quinta-feira, 31 de janeiro de 2013

FALANDO DE PARTIR... CAMINHAR...


      Partir é, antes de tudo, sair de si.  É romper a crosta de egoísmo que tende a aprisionar-nos dentro do próprio eu.
      Partir é não rodar, permanentemente, em torno de si, numa atitude de quem, na prática, se constitui centro do Mundo e da vida.
      Partir é não rodar apenas em volta dos problemas da comunidade a que pertence. Por mais importante que ela seja, maior é a humanidade,  maiores os irmãos a quem nos cabe servir.
      Partir, mais do que devorar estradas, cruzar rios e mares, ou atingir velocidades supersônicas, é abrir-se aos outros, descobri-los, ir-lhes ao encontro.
      Abrir-se às idéias de quem nos rodeia, inclusive e principalmente se forem contrárias às nossas, para compreendê-las e aproveitar delas tudo que for positivo e que abra para nós horizontes mais amplos, o que demonstra fôlego de bom caminheiro.
      Feliz de quem entende e, mais importante, que vive este pensamento: - "Se discordas de mim, tu me enriqueces."
      Ter ao próprio lado quem só sabe dizer amém, quem concorda sempre, de antemão e incondicionalmente, não é ter um companheiro, mas, sim, uma sombra de si mesmo.
      Desde que a eventual discordância não seja sistemática e proposital, que seja fruto de convicção diferente, a partir de ângulos novos, comporta de fato em enriquecimento.
      É possível caminhar sozinho. Mas o bom viajor sabe que a grande caminhada é a vida, e esta supõe e exige companheiros. Companheiro parece-me que, etimologicamente, é quem come o mesmo pão.
      Feliz de quem se sente em perene caminhada e de quem vê no seu próximo um eventual e desejável companheiro de jornada.
      O bom caminheiro preocupa-se com os companheiros desencorajados, sem ânimo, sem esperança... Adivinha o instante em que se acham a um palmo do desespero. Socorre-os onde se encontram. Deixa que desabafem e, com inteligência, com habilidade, e sobretudo com amor, leva-os a recobrar ânimo e voltar a encontrar gosto na caminhada.
      Marchar por marchar não é ainda verdadeiramente caminhar.
      Caminhar é seguir em busca de metas, é prever um fim, uma chegada, um desembarque.
      Mas é bom cuidar que há caminhada e caminhada.
      Para o cristão, partir, caminhar, significa mover-se em direção ao outro, e ajudar muitos outros a moverem-se no sentido de tudo fazer por um mundo melhor, mais justo e mais humano.
      Oxalá nossa caminhada siga sempre este caminho, que um dia, ao fim da jornada, nos leve a encontrar a Casa do Pai de todos os pais!


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                                                       "Se eu pudesse,
                                                       na hora mais dolorosa
                                                       do sepultamento de minha filha Raquel,
                                                       quando a sua urna funerária
                                                       era colocada túmulo a dentro,
                                                       eu faria com que voasse sobre os presentes
                                                       uma revoada de andorinhas,
                                                       lembrando
                                                       a sua ressurreição na morte,
                                                       como é a Fé
                                                       que me mantém vivo até hoje...
                                                       Oh! como seria bom
                                                       se eu pudesse!..."


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domingo, 27 de janeiro de 2013

RAQUEL APARECIDA DE ALMEIDA - IN MEMORIAM


       (do meu "Diário") :

      Filha do ex- professor de Português e Francês, da Escola Estadual Machado de Assis, em Barbosa Ferraz, Paraná, Raquel foi aluna do pai desde o ensino fundamental até toda a duração do ensino médio. O pai diz que sempre a tratou com maior rigor em relação aos demais alunos. Mesmo assim, ela nunca deixou de estar sempre nos três primeiros lugares de sua classe, no aproveitamento e nas notas dos boletins.
      Após terminar o ensino médio, foi aprovada no curso de Farmácia e Bioquímica da Universidade Estadual de Maringá. Concluído o curso, como não tinha condições financeiras para montar um laboratório ou uma farmácia, fez concurso para a Caixa Econômica Federal, sendo aprovada com ótima colocação.
      Iniciou a carreira de bancária, chegando a gerente. Trabalhou em agências de Maringá, Campo Mourão, Rio de Janeiro e, por último, em Curitiba.
      O pai acredita que Raquel viveu sua vida profissional e as tarefas de mãe de maneira tão intensa, que descurou dos cuidados com a saúde. Teve câncer de mama, descoberto já em estado bem adiantado. A descoberta da doença e a preocupação com o futuro da filha, Isabela, fizeram com que sua ânsia de viver se multiplicasse. Obrigada a aposentar-se pela CEF por invalidez, não desistiu da luta: fez vestibular para o curso de Direito, matriculou-se na Unibrasil, em Curitiba, e foi aprovada.
      Intercalava seus estudos com as dolorosas sessões de quimioterapia e de radioterapia, que foram uma constante no seu dia-a-dia por quatro anos. Formou-se em plena doença, e advogou até seus últimos dias. Sua razão de viver tinha um nome: Isabela, hoje com quinze anos.
      Raquel viveu com a filha, apesar da doença, os seus melhores dias. Viajou com a menina pelo Nordeste e pelo Sul. Estiveram na Argentina, e para onde mais a razão da sua vida quisesse ir - Raquel estava sempre disposta a atender a filha em todos os seus desejos. Sacrificou-se, esqueceu-se de sua grave doença para fazer a filha feliz.
      Faleceu vitimada pelo câncer, aos 43 anos. Deixa os pais, três irmãos e a filha, Isabela.
     Que Deus, Pai de todos os pais que sofrem, a tenha na Sua Paz!

     (Gazeta do Povo, Curitiba, 29-08-2010).

                                         - "Se eu pudesse, na hora mais dolorosa do sepultamento
                                            de minha filha Raquel, quando a urna funerária fosse colocada
                                            túmulo a dentro, eu faria com que voasse sobre os presentes
                                            uma revoada de andorinhas, lembrando a sua ressurreição
                                            na morte, como é a Fé que me mantém vivo até hoje...
                                            Oh! como seria bom se eu pudesse!..."

                                                                                                                   Seu pai.

sábado, 26 de janeiro de 2013

A SANTA HUMANIDADE DE JESUS


      - "Jesus, vindo a este nosso mundo, tomou o corpo humano, a fisiologia humana, a economia da pobreza, o modo de vida das classes inferiores, o burrico para cruzar as estradas palestinenses, a poeira das viagens a pé; o tipo social seminômade: pescadores e pastores; os pratos de peixe e o pão de cevada, o cansaço do apostolado." (Malègue, em "Augustin ou le Maître est là").

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      A partir destas palavras de Malègue, que acabei de ler e traduzir em citação de Charles Moeller ("Littérature du XXe. Siècle et Christianisme"), pude compreender que a sensibilidade contemporânea se compraz especialmente em colocar em relevo, na vida de Jesus Cristo, tudo o que pode lançar luz sobre a realidade da Sua humanidade.
      É muito salutar a meditação sobre os sofrimentos físicos do Salvador, mas também,  e talvez sobretudo, nos sofrimentos espirituais da sua alma de homem: a amargura de uma obra humanamente fracassada; o abandono, tanto o dos homens, naturalmente, e também o de Deus; e, como disse um autor, "a cruz sobre a cruz, a morte na morte".
      Homem e mulher modernos, vivendo um século marcado pela violência do terrorismo em várias partes do mundo, gosta de encontrar um Cristo trágico: basta ver a obra do pintor francês Rouault que, através das inumeráveis máscaras da miséria e da solidão, este artista compôs nos vitrais de muitas igrejas européias, onde vemos lentamente perfilar-se a imagem do Rei da dor e do sofrimento sem par.
      A imagem de Cristo a nós deixada por Rouault, como nos mostra o álbum de suas obras, retrata em Jesus uma meiga profundidade numa imensa tristeza, que nos comove até à alma, ao contemplá-la.
      O cristão do nosso tempo é muito sensível a esta experiência da solidão de Deus: o silêncio do Deus que sofre pesa sobre ele; quando Jesus crucificado murmurar - "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" - o cristão torna a encontrar no Salvador, que é Filho de Deus, quase que a mesma solidão e sofrimento. E nada disto é "teatro", mas uma realidade, misteriosa sem dúvida, mas autêntica.
      Meditando nos abismos da Santa Humanidade de Deus, em Jesus Cristo, atingimos uma das verdades essenciais da doutrina bíblica sobre o Verbo encarnado: o realismo integral da natureza humana assumida, corpo e alma, e a verdade total das Suas atividades e vontades humanas, asseguram o realismo da redenção.
      É pela santa humanidade de Jesus, diz-nos a Teologia, que as fontes da Graça de Deus brotam em nós. Jesus, sofrendo realmente em Seu corpo e Sua alma, torna-se totalmente confraternal conosco, segundo a vigorosa expressão de São Paulo. Basta olhar este Cristo-homem em Sua vida, para entrever com claridade os abismos do amor de Deus.
      É nessa humanidade padecente que se ocultam os tesouros da divindade; é ali, e não em outra parte, que homem e mulher devem procurar a fonte da vida. Deus se faz pobre, em Jesus, para que homem e mulher se tornem ricos. Aquele que ama reveste a condição daquele a quem ama, sim, mas para encher essa condição de todo o poder do Seu amor. Assim fez Deus.
      Eis porque quando o nosso Grande Sacerdote, Jesus, lança o terrível grito de que fala a "Carta aos Hebreus", quando Ele geme, invocando Seu Pai; quando se convence, padecendo, do que é a obediência, nesse momento mesmo Ele descerrava o véu e nos levava a todos com Ele, até ao tabernáculo da divindade.
      Riqueza na pobreza, divindade na humanidade, alegria na angústia. Assim é Jesus Cristo, o nosso Redentor!

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                                               "Se eu pudesse, na hora mais dolorosa
                                                do sepultamento de minha filha Raquel,
                                                quando o seu caixão mortuário
                                                era colocado túmulo a dentro, eu faria
                                                com que voasse sobre os presentes
                                                uma revoada de andorinhas, lembrando
                                                 a sua ressurreição na morte, como é
                                                  a Fé que me mantém vivo até hoje...
                                                  Oh! como seria bom se eu pudesse!"


                                                 **************************
                                               
                                                    

sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

TRÊS TESTEMUNHOS


      Neste 25 de janeiro, ao celebrarmos a vida e a obra evangelizadora do "apóstolo dos gentios", Paulo de Tarso, mais conhecido no mundo cristão como São Paulo, permitam-me os eventuais curiosos deste blog que eu traga o tríplice testemunho que nos deixaram três das maiores testemunhas do Cristianismo em nossa época.
      Primeiramente, lembro o sacerdote do livro de Graham Greene, "O Poder e a Glória", quando ele fala ao oficial de polícia que sonha transformar o mundo em paraíso terrestre:

      - "Há entre nós uma outra diferença. É inútil trabalhar para o fim que nos persegue, se o senhor mesmo não é honrado e bom. Ora, o seu partido, o comunista, nem sempre se comporá de homens honrados e bons. Por isso, o senhor verá reproduzirem-se as fomes de outrora, os maus tratos, as fortunas adquiridas não se sabe bem por que meios e formas.  Ao passo que o fato de eu ser um sacerdote covarde... e tudo o mais... não tem tanta importância. Não obstante isso, eu posso pôr Deus na boca de um fiel, e posso dar-lhe a absolvição em nome de Deus.
      E ainda que todos os padres sejam iguais a mim, isso nada altera."  (O Poder e a Glória, p.306 em minha edição).

      Outro testemunho, este, de Julien Green, em seu "Diário", IV, p. 54:

      - "Sucede-nos pensar tantas vezes e tão habitualmente em Deus, em termos tão convencionais, que esta grande realidade, a única realidade, desaparece atrás das frases decoradas... Devemos tentar pensar em Deus, em Sua novidade, em Seu eterno frescor... É preciso que este sentimento não nos abandone, nunca deve deixar de ressoar em nós a voz de silêncio que nos diz: "Tu és meu, não te deixarei partir."

      E ainda, de Georges Bernanos, o grande profeta do século vinte, no seu romance "As crianças humilhadas" (p. 262-264, da minha edição):

      - "Chegará o dia em que os que hoje correm, alucinados, atrás de amos implacáveis, os amos ferozes que prodigalizam a vida humana como matéria sem valor, e atulham de vidas humanas as suas usinas e os seus fornos, hão-de parar, extenuados, no caminho que não leva a parte alguma. Pois bem, então... talvez se cumpra a palavra de Deus, os mansos possuirão a terra, simplesmente por não terem o hábito da esperança num mundo de desesperados. Possuirão a terra, mas não por muito tempo; talvez a possuirão sem talvez sequer darem por isso, com sua massa inocente fazendo pender a balança, alterando o equilíbrio do mundo... Construir é sempre uma obra de amor... Vós não triunfareis da paciência do pobre."

      A paciência do pobre não perecerá, porque o Pobre é Jesus Cristo que, "de rico" se fez "pobre", a fim de nos saciar com Suas riquezas.
      O silêncio de Deus é a Sua mesma palavra. Sua ausência, a Sua presença. Porque a ausência de Deus, o Seu silêncio, é a Cruz, o instrumento de morte e DE RESSURREIÇÃO, EM JESUS CRISTO.

      Que o apóstolo Paulo, que a liturgia católica celebra neste 25 de janeiro, infunda profundamente no coração de todos os cristãos as sementes desta verdade, para que ela floresça para a Vida Eterna.


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      - "Se eu pudesse, na hora mais dolorosa
         do sepultamento de minha filha Raquel,
         quando o seu caixão era colocado
         túmulo a dentro, eu faria com que
         voasse sobre os presentes uma re-
         voada de andorinhas, lembrando a sua
         ressurreição na morte, que é a Fé que
         me mantém vivo até hoje...
         Oh! como seria bom se eu pudesse!"
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quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

O DIÁLOGO DA FÉ


      O dialogo da Fé se exerce entre Deus, o homem e a mulher.
      Homem e mulher devem reconhecer que são seres engendrados, criados, contingentes, do contrário barra-se o acesso ao sobrenatural.  Homem e mulher devem sair do "inferno mundano", e isto me lembra o existencialista francês e ateu Jean Paul Sartre.
      Homem e mulher devem confessar-se egoístas, mentirosos, confessar que são pecadores e  conjuntamente respeitar a sua razão, sem fazerem dela um ídolo. Além disso, homem e mulher devem ser fiéis à Graça de Deus que continuamente os persegue e os solicita, lembrando a si mesmos que sómente a Fé realizará neles a unidade de corpo e alma, tornando-os aptos a buscarem a salvação junto a Deus.
      Paternidade de Deus, salvação de Deus, luz de Deus, Graça de Deus: homem e mulher estarão no caminho de descobrirem estas quatro riquezas se fizerem essa quádrupla confissão. Estas quatro riquezas  encontram-se na pessoa de Jesus Cristo, de que a Igreja é testemunho, livremente, racionalmente e sobrenaturalmente.
      A Fé é racional porque, na Igreja o espírito humano encontra ao mesmo tempo as obscuridades inevitáveis e as claridades suficientes que darão um sentido ao drama de homem e mulher neste mundo. Acreditando no testemunho da Igreja, a inteligência humana descobre a chave da sua própria miséria, a solução das suas próprias penumbras.
      A Fé é livre porque, na Igreja, é o amor de Deus que se oferece por inteiro ao homem e à mulher. Este amor de Deus reclama a resposta livre e consciente do amor.
      A Fé é sobrenatural porque, na Igreja, é a Graça Divina que solicita homem e mulher, como também os ilumina. O fato externo da santidade na Igreja, que é o "signo erguido entre as nações", conforme o Concílio Vaticano II, constitui para homem e mulher cristãos o testemunho de Deus.

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       A Igreja é Cristo comunicado no Espírito. Em última análise, o que se deve contemplar na Fé é o Verbo encarnado.
      A Fé é livre, racional e sobrenatural, porque não se refere, desde logo, a uma doutrina impessoal ou a um código de moral, mas a uma Pessoa que chama homem e mulher pelo nome, os ensina e os ama.
      A fé é racional, porque Jesus é verdade; é livre, porque Jesus é o Amor encarnado; é sobrenatural, porque Jesus é Deus encarnado.
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      Não obstante, a Fé cristã é uma penumbra luminosa, porque essa penumbra tem também outro nome, o de Deus, que nunca amou tanto a humanidade de homem e de mulher, como no dia em que quis revestir-se dessa mesma humanidade, em Jesus Cristo!
     

segunda-feira, 21 de janeiro de 2013

VAMOS ABRIR OS OLHOS?


            Você, que tem a pachorra de passar por este meu blog, me permite uma sugestão fraterna? Por mais cheia que ande a sua vida, por mais ocupada, mais apressada, mais atravancada que a vida lhe pareça, - tente descobrir meios para rápidas escapadas, que lhe permitam encontros, mesmo de segundos, com a Irmã Natureza, como diria São Francisco de Assis. Isto fará a Você (como também a mim) um bem enorme e derramará no seu íntimo (como também no meu) um marco fundamental de paz para o resto do dia.
      É preciso que nós - você e eu - tenhamos olhos para o nascer do sol. Você já reparou como não há duas manhãzinhas iguais?
      Não sei por que muitos de nós jamais encontraram tempo de olhar as árvores, mesmo de passagem, pelos caminhos do dia a dia. Pois as árvores são mestras de paciência: elas nos oferecem sombras, oferecem frutas, acolhem os passarinhos e, quase sempre, recebem pedradas da molecada, não raro acabam cortadas, quando o terreno se valoriza. E mesmo, com tantos problemas, as árvores ainda nos ensinam a renascer cada ano, de novo, talvez muito mais bonitas do que antes...
      Você já parou para pensar como a água é amiga, é quase nossa irmã, e está sempre disposta a ajudar-nos de mil e uma maneiras?... É tão reconfortante um copo de água bem fria quando se está com sede no calor do meio-dia; tanto é verdade, que o próprio Jesus de Nazaré chegou a prometer uma recompensa eterna a quem mata a sede do próximo.
      E como é bom poder banhar-se, ou lavar as mãos ou os pés, quando se está com calor... Mas não é só isso: a água faz bem até para ser vista: se Você passar perto da praia, olhe o mar. Se passar perto de um rio, olhe as águas que correm mansas e, se for o caso, contemple por um instante as lavadeiras que às suas margens lavam roupas, ou crianças que se banham ou brincam na água, molhando-se uma às outras.
      Você já teve tempo de contemplar a luz que lhe vem do alto, do céu?... A luz torna belas, transfigura, até as coisas mais simples ao nosso redor. Com a luz do dia e do sol, até um caco de vidro consegue imitar ou parecer um brilhante...
      Aliás, continuando esta reflexão, nunca agradeceu a Deus o ar que nos envolve, nos protege, apagado, anônimo, mas prestativo?... Quase nem pensamos nele, e no entanto, sem o ar, nem poderíamos viver. Engraçado: só damos importância ao ar quando ele nos falta, ao fim da vida, e caímos em agonia, à procura dele...
      Quase ninguém  repara a paciência com que a terra nos suporta. E nós a pisamos com nossos sapatos como se ela fosse escrava e tivesse obrigação de carregar o nosso peso. Rasgamos a terra, para plantar sementes ou abrir estradas... Até que um dia, em lugar de receber-nos com raiva, de guardar-nos rancor, ela nos receberá em seu seio e, nela, nosso corpo descansará, aguardando a Ressurreição!
      Temos que abrir os olhois. Descobrir tudo que há ao nosso redor. Fazer como as crianças que chamam nossa atenção para tudo, como se fossem as primeiras a descobrir o mundo: -"Olha lá! Olha lá!"
      É preciso que nossos olhos sejam descobridores. Não podemos deixar que a rotina do dia-a-dia nos embaralhe a visão. Um segundo de contemplação da Natureza que nos rodeia derramará paz e tranquilidade sobre o nosso dia inteiro!
      Vamos abrir nossos olhos para a Vida?

sábado, 19 de janeiro de 2013

O SINAL DOS TEMPOS


      - "Vivemos num tempo em que numerosas pessoas estão sem esperança", - afirmava tempos atrás o Conselho Ecumênico das Igrejas. Muitos cristãos, por seu lado, fizeram da sua esperança uma caricatura, uma espécie de álibi disfarçando a sua deserção perante os encargos da vida comunitária.
      Não sabemos mais o que significam as palavras: nos velhos bons tempos, quando a esperança era esperança de alguma coisa, aspiração para uma enseada, um porto, o que indicavam os olhos, claros faróis, da doce amada, aquele que atraía os esforços do náufrago.
      Sabemos que a esperança era árdua, que reclamava e exigia esforços, mas "a esperança faz viver", dizia-se, porque um dia ou outro se alcançaria o porto.
      Milhares de homens e de mulheres, neste nosso mundo, aguardam pelo menos um mínimo de felicidade; e têm razão, devemos ter a coragem de dizer. Que pensariam eles da capa de uma revista de circulação internacional mostrando em primeiro plano soldados com fuzis e metralhadoras, e em segundo plano a fumaça de incêndios devorando cidades? E no entanto seres humanos ousaram chamar essa operação de ofensiva esperança...
      - "Nosso tempo é um tempo de esperança!"  - proclamava a moção final do Congresso pela Paz e pela Civilização Cristã, reunido em Florença, na Itália.
      Para compreendê-lo é preciso decifrar o sentido dos acontecimentos. Os cristãos necessitam convencer-se da ambiguidade de todas as situações históricas nas quais devem encarnar a sua esperança teologal.  Aliás, uma das maiores razões da propagação da esperança marxista, não faz muito tempo, está justamente nesta alienação da cristandade em face do momento histórico que vivemos.
      Sei de um escritor francês que num rasgo admirável de autocrítica percebeu claramente a omissão e as consequências dessa omissão cristã diante dos caminhos do mundo. E o fez com estas palavras:
      - "O sofrimento e a derrota são a intervenção de Deus para que o homem não se instale numa condição que não é a beatitude, sua vocação. Na história de Israel bem como na história da Igreja, os inimigos e os adversários têm uma função providencial. Cada vez que a Igreja deixa perder ou negligencia uma partícula da verdade de que é depositária e que tem a obrigação de fazer frutificar, um adversário se levanta - ironia da História! - Justamente em nome desse fragmento de verdade que a Igreja abandonou, e ataca os cristãos em nome dessa verdade parcial. Pense-se na utilidade da Renascença, que salvou a Igreja da tentação do governo temporal e da tirania intelectual. Pense-se em Nietzsche, que nos ajudou a não fazer do Cristianismo uma ética mórbida; em Freud, em Marx. Cada adversário se tornou indispensável por uma fraqueza dos cristãos. Se os cristãos nada mais anunciam aos pobres, outros anunciarão aos pobres a justiça; mas em troca investirão contra a Cristandade para a despedaçar, como outrora o assírio e o egípcio atacavam Israel e o devastavam, quando ele se mostrava infiel ao Deus da Aliança". (Claude Tresmontant).
      A verdade não pode mais estar ausente da Terra. Quando a verdade deixa de ser guardada e servida com energia suficiente pelo Corpo que tem o encargo de guardá-la, emigra e suscita um homem ou um movimento que se tornam campeões justamente dessa parcela de verdade abandonada pelos cristãos.
      Mais do que qualquer outra coisa, os cristãos devem tomar a seu cargo a esperança de homens e mulheres deste nosso mundo. É necessário dar à esperança todas as suas dimensões, porque sei também de um cristão, e dos bons, que lançou, na Semana de Intelectuais Católicos, da França, uma frase verdadeiramente aterradora: - "Nós raptamos o Senhor, e o resto do mundo não sabe onde O pusemos... Talvez a grandeza do século a que pertencemos esteja em tornar Cristo acessível, se assim me posso exprimir, ao resto do mundo." (François Mauriac).
      Para quantos milhões de seres humanos o Cristianismo não passa de uma religião exclusivamente ocupada com a salvação da alma, quando não é identificada com uma evasão mórbida, diante do mundo, por uma obsessão da carne, um medo de tudo que é humano?
      Nós vivemos numa época espiritualmente incomparável e grandiosa, porque rica em possibilidades e em perigos. Mas se ninguém for capaz de se colocar à altura das suas exigências, ela poderá converter-se na era mais miserável da História, marcando o retrocesso da humanidade.
      Entretanto, a criação inteira espera; NOS espera!
      E estaremos nós prontos para apostar tudo pela salvação dos homens e das mulheres do mundo inteiro?

sexta-feira, 18 de janeiro de 2013

DESPERTAR... OU ACORDAR?


      Despertar, de manhã bem cedo, é bom, quando se teve um sono reparador e as perspectivas do dia que se tem pela frente são tranquilas e felizes.
      Despertar é terrível, quando se vai do sono para um pesadelo de olhos abertos:  ou por sofrimento físico, ou pela necessidade de enfrentar problemas e situações desagradáveis e de difícil solução.
      Mas que alegria ter fé e, na hora exata de despertar, oferecer o dia que se inicia ao Criador e Pai de todas as horas!
      Maior felicidade ainda é despertar cedinho, quase ainda escuro, e principalmente se no quintal de casa houver um galo que faça para nós o trabalho de um despertador, com o seu canto vigoroso e gostoso de se ouvir!
      Se eu pudesse, faria o contrário de despertar - faria adormecer os que não conseguem dormir, os insones, cansados de tentar conciliar o sono, sem o conseguir, e contando as horas, madrugada a dentro!
      Se eu pudesse, despertaria todo mundo, para dar-lhe notícias felizes! Notícias que sejam melhores que os melhores sonhos...
      Há pessoas que dão um trabalho terrível para despertar. Para essas pessoas não adianta ter um despertador ao lado da cama, e para se levantarem, é quase preciso levantá-las com um guindaste...
      Você já acordou ao som de uma caixinha de música? Pois faça a experiência...
      Mas nem só do sono físico é preciso despertar. Há sonos que clamam por um despertar urgente. Existem muitas pessoas que vivem alheias aos grandes problemas humanos e possuem, no entanto, inteligência capaz de entender a problemática destes nossos tempos, e seriam capazes de ajudar a descobrir caminhos. Nestes casos, é claro que elas precisam despertar...
      Há pessoas que, pelas diversas circunstâncias da vida, rolaram para o fatalismo, para a falta de espírito de luta, para a desesperança... Sonos terríveis! Mas quem não sente que é dever humano e cristão despertar-se ou despertá-las destes sonos?...
      E quando alguém se instalou na vida; entrou na engrenagem; se inseriu, de cheio, na sociedade de consumo, esquecendo ou fazendo de tudo para esquecer certas verdades incômodas, que o fariam abrir os olhos, e despertar?...
      Pode parecer crueldade. Mas é prova de amizade fraterna tentar despertá-lo deste sono enganador. Só que é dificílimo o despertar-se deste tipo de sono, cheio de sonhos de grandeza sempre maior, de conforto sempre maior, de gozo sempre mais total.
      Nos meus tempos de estudante na Faculdade de Teologia, em São Paulo, eu tinha um professor, o Padre Araújo, nordestino - uma das maiores criaturas humanas que encontrei na vida - que dizia em sala de aula quando lhe perguntavam qual outra profissão gostaria de seguir,, que a vontade dele era responder: - Despertador!...  - Porque gostaria de atravessar a vida despertando o maior número possível de sonos enganadores, de sonos maus, de sonos perversos, todos se reduzindo ao sono cruel do egoísmo...
      Quem sabe o eventual e corajoso leitor destas linhas tenha e exerça a vocação de despertador!... Mas quem sabe, dentre os que agora me leem, a graça de Deus suscitará o nobre desejo de passar por este nosso Mundo ajudando pessoas e comunidades inteiras a despertar! Tudo dentro do mais pacífico e construtivo dos propósitos: o de ajudar a construir um Brasil e um Mundo mais respirável, mais justo, e mais humano... Um Brasil e um mundo mais cristão!...
     

quarta-feira, 16 de janeiro de 2013

O MISTÉRIO DAS MÃOS


      Você acha que suas mãos só servem para pegar, apalpar, bater, acariciar ou alguma coisa mais, e nada mais do que isso?
      Você por acaso já meditou no mistério das mãos?  Das suas próprias mãos? Você algum dia  teve um estalo na cabeça, e descobriu que suas mãos se prestam a gestos e ações altamente construtivas, grandes e belas?
      Pois saiba Você que é a pura verdade: pois veja só, tudo quanto é missão de nossas mãos, mesmo que nós não tenhamos consciência clara desta realidade:
      Mãos postas, acompanhando nossas orações. E aqui eu penso, de modo especial, em mãozinhas de crianças que a cuidadosa mãe junta, enquanto elas aprendem a rezar. Me lembro também das mãos trêmulas de minha vó, Júlia, velhinha, sempre postas, porque ela estava dia e noite rezando pelos seus filhos e netos, ausentes, espalhados por esse mundo de Deus...
      Mãos de abnegados médicos e cirurgiões, que salvam vidas, não raro com extrema habilidade... Basta lembrar a perícia com que o famoso cirurgião brasileiro, o doutor Zerbini, que manejava cérebros e corações...
      Mãos calosas de trabalhadores braçais, quase sempre tão mal remuneradas, como eram as mãos de meu falecido e saudoso pai.
      Mãos ágeis de datilógrafas, que vencem, por minuto, um número incrível de batidas nas máquinas modernas de seus escritórios.
      E por que não lembrarmos das mãos de músicos, que nos deliciam e nos transportam para além do espaço e do tempo, dedilhando declados ou tirando maravilhosos sons de um choroso violino?
      Mãos que semeiam, como as mãos de meu avô e seus filhos, na fazenda lá do Rio Pardo, em Minas Gerais, que alimentavam uma dezena de filhos e outros tantos agregados, além das sementes de amor, de esperança e de paz, que eram também as sementes que continuamente semeavam.
      Mãos de pintores e de escritores, que fazem tudo para não trair os sonhos de beleza que estão sempre no pensamento e no coração do artista.
      Mãos que brincam, como as mãos de minha neta Isabela, que não param um só instante de conseguir arrancar situações engraçadas de mil e um objetos estranhos que consegue encontrar por todo canto. Mãos também, ainda da Isabela, que conseguem mexer no meu computador e me obrigam chamar um técnico a comparecer em casa para consertar o que ela, sem compreender direito a máquina, a deixou um tanto quanto emperrada!
      Mãos  de técnicos de rádio, TV, cinema, que nos permitem viver, na hora, os grandes acontecimentos de qualquer parte deste nosso vasto mundo de Deus...
      Mãos que acariciam: mãos de mães, mãos de avós, mãos de filhos, mãos de namorados, mãos de esposos...
      Seria muito fácil continuar. Mas é importante lembrar que as mãos humanas, capazes de tanta grandeza e tanta beleza, sabem, também, distribuir desolação e morte...
      Há mãos que se fecham, egoístas e avaras. Há mãos que se crispam, cheias de ódio, chegando, por vezes, ao extremo, de arrasar, de ferir, de matar...
      Há mãos preguiçosas, especialistas em jogar em cima dos outros o trabalho que  competia a elas realizar...
      Há mãos que roubam de ricos, e até de pobres. Há mãos que sequestram pessoas, que fazem reféns!
      Cristo Jesus, em Tua Encarnação, em Tua Vida Mortal, usaste Tuas mãos de modo admirável! Elas passaram fazendo o Bem!
      Que nossas mãos estejam sempre a serviço do Bem, da Beleza, da Caridade!
      Que nossas mãos, à imitação das Tuas, sejam semeadoras de Tranquilidade, de Esperança, de Amor, de Paz!
      Assim seja. Amém.
                                                                                                                                    

domingo, 13 de janeiro de 2013

SERIA MUITO BOM SE EU PUDESSE...,


      Oh! Como seria bom se eu pudesse:
      Se eu pudesse, com toda certeza faria voltar os bondes, que nos meus tempos de estudante na capital dos paulistas, eram o meu meio de condução predileto nas minhas idas e vindas, toda tarde, ao ou do Colégio...
      Se eu pudesse, voltaria no tempo e contrataria aquelas belas charretes puxadas por garbosos cavalos, que me levavam a passear nos bairros elegantes de Ribeirão Preto, SP, quando ali estudava no Seminário Diocesano Maria Imaculada...
      Se eu pudesse, agora morador da bela e fria Curitiba, à noite, de volta do passeio pelas ruas do Tingui, ao encontrar pessoas que me parecessem desanimadas de tudo e de todos, eu arranjaria rodas de crianças, como fazia na minha infância feliz, que cantassem para esses desanimados da vida:

      Sozinho eu não fico
      nem hei de ficar
      pois uma destas "minas"
      há de ser o meu par...

      Se eu pudesse, na hora mais dura do sepultamento de minha filha Raquel, quando o seu caixão era colocado terra a dentro, eu faria com que voasse sobre as cabeças dos presentes uma revoada de passarinhos, lembrando a sua ressurreição na morte, como é a Fé que me mantém ainda vivo até hoje...
      Se eu pudesse, pertinho das casas em que houvesse pessoas doentes, ou que estivessem se sentindo sós e abandonadas, eu haveria de cantar-lhes uma destas canções que não morrem, tão presentes no cancioneiro popular brasileiro:

      Sempre em meu coração
      Eu sei e Você sabe...
      Faz tanto tempo e eu me lembro sempre...

      Com toda certeza, acompanhando-me nesta canção, serviria algum instrumento bem tocado, bem bonito, bem saudoso, um violão dedilhado pela minha neta Isabela, um bandolim dos antigos, uma flauta, e por que não uma clarineta?
      Ao lado de minha casa tenho uma vizinha que parece ter o dom do pressentimento: ela sente que eu estou sofrendo, com saudades de minha falecida filha Raquel, e que gostaria de ouvir uma sonata triste daqueles compositores românticos que nos falam à alma, e então ela improvisa em seu piano uma página musical cheia de mensagens de harmonia, de beleza e de paz...
      Se eu pudesse, na caminhada de muitos desses solitários homens moradores de rua, que eu conheço, à noite faria surgir para eles, nas marquises debaixo das quais eles tentam dormir, vagalumes alumiando suas noites, ou então gostaria que uma cigarra, com seu canto estridente, lhes quebrasse a solidão...
      Se eu pudesse,  faria que todos os dias, à hora em que  me sentisse sozinho, triste, lembrando meus mortos queridos,  todas as igrejas de Curitiba, tocassem seus sinos, convidando-nos a pensar em Deus, a rezar... Aliás, a hora dos sinos a tocar sempre me pareceu uma hora marcada pela Graça de Deus...
      No cair da noite, até as pedras do calçamento em minha rua parece que perdem a costumeira aspereza, como também os enormes conjuntos habitacionais do bairro não dão mais a impressão de que esmagam a gente: nesse momento eles como que se harmonizam, perdem de todo a sua agressividade...
      Se eu pudesse, retornariam as velhas bandas de música de minha infância no interior de Minas: elas toda tarde sairiam pelas ruas do bairro, tocando retretas saudosas nas pracinhas apinhadas de gente... há "dobrados" que fazem os pelos de nossos braços ficarem eriçados de incontida emoção...
      Se eu pudesse, e tivesse poderes para isso, de vez em quando estenderia no céu o arco-íris, e descobriria um jeito do arco-íris aparecer de noite, que é quando me ataca a saudade de minha filha falecida, a para sempre Raquelzinha, para mim e minha neta Isabela, sua filha adolescente...
      Se eu pudesse, daria a esse mesmo arco-íris a força mágica de desfazer ódios, malquerenças, intrigas, divisões, de maneira que ele, com a ajuda de Deus, se tornasse de fato um sinal de entendimento, de amizade e de paz entre todos os homens e mulheres deste nosso mundo, tão carente de Deus...
      Ah! Se eu pudesse!...
      E se Você, eventual leitor deste despretensioso blog, se Você pudesse, o que aconteceria?...

     

     

       

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A PARÁBOLA DA ESPERANÇA


      - "Vivemos num tempo em que  numerosas pessoas estão sem esperança!" - afirmava tempos atrás o Conselho Ecumênico das Igrejas. Muitos cristãos, por seu lado, fizeram da sua esperança uma caricatura, uma espécie de álibi disfarçando a sua deserção perante os encargos da vida.
      Não sabemos mais o que significam as palavras nos velhos tempos, quando a esperança era esperança de alguma coisa, aspiração para um porto, uma praia, o que indicavam os olhos, claros faróis, da doce terra amada, aquela que atraía os esforços do náufrago.
      Sabemos que a esperança era árdua, que reclamava esforços, mas "a esperança faz viver", -  dizia-se, porque um dia ou outro se alcançaria o porto.
      Milhares de homens e mulheres, neste nosso mundo, aguardam um mínimo de felicidade; e têm razão, devemos ter a coragem de dizer. Que pensariam eles da capa de uma revista de circulação mundial mostrando, em primeiro plano, soldados com fuzis e metralhadoras, e sem segundo plano, a fumaça de incêndios devorando cidades? E no entanto seres humanos ousaram chamar essa operação de "ofensiva esperança".
      - "Nosso tempo é um tempo de esperança", - proclamava a moção final do Congresso pela Paz e pela Civilização Cristã, reunido em Florença, na Itália.
      Para compreendê-lo é preciso decifrar o sentido dos acontecimentos. Os cristãos necessitam convencer-se da ambiguidade de todas as situações concretas nas quais devem encarnar a sua esperança teologal. Aliás, uma das maiores razões da propagação da esperança marxista, tempos atrás, estava justamente nesta alienação dos cristãos de todas as denominações em face do nebuloso momento histórico em que viviam.
      Sei de um escritor francês que num rasgo admirável de autocrítica percebeu claramente a omissão e as consequências dessa omissão cristã diante dos caminhos do mundo. E o fez com estas palavras:
      - "O sofrimento e a derrota são a intervenção de Deus para que homem e mulher não se instalem numa condição que não é a beatitude, sua vocação. Na história de Israel bem como na história da Igreja, os inimigos e os adversários têm uma função providencial. Cada vez que a Igreja deixa perder ou negligencia uma partícula da verdade de que é depositária e que tem a obrigação de fazer frutificar, um adversário se levanta - ironia da história! - justamente em nome desse fragmento de verdade que a Igreja abandonou, e ataca os cristãos em nome dessa verdade parcial."  (Claude Tresmontant).
      Pense-se na utilidade da Renascença, que salvou a Igreja da tentação do poder temporal e da tirania intelectual do clero. Pense-se em Nietzsche, que nos ajudou a não fazer do Cristianismo uma ética mórbida; em Marx, em Freud. Cada adversário se tornou indispensável por uma fraqueza dos cristãos. Se os cristãos nada mais anunciam aos pobres, outros anunciarão aos pobres a justiça; mas em troca investirão contra a cristandade para a destroçar, como outrora o assírio e o egípcio atacavam Israel e o devastavam, quando ele se mostrava infiel ao Deus da Aliança.
      Mais do que qualquer outra coisa, os cristãos devem tomar a seu cargo a esperança de homens e mulheres. É necessário dar à esperança todas as suas dimensões, porque sei também de um cristão, e dos bons, que lançou, na Semana de Intelectuais Católicos, da França, uma frase verdadeiramente aterradora: - "Nós raptamos o Senhor Jesus, e o resto do mundo não sabe onde O pusemos. Talvez a grandeza do século a que pertencemos esteja em tornar Cristo acessível, se assim me posso exprimir, ao resto do mundo." (Mauriac).
      Para quantos milhões de seres humanos o Cristianismo não passa de uma religião exclusivamente ocupada da salvação da alma, quando não é identificado com uma evasão mórbida, diante do mundo, uma obsessão da carne, um medo de tudo que é humano?
      Nós vivemos numa época espiritualmente incomparável e grandiosa, porque rica em possibilidades e em perigos. Mas se ninguém for capaz de se colocar à altura das suas exigências, ela poderá converter-se na era mais miserável da História, marcando o retrocesso da humanidade.
      Entretanto, a criação inteira espera; NOS espera.
      E estaremos nós prontos para apostar tudo pela salvação dos homens e mulheres do mundo inteiro?

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

CARTA ABERTA AOS MEUS E AOS NETOS DE TODO O MUNDO


      Neste começo de ano, gostaria de escrever aos meus netos, João Carlos, Aroldo Henrique, Júlia Gabriela, Isabela e Giovana, uma carta muito bonita, desejando-lhes toda a felicidade possível neste ano de 2013 que se inicia.
      Pensei, pensei, e não consegui escrever algo que agradasse a essas personalidades tão vibrantes e criativas que eles e elas possuem. Resolvi então parafrasear uma página interessantíssima de um educador que eu muito admiro, chamado Rubem Alves. Pois é dele uma frase que diz mais ou menos assim: - "É fácil levar a égua até o meio do ribeirão. O difícil é convencê-la a beber a água."
      E eu cá, com os dois botões ainda inteiros das minhas ceroulas samba-canção, dei razão ao homem. De fato, se a égua não estiver com sede, ela não beberá agua, por mais que seu dono insista, lhe bata, esbreveje, ou mande-a plantar batatas. Mas, se ela estiver com sede, beberá por vontade própria até toda a água do ribeirão, se tiver barriga para isso.
      Como vocês, meus netos, sabem, eu fui professor durante trinta anos e, quase sem querer, apliquei a frase do Rubem Alves à educação de hoje em dia. Deste jeito: é muito fácil obrigar ou levar o moleque (ou a moleca) à escola. O difícil mesmo é convencê-los a aprender aquilo que eles não querem ou que não lhes interessa.
      Então, comecei a pensar que as escolas nos dias de hoje fazem com seus alunos o mesmo que o dono da égua queria fazer com ela: os professores tentam fazer os alunos beber uma água que eles não querem beber. No meu tempo de estudante - já lá vão bem uns sessenta e tantos  anos -  os professores da época também tentavam muitas vezes me empurrar goela abaixo muita coisa que eu não queria aprender. O resultado é que não aprendi essas tais coisas, e ainda por cima peguei raiva dos tais professores...
      Que vocês, meus netos, como todos os bons alunos, sempre estiveram doidos para aprender tudo quanto puderem, disso não tenho a menor dúvida. Mas o que é que vocês, quando alunos, e as crianças em geral em fase escolar, quereriam aprender?
      Aqui em frente de minha casa existe uma escola do ensino fundamental, eu fiz amizade com uma professora de lá e temos batido longos papos sobre educação. Certo dia, conversa vai, conversa vem, ela me passou uma lista de perguntas, que seus alunos fizeram espontaneamente, e queriam uma resposta sincera dela. Pois aqui vão as perguntas:

      - Se a Terra é redonda, quem mora na parte de baixo anda de ponta-cabeça?
      - Por que o céu parece azul?
      - Quem foi o infeliz que inventou a escola?
      - Por que os homens têm barba e as mulheres não têm?
      - Quem nasceu primeiro: o ovo ou a galinha?
      - Um cego sabe o que é uma cor?
      - Se na tal arca de Noé havia muitos animais selvagens, por que um não comeu o outro?
      - Por que a chuva cai em pingos e não tudo de uma vez?
      - Como é que as crianças antes de nascerem entraram na barriga da mãe?
      - Por que existe gente negra?

      Pois é, estas foram as perguntas que os alunos das primeiras séries do curso fundamental fizeram e entregaram à sua professora. E a professora, que por ser muito inteligente leva sempre a sério as perguntas de seus alunos, antes de responder às questões propostas por eles, resolveu fazer a mesma coisa com os professores, seus colegas. Pediu-lhes que colocassem no papel as dez perguntas que gostariam de lhe fazer. E fiquem vocês sabendo que os professores só fizeram perguntas que tinham relação com as matérias que ensinavam em sala de aula.
      E eu então, lembrando-me da frase inicial do Rubem Alves, pensei lá comigo mesmo: as perguntas que os professores fizeram nos revelam o ribeirão aonde eles querem ir beber água...
      Leiam de novo com bastante atenção as perguntas feitas pelos alunos, e vocês verão que elas mostram uma sede muito grande de conhecimentos. Eles querem beber água de rios, de lagos, de fontes, de minas, de chuva, de poças de água, até do mar, se fosse possível... Já as perguntas feitas pelos professores revelam que eles perderam a curiosidade infantil, e estão felizes com a água do ribeirão de sempre! Ribeirões diferentes, águas de outras fontes, os assustam, por medo de se afogarem... E tem mais: as perguntas deles não eram sinceras, pois por serem professores, já sabiam as respostas! Suas perguntas eram apenas a repetição da mesma trilha batida todos os dias, que levavam sempre ao mesmo ribeirão! Rotina do dia a dia...
      Hoje, aposentado, com muito tempo para ler e escrever, me lembro que, quando professor, eu vivia muito preocupado com aquilo que as escolas faziam com as crianças. Felizmente agora, já velho e careca, mas não gagá, estou preocupado é com aquilo que as escolas fazem com os seus professores. Os professores que fizeram as perguntas já foram crianças. Quando crianças, tenho certeza de que suas perguntas foram outras, muito mais intrigantes, porque seu mundo era outro. Foi a instituição, essa coisa chamada escola, que lhes ensinou a eles, professores, a maneira que entendia correta de beber água: cada um no seu próprio ribeirão, sempre da mesma maneira, muito direitinho, como mandam as regras!  Mas saibam vocês, meus netinhos, que as instituições, entre elas a escola, são criações humanas e, por isso, sujeitas a muitas imperfeições e até a erros. Podem e devem ser mudadas, para melhor. E, se de fato as escolas forem mudadas, os professores aprenderão o prazer imenso que é beber água de muitos outros e diferentes ribeirões, e assim voltarão a fazer aquelas perguntas importantíssimas que fizeram no seu tempo de crianças...
      E termino, dizendo a vocês que não tenham medo de fazer todas as perguntas que andam fazendo cócegas na curiosidade de vocês, e que ficam girando dentro de suas cabecinhas, exigindo uma resposta urgente e honesta de seus pais, professores, e por que não? de seus avós "corujas"!
      Sejam muito felizes!
     
     

segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

SAUDADES DA RAQUEL - MEDITAÇÃO SOBRE A MORTE




       Entramos, neste janeiro, no terceiro ano desde que minha filha Raquel se despediu deste mundo e partiu para a Casa do Pai de todos os pais.
      Rememorando este fato, tenho a firme convicção de que no cerne da Fé cristã está a convicção de que, quando a morte é aceita em espírito de Fé, como foi o caso de minha filha, quando a vida inteira está orientada pelo dom de si  de maneira que no fim da vida ela é entregue de volta, pronta e livremente nas mãos de Deus Criador e Redentor, a morte se transforma em plenitude.
      A vitória sobre a morté é obra do amor. Não é fruto de nossa própria virtude heróica, e sim da participação no amor com que o Senhor Jesus aceitou a morte que Lhe foi imposta, na cruz. Isto não se torna patente à nossa razão imperfeita e falível. É precisamente do domínio da Fé.
      Mas o cristão é alguém que crê que, quando uniu sua vida e sua morte ao dom que Cristo fez de Si mesmo na cruz, encontrou não apenas uma resposta dogmática a um problema humano e uma série de gestos rituais que confortam e aliviam a angústia. Acima disso, foi-Lhe concedida a graça do Espírito Santo.
       Consciente dessta verdade, o cristão não vive mais sua existência de condenado e decaído, mas vive a vida eterna e imortal que lhe é dada, no Espírito, por Cristo. Vive em Cristo.
      O que vem depois da morte não se torna, ainda, claro, em termos de lugar de repouso (um cemitério celeste?) ou um paraíso de recompensas.
      O cristão não se preocupa, em realidade, com uma vida dividida entre este mundo e o outro. Preocupa-se com uma vida. A vida nova do homem (Adão = todos os homens) em Cristo e no Espírito, tanto agora como depois da morte. Não pede uma planta de sua mansão celestial. Procura a Face de Deus e a visão dAquele que é a vida eterna (Jo 17,3).
      Encontrei no livro do monge cisterciense norte-americano, Thomas Merton, um poema de Rumi, poeta persa do século XIII, que fala sobre a morte, mostrando que nossa atitude em face da morte é, na realidade, um reflexo de nossa atitude para conosco e para com a vida. Quem ama realmente a vida e a vive em plenitude pode aceitar amorte sem tristeza.
      Diz ele que a pessoa que considera a morte como um lobo voraz desvia-se do caminho da salvação. Para cada um, a morte é da mesma qualidade que essa própria pessoa, nem mais nem menos.
      Será uma consolação?!

domingo, 6 de janeiro de 2013

E POR FALAR EM PODAR...


      Nesta semana que passou, funcionários da Prefeitura estiveram no meu bairro, podando as árvores que embelezam e dão sombra às ruas. Isto me fez recordar de um fato acontecido comigo, quando moleque, ainda residindo em Poços de Caldas.
      Certo dia, de manhã cedo, vi um cidadão com uma tesoura enorme nas mãos, junto a uma árvore frondosa e muito bonita, principalmente pela sua sombra, bem diante de minha casa. Toda tarde minha mãe gostava de sentar-se num banco rústico, à sua sombra, na interminável tarefa de fazer crochê.
      Pois é. O funcionário da Prefeitura, com a sua enorme tesoura, começou a cortar os galhos mais tenros e bonitos da árvore. Reclamei, agarrei-o pelo braço. Ele sorriu para mim e me disse que depois de um mês eu iria ver o resultado do que tinha feito.
      De fato, algum tempo depois, a árvore estava bem diferente, parecia-me mais cheia de vida... E foi assim, conforme as palavras do homem, que eu consegui aprender o segredo das podas...
      Hoje, às vésperas de completar 77 anos, ao ler um texto da Bíblia, em que o Criador poda justamente os galhos que dão frutos, entendi, aceitei as palavras evangélicas, porque eu já sabia o efeito da poda...
      E comecei a refletir, com os meus botões, como se costuma dizer:
      Por que todos nós, mesmo os que se dizem cristãos e frequentam a igreja, temos a tentação de imaginar que todos os males que acontecem conosco são castigos de Deus? Por que não pensar que Deus permite sofrimentos físicos e morais, como o agricultor que poda suas árvores frutíferas para que produzam mais?
      Por mais que o sofrimento nos desnorteie, por mais que certos sofrimentos pareçam absurdos e revoltantes, como o falecimento precoce de minha filha Raquel, temos que nos agarrar firmemente a dois cabos de aço: Deus existe, e Deus é Pai de todos os pais que sofrem a perda irreparável de um filho.
      Quando isto acontece, ficamos como que não vendo nada, não entendendo nada. Ficamos como árvores, carregadas de folhagem, cheias de vida, e que, depois da poda, se reduzem a galhos secos, que lembram braços esqueléticos que se erguem para o alto, pedindo explicações a Deus.
      Quando encontramos pessoas esmagadas assim - como minha neta Isabela, menina tornada órfã pela morte da mãe - quando encontramos criaturinhas inocentes, em cima de uma cama de hospital, cansadas de sofrer, não é bom que a gente se meta a dar explicações que não explicam nada, e deixam a pessoa que está sofrendo mais esmagada ainda...
      Em horas assim, nada como uma presença silenciosa, de quem faz sentir, sem palavras, como está acompanhando, como está sofrendo junto...
      No sepultamento de minha filha Raquel, eu não consegui me aproximar do túmulo onde ela estava sendo sepultada.  Sentei-me a um banco, a certa distância, e ali fiquei, chorando e sofrendo silenciosamente. Aí então um antigo vizinho e amigo, o senhor João, hoje Ministro da Eucaristia na minha paróquia, sentou-se ao meu lado e ali ficou durante todo o tempo do sepultamento, concentrado, sem dizer palavra. E até hoje eu sou-lhe grato por isso, porque qualquer palavra que ele dissesse não amenizaria a minha dor, mas a sua presença, silenciosa, compartilhando de minha tristeza,  foi como que um bálsamo para minha alma que sofria.
      Refletindo agora sobre esse fato, considero que em momentos assim, é mais fácil, baixinho, sem palavras, em pensamento, falar do nosso sofrimento a Deus, do que  meter-se a falar de Deus a quem está ali sofrendo.
      E repito aqui uma prece que me acostumei a fazer quando a lembrança de minha falecida Raquel me tortura a alma:
      Ó Deus, Pai de todos os pais, não permitas que um outro pai, sofrendo, guarde a impressão de que não és Pai. Quando a pobre criatura humana já não aguenta mais, quando estiver desesperada, em risco de enlouquecer, Tu, que és também Pai, tens um milhão de meios de provar que não estás distante, indiferente, surdo e mudo por detrás das nuvens. Faze-me compreender que Tu estás perto, pertinho, pertíssimo, e que nunca, em instante algum, deixas de ser Pai!

sábado, 5 de janeiro de 2013

O DIA DE SÃO NUNCA


      Antes de entrar propriamente no meu texto, conforme a epígrafe acima, gostaria de fazer uma ligeira observação sobre o texto assinado por meu filho Carlos, "A caminho do inferno", em seu blog da Vida Eterna.
      Para começar, é preciso refletir um pouco nessa palavra "inferno". Nos originais gregos do Novo Testamento (eu os tenho na minha mesa de trabalho) ela não aparece nunca, mas  apenas quando  traduz a palavra grega "Hades", ou a hebraica "Sheol", em algumas edições em língua portuguesa. Mas o hades dos antigos gregos e a hebraica sheol não têm nada a ver com o que hoje entendemos por "inferno", na teologia cristã.
      Em segundo lugar,  gostaria de propor uma questão: segundo o que se entende por "inferno", trata-se de um castigo reservado aos que morrem impenitentes e, por isso, seriam merecedores das penas do inferno. Conforme o entendimento  que se tem por condenação ao inferno, esta condenação seria por toda a eternidade. 
      Ora, como conciliar a vontade salvífica universal de Deus com uma penalidade estendida por toda a "eternidade", por um pecado cometido no "tempo" em um momento de fraqueza ou inadvertência do pretenso pecador ou pecadora? Como conciliar um tempo, transitório, com uma eternidade, para sempre?
      Será que homens e mulheres são melhores que Deus? Na justiça dos homens, um criminoso, por mais terrível e cruel que seja, a justiça nunca  lhe imputará uma prisão absolutamente perpétua, pois existem mil e uma atenuantes na Lei que lhe possibilitarão recursos e atenuação da pena. Será a lei humana melhor que a lei atribuída a Deus?
      Se um pecado é cometido no "tempo", ele, ser for punido, a  eventual punição  deverá acontecer dentro do "tempo", e não dentro da "eternidade". É uma coisa lógica, mesmo para o pensador mais obtuso.
      Voltando ao "dia de São Nunca": apesar do peso às costas dos meus 76 anos (ainda neste mês chegarei aos 77),  não estou gagá e nem perdi um átimo de minha memória.  Lembro-me perfeitamente que nos meus dias de infância, na pequenina cidade de Caldas, perdida lá no sul de Minas, quando fazia um pedido a meu pai ou à minha mãe, se eles não pudessem atendê-lo, invariavelmente me respondiam: - Só no dia de São Nunca!
      O engraçado é que, ouvindo essas palavras, eu corria à "folhinha" para ver quando é que aconteceria tal dia... E sempre me via frustrado, porque nunca o encontrei.
      Por isso, gostaria de pedir aos pais e aos adultos de modo geral, que não falem mais em São Nunca. Não liguem a idéia de Religião a obstáculos intransponíveis. Nossa gente tem uma inata tendência para o fatalismo...
      Botem na cabeça, crianças do Brasil: não existe São Nunca. O impossível não nos deve assombrar, nem causar-nos desilusão.
      Meu velho pai, já falecido, tinha uma frase que até hoje gosto carinhosamente de recordar. Dizia ele:
      - Possível é o que se faz brincando. Impossível é o que custa um pouco mais."  
      Os pessimistas diziam: - Nunca nenhum Homem dobrará o Cabo das Tormentas, ali na ponta inferiorr  da  África. Pois é: os heróicos navegadores portugueses o ultrapassaram, e ele virou Cabo da Boa Esperança.
      Oa pessimistas de carteirinha ainda agouravam: - Nunca o Homem conseguirá elevar-se no ar, pois ele nunca será um pássaro.   O nosso brasileiríssimo Santos Dumont deu asas ao Homem e hoje, ultrapassamos, rindo e com a maior facilidade, a barreira do som, em aeronaves de todos os tipos.
      E continuam os pessimistas a sua arenga: - Nunca será possível se fazer ouvir de uma Cidade à outra, e ainda menos de um a outro Continente. Engano total. Hoje, o telégrafo, o rádio e a TV levam com a maior facilidade, a voz humana, a imagem e os sons em geral aos mais distantes pontos da Terra.
      Mas os pessimistas nunca desistiam: - Jamais o Homem se arrancará da Terra para atingiar a Lua ou qualquer outro corpo sideral... E milhões de espectadores, em todo o mundo, viram o Homem caminhando tranquilamente na Lua...
      Ninguém mais duvida que seja questão de dias ou meses o desembarque pelos planetas afora, até aqueles que, por enquanto, nos parecem os últimos, os mais distantes do cosmos imenso.
      Depois de o Nunca,  tantas vezes, ter sido vencido, eu me ponho a rir diante da audácia com que muitas pessoas continuam descobrindo situações que parecem impossíveis e que rotulam de Nunca...
      É por isso que eu costumo sempre dizer e repetir aos pessimistas de todos os quilates:
      Vamos acabar com essa história de São Nunca. Longe de ser ligada ao fatalismo, a pretensos obstáculos intransponíveis, a barreiras impossíveis de ultrapassar, a Religião, bem entendida e vivida, será para todos nós uma força libertadora. Pelo poder recebido de Deus e pela Sua Graça, nada há impossível, nem Nunca para o Homem e para a Mulher de boa vontade!...

quinta-feira, 3 de janeiro de 2013

CORAÇÕES AO ALTO!


      Sempre que vou à Missa na paróquia de meu bairro, gosto de ouvir as palavras do celebrante, muito sugestivas: "Corações ao alto". E fico pensando comigo mesmo:
      Corações a elevar-se? Claro que sim. Basta raciocinar um pouquinho, observar o mundo ao nosso redor, para perceber que há corações cheios de travo, de revolta, de ódio. Ora, tudo isto pesa terrivelmente. Além de que é muito pesada a inveja! Pesado também é o orgulho. E pesa muito mais ainda o egoísmo, a soberba e a vaidade... Sem esquecer o peso enorme da mentira!
      Pesa também, de maneira horrível, o coração que perdeu a razão de bater, que perdeu a esperança. Dependesse dele, e já teria parado, definitivamente.
      O coração avaro, egoísta, se afoga quase sempre nos cuidados com o dinheiro, com o amor próprio, com lucros, sempre maiores a obter, com economias a realizar, de tal modo que um terrível emaranhado de preocupações o prende, a ponto de ser-lhe impossível elevar-se para o alto: "corações ao alto"!
      Felizmente, há corações que sobem a dois, ajudando-se e estimulando-se mutuamente...
      Infelizmente, porém, há corações tão vazios, tão egoístas, tão sem amor, que flutuam como flocos de algodão ao vento: não chegam a subir, porque qualquer brisa mais forte os arrasta para longe...
      Tais corações me fazem lembrar das esponjas de meus tempos de magistério: de tanto apagar um quadro-negro da sala de aula, cheio de giz, elas continuavam sempre secas... tão secas como tantos corações por aí...
      Há corações que parecem um bloco de gelo, tão insensíveis que são. Outros, se assemelham a uma pedra, pela sua dureza. Alguns, se tornam como que metálicos, de tanto se preocupar com dinheiro!
      E o meu coração, costuma elevar-se para o alto? E os corações em volta de mim?
      Creio que é necessário aprender como dar asas a tais corações, ajudando-os a elevar-se para o alto, com mais facilidade e rapidez, tornando-os alados como um pássaro...
      Como fazê-lo? Com a oração, a prece, brotada de dentro da alma, como nos ensina o Evangelho - sem que ninguém saiba - com gestos de autêntico amor ao próximo, no dia a dia de nossa vida.
      Corações ao alto! Cada vez que nos lembrarmos desta exortação ouvida durante a Missa, lembremo-nos também das pessoas que vivem com corações na fossa, corações sem ânimo, sem esperanças, sem razão de viver.
      Corações ao alto! Que esta expressão seja, em nossos lábios, uma prece para que todos os corações de todos os nossos irmãos se ergam, se elevem para Deus, nosso Criador, nosso Pai e Pai de todos os pais!


quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

O PAPA E O CAPITALISMO SEM REGRAS


      Em sua mensagem de ano novo, o Papa Bento XVI disse esperar que 2013 seja um ano de paz. Ele afirmou também que o mundo está sob ameaça de um capitalismo sem regras, do terrorismo e da criminalidade.
      O Papa, de 85 anos, participou de uma Missa na Basílica de São Pedro, no dia em que a Igreja Católica celebra o Dia Mundial da Paz. No fim da Missa, ele discursou para milhares de pessoas na Praça de São Pedro.
      "Um novo ano é como uma viagem. Com a luz e a Graça de Deus, pode ser o começo de um caminho de paz para cada pessoa, família, país, para o mundo inteiro",  disse, na janela de sua residência que dá para a praça.
      Milhares de pessoas que haviam participado de uma passeata pela paz até o Vaticano soltaram balões azuis enquanto o Papa falava.
      Antes, no sermão, o líder da Igreja Católica falou da tensão e do conflito causado pela desigualdade social entre ricos e pobres. Ele denunciou o "egoísmo" e o "individualismo" do Capitalismo desregulado.
      Na sua mensagem para o Dia da Paz, Bento XVI pediu um novo modelo econômico e regras éticas para o Mercado, dizendo que a crise financeira global é uma prova de que o Capitalismo não protege os mais fracos da sociedade.
      Para o Papa, uma relação pessoal com Deus pode ajudar a enfrentar a escuridão e a angústia, que também caracterizam a existência humana.
      Palavras sábias, as palavras do velho Pontífice.

terça-feira, 1 de janeiro de 2013

O MISTÉRIO DE SEMPRE - A PASSAGEM DO TEMPO


      Ao jogar fora o calendário do ano de 2012 que passou, eu me dou conta do mistério do tempo e da eternidade. O ano que acabou de passar, fração importante de minha vida também passageira, será contado  como positivo diante de Deus, ou terá ido também para a cesta de lixo, como o velho calendário?
      A grande Arte da vida consiste em transformar o tempo passageiro em convite para uma eternidade feliz.
      O ideal, me parece, é nem preocupar-me com o tempo que passou (deixo-o  à Misericórdia de Deus), e nem preocupar-me com o novo tempo que se inicia, mas entregá-lo à Providência Divina.
      Bom mesmo é aproveitar o presente. Fazer com que ele renda o máximo, fazendo o bem, pois isto me fortalecerá o crescimento interior.
      Será correto, a pretexto de aproveitar o tempo, não ter grande cuidado com o necessário descanso, sem ter jamais tempo para um papo com os amigos, um sadio contato com a Natureza, um mergulho em um bom livro, ou numa música que me fale ao coração?
      Claro que não é correto. De que me adianta esticar demais a corda da vida?... Trabalhar sem parar, andar em perpétua correria, em perene disparada, tudo isto é desgaste, é empobrecimento, é anti-vida.
      Mesmo que a vida seja muito dura, é preciso descobrir meios, inventar um jeito de descanso principalmente espiritual, cujo ponto mais alto, sem dúvida nenhuma, é a conversa diária com Deus.
      Mas, se trabalhar sem parar não é inteligente, viver sem trabalhar, sem fazer nada, deixar o tempo correr inutilmente, sem o mais leve esforço para aproveitá-lo, é menos inteligente e ainda cansa mais.
      Bom mesmo é ter um calendário, uma folhinha de mesa, para ir desfolhando a cada dia... Como seria bom que, ao arrancar a folhinha do dia que passou, tivéssemos sempre a alegria de sentir que foi um dia bem vivido, bem aproveitado, dia que valeu a pena! Dia gasto em fazer o bem. Dia sem maldade, sem ódio, sem egoísmo, sem fingimentos.
      Feliz de quem vive dias cheios! Dias cheios, e não dias abarrotados. Cheios, e não atravancados de coisas inúteis.
      Dias cheios, dias plenos, destes que atraem sobre nós as bênçãos de Deus!
      São dias como estes, plenos da Graça de Deus, que eu desejo aos eventuais leitores deste blog, no novo ano que se inicia! Feliz ano de 2013 a todos os meus irmãos, espalhados por este vasto mundo de Deus!