domingo, 13 de janeiro de 2013

SERIA MUITO BOM SE EU PUDESSE...,


      Oh! Como seria bom se eu pudesse:
      Se eu pudesse, com toda certeza faria voltar os bondes, que nos meus tempos de estudante na capital dos paulistas, eram o meu meio de condução predileto nas minhas idas e vindas, toda tarde, ao ou do Colégio...
      Se eu pudesse, voltaria no tempo e contrataria aquelas belas charretes puxadas por garbosos cavalos, que me levavam a passear nos bairros elegantes de Ribeirão Preto, SP, quando ali estudava no Seminário Diocesano Maria Imaculada...
      Se eu pudesse, agora morador da bela e fria Curitiba, à noite, de volta do passeio pelas ruas do Tingui, ao encontrar pessoas que me parecessem desanimadas de tudo e de todos, eu arranjaria rodas de crianças, como fazia na minha infância feliz, que cantassem para esses desanimados da vida:

      Sozinho eu não fico
      nem hei de ficar
      pois uma destas "minas"
      há de ser o meu par...

      Se eu pudesse, na hora mais dura do sepultamento de minha filha Raquel, quando o seu caixão era colocado terra a dentro, eu faria com que voasse sobre as cabeças dos presentes uma revoada de passarinhos, lembrando a sua ressurreição na morte, como é a Fé que me mantém ainda vivo até hoje...
      Se eu pudesse, pertinho das casas em que houvesse pessoas doentes, ou que estivessem se sentindo sós e abandonadas, eu haveria de cantar-lhes uma destas canções que não morrem, tão presentes no cancioneiro popular brasileiro:

      Sempre em meu coração
      Eu sei e Você sabe...
      Faz tanto tempo e eu me lembro sempre...

      Com toda certeza, acompanhando-me nesta canção, serviria algum instrumento bem tocado, bem bonito, bem saudoso, um violão dedilhado pela minha neta Isabela, um bandolim dos antigos, uma flauta, e por que não uma clarineta?
      Ao lado de minha casa tenho uma vizinha que parece ter o dom do pressentimento: ela sente que eu estou sofrendo, com saudades de minha falecida filha Raquel, e que gostaria de ouvir uma sonata triste daqueles compositores românticos que nos falam à alma, e então ela improvisa em seu piano uma página musical cheia de mensagens de harmonia, de beleza e de paz...
      Se eu pudesse, na caminhada de muitos desses solitários homens moradores de rua, que eu conheço, à noite faria surgir para eles, nas marquises debaixo das quais eles tentam dormir, vagalumes alumiando suas noites, ou então gostaria que uma cigarra, com seu canto estridente, lhes quebrasse a solidão...
      Se eu pudesse,  faria que todos os dias, à hora em que  me sentisse sozinho, triste, lembrando meus mortos queridos,  todas as igrejas de Curitiba, tocassem seus sinos, convidando-nos a pensar em Deus, a rezar... Aliás, a hora dos sinos a tocar sempre me pareceu uma hora marcada pela Graça de Deus...
      No cair da noite, até as pedras do calçamento em minha rua parece que perdem a costumeira aspereza, como também os enormes conjuntos habitacionais do bairro não dão mais a impressão de que esmagam a gente: nesse momento eles como que se harmonizam, perdem de todo a sua agressividade...
      Se eu pudesse, retornariam as velhas bandas de música de minha infância no interior de Minas: elas toda tarde sairiam pelas ruas do bairro, tocando retretas saudosas nas pracinhas apinhadas de gente... há "dobrados" que fazem os pelos de nossos braços ficarem eriçados de incontida emoção...
      Se eu pudesse, e tivesse poderes para isso, de vez em quando estenderia no céu o arco-íris, e descobriria um jeito do arco-íris aparecer de noite, que é quando me ataca a saudade de minha filha falecida, a para sempre Raquelzinha, para mim e minha neta Isabela, sua filha adolescente...
      Se eu pudesse, daria a esse mesmo arco-íris a força mágica de desfazer ódios, malquerenças, intrigas, divisões, de maneira que ele, com a ajuda de Deus, se tornasse de fato um sinal de entendimento, de amizade e de paz entre todos os homens e mulheres deste nosso mundo, tão carente de Deus...
      Ah! Se eu pudesse!...
      E se Você, eventual leitor deste despretensioso blog, se Você pudesse, o que aconteceria?...

     

     

       

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