outro dia. Será que não percebe que Sua presença nesta hora festiva não vem facilitar as coisas? Será que Ele não vê que está nos constrangendo, nos inibindo, nos tirando a espontaneidade tão necessária para este evento social? 
           Convenhamos: é melhor mesmo que Ele se vá. Talvez nós O recebamos numa ocasião mais oportuna...
           E Ele, resignado, prossegue a Sua peregrinação pelas estradas do mundo. Ele sabe que outros, muitíssimos outros, aqui e em toda a vastidão da Terra, não hesitam em jejuar, passar horas em oração, privar-se até do necessário para repartir seu pão com o irmão faminto, na esperança,  talvez utópica, de abrir um espaço para Ele entre os comensais que agora O rejeitam.
           Ele sabe que entre as pessoas com quem cruza pelas praças e ruas - nos seus rostos convencionais e tristes, nos seus gestos automatizados, nos seus sorrisos amordaçados, no olhar que se desvia, na palavra que se engole - Ele sabe que aí poderá haver ainda Fé e boas ações. A seara hoje parece resumir-se num cipoal de espinhos e de joio, mas Ele, ceifeiro celeste que é, um dia percorrerá de novo os campos e recolherá o punhado de trigo bom que puder conseguir entre as urtigas.
           É que Ele conta e julga de maneira muito diferente de nós. E é nesta esperança que todos nós, homens e mulheres deste mundo tão carente de Fé, Esperança e Caridade, colocamos e aguardamos a nossa salvação.
           E é também nesta mesma esperança que minha esposa Cleusa, meus filhos Carlos, Aroldo Júnior,  Raquel e Júlio (estes dois já na Casa do Pai de todos os pais), minha neta adolescente Isabela, e eu, desejamos a todos os leitores deste blog um santo e gratificante Natal do Senhor Jesus!

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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da PUC, de São Paulo, Capital.

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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

OS CRISTÃOS E A FÉ


        
            Os cristãos ainda têm Fé?
         Muito se falou e ainda se fala, em certos meios, da "incredulidade dos crentes" e da sua "má consciência".
           A "mãe" do existencialismo francês, Simone de Beauvoir, companheira do também existencialista Jean Paul Sartre, dizia em seu tempo que os padres já não pregavam sobre o inferno "porque não acreditam mais nele."
           Seu julgamento parece-me um tanto quanto apressado, mas eu me atrevo a perguntar se a Fé viva de muitos  cristãos vai além de um certo deísmo abstrato, flanqueado por uma regra moral aceita com bastante má vontade, e por uma ordem social pela qual só se interessam quando a suspeitam ameaçada...
           Creio que é necessário voltar às fontes e perguntar a tais cristãos o que pensam eles sobre os três aspectos da Fé cristã, como aparecem nos manuais de Teologia:  sobrenatural, livre, e racional.                                                        Dentro do conceito de Fé: a Fé é sobrenatural, isto é, nos conduz a uma verdade transcendente e única, a de Jesus.
            Se creio que a Fé é sobrenatural, portanto é necessário colocar o Deus da revelação como centro, e não homem e mulher, ainda que tomados pelo entusiasmo mais ardente pelos tais muito falados "valores"
cristãos.
            Confesso que me inquieto com o naturalismo que perpassa pelo comportamento de muitos que se confessam seguidores de Cristo. Se a Fé é mesmo sobrenatural, ela deve inserir-se harmoniosamente numa natureza que a completa, mas sem a destruir.
            - " Para quê Deus?" - leio em livros de certos escritores. -"Separemos "os acontecimentos humanos" e "a Fé" -  dizem eles - porque afirmam que a realidade temporal deve ser servida por meios temporais, enquanto a Fé é uma questão puramente interna entre o crente e Deus.
            A Fé é livre,  entretanto muitos crentes têm a impressão do contrário. Acreditam que são constantemente  entravados por preconceitos de toda ordem, asfixiados por medidas acauteladoras, dizendo-se acuados pela Igreja, pois a consideram como verdadeira cidadela de interdições.
            Para esses tais, o católico praticante é aquele que "não pode"... Não pode fazer isto, pensar aquilo, participar disto, participar daquilo. 
            Diante disto, como falar ainda da liberdade da Fé? Como tomar a sério a frase lapidar do Apóstolo Paulo, sobre "a liberdade que Cristo nos outorgou?
            Parece-me que muitos "católicos" permanecem infantis em matéria de religião. São católicos "no domingo", quando ouvem seu pároco na homilia durante a Santa Missa, (mas, como é sabido, recuperam-se durante a semana...).
            Enfim, todos os cristãos estão realmente persuadidos de que a sua Fé é racional?
            Tenho minhas dúvidas sobre isso. Alguns não se atrevem a olhá-la de muito perto; vivem com o espírito coberto de uma poeira de objeções mal digeridas, de escuridões mal iluminadas, respeitando por vezes detalhes comicamente secundários, mas também, - o que me parece mais grave - esquecendo-se do essencial, que é a Divindade de Jesus, a ressurreição dos corpos, na Parusia do Senhor.
            Muitos se recolhem  à "Fé confiança", à "Fé simplória", que não passa de um "fideísmo" condenável, mais espalhado do que se julga.
            Sem dúvida, isso é mais preferível do que nada; uma Fé, porém, baseada quase unicamente no sentimento e no hábito, não conseguirá informar  plenamente a vida de homem e mulher. Aí reside a falta de vigor de muitos cristãos. 
            Certo mal-estar de muitos cristãos diante da liberdade, da sobrenaturalidade e do caráter racional da Fé provém, na maioria deles, de uma diminuição do fervor religioso.
            Na verdade, há muitíssimas pessoas que são cristãos "do domingo...".
            O que é uma lástima!

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Aroldo Teixeira de Almeida
Bacharel em Teologia Sistemática, pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção - da PUC - em São Paulo.
profatalmeida@gmail.com

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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

SALVEMOS CADA DIA A NOSSA UNIDADE



                  -"Salvemos cada dia a nossa unidade. Só que a unidade humana só é salva plenamente em Nosso Senhor Jesus Cristo!"   (Dom Hélder Câmara, "Um Olhar sobre a Cidade").


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                  Prezado leitor deste blog:


                 Você já reparou como frequentes vezes somos esquartejados ao longo do dia? Ficamos aos pedaços, ali, aqui, acolá... Nossos olhos ficaram presos às coisas que vimos e nos impressionaram.
                  Nossos ouvidos se agarraram a histórias que ouviram. Nossas pernas ficaram, em parte, perdidas nas ruas que atravessaram.
                  Por isso, antes de dormir, é preciso que refaçamos nossa unidade: trazer de volta nossos olhos, nossos braços, nossas pernas, nossa cabeça, nosso coração...
                  O ideal de cada dia para nós Cristãos, que somos um com Cristo desde nosso Batismo, é refazermos nossa unidade com Ele e nEle. Felizes de nós se vivermos esta unidade com Cristo. Feliz de quem se entrega ao Cristo, pedindo que Ele veja pelos nossos olhos, escute pelos nossos ouvidos, fale pelos nossos lábios, caminhe pelos nossos pés...
                  Isto nos santificaria, nos faria santos. Como então entrarmos em ira, como irritar-nos, como perder a paciência com o nosso próximo?
                  Não nos esqueçamos que Cristo está conosco!... Como ser egoístas, invejosos, vaidosos, impudicos, se somos de verdade um com Cristo, com o Filho de Deus?...
                  Mais importante ainda é saber que Cristo não é um apenas conosco; mas com todos. E somos todos, absolutamente todos, um em Cristo. É o mistério da Comunhão dos Santos!
                  Levássemos a sério o que Cristo ensinou, como seria fácil o entendimento entre os esposos, entre pais e filhos, entre irmãos, entre vizinhos, entre companheiros de trabalho, entre moradores da mesma rua, entre classes sociais, entre regiões de um mesmo País, entre Raças e Religiões!
                  Dizemos que somos cristãos, mas infelizmente, como estamos longe de viver o Evangelho!

                  - "Eu vim para que todos tenham vida, e todos tenham vida plenamente!"
  
                   Se todos somos um em Cristo, como permitir que alguns de nós tenhamos vida plena, cheia, transbordante de vitalidade e realizações, enquanto outros, numerosos, numerosíssimos, têm que se contentar com sobras de vida, com subvida?...
                   Daí então, a necessidade premente desta prece, que deveríamos rezar todos os dias:

                  - "Senhor Jesus Cristo, não permitas que Te esquartejemos! Muito ao contrário: que cada vez mais, alimentados por Tua Eucaristia, sejamos, em Ti, um só Corpo e um só Espírito com todos os irmãos! Assim seja".

                                                                  ***************

(Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da PUC, em São Paulo).
                
                
                
  
      

domingo, 15 de dezembro de 2013

O DIÁLOGO DA FÉ

            O diálogo da Fé trava-se entre Deus, de um lado, e do outro o homem e a mulher.
          Homem e mulher devem reconhecer que são seres engendrados, do contrário barram o acesso ao sobrenatural. Homem e mulher devem sair do inferno mundano. Devem conhecer-se egoístas, mentirosos; devem confessar que são pecadores.
          Homem e mulher devem conjuntamente respeitar a sua razão e não fazer dela um ídolo. Devem confessar, isto sim, a necessidade de um suplemento de luz.
          Homem e mulher devem ser fiéis à Graça Divina que continuamente os persegue: devem confessar a si mesmos que só a Fé realizará neles a unidade.
          Fraternidade de Deus, salvação de Deus, luz de Deus Graça, de Deus, homem e mulher estarão no caminho de descobrir estas quatro riquezas, se fizerem essa quádrupla confissão.  Estas quatro riquezas acham-se na pessoa de Jesus Cristo, de que a Igreja é testemunho, livremente, racionalmente e sobrenaturalmente.
          A Fé é racional porque, na Igreja, o espírito encontra ao mesmo tempo as obscuridades inevitáveis   e as claridades suficientes que dão um sentido ao drama humano completo.
          Acreditando no testemunho da Igreja, a inteligência descobre a chave do seu próprio mistério, a solução das suas próprias penumbras.
          A Fé é livre porque, na Igreja, é o amor de Deus que se oferece por inteiro ao homem e à mulher. E este amor reclama a resposta livre do amor.
          A Fé é sobrenatural porque, na Igreja, é a Graça Divina que nos solicita, nos ilumina. O fato externo da santidade na Igreja, que é o "signo erguido entre as nações", constitui para nós o testemunho de Deus, conforme o Concílio do Vaticano.
          A Igreja é Cristo comunicado no Espírito. Em última análise, o que se deve ver na Fé é o Verbo Encarnado.
          A Fé é livre, racional, sobrenatural, porque não se refere, desde logo, a uma doutrina impessoal, ou a um código de moral, mas a uma Pessoa que nos chama, nos ensina e nos ama.
          A Fé é racional, porque Jesus é Verdade. É livre, porque Jesus é o Amor encarnado. 
É  sobrenatural, porque Jesus é Deus encarnado.
          A Fé cristã é uma penumbra luminosa porque essa penumbra tem também outro nome, o de Deus, que nunca amou tanto homem e mulher como no dia em que quis revestir a condição humana em Jesus de Nazaré.
          Terminando este meu texto, e como estamos num tempo litúrgico chamado de Advento, no qual esperamos a vinda do Senhor Jesus, escrevo uma frase que não é minha, mas da jovem Igreja cristã. Num império pagão que A esmagava por todos os lados, Ela testemunhava sua Fé na ressurreição do Filho de Maria. Essa frase é divinamente simples, porque inspirada no espírito de amor: 
          - "Vinde, SENHOR JESUS!
                                                              ***************

(Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da PUC, em São Paulo).

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

AINDA O SILÊNCIO DE DEUS


          No "Blog do Mestre", publicado no dia 7 de dezembro de 2013,  foi apresentado aos seus eventuais e heróicos leitores um texto intitulado "O Silêncio de Deus", no qual se disse que, "num certo sentido, Deus nos fala sem cessar. Noutro sentido, cala-se. Embora conheçamos o desígnio geral de Sua providência, ignoramos tudo quanto aos nossos intentos particulares. Abandonarmo-nos à Fé é portanto a nossa única atitude verdadeiramente cristã."
          Diante deste silêncio enigmático, certos cristãos desejariam uma manifestação sensacional de Deus, numa espécie de trovoada celeste que limpasse de uma vez por todas a atmosfera e reconduzisse à Fé a massa imensa da humanidade descrente.
          Essa doutrina do silêncio de Deus é conhecida, e não impede que tal silêncio pese terrivelmente sobre nós, num tempo em que seria tão necessária uma pequena trégua, ao menos para haver tempo de tomar fôlego antes de reiniciar a marcha para a frente, nesta nossa peregrinação secular pelos caminhos da vida.
         Ora, o cristão atual, por mais autêntico que seja, não tem um minuto de trégua. Os problemas, dos mais variados aspectos e graus de intensidade, surgem-lhe ao mesmo tempo e de todos os pontos. Um só exemplo:
        Certa família, muito religiosa, gasta pequena fortuna para levar um menino com doença grave numa peregrinação a Lourdes, com a esperança de que a Virgem Maria lhe obtivesse a cura. Irmãos e irmãs, pais e amigos, todos rezam; as comunidades religiosas prodigalizam as suas preces e penitências. Tudo em vão. O menino não se cura, e morre.
        Estamos cansados de saber que o principal milagre de Lourdes, de Fátima, e de outros locais de peregrinação, reside justamente no fato de que os que não se curam voltarem resignados e mais amigos de Deus. Entretanto, a experiência mostra que o verdadeiro milagre não é a cura, mas a Fé. Portanto, se o milagre, por mais portentoso que se apresente,  não é capaz de converter o mundo, uma cura miraculosa transforma a vida espiritual dos beneficiados.
       Mas, por que se curam alguns, e não se curam todos?
       Mistério insondável. Pode-se, deve-se mesmo dizer que a  Fé daqueles que tudo sacrificaram para obter a cura de um filho, sem ser atendidos, é especialmente colocada à prova por Deus.  - "Pois se agradas a Deus, terás de ser submetido à tentação," - diz-nos o livro de Tobias.
       As pessoas cuja Fé foi submetida a mais duras provas com certeza estão   mais perto de Deus, mais ativamente ocupadas na redenção e salvação do mundo, do que aqueles que apenas sofrem as dificuldades clássicas e normais da vida. Clamam: "Senhor! Senhor!" -  mas não entrarão talvez no Reino de Deus.
      Aquele que sofre e vê o seu sofrimento prolongar-se, sem cura, entrevê um Deus que julga melhor ainda que a melhor coisa dele conhecida no mundo: um filho Seu. Esse está muito próximo de Cristo.
      Mal consigo escrever estas palavras; elas são verdadeiras, mas a quem não experimentou em si mesmo semelhante desilusão, estas frases assemelham-se à "tagarelice banal de certas consolações sacerdotais ouvidas nos confessionários de nossas igrejas".
      Deus sabe o que faz. Mas eu acredito não pedir demais, suplicando muitas vezes ao Senhor que me conceda uma dessas consolações visíveis com que a minha alma - que afinal de contas está encerrada em um corpo débil - possa saciar-se um pouco para recuperar as forças...
      O fato é que, na minha experiência pessoal, Deus recusa essa consolação aos seus melhores amigos. Aliás, é a Bíblia inteira que o clama, e sobretudo o Filho de Deus, Jesus Cristo, o Qual pede que o Pai Lhe afaste o cálice do sofrimento e da cruz, mas apesar de tudo o bebe, livremente, por amor!
       É uma doutrina profunda, mas difícil. É pela perspectiva cristã sobre o "silêncio de Deus" que devemos procurar uma explicação para ela, porque é em Cristo que acreditamos:  esta frase não é uma verdade banal para os cristãos, por muito que eles e eu nos extraviemos naquilo que tomamos pela via da Fé e pelo humanisno das Bem-aventuranças, sobre o qual devemos alicerçar a nossa trajetória neste nosso mundo...

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(Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Pontifícia Universidade Católica, da capital paulista).
  

   
           
    

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O QUE SE ENTENDE POR "SALVAÇÃO"?



          A Teologia nos ensina que Salvação é vida, é justiça, é amor. Ainda, o laço que une homens e mulheres entre si, na unidade. É obra comum. Quem assistiu ao filme "Hiroshima meu amor" (por sinal um belíssimo filme), ouve ainda todas as manhãs um homem que passa tossindo debaixo da janela. A felicidade pessoal que não se tivesse aberto para essa "janela de Hiroshima" ficaria estéril. Estamos juntos para o melhor e para o pior. Estamos ligados a esta Terra, situados, encarnados, e a salvação só pode ser a Justiça e o Amor neste mundo, no qual se desenrola a peregrinação humana.
          "Este mundo"? Nós, que cremos, sabemos muito bem disto: para que o mundo seja o lugar da chegada do Reino - (como o celebramos neste tempo litúrgico chamado "Advento") - ele deve ser transfigurado, deve tornar-se "novo Céu e nova Terra".
          Quem é incrédulo suspeita que haja nessa transfiguração um certo "escamotear", uma mistificação, que faz esquecer a Terra de homens e de mulheres. Mas Jesus é a salvação, pois Ele é o Salvador. Em última análise, a salvação não é uma noção abstrata, mas uma Pessoa, a do Verbo feito carne, Jesus, cujo nome quer dizer justamente "Salvação". A Boa Nova, que é Jesus Cristo, pode tocar e converter os corações.
           Mas quem conhece verdadeiramente a Jesus Cristo?
           Escrevem-se livros para se falar do Cristianismo. Frequentes vezes, porém, se verifica que quase nada se disse verdadeiramente de Jesus. Ele é o "Chefe que deve conduzir à Vida": não há salvação em nenhum outro, senão em Jesus Cristo. Ele é nossa esperança, nossa paciente expectativa, que nos concede ao mesmo tempo a força para esperar. É aquele que nos faz ouvir, num estremecimento de alegria, as palavras do apóstolo Paulo, que ouvimos na pregação em nossas igrejas:  - "A nossa salvação está agora mais próxima do que quando abraçamos a Fé. A noite vai muito avançada, e já se aproxima o dia."
          -"Custos, quid de nocte?"  (Vigia, o que diz a noite?)  - canta o profeta Isaías,  "o evangelista do Antigo Testamento".
          - "E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, pois precederás o Senhor para preparar-Lhe os caminhos, para dar ao Seu povo a ciência da salvação pela remissão dos pecados."
          Estas palavras de Zacarias, testemunhadas pelo evangelista Lucas, eu as faço minhas, pois desejo  aqui e agora fazer ecoar a voz de um João Batista, no deserto, a "dar ao povo a ciência da Salvação'.
         O termo "salvação", comum a todas as religiões, exprime a esperança de homens e mulheres. A raiz em hebraico significa "soltar os laços". Fundamentalmente é a sensação vivida de um perigo, em que homem e mulher estariam ameaçados de sucumbir. Só Deus é o "rochedo da salvação" para Israel. Só Ele dará a felicidade dentro do Reino Messiânico, onde reinarão a justiça e a equidade.
          Todo o povo é chamado a sair em permanente êxodo do reino de trevas e morte para a terra prometida, terra de luz e de vida eterna, em uma "nova criação". Resposta a este apelo existe apenas uma: a Fé, a ardente Esperança da salvação. Os humildes, os de coração contrito, só eles podem chamar a Javé de seu Salvador.
          Jesus traz a salvação, livrando do pecado, que é morte total. Salvação é vida: ser salvo é "ser transferido do reino da morte para o reino da vida", pois a salvação é Jesus ressuscitado.  Sua vida ressuscitada nos redime. "Só na Esperança é que somos salvos", e a Esperança não nos ilude, "porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado."
          Soltar os laços de um povo que acredita na vida eterna dada por Jesus aos que se arrependem do pecado: soltar os laços naquele Reino em que hão de imperar a justiça e a equidade; soltar os laços numa  criação nova em que reinaremos com Cristo: eis o que nos há de colocar numa situação avantajada no sentido desta verdade: "Tenho apenas uma alma, e é preciso salvá-la".
         Depois de dois mil anos de Cristianismo, talvez já sejamos mais capazes de entender as palavras a nós deixadas por Jesus de Nazaré:
         - "Amai-vos uns aos outros" e, principalmente, vivê-las no dia-a-dia de nossa vida, perpassadas da imensa alegria da Criação, na plenitude universal que elas encerram!...

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(Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da PUC, em São Paulo).

                                                            
    

sábado, 7 de dezembro de 2013

O SILÊNCIO DE DEUS E NÓS



            Há entre nós, humanos, um certo mistério que nos espanta e nos obriga a muitas e frequentes  reflexões. É o mistério do "silêncio de Deus". É-nos dada uma resposta: o aparente silêncio de Deus foi exorcizado pelo dogma da Encarnação de Cristo, que Se fez Homem entre os homens, trazendo-lhes a redenção e a esperança da ressurreição definitiva no final dos tempos.
             É uma resposta sedutora, sem dúvida nenhuma. Entretanto,  essa resposta nos obriga a um outro questionamento:  o dogma da Encarnação é belo? Na verdade, porém, para nós tudo se passa como se se tratasse de um devaneio sem consistência. Nada mudou, aparentemente, neste mundo em que se desenrola o secular drama humano.
             Nas minhas frequentes pesquisas sobre o tema, principalmente na literatura, Graham Greene, escritor inglês que leio e aprecio, é talvez a testemunha mais emocionante dessa tentação de desesperar ante esse angustioso "silêncio de Deus", que nos  aperta e nos constrange por todos os lados.
             Os personagens de Graham Greene mostram-se tão acabrunhados pelos sofrimentos que vêem, que não lhes fica esperança bastante para acreditar que o Amor de Deus exista realmente. Dois outros escritores de minha predileção, Julien Green e Georges Bernanos, também já me disseram a que ponto é invisível o que acreditamos.
             A mesma fascinação diante do mundo sensível, os mesmos sofrimentos, dilaceram os Cristãos como também os que não vivem sob o Cristianismo. Parece-me até que - e assim o prova o testemunho de Green e Bernanos, - quanto mais se é Cristão, tanto mais se sofre neste mundo.
             Para mim, no meu modesto entender, o primeiro efeito visual do mistério do Amor Encarnado, naqueles que tentam vivê-lo no dia-a-dia da vida, é sem mais nem menos aumentar ainda mais o  paradoxo inquietante do silêncio de Deus.
             Pois é o que atesta a realidade:
             Julien Green, que leio frequentemente, convertido do Anglicanismo para o Catolicismo, é mais tentado que nunca na sua carne e na sua Fé. Outro escritor, também cristão, e dos bons, Georges Bernanos, conhece o desespero íntimo de uma alma colocada diante do inferno deste nosso século, em que tudo parece roubado, até a morte dos mártires modernos.
             Isto me faz entrever um fato, e este fato não é acidental: ele manifesta uma  espécie de lei vertiginosa que afeta o universo Cristão: homem e mulher batizados devem sofrer a agonia de Jesus Cristo no Calvário. Na verdade, nossa  fraqueza aparente é a força de Deus.
            Pois é aqui que se patenteia o lugar central das três virtudes teologais do Catecismo da Igreja Católica, que só pode ser vivido na Fé, na Esperança e na Caridade.
            Estas três virtudes engendram a alegria  através da diminuição aparente de todas as alegrias humanas. Acreditar no invisível,  a despeito de tudo, tal é a mensagem de Julien Green. É, enfim, amar, isto é, dar aos outros a própria alegria, livremente, para que os outros a conheçam, tal é a mensagem principal do grande escritor francês, Georges Bernanos, em toda a sua obra.
           As três virtudes teologais encarnam portanto, em nós, o universo do Amor Divino. Elas enxertam em nossas almas a humanidade santificante de Jesus Cristo, que é o coração do mundo.
          Viver de Fé, Esperança e Caridade outra coisa não é que viver com Cristo na Cruz, é ressuscitar em esperança, é entrever já os primeiros reflexos da transfiguração escatológica do mundo. Viver as três virtudes teologais é viver o próprio mistério do amor de Deus que se sujeitou à morte por nós. E morte de Cruz, insiste o apóstolo Paulo.
          Essas virtudes nós as temos pela Graça. E a Graça Santificante outra coisa não é que a unção do Espírito que nos modela à semelhança da Humanidade de Jesus Cristo.
        Assim pois, acreditando, esperando, sofrendo o martírio por amor de Deus e da humanidade, viveremos a vida mesma de Jesus Cristo, realmente. Salvamos realmente o mundo. Trazemos-lhe a Alegria!
          Lembro-me aqui, dos pobres, e o pobre não perecerá, porque o Pobre é Jesus Cristo, que "de rico" se fez "pobre", a fim de nos saciar com Suas riquezas.
          E então nós compreendemos que o "silêncio de Deus" é a Sua mesma palavra. Sua ausência É a Sua presença. Porque a ausência de Deus, o Seu silêncio, é a Cruz, o instrumento de morte E DE RESSURREIÇÃO, EM JESUS CRISTO. AMÉM.
  
    
            

domingo, 1 de dezembro de 2013

O SONHO DE BARTH



           Lendo a biografia de Karl Barth, o famoso teólogo e pensador protestante, numa página memorável ele diz que teve um sonho. Sonhou com o compositor de música sacra Mozart.
          Como protestante, Barth sempre se sentiu melindrado pelo Catolicismo de Mozart e pelo fato dele rejeitar o Protestantismo. Aliás, foi Mozart que disse:
          - "O Protestantismo está todo na cabeça. Os Protestantes não conhecem o sentido do "Agnus Dei qui tollis pecatta mundi." (Cordeiro de Deus, que tiras os pecados do Mundo).
           Em seu sonho, Barth foi convocado para examinar Mozart em Teologia. Desejava tornar o resultado do exame tão favorável quanto possível. Assim, em suas perguntas, aludia sempre e expressamente às grandes "Missas" do famoso compositor.
           Mozart, porém, não respondia palavra.
           Confesso que me impressionou e me comoveu bastante a descrição deste sonho por Barth, pois o sonho tem muito a ver com sua salvação. Ainda, com a idéia de que Barth talvez esteja se esforçando por admitir que ele será salvo mais pelo Mozart que ele estima, do que por sua própria Teologia.
           Diz-nos a sua biografia que diariamente, durante anos, Barth tocava em seu piano músicas de Mozart antes de iniciar seu trabalho sobre os dogmas cristãos. Parece-me que ele procurava, talvez inconscientemente, despertar o Mozart oculto em sua sensibilidade, procurar também a sabedoria interna que se harmoniza com a música divina e que é salva pelo Amor. Enquanto outra parte de seu ser - não o artístico, mas o teológico - abraçava um Amor mais severo, mais cerebral: um amor que, afinal, não está em nosso próprio coração, mas somente em Deus, e é revelado apenas ao nosso espírito, na prece.
           Barth diz também com muita seriedade que  "é uma criança, mesmo uma criança divina, que nos fala na música de Mozart".
           Ainda, na sua biografia, encontrei  a afirmação de Barth dizendo que o menino-prodígio Mozart nunca teve o privilégio de ser uma criança no sentido literal da palavra. Tinha apenas seis anos de idade, quando deu seu primeiro concerto musical público. Não obstante, foi sempre uma criança "no sentido mais elevado da palavra."
           Terminando a leitura do livro, como que misteriosamente me vieram ao pensamento estas palavras, que desejo testemunhar aqui:
           - "Não tenhas medo, Karl Barth! Confia sempre na misericórdia divina. Lendo tuas obras teológicas,  compreendo muito bem que, não obstante seres um grande teólogo,  conhecido internacionalmente,  Cristo permanece em ti uma criança. Teu livro, que neste momento tenho em minhas mãos me diz, sempre que o leio e releio, que há em nós um Mozart que, queiramos ou não, será poderoso instrumento que nos levará a Cristo e  à  nossa salvação!"

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          Uma observação um tanto quanto dispensável, para desanuviar este indigesto blog:

         Certo desavisado leitor - suspeito que seja um "amigo da onça", - me alertou que os meus textos são muito sérios, e é necessária uma "higiene mental" para que eles sejam mais agradáveis ao paladar de  eventuais curiosos. Bem, creio que os meus 77 anos de idade - já beirando os 78, no mês vindouro - me liberam de qualquer necessidade de correção de rumos.
          E já que ele disse que meus textos são muito sérios, e hoje acordei de bom humor, não tendo ainda  brigado  com a mulher, como de costume, aproveito a oportunidade para  aliviar o que considero um mal-entendido, e o faço contando esta estória que encontrei num caderno de minha neta Isabela.
          Pois aqui vai a anedota e, gentileza minha e da neta, absolutamente gratuita:



                                                  JUDAS, JESUS E O LADRÃO


       Certa madrugada, cá no meu bairro chamado "Tingui" - ô diabo de nome, que até hoje não consegui deslindar o seu significado! - um ladrão malaventurado entrou pelo quintal de uma casa vizinha e, em silêncio absoluto, começou a forçar uma porta dos fundos.
          Nem bem começou a louvável tarefa, quando escuta uma voz fanhosa vindo não se sabe de onde:
          - Cuidado! Jesus tá te olhando!
         O larápio se assusta, olha para todos os lados, na penumbra da madrugada, mas não descobre nada de suspeito.
           Resolve continuar seu trabalho, quando ouve de novo a mesma voz:
           - Cuidado! Jesus tá te olhando!
             Um tanto quanto incrédulo, mas certo de ter escutado a frase, inspeciona tudo novamente ao redor, e não percebe nada.
             Quando reinicia sua "tarefa", lá vem de novo a voz:
             - Cuidado! Jesus tá te olhando!
            Desta vez ele percebe de onde vem a maldita voz. Acende o farolete, e ilumina á área de serviço. Então vê um papagaio numa gaiola pendurada na parede. Agora, mais aliviado, pergunta:
            -Pelos meus noventa e nove pecados mortais, então Você é o Jesus que tá me olhando?
            E ouve a resposta do papagaio:
            -Tu tá enganado. Não sou Jesus. Sou o Judas!
            -Judas?? Mas quem foi o bestalhão que botou o nome de Jesus no desgraçado do papagaio??
            - O mesmo bestalhão que botou o nome de Jesus nesse feroz Pitbull que vem vindo aí!...


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              QUE TAL FAZERMOS AGORA  "uma vaquinha"?

            A  expressão "fazer uma vaquinha", dizem as más línguas, surgiu na década de 1920 e tinha sua origem relacionada com o "jogo do bicho" e o futebol.
           Nas décadas de 1920 e 1930 - já que a maioria dos jogadores de futebol não tinha salário, -  a torcida do time se reunia e arrecadava entre si um prêmio para ser dado aos jogadores. Esses prêmios eram relacionados popularmente com o "jogo do bicho". Assim, quando iam arrecadar 5 mil réis, chamavam a bolada de "cachorro", pois o número cinco representava o cachorro no dito jogo. O prêmio máximo era 25 mil réis, e representava a vaca. Daí, brotou a expressão "fazer uma vaquinha..."
            Cá fica o significado da expressão, pelo preço que me custou!...

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