- "Jesus, vindo a este nosso mundo, tomou o corpo humano, a fisiologia humana, a economia da pobreza, o modo de vida das classes inferiores, o burrico para cruzar as estradas palestinenses, a poeira das viagens a pé; o tipo social seminômade: pescadores e pastores; os pratos de peixe e o pão de cevada, o cansaço do apostolado." (Malègue, em "Augustin ou le Maître est là").
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A partir destas palavras de Malègue, que acabei de ler e traduzir em citação de Charles Moeller ("Littérature du XXe. Siècle et Christianisme"), pude compreender que a sensibilidade contemporânea se compraz especialmente em colocar em relevo, na vida de Jesus Cristo, tudo o que pode lançar luz sobre a realidade da Sua humanidade.
É muito salutar a meditação sobre os sofrimentos físicos do Salvador, mas também, e talvez sobretudo, nos sofrimentos espirituais da sua alma de homem: a amargura de uma obra humanamente fracassada; o abandono, tanto o dos homens, naturalmente, e também o de Deus; e, como disse um autor, "a cruz sobre a cruz, a morte na morte".
Homem e mulher modernos, vivendo um século marcado pela violência do terrorismo em várias partes do mundo, gosta de encontrar um Cristo trágico: basta ver a obra do pintor francês Rouault que, através das inumeráveis máscaras da miséria e da solidão, este artista compôs nos vitrais de muitas igrejas européias, onde vemos lentamente perfilar-se a imagem do Rei da dor e do sofrimento sem par.
A imagem de Cristo a nós deixada por Rouault, como nos mostra o álbum de suas obras, retrata em Jesus uma meiga profundidade numa imensa tristeza, que nos comove até à alma, ao contemplá-la.
O cristão do nosso tempo é muito sensível a esta experiência da solidão de Deus: o silêncio do Deus que sofre pesa sobre ele; quando Jesus crucificado murmurar - "Meu Deus, meu Deus, por que me abandonaste?" - o cristão torna a encontrar no Salvador, que é Filho de Deus, quase que a mesma solidão e sofrimento. E nada disto é "teatro", mas uma realidade, misteriosa sem dúvida, mas autêntica.
Meditando nos abismos da Santa Humanidade de Deus, em Jesus Cristo, atingimos uma das verdades essenciais da doutrina bíblica sobre o Verbo encarnado: o realismo integral da natureza humana assumida, corpo e alma, e a verdade total das Suas atividades e vontades humanas, asseguram o realismo da redenção.
É pela santa humanidade de Jesus, diz-nos a Teologia, que as fontes da Graça de Deus brotam em nós. Jesus, sofrendo realmente em Seu corpo e Sua alma, torna-se totalmente confraternal conosco, segundo a vigorosa expressão de São Paulo. Basta olhar este Cristo-homem em Sua vida, para entrever com claridade os abismos do amor de Deus.
É nessa humanidade padecente que se ocultam os tesouros da divindade; é ali, e não em outra parte, que homem e mulher devem procurar a fonte da vida. Deus se faz pobre, em Jesus, para que homem e mulher se tornem ricos. Aquele que ama reveste a condição daquele a quem ama, sim, mas para encher essa condição de todo o poder do Seu amor. Assim fez Deus.
Eis porque quando o nosso Grande Sacerdote, Jesus, lança o terrível grito de que fala a "Carta aos Hebreus", quando Ele geme, invocando Seu Pai; quando se convence, padecendo, do que é a obediência, nesse momento mesmo Ele descerrava o véu e nos levava a todos com Ele, até ao tabernáculo da divindade.
Riqueza na pobreza, divindade na humanidade, alegria na angústia. Assim é Jesus Cristo, o nosso Redentor!
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"Se eu pudesse, na hora mais dolorosa
do sepultamento de minha filha Raquel,
quando o seu caixão mortuário
era colocado túmulo a dentro, eu faria
com que voasse sobre os presentes
uma revoada de andorinhas, lembrando
a sua ressurreição na morte, como é
a Fé que me mantém vivo até hoje...
Oh! como seria bom se eu pudesse!"
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"Se eu pudesse, na hora mais dolorosa
do sepultamento de minha filha Raquel,
quando o seu caixão mortuário
era colocado túmulo a dentro, eu faria
com que voasse sobre os presentes
uma revoada de andorinhas, lembrando
a sua ressurreição na morte, como é
a Fé que me mantém vivo até hoje...
Oh! como seria bom se eu pudesse!"
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