sábado, 28 de dezembro de 2013

A DIFICÍLIMA ARTE DO BOM FALAR


          Na porta de entrada de uma casa vizinha há uma vinheta de muito bom gosto com esta singela frase:

          - "Falem! - Alegres, rindo,
              mas sem ferir a Caridade,
              nem a Humildade,
              nem a Discreção!"

          Agradou-me, bastante, o convite a ser espontâneo, natural, o convite a falar e a rir...
          Quando nos sentimos à vontade, geralmente falamos, como se diz, pelos cotovelos... Falando de minha própria experiência, quando tenho algum problema com alguém, ou quando ando mal-humorado, "na fossa",  - meu solícito Anjo da Guarda! - que dificuldade para falar! Confesso que nessas ocasiões, cada vez mais frequentes nestes meus pesados 78  anos, estou ficando perigosamente "monossilábico":
          - "Sim", "Não", "Talvez", "Pode ser"...
          As palavras, me parece, acabam ficando como que arrancadas a sacarrolhas!
      Seria muito bom o conselho de não deixar que as pessoas ao meu redor paguem pelas minhas contrariedades, meus problemas pessoais, meu mau humor constante, quase sempre sem motivo!
          O ideal que eu deveria esforçar-me por alcançar: - Falar sem ferir a Caridade!
          Você, heróico leitor deste mal ajambrado blog, já reparou como rara é a nossa conversa em que alguém não seja "tesourado?!...
          O lamentável é que às vezes, ou melhor, muitas vezes, a tesoura da maledicência desce fundo e rasga forte! Não raramente a reputação alheia é estraçalhada, com a maior leviandade, sem que haja nenhuma certeza do que está sendo dito contra ela...
          E mesmo que o  fato seja plena verdade, quem me autoriza a despir uma criatura diante dos outros?!
          A verdade triste  é que frequentemente julgo, condeno, ataco, como se isto fosse virtude cristã, sem nenhuma sombra de falha! Parece muito difícil para mim falar sem ferir a Humildade!
          A conversa vai se animando e então, quase sem notar, saio contando e recontando minhas vantagens,  cantando e floreando meus feitos heróicos!...
          Falar e não ferir a Discreção seria mais fácil do que falar sem ferir a Caridade e a Humildade?
          Ledo engano!... Não é nada fácil, para mim, guardar para mim mesmo o que me é dito, mesmo com a condição de não ser passado adiante...
          E lembro que os três avisos constantes da vinheta na entrada da casa amiga, por mais importantes que sejam, ainda são avisos tentando evitar faltas contra a Discreção, contra a Humildade, contra a Caridade...
          Entretanto, creio sinceramente que é perfeitamente possível usar o dom divino da palavra procurando unir e aproximar irmãos e vizinhos, para alegrar a todos sem ferir ninguém e, em sociedade, sustentar a conversa dando vez aos mais tímidos e mais humildes...
          Está lá no Novo Testamento, no terceiro capítulo do Apóstolo Tiago. Vale a pena ler, reler e meditar o que ele escreve sobre o hábito de dar na língua...
         Nosso povo costuma dizer que certas pessoas precisariam ter sempre à mão dois cartões: um para o controle do corpo e outro, muito maior, para o controle da língua!...
         Felizes daqueles que merecessem escutar e refletir sobre o lembrete bíblico:
         - "Usaste tua língua de modo adequado. Nem falaste a mais, nem a menos. Louvaste teu Criador e Pai. Fizeste de tua língua um instrumento de paz e de amor!..."

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(O titular deste blog é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista).

profatalmeida@gmail.com

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