terça-feira, 31 de dezembro de 2013

REFLEXÕES AO PÉ DO FOGO


          "Reflexões ao pé do fogo" é o novo livro que estou preparando, e que deve vir à luz até meados do novo ano que se inicia.
           São vinhetas breves, retratando momentos de minha vida ao sabor das circunstâncias, ao mesmo tempo em que rememoro fatos de antanho, que me deixaram  marcas profundas e que até hoje condicionam muita coisa que penso e que executo, nem sempre correspondendo integralmente com a vida de cristão católico que eu deveria viver, mas que infelizmente não vivo.
            Em todo caso, quero trazer a público tais experiências que informararm os meus setenta e oito anos de existência,  simplesmente com a finalidade de massagear meu amor próprio e levar até meus netos alguma coisa que os faça conhecer um pouco mais da jornada de seu carcomido avô pelos caminhos da vida.

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            A meditação que fiz hoje, ao levantar-me às seis horas da manhã, sozinho há quatro dias em casa, já que minha esposa e neta se encontram em merecidas férias no litoral do Estado:
            "Aqueles ou aquele (no meu caso) a quem Deus pede a mais perfeita esperança têm a obrigação de olhar mais de perto os seus pecados. Quero significar com isto que devo deixar o Senhor focalizar Sua luz e Sua Graça sobre os mais escuros recantos de minha alma pecadora."- palavras do monge cisterciense norte-americano, Thomas Merton.
            Minha responsabilidade perante meus próprios pecados é muito grande, e não tenho o mínimo direito de minimizá-los ou de tentar escondê-los debaixo do tapete. Fui criado numa família muito religiosa, tive uma irmã, Darcy, que foi freira franciscana, e meu irmão Valdir, e eu mesmo, passamos muitos anos estudando em seminários, mas nem ele nem eu conseguimos chegar ao sacerdócio, como pretendíamos (ou nossos pais pretendiam?). Meu irmão, porque faleceu prematuramente vitimado pelo câncer, e eu, não sei se por desígnio de Deus ou por malícia humana, fui acusado de comunista, e os superiores do seminário, por via das dúvidas, vetaram minha ordenação ao presbiterato.
            Neste início de ano e às vésperas de nova idade - setenta e oito anos - não me é lícito procurar demasiadamente esconder aquilo que eu, deveria de fato encontrar. Nem considero certo, neste momento, que eu tenha qualquer obrigação urgente de "encontrar" mais pecados em mim. Não certamente pelo temor de que eles me levem ao inferno, ou pelo menos, ao Purgatório, entidade esta em que eu, como católico, acredito, mas que é considerada lenda por muitos crentes que não acham para ele fundamentos na Bíblia Sagrada.
            Na verdade, não posso calcular quantos pecados me são ocultados por Deus, não por eventuais "boas obras" minhas, mas pela infinita misericórdia de Deus. Mesmo porque Ele os esconde a Seus próprios olhos!
            Apesar de tudo, tenho uma glória e uma esperança: sou parcela do Corpo de Cristo, a Igreja, e Cristo me ama e se une a mim em Sua própria carne. Será que não me basta isso? A realidade dolorosa, entretanto,  é que não vivo suficientemente, no meu dia-a-dia, esta verdade que pode salvar-me.
            Não! Que eu me contente com isso! - sussurra-me aos ouvidos algo ou alguém que não consigo identificar. - Basta-me a mediocridade de todo dia! - Continua a sussurrar-me a tentação.
            Apesar de tudo, tenho muito que agradecer a Deus, e  isto, repito, é a minha glória. Faço parte do Corpo de Cristo! Eu O encontrei porque Ele me procurou primeiro. Ele, Cristo, Filho Unigênito de Deus, veio ao mundo para fazer sua morada em mim, um pobre e obscuro pecador.
            Por essa razão nada mais tenho que procurar. Só posso voltar-me para Ele, ali onde Ele já está presente. Na Sua presença, devo aquietar-me, deixar minhas vãs preocupações de lado.
            Aquietar-me,  ver e crer que Ele é Deus!

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(O autor é bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, na Capital Paulista).

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sábado, 28 de dezembro de 2013

A DIFICÍLIMA ARTE DO BOM FALAR


          Na porta de entrada de uma casa vizinha há uma vinheta de muito bom gosto com esta singela frase:

          - "Falem! - Alegres, rindo,
              mas sem ferir a Caridade,
              nem a Humildade,
              nem a Discreção!"

          Agradou-me, bastante, o convite a ser espontâneo, natural, o convite a falar e a rir...
          Quando nos sentimos à vontade, geralmente falamos, como se diz, pelos cotovelos... Falando de minha própria experiência, quando tenho algum problema com alguém, ou quando ando mal-humorado, "na fossa",  - meu solícito Anjo da Guarda! - que dificuldade para falar! Confesso que nessas ocasiões, cada vez mais frequentes nestes meus pesados 78  anos, estou ficando perigosamente "monossilábico":
          - "Sim", "Não", "Talvez", "Pode ser"...
          As palavras, me parece, acabam ficando como que arrancadas a sacarrolhas!
      Seria muito bom o conselho de não deixar que as pessoas ao meu redor paguem pelas minhas contrariedades, meus problemas pessoais, meu mau humor constante, quase sempre sem motivo!
          O ideal que eu deveria esforçar-me por alcançar: - Falar sem ferir a Caridade!
          Você, heróico leitor deste mal ajambrado blog, já reparou como rara é a nossa conversa em que alguém não seja "tesourado?!...
          O lamentável é que às vezes, ou melhor, muitas vezes, a tesoura da maledicência desce fundo e rasga forte! Não raramente a reputação alheia é estraçalhada, com a maior leviandade, sem que haja nenhuma certeza do que está sendo dito contra ela...
          E mesmo que o  fato seja plena verdade, quem me autoriza a despir uma criatura diante dos outros?!
          A verdade triste  é que frequentemente julgo, condeno, ataco, como se isto fosse virtude cristã, sem nenhuma sombra de falha! Parece muito difícil para mim falar sem ferir a Humildade!
          A conversa vai se animando e então, quase sem notar, saio contando e recontando minhas vantagens,  cantando e floreando meus feitos heróicos!...
          Falar e não ferir a Discreção seria mais fácil do que falar sem ferir a Caridade e a Humildade?
          Ledo engano!... Não é nada fácil, para mim, guardar para mim mesmo o que me é dito, mesmo com a condição de não ser passado adiante...
          E lembro que os três avisos constantes da vinheta na entrada da casa amiga, por mais importantes que sejam, ainda são avisos tentando evitar faltas contra a Discreção, contra a Humildade, contra a Caridade...
          Entretanto, creio sinceramente que é perfeitamente possível usar o dom divino da palavra procurando unir e aproximar irmãos e vizinhos, para alegrar a todos sem ferir ninguém e, em sociedade, sustentar a conversa dando vez aos mais tímidos e mais humildes...
          Está lá no Novo Testamento, no terceiro capítulo do Apóstolo Tiago. Vale a pena ler, reler e meditar o que ele escreve sobre o hábito de dar na língua...
         Nosso povo costuma dizer que certas pessoas precisariam ter sempre à mão dois cartões: um para o controle do corpo e outro, muito maior, para o controle da língua!...
         Felizes daqueles que merecessem escutar e refletir sobre o lembrete bíblico:
         - "Usaste tua língua de modo adequado. Nem falaste a mais, nem a menos. Louvaste teu Criador e Pai. Fizeste de tua língua um instrumento de paz e de amor!..."

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(O titular deste blog é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista).

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segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

De Domini Nativitate secundum Lucam


        
          In diebus Caesaris Augusti exiit edictum ut describeretur universus orbis,  et ibant omnes  ut profeterentur singuli in suam civitatem.
          Ascendit autem et Ioseph a Galilaea de civitate Nazareth in Judaeam, in civitatem David, quae vocatur Bethlehem; eo quod de domo et familia David, ut profiteretur cum Maria desponsata sibi uxore praegnante.
          Factum est autem, cum essent ibi, impleti sunt dies ut pareret. Et peperit filium suum primogenitum, et pannis eum involvit, et reclinavit eum in praesepio: quia non erat eis locum in diversorio.
          Et pastores erant in regione eadem vigilantes, et custodientes vigilias noctis super gregem suum. Et ecce angelus Domini stetit juxta illos, et claritate Dei circumfulsit illos, et timuerunt timore magno.
           Et dixit illis angelus:
           - "Nolite timere: ecce enim evangelizo vobis gaudium magnum, quod erit omni populo: quia natus est vobis hodie Salvator, qui est Christus Dominus, in civitate David. Et hoc vobis signum: Invenietis infantem pannis involutum, et positum in praesepio".
            Et subito facta est cum angelo multitudo militiae caelestis laudantium Deum, et dicentium:
            - "Gloria in altissimis Deo, et in Terra pax hominibus bonae voluntatis."

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            Traduzindo:

            O NASCIMENTO DO SENHOR SEGUNDO LUCAS


          Nos dias (do imperador César Augusto) saiu um decreto ordenando o recenseamento de toda a Terra. Todos iam alistar-se, cada um em sua cidade. Também José subiu da Galiléia, da cidade de Nazaré, para a Judéia, a cidade de Davi, chamada Belém, porque era da casa e família de Davi, para se alistar com Maria, sua esposa, em estado de gravidez.
         Estando ali, completaram-se os dias para o parto, e ela deu à luz o filho primogênito. Envolveu-o em panos e o deitou numa manjedoura, por não haver lugar para eles na hospedaria.
         Naquela mesma região havia uns pastores no campo velando à noite, vigiando o rebanho. Apresentou-se-lhes um anjo do Senhor e a glória do Senhor os envolveu de luz e eles ficaram possuídos de grande temor.
         Disse-lhes o anjo:
         - Não temais, pois vos anuncio uma grande alegria, que é para todo o povo: Nasceu-vos hoje um Salvador, que é Cristo Senhor, na cidade de Davi. Este será o sinal: encontrareis o menino envolto em panos e deitado numa manjedoura".
         Imediatamente ao anjo se achegou uma multidão do exército celeste, que louvava a Deus, dizendo:
         - "Glória a Deus nas alturas, e paz na Terra aos homens por Ele amados". 
       
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Explicando:-

Nos meus tempos de Faculdade de Teologia, nos idos de 1960, o Grego e o Latim eram disciplinas curriculares e eu, não sei por quê cargas dágua, tornei-me apaixonado por essas duas línguas, e as cultivo até hoje. Leio a Bíblia Sagrada em latim, e o Novo Testamento em grego, sem maiores dificuldades. Este fato, aliás, faz parte de minha "higiene mental" nestes meus bem vividos 77 anos (78 em janeiro)... É conselho de meu médico geriatra, que me aconselhou a continuar com essa prática, pois ela fará muito bem à minha vida cerebral... Que Deus o ouça, e torne efetiva o conselho do médico. Aliás, mentalmente, considero-me mais lépido agora, do que nos meus tempos de Faculdade...


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domingo, 22 de dezembro de 2013

O DIA DE DAR PRESENTES!...




        
          Nestes dias que antecedem a comemoração do nascimento - Natal - de Jesus Cristo, a TV e a mídia escrita e falada bombardeiam nossos olhos e ouvidos com a mensagem cansativa e diuturna de que é tempo de dar (e receber) presentes...
          Presentes para a esposa, para os filhos, para os parentes. Presentes para todos quantos nos possam abrir uma porta para o êxito social ou profissional.
          Estou sabendo que os vizinhos da casa ao lado já estão comprando, me disseram. Minha mulher me falou que os vizinhos da direita também já compraram.
          Sei que é praxe. É costume. Esquecendo-se completamente do Natal do Nascituro em Belém de Judá, tornou-se moda fazer o que a deusa televisão e a mídia falada e escrita mandam e impõem ou, como se diz por aí, é prova de boa educação e sociabilidade.
         Todo mundo fica contentíssimo por entrar nessa equação consumista e desenfreada,  um costume, uma praxe,  um modismo social, que afirmam a boca cheia  ser necessário para que nos mostremos gente fina e bem educada.
        E trocam-se cumprimentos efusivos, e dão-se tapinhas amigáveis nas costas, e permutam-se presentes, e ouvem-se risinhos de satisfação e gritinhos de prazer, em meio a toda uma mistura de sofisticação e artificialismo, fruto de uma sociedade superficial, sofisticada e egoísta.
         Sociedade egoísta, sim. Pois não é Natal? E Natal não é festa dEle? Alguém por acaso neste dia se lembra dEle, ao menos por um momento? 
         - "Ele veio para o que era Seu, e os seus não O receberam."
         Estas palavras de terrível significado são o testemunho do evangelista João, que afirma não haver lugar para Ele na hospedaria. Negam-Lhe um lugar à mesa, entre a alegria dos comensais, homens e mulheres de todos os tempos.
         Com que eloquência fácil seria possível ampliar cada vez mais esta frase desoladora. Não há lugar para Ele. Nem na família, nem na escola, nem na fábrica, nem na política, no judiciário, nas instituições públicas, no mercado financeiro, na mídia, nem no recesso das almas pecadoras.
          No entanto, Ele não reclama, Ele vem para todos. Chegada a plenitude dos tempos anunciada pelos profetas de Israel, Ele toma carne de mulher, veste-se de pobre, empunha o bastão de peregrino, e bate a toda porta, pedindo um lugar à mesa.
           Escorraçam-No, lançam-No para fora, pois a festa precisa continuar. Aí está a orquestra a todo volume já esquentando o salão; as champanhas e champanhotas espoucando em todas as mesas; o uísque importado ou falsificado amenizando o gelo pesado dos corações e desfazendo naturais inibições.
           Que Ele apareça outro dia. Será que não percebe que Sua presença nesta hora festiva não vem facilitar as coisas? Será que Ele não vê que está nos constrangendo, nos inibindo, nos tirando a espontaneidade tão necessária para este evento social? 
           Convenhamos: é melhor mesmo que Ele se vá. Talvez nós O recebamos numa ocasião mais oportuna...
           E Ele, resignado, prossegue a Sua peregrinação pelas estradas do mundo. Ele sabe que outros, muitíssimos outros, aqui e em toda a vastidão da Terra, não hesitam em jejuar, passar horas em oração, privar-se até do necessário para repartir seu pão com o irmão faminto, na esperança,  talvez utópica, de abrir um espaço para Ele entre os comensais que agora O rejeitam.
           Ele sabe que entre as pessoas com quem cruza pelas praças e ruas - nos seus rostos convencionais e tristes, nos seus gestos automatizados, nos seus sorrisos amordaçados, no olhar que se desvia, na palavra que se engole - Ele sabe que aí poderá haver ainda Fé e boas ações. A seara hoje parece resumir-se num cipoal de espinhos e de joio, mas Ele, ceifeiro celeste que é, um dia percorrerá de novo os campos e recolherá o punhado de trigo bom que puder conseguir entre as urtigas.
           É que Ele conta e julga de maneira muito diferente de nós. E é nesta esperança que todos nós, homens e mulheres deste mundo tão carente de Fé, Esperança e Caridade, colocamos e aguardamos a nossa salvação.
           E é também nesta mesma esperança que minha esposa Cleusa, meus filhos Carlos, Aroldo Júnior,  Raquel e Júlio (estes dois já na Casa do Pai de todos os pais), minha neta adolescente Isabela, e eu, desejamos a todos os leitores deste blog um santo e gratificante Natal do Senhor Jesus!

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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da PUC, de São Paulo, Capital.

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sexta-feira, 20 de dezembro de 2013

OS CRISTÃOS E A FÉ


        
            Os cristãos ainda têm Fé?
         Muito se falou e ainda se fala, em certos meios, da "incredulidade dos crentes" e da sua "má consciência".
           A "mãe" do existencialismo francês, Simone de Beauvoir, companheira do também existencialista Jean Paul Sartre, dizia em seu tempo que os padres já não pregavam sobre o inferno "porque não acreditam mais nele."
           Seu julgamento parece-me um tanto quanto apressado, mas eu me atrevo a perguntar se a Fé viva de muitos  cristãos vai além de um certo deísmo abstrato, flanqueado por uma regra moral aceita com bastante má vontade, e por uma ordem social pela qual só se interessam quando a suspeitam ameaçada...
           Creio que é necessário voltar às fontes e perguntar a tais cristãos o que pensam eles sobre os três aspectos da Fé cristã, como aparecem nos manuais de Teologia:  sobrenatural, livre, e racional.                                                        Dentro do conceito de Fé: a Fé é sobrenatural, isto é, nos conduz a uma verdade transcendente e única, a de Jesus.
            Se creio que a Fé é sobrenatural, portanto é necessário colocar o Deus da revelação como centro, e não homem e mulher, ainda que tomados pelo entusiasmo mais ardente pelos tais muito falados "valores"
cristãos.
            Confesso que me inquieto com o naturalismo que perpassa pelo comportamento de muitos que se confessam seguidores de Cristo. Se a Fé é mesmo sobrenatural, ela deve inserir-se harmoniosamente numa natureza que a completa, mas sem a destruir.
            - " Para quê Deus?" - leio em livros de certos escritores. -"Separemos "os acontecimentos humanos" e "a Fé" -  dizem eles - porque afirmam que a realidade temporal deve ser servida por meios temporais, enquanto a Fé é uma questão puramente interna entre o crente e Deus.
            A Fé é livre,  entretanto muitos crentes têm a impressão do contrário. Acreditam que são constantemente  entravados por preconceitos de toda ordem, asfixiados por medidas acauteladoras, dizendo-se acuados pela Igreja, pois a consideram como verdadeira cidadela de interdições.
            Para esses tais, o católico praticante é aquele que "não pode"... Não pode fazer isto, pensar aquilo, participar disto, participar daquilo. 
            Diante disto, como falar ainda da liberdade da Fé? Como tomar a sério a frase lapidar do Apóstolo Paulo, sobre "a liberdade que Cristo nos outorgou?
            Parece-me que muitos "católicos" permanecem infantis em matéria de religião. São católicos "no domingo", quando ouvem seu pároco na homilia durante a Santa Missa, (mas, como é sabido, recuperam-se durante a semana...).
            Enfim, todos os cristãos estão realmente persuadidos de que a sua Fé é racional?
            Tenho minhas dúvidas sobre isso. Alguns não se atrevem a olhá-la de muito perto; vivem com o espírito coberto de uma poeira de objeções mal digeridas, de escuridões mal iluminadas, respeitando por vezes detalhes comicamente secundários, mas também, - o que me parece mais grave - esquecendo-se do essencial, que é a Divindade de Jesus, a ressurreição dos corpos, na Parusia do Senhor.
            Muitos se recolhem  à "Fé confiança", à "Fé simplória", que não passa de um "fideísmo" condenável, mais espalhado do que se julga.
            Sem dúvida, isso é mais preferível do que nada; uma Fé, porém, baseada quase unicamente no sentimento e no hábito, não conseguirá informar  plenamente a vida de homem e mulher. Aí reside a falta de vigor de muitos cristãos. 
            Certo mal-estar de muitos cristãos diante da liberdade, da sobrenaturalidade e do caráter racional da Fé provém, na maioria deles, de uma diminuição do fervor religioso.
            Na verdade, há muitíssimas pessoas que são cristãos "do domingo...".
            O que é uma lástima!

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Aroldo Teixeira de Almeida
Bacharel em Teologia Sistemática, pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção - da PUC - em São Paulo.
profatalmeida@gmail.com

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terça-feira, 17 de dezembro de 2013

SALVEMOS CADA DIA A NOSSA UNIDADE



                  -"Salvemos cada dia a nossa unidade. Só que a unidade humana só é salva plenamente em Nosso Senhor Jesus Cristo!"   (Dom Hélder Câmara, "Um Olhar sobre a Cidade").


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                  Prezado leitor deste blog:


                 Você já reparou como frequentes vezes somos esquartejados ao longo do dia? Ficamos aos pedaços, ali, aqui, acolá... Nossos olhos ficaram presos às coisas que vimos e nos impressionaram.
                  Nossos ouvidos se agarraram a histórias que ouviram. Nossas pernas ficaram, em parte, perdidas nas ruas que atravessaram.
                  Por isso, antes de dormir, é preciso que refaçamos nossa unidade: trazer de volta nossos olhos, nossos braços, nossas pernas, nossa cabeça, nosso coração...
                  O ideal de cada dia para nós Cristãos, que somos um com Cristo desde nosso Batismo, é refazermos nossa unidade com Ele e nEle. Felizes de nós se vivermos esta unidade com Cristo. Feliz de quem se entrega ao Cristo, pedindo que Ele veja pelos nossos olhos, escute pelos nossos ouvidos, fale pelos nossos lábios, caminhe pelos nossos pés...
                  Isto nos santificaria, nos faria santos. Como então entrarmos em ira, como irritar-nos, como perder a paciência com o nosso próximo?
                  Não nos esqueçamos que Cristo está conosco!... Como ser egoístas, invejosos, vaidosos, impudicos, se somos de verdade um com Cristo, com o Filho de Deus?...
                  Mais importante ainda é saber que Cristo não é um apenas conosco; mas com todos. E somos todos, absolutamente todos, um em Cristo. É o mistério da Comunhão dos Santos!
                  Levássemos a sério o que Cristo ensinou, como seria fácil o entendimento entre os esposos, entre pais e filhos, entre irmãos, entre vizinhos, entre companheiros de trabalho, entre moradores da mesma rua, entre classes sociais, entre regiões de um mesmo País, entre Raças e Religiões!
                  Dizemos que somos cristãos, mas infelizmente, como estamos longe de viver o Evangelho!

                  - "Eu vim para que todos tenham vida, e todos tenham vida plenamente!"
  
                   Se todos somos um em Cristo, como permitir que alguns de nós tenhamos vida plena, cheia, transbordante de vitalidade e realizações, enquanto outros, numerosos, numerosíssimos, têm que se contentar com sobras de vida, com subvida?...
                   Daí então, a necessidade premente desta prece, que deveríamos rezar todos os dias:

                  - "Senhor Jesus Cristo, não permitas que Te esquartejemos! Muito ao contrário: que cada vez mais, alimentados por Tua Eucaristia, sejamos, em Ti, um só Corpo e um só Espírito com todos os irmãos! Assim seja".

                                                                  ***************

(Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da PUC, em São Paulo).
                
                
                
  
      

domingo, 15 de dezembro de 2013

O DIÁLOGO DA FÉ

            O diálogo da Fé trava-se entre Deus, de um lado, e do outro o homem e a mulher.
          Homem e mulher devem reconhecer que são seres engendrados, do contrário barram o acesso ao sobrenatural. Homem e mulher devem sair do inferno mundano. Devem conhecer-se egoístas, mentirosos; devem confessar que são pecadores.
          Homem e mulher devem conjuntamente respeitar a sua razão e não fazer dela um ídolo. Devem confessar, isto sim, a necessidade de um suplemento de luz.
          Homem e mulher devem ser fiéis à Graça Divina que continuamente os persegue: devem confessar a si mesmos que só a Fé realizará neles a unidade.
          Fraternidade de Deus, salvação de Deus, luz de Deus Graça, de Deus, homem e mulher estarão no caminho de descobrir estas quatro riquezas, se fizerem essa quádrupla confissão.  Estas quatro riquezas acham-se na pessoa de Jesus Cristo, de que a Igreja é testemunho, livremente, racionalmente e sobrenaturalmente.
          A Fé é racional porque, na Igreja, o espírito encontra ao mesmo tempo as obscuridades inevitáveis   e as claridades suficientes que dão um sentido ao drama humano completo.
          Acreditando no testemunho da Igreja, a inteligência descobre a chave do seu próprio mistério, a solução das suas próprias penumbras.
          A Fé é livre porque, na Igreja, é o amor de Deus que se oferece por inteiro ao homem e à mulher. E este amor reclama a resposta livre do amor.
          A Fé é sobrenatural porque, na Igreja, é a Graça Divina que nos solicita, nos ilumina. O fato externo da santidade na Igreja, que é o "signo erguido entre as nações", constitui para nós o testemunho de Deus, conforme o Concílio do Vaticano.
          A Igreja é Cristo comunicado no Espírito. Em última análise, o que se deve ver na Fé é o Verbo Encarnado.
          A Fé é livre, racional, sobrenatural, porque não se refere, desde logo, a uma doutrina impessoal, ou a um código de moral, mas a uma Pessoa que nos chama, nos ensina e nos ama.
          A Fé é racional, porque Jesus é Verdade. É livre, porque Jesus é o Amor encarnado. 
É  sobrenatural, porque Jesus é Deus encarnado.
          A Fé cristã é uma penumbra luminosa porque essa penumbra tem também outro nome, o de Deus, que nunca amou tanto homem e mulher como no dia em que quis revestir a condição humana em Jesus de Nazaré.
          Terminando este meu texto, e como estamos num tempo litúrgico chamado de Advento, no qual esperamos a vinda do Senhor Jesus, escrevo uma frase que não é minha, mas da jovem Igreja cristã. Num império pagão que A esmagava por todos os lados, Ela testemunhava sua Fé na ressurreição do Filho de Maria. Essa frase é divinamente simples, porque inspirada no espírito de amor: 
          - "Vinde, SENHOR JESUS!
                                                              ***************

(Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da PUC, em São Paulo).

sexta-feira, 13 de dezembro de 2013

AINDA O SILÊNCIO DE DEUS


          No "Blog do Mestre", publicado no dia 7 de dezembro de 2013,  foi apresentado aos seus eventuais e heróicos leitores um texto intitulado "O Silêncio de Deus", no qual se disse que, "num certo sentido, Deus nos fala sem cessar. Noutro sentido, cala-se. Embora conheçamos o desígnio geral de Sua providência, ignoramos tudo quanto aos nossos intentos particulares. Abandonarmo-nos à Fé é portanto a nossa única atitude verdadeiramente cristã."
          Diante deste silêncio enigmático, certos cristãos desejariam uma manifestação sensacional de Deus, numa espécie de trovoada celeste que limpasse de uma vez por todas a atmosfera e reconduzisse à Fé a massa imensa da humanidade descrente.
          Essa doutrina do silêncio de Deus é conhecida, e não impede que tal silêncio pese terrivelmente sobre nós, num tempo em que seria tão necessária uma pequena trégua, ao menos para haver tempo de tomar fôlego antes de reiniciar a marcha para a frente, nesta nossa peregrinação secular pelos caminhos da vida.
         Ora, o cristão atual, por mais autêntico que seja, não tem um minuto de trégua. Os problemas, dos mais variados aspectos e graus de intensidade, surgem-lhe ao mesmo tempo e de todos os pontos. Um só exemplo:
        Certa família, muito religiosa, gasta pequena fortuna para levar um menino com doença grave numa peregrinação a Lourdes, com a esperança de que a Virgem Maria lhe obtivesse a cura. Irmãos e irmãs, pais e amigos, todos rezam; as comunidades religiosas prodigalizam as suas preces e penitências. Tudo em vão. O menino não se cura, e morre.
        Estamos cansados de saber que o principal milagre de Lourdes, de Fátima, e de outros locais de peregrinação, reside justamente no fato de que os que não se curam voltarem resignados e mais amigos de Deus. Entretanto, a experiência mostra que o verdadeiro milagre não é a cura, mas a Fé. Portanto, se o milagre, por mais portentoso que se apresente,  não é capaz de converter o mundo, uma cura miraculosa transforma a vida espiritual dos beneficiados.
       Mas, por que se curam alguns, e não se curam todos?
       Mistério insondável. Pode-se, deve-se mesmo dizer que a  Fé daqueles que tudo sacrificaram para obter a cura de um filho, sem ser atendidos, é especialmente colocada à prova por Deus.  - "Pois se agradas a Deus, terás de ser submetido à tentação," - diz-nos o livro de Tobias.
       As pessoas cuja Fé foi submetida a mais duras provas com certeza estão   mais perto de Deus, mais ativamente ocupadas na redenção e salvação do mundo, do que aqueles que apenas sofrem as dificuldades clássicas e normais da vida. Clamam: "Senhor! Senhor!" -  mas não entrarão talvez no Reino de Deus.
      Aquele que sofre e vê o seu sofrimento prolongar-se, sem cura, entrevê um Deus que julga melhor ainda que a melhor coisa dele conhecida no mundo: um filho Seu. Esse está muito próximo de Cristo.
      Mal consigo escrever estas palavras; elas são verdadeiras, mas a quem não experimentou em si mesmo semelhante desilusão, estas frases assemelham-se à "tagarelice banal de certas consolações sacerdotais ouvidas nos confessionários de nossas igrejas".
      Deus sabe o que faz. Mas eu acredito não pedir demais, suplicando muitas vezes ao Senhor que me conceda uma dessas consolações visíveis com que a minha alma - que afinal de contas está encerrada em um corpo débil - possa saciar-se um pouco para recuperar as forças...
      O fato é que, na minha experiência pessoal, Deus recusa essa consolação aos seus melhores amigos. Aliás, é a Bíblia inteira que o clama, e sobretudo o Filho de Deus, Jesus Cristo, o Qual pede que o Pai Lhe afaste o cálice do sofrimento e da cruz, mas apesar de tudo o bebe, livremente, por amor!
       É uma doutrina profunda, mas difícil. É pela perspectiva cristã sobre o "silêncio de Deus" que devemos procurar uma explicação para ela, porque é em Cristo que acreditamos:  esta frase não é uma verdade banal para os cristãos, por muito que eles e eu nos extraviemos naquilo que tomamos pela via da Fé e pelo humanisno das Bem-aventuranças, sobre o qual devemos alicerçar a nossa trajetória neste nosso mundo...

                                                           *********************

(Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Pontifícia Universidade Católica, da capital paulista).
  

   
           
    

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

O QUE SE ENTENDE POR "SALVAÇÃO"?



          A Teologia nos ensina que Salvação é vida, é justiça, é amor. Ainda, o laço que une homens e mulheres entre si, na unidade. É obra comum. Quem assistiu ao filme "Hiroshima meu amor" (por sinal um belíssimo filme), ouve ainda todas as manhãs um homem que passa tossindo debaixo da janela. A felicidade pessoal que não se tivesse aberto para essa "janela de Hiroshima" ficaria estéril. Estamos juntos para o melhor e para o pior. Estamos ligados a esta Terra, situados, encarnados, e a salvação só pode ser a Justiça e o Amor neste mundo, no qual se desenrola a peregrinação humana.
          "Este mundo"? Nós, que cremos, sabemos muito bem disto: para que o mundo seja o lugar da chegada do Reino - (como o celebramos neste tempo litúrgico chamado "Advento") - ele deve ser transfigurado, deve tornar-se "novo Céu e nova Terra".
          Quem é incrédulo suspeita que haja nessa transfiguração um certo "escamotear", uma mistificação, que faz esquecer a Terra de homens e de mulheres. Mas Jesus é a salvação, pois Ele é o Salvador. Em última análise, a salvação não é uma noção abstrata, mas uma Pessoa, a do Verbo feito carne, Jesus, cujo nome quer dizer justamente "Salvação". A Boa Nova, que é Jesus Cristo, pode tocar e converter os corações.
           Mas quem conhece verdadeiramente a Jesus Cristo?
           Escrevem-se livros para se falar do Cristianismo. Frequentes vezes, porém, se verifica que quase nada se disse verdadeiramente de Jesus. Ele é o "Chefe que deve conduzir à Vida": não há salvação em nenhum outro, senão em Jesus Cristo. Ele é nossa esperança, nossa paciente expectativa, que nos concede ao mesmo tempo a força para esperar. É aquele que nos faz ouvir, num estremecimento de alegria, as palavras do apóstolo Paulo, que ouvimos na pregação em nossas igrejas:  - "A nossa salvação está agora mais próxima do que quando abraçamos a Fé. A noite vai muito avançada, e já se aproxima o dia."
          -"Custos, quid de nocte?"  (Vigia, o que diz a noite?)  - canta o profeta Isaías,  "o evangelista do Antigo Testamento".
          - "E tu, menino, serás chamado profeta do Altíssimo, pois precederás o Senhor para preparar-Lhe os caminhos, para dar ao Seu povo a ciência da salvação pela remissão dos pecados."
          Estas palavras de Zacarias, testemunhadas pelo evangelista Lucas, eu as faço minhas, pois desejo  aqui e agora fazer ecoar a voz de um João Batista, no deserto, a "dar ao povo a ciência da Salvação'.
         O termo "salvação", comum a todas as religiões, exprime a esperança de homens e mulheres. A raiz em hebraico significa "soltar os laços". Fundamentalmente é a sensação vivida de um perigo, em que homem e mulher estariam ameaçados de sucumbir. Só Deus é o "rochedo da salvação" para Israel. Só Ele dará a felicidade dentro do Reino Messiânico, onde reinarão a justiça e a equidade.
          Todo o povo é chamado a sair em permanente êxodo do reino de trevas e morte para a terra prometida, terra de luz e de vida eterna, em uma "nova criação". Resposta a este apelo existe apenas uma: a Fé, a ardente Esperança da salvação. Os humildes, os de coração contrito, só eles podem chamar a Javé de seu Salvador.
          Jesus traz a salvação, livrando do pecado, que é morte total. Salvação é vida: ser salvo é "ser transferido do reino da morte para o reino da vida", pois a salvação é Jesus ressuscitado.  Sua vida ressuscitada nos redime. "Só na Esperança é que somos salvos", e a Esperança não nos ilude, "porque o amor de Deus foi derramado em nossos corações pelo Espírito Santo que nos foi dado."
          Soltar os laços de um povo que acredita na vida eterna dada por Jesus aos que se arrependem do pecado: soltar os laços naquele Reino em que hão de imperar a justiça e a equidade; soltar os laços numa  criação nova em que reinaremos com Cristo: eis o que nos há de colocar numa situação avantajada no sentido desta verdade: "Tenho apenas uma alma, e é preciso salvá-la".
         Depois de dois mil anos de Cristianismo, talvez já sejamos mais capazes de entender as palavras a nós deixadas por Jesus de Nazaré:
         - "Amai-vos uns aos outros" e, principalmente, vivê-las no dia-a-dia de nossa vida, perpassadas da imensa alegria da Criação, na plenitude universal que elas encerram!...

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(Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da PUC, em São Paulo).

                                                            
    

sábado, 7 de dezembro de 2013

O SILÊNCIO DE DEUS E NÓS



            Há entre nós, humanos, um certo mistério que nos espanta e nos obriga a muitas e frequentes  reflexões. É o mistério do "silêncio de Deus". É-nos dada uma resposta: o aparente silêncio de Deus foi exorcizado pelo dogma da Encarnação de Cristo, que Se fez Homem entre os homens, trazendo-lhes a redenção e a esperança da ressurreição definitiva no final dos tempos.
             É uma resposta sedutora, sem dúvida nenhuma. Entretanto,  essa resposta nos obriga a um outro questionamento:  o dogma da Encarnação é belo? Na verdade, porém, para nós tudo se passa como se se tratasse de um devaneio sem consistência. Nada mudou, aparentemente, neste mundo em que se desenrola o secular drama humano.
             Nas minhas frequentes pesquisas sobre o tema, principalmente na literatura, Graham Greene, escritor inglês que leio e aprecio, é talvez a testemunha mais emocionante dessa tentação de desesperar ante esse angustioso "silêncio de Deus", que nos  aperta e nos constrange por todos os lados.
             Os personagens de Graham Greene mostram-se tão acabrunhados pelos sofrimentos que vêem, que não lhes fica esperança bastante para acreditar que o Amor de Deus exista realmente. Dois outros escritores de minha predileção, Julien Green e Georges Bernanos, também já me disseram a que ponto é invisível o que acreditamos.
             A mesma fascinação diante do mundo sensível, os mesmos sofrimentos, dilaceram os Cristãos como também os que não vivem sob o Cristianismo. Parece-me até que - e assim o prova o testemunho de Green e Bernanos, - quanto mais se é Cristão, tanto mais se sofre neste mundo.
             Para mim, no meu modesto entender, o primeiro efeito visual do mistério do Amor Encarnado, naqueles que tentam vivê-lo no dia-a-dia da vida, é sem mais nem menos aumentar ainda mais o  paradoxo inquietante do silêncio de Deus.
             Pois é o que atesta a realidade:
             Julien Green, que leio frequentemente, convertido do Anglicanismo para o Catolicismo, é mais tentado que nunca na sua carne e na sua Fé. Outro escritor, também cristão, e dos bons, Georges Bernanos, conhece o desespero íntimo de uma alma colocada diante do inferno deste nosso século, em que tudo parece roubado, até a morte dos mártires modernos.
             Isto me faz entrever um fato, e este fato não é acidental: ele manifesta uma  espécie de lei vertiginosa que afeta o universo Cristão: homem e mulher batizados devem sofrer a agonia de Jesus Cristo no Calvário. Na verdade, nossa  fraqueza aparente é a força de Deus.
            Pois é aqui que se patenteia o lugar central das três virtudes teologais do Catecismo da Igreja Católica, que só pode ser vivido na Fé, na Esperança e na Caridade.
            Estas três virtudes engendram a alegria  através da diminuição aparente de todas as alegrias humanas. Acreditar no invisível,  a despeito de tudo, tal é a mensagem de Julien Green. É, enfim, amar, isto é, dar aos outros a própria alegria, livremente, para que os outros a conheçam, tal é a mensagem principal do grande escritor francês, Georges Bernanos, em toda a sua obra.
           As três virtudes teologais encarnam portanto, em nós, o universo do Amor Divino. Elas enxertam em nossas almas a humanidade santificante de Jesus Cristo, que é o coração do mundo.
          Viver de Fé, Esperança e Caridade outra coisa não é que viver com Cristo na Cruz, é ressuscitar em esperança, é entrever já os primeiros reflexos da transfiguração escatológica do mundo. Viver as três virtudes teologais é viver o próprio mistério do amor de Deus que se sujeitou à morte por nós. E morte de Cruz, insiste o apóstolo Paulo.
          Essas virtudes nós as temos pela Graça. E a Graça Santificante outra coisa não é que a unção do Espírito que nos modela à semelhança da Humanidade de Jesus Cristo.
        Assim pois, acreditando, esperando, sofrendo o martírio por amor de Deus e da humanidade, viveremos a vida mesma de Jesus Cristo, realmente. Salvamos realmente o mundo. Trazemos-lhe a Alegria!
          Lembro-me aqui, dos pobres, e o pobre não perecerá, porque o Pobre é Jesus Cristo, que "de rico" se fez "pobre", a fim de nos saciar com Suas riquezas.
          E então nós compreendemos que o "silêncio de Deus" é a Sua mesma palavra. Sua ausência É a Sua presença. Porque a ausência de Deus, o Seu silêncio, é a Cruz, o instrumento de morte E DE RESSURREIÇÃO, EM JESUS CRISTO. AMÉM.
  
    
            

domingo, 1 de dezembro de 2013

O SONHO DE BARTH



           Lendo a biografia de Karl Barth, o famoso teólogo e pensador protestante, numa página memorável ele diz que teve um sonho. Sonhou com o compositor de música sacra Mozart.
          Como protestante, Barth sempre se sentiu melindrado pelo Catolicismo de Mozart e pelo fato dele rejeitar o Protestantismo. Aliás, foi Mozart que disse:
          - "O Protestantismo está todo na cabeça. Os Protestantes não conhecem o sentido do "Agnus Dei qui tollis pecatta mundi." (Cordeiro de Deus, que tiras os pecados do Mundo).
           Em seu sonho, Barth foi convocado para examinar Mozart em Teologia. Desejava tornar o resultado do exame tão favorável quanto possível. Assim, em suas perguntas, aludia sempre e expressamente às grandes "Missas" do famoso compositor.
           Mozart, porém, não respondia palavra.
           Confesso que me impressionou e me comoveu bastante a descrição deste sonho por Barth, pois o sonho tem muito a ver com sua salvação. Ainda, com a idéia de que Barth talvez esteja se esforçando por admitir que ele será salvo mais pelo Mozart que ele estima, do que por sua própria Teologia.
           Diz-nos a sua biografia que diariamente, durante anos, Barth tocava em seu piano músicas de Mozart antes de iniciar seu trabalho sobre os dogmas cristãos. Parece-me que ele procurava, talvez inconscientemente, despertar o Mozart oculto em sua sensibilidade, procurar também a sabedoria interna que se harmoniza com a música divina e que é salva pelo Amor. Enquanto outra parte de seu ser - não o artístico, mas o teológico - abraçava um Amor mais severo, mais cerebral: um amor que, afinal, não está em nosso próprio coração, mas somente em Deus, e é revelado apenas ao nosso espírito, na prece.
           Barth diz também com muita seriedade que  "é uma criança, mesmo uma criança divina, que nos fala na música de Mozart".
           Ainda, na sua biografia, encontrei  a afirmação de Barth dizendo que o menino-prodígio Mozart nunca teve o privilégio de ser uma criança no sentido literal da palavra. Tinha apenas seis anos de idade, quando deu seu primeiro concerto musical público. Não obstante, foi sempre uma criança "no sentido mais elevado da palavra."
           Terminando a leitura do livro, como que misteriosamente me vieram ao pensamento estas palavras, que desejo testemunhar aqui:
           - "Não tenhas medo, Karl Barth! Confia sempre na misericórdia divina. Lendo tuas obras teológicas,  compreendo muito bem que, não obstante seres um grande teólogo,  conhecido internacionalmente,  Cristo permanece em ti uma criança. Teu livro, que neste momento tenho em minhas mãos me diz, sempre que o leio e releio, que há em nós um Mozart que, queiramos ou não, será poderoso instrumento que nos levará a Cristo e  à  nossa salvação!"

                                                      ***************************

          Uma observação um tanto quanto dispensável, para desanuviar este indigesto blog:

         Certo desavisado leitor - suspeito que seja um "amigo da onça", - me alertou que os meus textos são muito sérios, e é necessária uma "higiene mental" para que eles sejam mais agradáveis ao paladar de  eventuais curiosos. Bem, creio que os meus 77 anos de idade - já beirando os 78, no mês vindouro - me liberam de qualquer necessidade de correção de rumos.
          E já que ele disse que meus textos são muito sérios, e hoje acordei de bom humor, não tendo ainda  brigado  com a mulher, como de costume, aproveito a oportunidade para  aliviar o que considero um mal-entendido, e o faço contando esta estória que encontrei num caderno de minha neta Isabela.
          Pois aqui vai a anedota e, gentileza minha e da neta, absolutamente gratuita:



                                                  JUDAS, JESUS E O LADRÃO


       Certa madrugada, cá no meu bairro chamado "Tingui" - ô diabo de nome, que até hoje não consegui deslindar o seu significado! - um ladrão malaventurado entrou pelo quintal de uma casa vizinha e, em silêncio absoluto, começou a forçar uma porta dos fundos.
          Nem bem começou a louvável tarefa, quando escuta uma voz fanhosa vindo não se sabe de onde:
          - Cuidado! Jesus tá te olhando!
         O larápio se assusta, olha para todos os lados, na penumbra da madrugada, mas não descobre nada de suspeito.
           Resolve continuar seu trabalho, quando ouve de novo a mesma voz:
           - Cuidado! Jesus tá te olhando!
             Um tanto quanto incrédulo, mas certo de ter escutado a frase, inspeciona tudo novamente ao redor, e não percebe nada.
             Quando reinicia sua "tarefa", lá vem de novo a voz:
             - Cuidado! Jesus tá te olhando!
            Desta vez ele percebe de onde vem a maldita voz. Acende o farolete, e ilumina á área de serviço. Então vê um papagaio numa gaiola pendurada na parede. Agora, mais aliviado, pergunta:
            -Pelos meus noventa e nove pecados mortais, então Você é o Jesus que tá me olhando?
            E ouve a resposta do papagaio:
            -Tu tá enganado. Não sou Jesus. Sou o Judas!
            -Judas?? Mas quem foi o bestalhão que botou o nome de Jesus no desgraçado do papagaio??
            - O mesmo bestalhão que botou o nome de Jesus nesse feroz Pitbull que vem vindo aí!...


                                                                ********************

            
              QUE TAL FAZERMOS AGORA  "uma vaquinha"?

            A  expressão "fazer uma vaquinha", dizem as más línguas, surgiu na década de 1920 e tinha sua origem relacionada com o "jogo do bicho" e o futebol.
           Nas décadas de 1920 e 1930 - já que a maioria dos jogadores de futebol não tinha salário, -  a torcida do time se reunia e arrecadava entre si um prêmio para ser dado aos jogadores. Esses prêmios eram relacionados popularmente com o "jogo do bicho". Assim, quando iam arrecadar 5 mil réis, chamavam a bolada de "cachorro", pois o número cinco representava o cachorro no dito jogo. O prêmio máximo era 25 mil réis, e representava a vaca. Daí, brotou a expressão "fazer uma vaquinha..."
            Cá fica o significado da expressão, pelo preço que me custou!...

                                                             ************************

               

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

QUANDO O "próximo" SE TORNA "PRÓXIMO"


          As palavras de Cristo, que chegam até nós através dos Evangelhos, devem ser acolhidas e entendidas no rigor de seu significado. Você, que me dá o prazer de ler este meu modesto blog, já reparou na palavra usada por Jesus quando Ele nos manda amar os outros? Ele diz:
         - "Amar o próximo".
         Pois é justamente aqui que começa o problema.
         Até que não é difícil comover-nos ouvindo falar em uma calamidade que atinge um País distante de nós e que deixa desabrigadas, com fome e sem teto, milhares de Famílias. Não é difícil comover-nos e até participar ativamente de campanhas de socorro, de enviar ajuda, mesmo com algum sacrifício.
         O difícil, o duro, é amar quem está perto, quem convive diariamente conosco, quem é nosso vizinho, quem trabalha conosco ou pertence à nossa Comunidade de Bairro. O difícil, mesmo, não é amar quem mora distante de nós. É amar o Próximo!
         Quando o Próximo para nós realmente se torna Próximo, e nós o vemos e ouvimos, convivemos com ele, fazendo nossos os seus sofrimentos; alegrando-nos, de verdade, com suas alegrias; quando Vizinho não é palavra vazia, quando Vizinho tem nome, tem rosto, tem história, quando toda e qualquer pessoa é Alguém para nós, então nossa Religião está saindo das nuvens, está descendo à terra: está se encarnando!...
         Há quem não queira conhecer os vizinhos para não ter trabalho: e, no entanto, não é só uma das mãos que lava a outra, mas como responder ao Pai de todos os pais quando Ele nos perguntar onde está nosso Vizinho, que os Evangelhos dizem ser nosso Irmão?...
         Mais grave ainda é a inimizade, a mera convivência pacífica, ou guerra fria, ou mesmo ódio, dentro da própria casa... Aí é que entra a palavra do Senhor Jesus, que nós estamos sempre ouvindo nas celebrações de nossas igrejas, ou quando lemos a Bíblia Sagrada:

         - "Vai primeiro reconciliar-te com teu Irmão, e depois vem fazer a Deus a tua oração!"

       Será que dentro de casa todos são  "Próximos",  isto é, vivem perto uns dos outros, perto física e efetivamente? Ou em sua casa, a seu lado, moram Estranhos, Ausentes, Distantes?
        É só experimentar rodar a pé em volta da casa em que moramos, para ver que a poucos passos de nós há sofrimentos terríveis, pobreza, misséria, fome, angústia, desespero... - à nossa espera!...
         Aí poderá levantar-se a questão:
         Será que nossa Religião é viva? Será que nosso Cristianismo é autêntico?
         Procuremos, portanto, transformar nosso próximo em Próximo...  Vamos aproximar-nos de nossos vizinhos... E que nenhum de nós passe pela vida como sombra vaga, como anônimo. Que cada homem e cada mulher que cruzem o meu caminho sejam, para mim, Alguém, um Irmão, uma Irmã, pois todos nós somos filhos do mesmo Pai de todos os pais!
         

domingo, 24 de novembro de 2013

REACENDER, TAREFA DIVINA!...


      Outro dia, minha esposa, minha neta e eu estivemos no cemitério "Memorial da Saudade", em São José dos Pinhais, onde estão sepultados meus dois filhos, a Raquel e o Júlio. No velário, tentei acender uma vela, que representasse a esperança da Ressurreição para meus dois filhos queridos, mas não consegui acendê-las. Ventava, e por mais que eu tentasse, não conseguia manter acesa a chama.
       Entretanto, é tão fácil acender velas! Mesmo que o pavio esteja sumido, corta-se um pouco a cera e o pavio fica fácil de ser atingido. Não importa que esteja ventando, há meios de proteger a chama procurada.
      Sem mais nem menos,  não sei o motivo, me veio o pensamento de como é difícil acender a Fé que se apagou! Como nos sentimos pequenos, incapazes, inábeis! Quando é que poderemos entender que só a Graça Divina, gratuita e eficaz, é que pode reacender a Fé que sumiu?...
     E se é difícil reacender a Fé, o mesmo se diga de reacender a Esperança em quem caiu na desesperança, e desconfia de tudo e de todos!...
   Se é difícil reacender a Fé, não é menos difícil reacender o Amor, em quem está rolando desamor abaixo.
   Deus, na Sua imensa misericórdia, tem-me permitido, nestes meus setenta e sete anos de vida, ver a Fé retornar a algumas criaturas retas, desejosas de crer.
   Lembro-me de um amigo e colega,  na Faculdade de Teologia, em São Paulo, que perdeu completamente a Fé, como me confessou certo dia. Estivemos juntos muitas vezes, pois ocupávamos o mesmo alojamento na Faculdade, mas jamais discutíamos religião. Quando esse meu amigo sem Fé me via dirigir-me a alguma cerimônia religiosa, me perguntava sempre o que eu ia rezar na igreja.
     Eu lhe resumia, com simplicidade, qual seria a minha prece. Ele escutava com respeito. Não discutia nunca. Mas também a Fé não lhe voltava.
     Um dia, ele adoeceu gravemente. Fui visitá-lo no Hospital, e ele mostrou um gesto de humildade que, tenho certeza, lhe valeu o dom da Fé, pela misericórdia de Deus.
       Disse-me então ele, com a maior sinceridade:
       - "Você é mais inteligente do que eu. Foi muito mais aplicado na Faculdade, do que eu. Creio  totalmente em sua sinceridade. Sei que Você acredita em Deus. Acredita que Jesus é Filho de Deus. Que Ele se fez homem para nos salvar."
        E perguntou-me:
       - "Vale Fé por tabela? Pessoalmente, sou uma pessoa sem Fé. Não tenho essa felicidade. Vale eu embarcar de contrabando na sua Fé?...
       Era tão sincera a humildade com que falava, - e eu sei que Deus é incapaz de resistir aos humildes, - que não vacilei em dizer a ele:
       - "Vale a Fé por tabela, sim. Nem que seja por contrabando. Embarque na Fé que Deus me concedeu. Faça uma confissão sincera ao sacerdote. Receba a Comunhão. E o Pai de todos os pais recompensará sua sede de Fé, sua sinceridade e humildade. Com toda certeza a Fé lhe virá."
        E de fato, no domingo seguinte à nossa conversa, no instante exato em que ele, em confiança, na Santa Missa, recebeu a Comunhão, me abraçou e disse, comovido:
        - "O Cristo Eucarístico reacendeu minha Fé, e eu creio. Agora eu creio!"
        Meu prezado leitor, que agora me lê: não sou padre, nem pastor, nem missionário. Sou um simples leigo pecador, mas que vontade, que desejo, que sede eu tenho de passar o resto de minha vida e, em nome de Deus, sair por aí  reacendendo Fé, Esperança e Amor, no íntimo de todos aqueles e todas aquelas que se imaginam sem Amor, sem Esperança, e sem Fé!... Esta Fé que Deus, em Sua misericórdia, me concedeu já a partir do meu Batismo, nos longínquos dias de Caldas, no Estado de Minas Gerais!


        

      
  

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

ABRA OS OLHOS!...



      Você, leitor amigo que me lê, permita-me uma sugestão fraterna, apesar do meu tom um tanto quanto professoral . (Lembre-se que fui professor da rede pública estadual durante trinta anos... e o uso do cachimbo, por muito tempo, nos faz torta a boca!...)
      Por mais cheia que lhe pareça a vida, por mais ocupada, mais apressada, mais atravancada por mil e uma tarefas do dia-a-dia, - descubra meios para rápidas escapadas, que lhe permitam encontros, mesmo de segundos, com a Natureza.
      Isto lhe fará um bem enorme e derramará, em seu íntimo, um pouco de paz para o resto do dia.
     Tenha olhos para o nascer do Sol. Já reparou como não há duas madrugadas iguais?
     Procure encontrar tempo para olhar as árvores, mesmo que de passagem. Elas são mestras de paciência: oferecem sombras, oferecem frutas, acolhem os pássaros e, quase sempre, recebem pedradas da meninada... Não raramente, acabam cortadas, quando o terreno se valoriza, ou quando precisamos de lenha para o nosso fogão.
      E não é que elas nos ensinam a renascer cada ano, e sempre com o ânimo renovado?...
      Você já reparou como a água é amiga, é irmã, e está sempre  ali disposta a ajudar-nos de mil maneiras?
É tão bom e salutar um copo de água fria quando se está com sede, e de tal maneira que o próprio Senhor Jesus Cristo chegou a prometer uma recompensa eterna a quem mata a sede do próximo.
      Como é bom poder banhar-se, ou lavar as mãos, ou lavar os pés!... Mas água faz bem até para ser vista. Se passar perto de praia, olhe o mar. Se passar perto de rios, olhe as águas que correm mansas, ou contemple, por um instante, as lavadeiras que lavam roupas, ou crianças que se banham ou brincam na água.
       Você já ocupou algum tempo contemplando a luz que vem do alto?... A luz torna belas, transfigura, até as coisas mais simples: um caco de vidro muitas vezes nos parece um brilhante...
      Nunca se lembrou do ar que nos envolve, nos protege, apagado, anônimo, mas prestativo?... Nem pensamos nele, e no entanto sem ele, nem poderíamos viver. Só damos importância ao ar quando ele nos falta, no fim da vida, e caímos em agonia, à procura dele...
        Com que infinita paciência a terra nos suporta. E nós a pisamos como se ela fosse escrava e tivesse obrigação de carregar-nos. Maltratamos muito a terra: nós a rasgamos para plantar sementes ou abrir estradas... Um dia, em lugar de guardar-nos raiva ou rancor, ela nos receberá em seu seio e, nela, na terra, nosso corpo aguardará a hora bendita da Ressurreição!
        Digo mais uma vez, amigo leitor. Abra os olhos. Descubra o que eles vêem. Tente fazer como as crianças que chamam atenção para tudo, como se fossem as primeiras a descobrir o que vêem: - "Olha lá! Olha lá!"
        Tenhamos olhos descobridores. Não permitamos que a rotina nos embote a vista. Um segundo de contemplação da Natureza, derramará paz sobre o nosso dia inteiro.
        Além de despertar nosso espírito para agradecermos a Deus, que nos deu, gratuitamente, a vida e tudo quanto nos rodeia e nos serve!



  

domingo, 17 de novembro de 2013

PARUSIA!...


            - "Venha a nós o Vosso Reino!"

             Parusia: palavra de origem grega significando "presença" ou "chegada". Termo empregado em sentido técnico para designar, segundo o Novo Testamento, a vinda escatológica de Jesus nos "últimos tempos".
                                                            *****************

            Diz-nos o monge trapista norte-americano Thomas Merton, em "Reflexões de um Espectador Culpado", que o problema da Parusia permanece o grande problema do Cristianismo. Modéstia à parte, creio eu que não se trata, absolutamente, de um problema em si. O Reino de Deus já está estabelecido, apenas não foi definitivamente manifestado, pois permanecemos ainda num tempo de desenvolvimento, de opção, de preparação.
            Em outras palavras:  a  verdade é que permanecemos ainda num "tempo de decisão".  O cristão é alguém que "se decidiu" pela Parusia, pela vinda, no fim dos tempos, do Reino de Deus. Assim, a vida do cristão é, ou deveria ser, orientada por esta decisão; e minha existência só terá sentido na medida em que a Parusia seja, para mim, de importância plenamente crucial.
           No entanto,  para uma infinidade de cristãos, e principalmente para mim, a Parusia, parece-me, acha-se indefinidamente adiada.
           Também isto não é um mero acaso. Deve ser tomado como fazendo parte do problema, no entendimento de Merton.
           Com efeito, a Parusia, em si mesma, não é problema. A demora da Parusia não é todo o problema. Essa demora faz parte integrante do problema. Penso que uma solução seria a seguinte:
           Como homem, e cristão consciente, coloco toda a minha esperança no Reino de Cristo a ser definitivamente manifestado pela vitória final na vinda da Parusia - que será a vitória final da vida sobre a morte.
           Pelo fato de a Parusia ter sido "adiada", foi-nos deixada a tarefa de construir para todos nós, neste mundo em que vivemos, uma espécie de reino provisório, uma cristandade cultural, político-religiosa que, admito, não é tudo quanto deveríamos esperar, mas que tem lá as suas vantagens.
           Parece-me que a questão seria esta: se a Parusia de fato significa o fim e a destruição dessa nossa estrutura provisória e mesmo seu julgamento, devemos realmente desejar tal Parusia? Não seria melhor para nós rezar para que essa Parusia seja adiada indefinidamente? Se uma vida de oração, - diz-nos a Bíblia Sagrada -  nos dá todo o poder de mover a vontade de Deus, não deveríamos nós, antes de tudo, tentar mudar Seu plano e não nos preocuparmos mais com o assunto "Parusia"?
           Não deveríamos, talvez, considerar nosso dever pedir a Deus que Ele nos permita construir o Reino ao nosso modo, um Reino de Deus ao mesmo tempo sagrado mas encravado no mundo, e também colaborando em todos os sentidos com o nosso triunfo social, cultural, religioso e político, como já foi tentado por nós na assim dita Idade Média?
           Foi, naquela época, uma boa tentativa, porém alguns pontos importantes foram por nós descuidados. Não poderíamos agora assumir uma posição que nos permitisse uma melhor tentativa? E para desta vez sermos bem sucedidos?
           - "Venha a nós o Vosso Reino" - não, porém, agora, mas no tempo e da maneira que nos convier!... Pois precisamos de tempo! Tempo para tentar o que queremos sempre e sempre de novo.
           Até posso sugerir um remendo na oração que Cristo nos ensinou = eliminar o "Venha a nós o Vosso Reino", e substituí-lo, suplicando, ao Senhor, por este outro:  - "Dai-nos tempo, Senhor!"
           E então: o que faríamos com esse "tempo", a nós dado pelo Senhor?
           Eis aí a questão de que depende nosso ingresso ou não ingresso no Reino de Deus, quando formos confrontados com a "Parusia" do Senhor Jesus!
      

      

quinta-feira, 14 de novembro de 2013

AS FASES DA LUA E EU...


          Não sei por que cargas d'agua, mas sempre tive problemas com a Lua, apesar de não ser lunático de profissão. Aliás, não há quem não tenha seus dias afetados pela mal afamada Lua, principalmente se for Lua minguante!
         Tudo correndo bem, saúde boa, dinheiro no bolso, família em paz, todos se entendendo e se amando. Se,  como sempre em minha casa, não há dinheiro sobrando, em compensação não há dinheiro faltando... e se por acaso faltar, estão na porta de casa os usurários, sempre atenciosos e disponíveis!
         Mas, voltando à Lua, um fato corriqueiro é que não há quem não tenha seus dias de Lua minguante... No meu caso,  saúde meio enferrujada, incompreensões por parte da minha neta Isabela, adolescente, quando eu lhe chamo a atenção por problemas no colégio;  aborrecimentos da minha esposa por eu não ajudar em nada nos trabalhos domésticos e eu, aos 78 anos, num certo e perigoso cansaço de viver...
          Mas, o bom, é que sempre volta a Lua crescente... E com ela, em providencial teima, volta também a esperança. Na verdade, tudo continua, mais ou menos, na mesma. Talvez, até pior. Por dentro, porém, não sei se causada pela cervejinha diária, sempre volta a coragem, e com mais força!...
          E o que me vale é que sempre variam os dias de fossa, os dias de esperança, os dias de alegria plena...
          Por que então me falta a paciência para com os de casa, os vizinhos, o entregador de jornais que os atira por cima das grades, de qualquer maneira,  muitas vezes acertando o bebedouro do cachorro e tornando-os completamente ilegíveis?
          Mas em geral, quando ando em Lua minguante, tenho também muita raiva de meu vizinho da esquerda, que parece estar sempre em Lua cheia. Parece que a felicidade dele me agride, me insulta, me lembra um roubo de alguma coisa que me pertencia e que se foi.
          Aliás, sei que a pessoa que anda em Lua cheia, em geral, não tem olhos, nem tempo, nem paciência para ficar ouvindo minhas lamúrias da Lua minguante...
          Ah! me ajudasse meu Santo Antônio, de quem sou devoto, me conseguisse ele a Graça de me manter, permanentemente, no espírito da Lua crescente, o espírito da esperança! Apesar de que, infelizmente, muitas vezes em plena fase de Lua cheia, me invade uma certa tristeza, não sabendo de onde ela vem, porque vem, nem para onde vai.
          Isto porque, talvez, eu não tenha conseguido aproveitar a felicidade que tinha nas mãos, incapaz de acatá-la plenamente, ficando a pensar, em todo tempo que a felicidade é passageira, vai acabar, já está acabando...
         O fato, inconteste, é que nem sempre será Lua cheia. Virá a Lua minguante. E, o bom:  de minguante, a Lua passará a crescente e, de novo, a cheia!
         E eu me ponho a ruminar comigo mesmo: quando será que eu, como as demais criaturas, nos convenceremos de que é ingratidão deixar que a esperança se torne minguante dentro de nós?
         Tempos atrás li um livro escrito pelo saudoso arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara, e nele achei uma frase que vale como um programa de vida:
  
          - Faz escuro, mas eu canto!

           Sim, é a maior verdade! No meio da mais espessa escuridão, em pleno vôo cego, sem enxergar um palmo à frente, mesmo aí, mesmo assim, filho que sou da Redenção a mim trazida por Cristo,  e herdeiro que sou da Eternidade, tenho que manter viva a Esperança, que é a maior virtude do cristão.

           Faz escuro, mas eu canto!

           Louvores a Dom Hélder Câmara, por esta sua inspiradora frase!
      
        

domingo, 10 de novembro de 2013

A MACACA LAIKA E EU


        No dia em que completei 21 anos, os americanos colocaram um macaco no espaço. Enviaram-no mais longe do que pretendiam. Conseguiram recuperá-lo vivo. O animal voou pelo espaço a uma velocidade fabulosa, apertando botões, puxando alavancas, comendo pílulas com sabor de banana. Enviou sinais com regularidade impecável tal como fora treinado. Não se queixou do espaço. Não se queixou do tempo. Não se queixou nem da Terra nem do Céu.
         Nenhum problema metafísico ou religioso o importunou. Não se sentiu culpado de nada. Pelo menos, não declarou a viva voz ter sentido alguma culpa por afrontar as alturas pertencentes a Deus.
         Por que haveria um mísero macaco no espaço de sentir-se culpado por estar naquelas alturas, inacessíveis a qualquer macaco deste ou do outro mundo? O espaço é o lugar em que não há mais peso nem nenhum resquício de peso ou de culpabilidade.
         Aliás, um macaco nunca se sente culpado nem mesmo quando está sobre esta Terra que Deus nos destinou. Quem dera que nós, pecadores inveterados sobre a Terra, não tivéssemos nenhum sentimento de culpabilidade. Talvez, se pudermos todos subir ao espaço como Laika, a macaca americana, não nos sentiremos mais culpados de nada. Apenas puxaremos alavancas, apertaremos botões, comeremos pílulas com sabor de banana. Não, peço-lhes que me perdoem. Ainda não sou exatamente um macaco.
          Nunca me sentirei culpado no espaço. Aliás, nem terei sentimentos de culpa quando chegar à Lua. Talvez eu me sinta apenas um pouco culpado na Lua, nosso satélite, mas se conseguir chegar a Marte, não me sentirei culpado de nada.
           É claro que, na situação alarmantemente militarista em que vivemos, talvez eu conseguiria explodir o mundo. Se da Lua eu conseguir explodir o mundo, talvez me sentisse um pouco culpado, pelos familiares que lá deixei. Mas, se eu estiver em Marte, por todos considerado como o deus da morte e da guerra, com certeza não teria nenhum sentimento de culpa. Nenhuma culpa. Faria explodir o mundo como um legítimo representante da América: sem culpa nenhuma.
          Trá-lá-lá, trá-lá-lá. Apertar botões, puxar alavancas! Assim que eu estivesse em Marte e conseguisse instalar ali uma fábrica para macacos cor de banana. não haveria mais nenhuma culpa para mim.
          Estou com setenta e sete anos, caminhando para setenta e oito em três meses. Vou ser perfeitamente sério,  como mandam as convenções sociais. A Civilização dignou-se agraciar meu aniversário com este feito maravilhoso, como foi a colocação de um macaco no espaço, e eu iria ficar cínico com isso?
          Deixe-me aprender as lições aprendidas por este macaco bem-aventurado. Apertar botões. Puxar alavancas. Os gringos o atiraram demasiadamente longe, espaço sideral a fora. Não faz mal. Eles conseguiram pescá-lo no Atlântico e ele, como um macaco civilizado, apertou a mão do pessoal da Marinha Americana que o pescou...
          Civilização é isso! E por que é que eu me sentiria culpado por esse fato tão banal?
  

terça-feira, 5 de novembro de 2013

O DOIDINHO DE DEUS

      
          Ali naquele centro comercial onde fica a frutaria da Sandra, debaixo da marquise do prédio costuma dormir um "morador das ruas", já velho conhecido meu.  Faça calor ou faça frio, sempre que passo por ali, de manhãzinha, lá o vejo enrolando seu colchonete, que deixa guardado no depósito da frutaria, até chegar a noite, quando ele o pega e o leva para a marquise, seu dormitório de cada noite...
          Dizem que ele é meio louquinho. No meu entender, um louquinho maravilhoso. Resolvi conversar com ele. Perguntei se não tinha casa onde dormir. Ficou espantado com minha pergunta, mas respondeu:
          - Se tenho casa?  Tenho! Tenho sim! Não me falta chão, nem me falta céu!...
          Teimei, com a minha visão de lógica:
          - Mas... e quando chove?
           Ele respondeu rápido:
          - E Você pensa que eu não gosto de tomar banho?
          Perguntei se não estava com fome. se não queria comer...
          - Quero é cantar. Você escuta? Nasci para cantar".
           Como resistir?... Quis que ele cantasse.
           Numa cantiga bem popular, bem nordestina, cantou mais ou menos isto:
                      
                      Orgulhoso, Orgulhoso, me responda,
                      Me diga, me responda agora
                      Você vive? Você morre?
                      Então seu mal não é orgulho,
                      Não começa com O, começa por B...

          E antes que eu risse e dissesse qualquer coisa, ele riu a valer, e bateu palmas, como se o cantor tivesse sido eu.... Insisti, perguntei se ele queria comer alguma coisa ali no Sakura. Lembrei-lhe que passarinho também come...
         Consegui convencê-lo. Levei-o até à frutaria e pedi à Sandra para lhe dar algumas bananas e maçãs. Ele riu do meu pedido:
         - Quero goiaba... Quero só goiaba... Passarinho gosta é de goiaba...
         Tentei, mas não consegui descobrir o nome dele. De cada vez que perguntava, me dava uma resposta diferente:
         - Se me chamar de Galo de Terreiro, eu aceito... Canarinho eu sei que não sou... Só sei cantar isto:
                     Passarinho, Passarinho
                     Não queira enricar
                     Porque dinheiro tem visgo
                     Aí Você fica preso
                     E não pode mais voar

          Perguntei se ele ia à igreja, se sabia rezar. Foi difícil para ele entender minha pergunta. Só me respondeu com estas palavras:
          - Os  moleques me jogam pedra,
          Mas eu pulo, eu rio, eu canto!
          Perguntei se ele já foi a um médico, para ver se o seu problema era cabeça ou outra coisa qualquer.
          A resposta dele:
          - Gente de cabeça arrumada, arrumadinha, anda sobrando por aí!...
          Tive de concordar com ele. Dali a pouco  me despedi, e voltei para casa com estas idéias na cabeça:
          Continua teu vôo, louquinho de Deus, talvez Galo de Terreiro, pois canarinho Você me disse que não é... Continua cantando, continua cantando... Farei tudo para guardar a sabedoria de Deus que me falou através de  tua pretensa loucura. E, sempre que puder, guardarei para ti uma goiabinha madura, de preferência uma dessas já bicada por algum Passarinho, teu irmão!
  
    
                

      

       
         
          

sábado, 2 de novembro de 2013

FINADOS, MAS RESSUSCITADOS!


          2 de novembro, "Dia de Finados"...  Dia em que cultuamos, de modo particular e litúrgico, os nossos mortos queridos. E, falando em mortos, lembro-me da frase de Heidegger; - "Somente quando a morte é apreendida em seu caráter ontológico, somos justificados em perguntar o que há depois da morte."
         O apreender "ontológico" da morte está implicitamente presente na doutrina cristã do pecado original. É característico de uma existência decaída ter a morte como componente integrante. Existir como "decaído" ou "perdido" é existir por meio de uma existência que não escolhemos. Pode ela mostrar-se desprovida de sentido, destinada a uma morte da qual não podemos nos evadir.
          Uma outra característica, porém, da existência decaída está em procurar esquecer-se da morte, mergulhando "no mundo" . Neste sentido, homem e mulher fogem de si próprios e  desejam imergir no mundo, isto é, procuram esquecer seu íntimo temor da morte, preocupando-se em objetos, mergulhando no reboliço da atividade e da opinião pública sem algum objetivo certo.
          Uma tentação dessa espécie estaria desprovida de seriedade, não fossem homem e mulher capazes de persuadir-se da grande importância de suas preocupações e opiniões, e de seus atos. No entanto, certas formas de vida social  -  particularmente as rotinas  da sociedade massificada e consumista  -  são, de maneira patente, de uma artificialidade e de uma natureza a tal ponto fictícia que se torna difícil,  mesmo aos aos que não são muito inteligentes, deixarem-se enganar totalmente por isso.
          Nasce daí uma sensação geral de mal-estar, uma sensação de se ter caído numa armadilha e o consequente ressurgimento de ansiedade e temor.  Contudo, homem e mulher procuram justificar sua existência inautêntica pela ilusão de que permanecem senhores de seu destino e do mundo, e pela ilusão, ainda, de que quase atingiram o ponto em que dominarão a enfermidade, o desespero e mesmo, talvez, a própria morte.
          Assim, homem e mulher continuam a viver de modo frívolo e inautêntico, sem pensarem  na morte e sem tomarem qualquer decisão que oriente a vida em face da sua inevitalidade. .
         Viver inautenticamente neste mundo, passar a vida inteira evitando encarar a realidade da morte e, ainda por cima, dizer-se a si próprios que já se possui a resposta em relação ao que ocorre depois da morte, é coisa em que pode haver um certo grau a mais de auto-ilusão.
         Pode ser que alguém consiga ser bem sucedido neste ponto, empregando uma ingênua e teimosa insistência em acreditar que, depois da morte, tudo continuará como está agora  -  excetuando a preocupação e a dor, que não mais serão problema.
         Atrevo-me a dizer que tal atitude não me parece cristã. Creio que é simplesmente o regresso a uma forma de crasso paganismo.
         É certo que a Fé cristã não nos dá respostas pormenorizadas e precisas sobre o que sucede depois da morte. Estudando o alentado volume do "Catecismo da Igreja Católica" somos, entretanto, incitados a que encaremos a morte e a tomá-la em conta, superando o medo que ela nos inspira e vencendo-a em união com Cristo.
         No cerne da Fé cristã está a convicção de que, quando a morte é aceita em espírito de Fé, quando nossa vida inteira está orientada pelo dom de si, de maneira que no fim da vida nós a entregamos de volta, pronta e livremente, a Deus Criador e Redentor, a morte se transforma em plenitude. A vitória sobre a morte é obra do amor. Não é fruto de nossa própria e frágil virtude, mesmo que heróica, e sim a participação no amor com que Jesus aceitou a morte no Calvário.
         Esta verdade não se torna patente à razão. É inteiramente do domínio da Fé. Mas o cristão é alguém que crê que, quando uniu sua vida e sua morte ao dom que Jesus fez de Si próprio na Cruz, encontrou não apenas uma resposta dogmática a um problema humano e uma série de gestos rituais que confortam e aliviam a angústia. Acima disso, foi-Lhe concedida a Graça do Espírito Santo.
         Assim não vive mais o cristão uma existência de condenado e decaído, mas vive já a vida eterna e imortal que lhe é dada, no Espírito, por Cristo. O cristão  vive "em Cristo."
         O que "vem depois da morte" não se torna, ainda, claro, em termos de "lugar de repouso" ou um paraíso de recompensas. O cristão não deve preocupar-se, em realidade, com uma vida dividida entre este mundo e o outro. Deve preocupar-se com uma vida. A vida nova do homem (Adão = todos os homens e mulheres) em Cristo e no Espírito, tanto agora como depois da morte. Não pede, com antecedência, uma planta da mansão celestial. Procura, isto sim, a Face de Deus e a visão dAquele que é a Vida Eterna!...
         Sempre acreditei, nestes meus setenta e sete anos de vida, que a verdadeira aceitação da morte em liberdade e espírito de Fé exige uma aceitação fecunda e madura da vida. Quem teme a morte e quem por ela anseia estão, ambos, na mesma miserável condição: admitem não terem realmente vivido!...