Este é um blog (ou melhor, "bloq", por erro de digitação de quem o programou) que tem a promessa solene de ser um blog sério, enfocando assuntos transcendentes e de consequências imprevisíveis na minha vida e na de eventuais e corajosos leitores. Mas descobri que não vivo em outro planeta, desligado dos problemas cruciais desta nossa Terra. Vai daí, resolvi pisar em solo firme, e preocupar-me também por tudo quanto acontece ao meu redor. Para isso é necessário tomar contato com os acontecimentos da província, e é o que estou querendo fazer, pesquisando "o que anda rolando por aí..."
A primeira coisa que me chamou a atenção foi uma manchete quase escandalosa da Gazeta do Povo cá da "capital ecológica do Paraná", que me obrigou a ler a matéria:
"Recentes declarações do Papa sobre o uso de preservativos em relações sexuais abrem uma nova etapa de debates na Igreja Católica".
Epa! O Papa Bento XVI falando de preservativos, que são as nossas tão faladas e usadas camisinhas?
Fiquei realmente com a pulga atrás da orelha: o já idoso e de cabelos brancos Joseph Ratzinger, teólogo de velha cepa, escritor de tratados de alta Teologia, e agora chefe supremo da Igreja Católica, descendo ao rés do chão das realidades sexuais, falando em camisinhas? Tomado de sérias dúvidas tornei a ler a notícia, e era este mesmo o assunto: as famigeradas e vulgares camisinhas, que muitos de nós trazemos escondidas no bolso traseiro das calças, na esperança de alguma inesperada emergência.
Aí está: o Papa, em um livro que publicou recentemente, "Luz do Mundo", em forma de entrevista com o jornalista alemão Peter Seewald, declarou com todas as letras que o uso da camisinha, com o objetivo de impedir que a aids se espalhe, pode ser justificado em certos casos.
Esta concessão que o Papa faz, "em certos casos", eu cá com os meus botões posso explicar assim:
há muitos marmanjos por aí, como também muitas marmanjas, pois um não vive sem o outro, portadores do vírus da aids, que não conseguem viver celibatários como os nossos heróicos padres, vivem dando os seus pulinhos e infectando os irmãos de pilantragem com o perigoso vírus.
É claro que esta incrível declaração papal desagradou imensos setores da ecumene católica, a qual não admite qualquer afronta à secular moral sexual da Igreja, sempre contrária a qualquer tipo de método contraceptivo, como pode ser a malfadada mas benfazeja camisinha. Sei, por experiência própria, que alguns líderes católicos têm sussurado ao pé do ouvido de algum crente a perigo liberando o uso discreto da dita cuja, mas de modo muito restrito e em ocasiões muito especiais, como no caso da benemérita "mulher pública" - a prostituta - para evitar o contágio de seus fregueses...
- "Não é para evitar filhos, mas para resguardar de uma possível doença", apressa-se a explicar o desconfiado bispo emérito de Nova Friburgo, Dom Rafael Llano Cifuentes, questionado por um repórter. E completa o bispo: -"A Igreja entende que qualquer relação sexual tem que estar aberta à vida" - deixando assim bem claro que a declaração do Papa não prevê o uso do preservativo (ô palavra feia: por quê não falar camisinha, que é coisa tão nossa?) indiscriminadamente, como forma de contracepção, por exemplo.
As declarações de Bento XVI provocaram, como era de se esperar, várias especulações a respeito por parte dos assim ditos especialistas na momentosa questão. O chefe do departamento de Psicologia da Universidade Federal do Paraná, Adriano Holanda, ouvido pela Gazeta, afirmou textualmente: -"Não resta dúvida de que uma das motivações dessa declaração é que precisamos reconhecer que a aids e as doenças sexualmente transmissíveis são uma realidade factível, inalienável e que têm de ser enfrentadas."
Do mesmo modo o diretor-adjunto do Departamento de DST, Aids e Hepatites do Ministério da Saúde, Eduardo Araújo, concorda que a posição do Papa é importante, porque aponta o preservativo (outra vez a palavra maléfica!) como um mecanismo usado para prevenir a aids, e acrescenta:
-"Esta é uma declaração bastante promissora, pelas ações que o Ministério já desenvolve com a CNBB. O que aconteceu torna possível que, entre os fiéis, a Igreja reconheça que eles tenham uma barreira de proteção à sua saúde. É a Igreja reconhecendo a limitação do próprio homem (e da própria mulher, digo eu) tendo o preservativo como aliado", enfatiza Eduardo Araújo.
No meu entender, a Igreja Católica, no longo caminhar de sua história, tem a característica de responder a determinadas realidades dentro de um tempo que nos parece muito lento, mas por fim, depois de demoradas análises de possíveis consequências positivas ou negativas, descobre que elas são óbvias para a sociedade, e acaba por acatá-las.
Está lançada a polêmica, prezado leitor. Não sei se Você tem interesse pessoal no assunto, mas deixo a Você decidir sobre sua facticidade ou não.
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