Os cristãos ainda têm Fé?
Muito se falou e ainda se fala, em certos meios, da "incredulidade dos crentes" e da sua "má consciência".
A "mãe" do existencialismo francês, Simone de Beauvoir, companheira do também existencialista Jean Paul Sartre, dizia em seu tempo que os padres já não pregavam sobre o inferno "porque não acreditam mais nele."
Seu julgamento parece-me um tanto quanto apressado, mas eu me atrevo a perguntar se a Fé viva de muitos cristãos vai além de um certo deísmo abstrato, flanqueado por uma regra moral aceita com bastante má vontade, e por uma ordem social pela qual só se interessam quando a suspeitam ameaçada...
Creio que é necessário voltar às fontes e perguntar a tais cristãos o que pensam eles sobre os três aspectos da Fé cristã, como aparecem nos manuais de Teologia: sobrenatural, livre, e racional. Dentro do conceito de Fé: a Fé é sobrenatural, isto é, nos conduz a uma verdade transcendente e única, a de Jesus.
Se creio que a Fé é sobrenatural, portanto é necessário colocar o Deus da revelação como centro, e não homem e mulher, ainda que tomados pelo entusiasmo mais ardente pelos tais muito falados "valores"
cristãos.
Confesso que me inquieto com o naturalismo que perpassa pelo comportamento de muitos que se confessam seguidores de Cristo. Se a Fé é mesmo sobrenatural, ela deve inserir-se harmoniosamente numa natureza que a completa, mas sem a destruir.
- " Para quê Deus?" - leio em livros de certos escritores. -"Separemos "os acontecimentos humanos" e "a Fé" - dizem eles - porque afirmam que a realidade temporal deve ser servida por meios temporais, enquanto a Fé é uma questão puramente interna entre o crente e Deus.
A Fé é livre, entretanto muitos crentes têm a impressão do contrário. Acreditam que são constantemente entravados por preconceitos de toda ordem, asfixiados por medidas acauteladoras, dizendo-se acuados pela Igreja, pois a consideram como verdadeira cidadela de interdições.
Para esses tais, o católico praticante é aquele que "não pode"... Não pode fazer isto, pensar aquilo, participar disto, participar daquilo.
Diante disto, como falar ainda da liberdade da Fé? Como tomar a sério a frase lapidar do Apóstolo Paulo, sobre "a liberdade que Cristo nos outorgou?
Parece-me que muitos "católicos" permanecem infantis em matéria de religião. São católicos "no domingo", quando ouvem seu pároco na homilia durante a Santa Missa, (mas, como é sabido, recuperam-se durante a semana...).
Enfim, todos os cristãos estão realmente persuadidos de que a sua Fé é racional?
Tenho minhas dúvidas sobre isso. Alguns não se atrevem a olhá-la de muito perto; vivem com o espírito coberto de uma poeira de objeções mal digeridas, de escuridões mal iluminadas, respeitando por vezes detalhes comicamente secundários, mas também, - o que me parece mais grave - esquecendo-se do essencial, que é a Divindade de Jesus, a ressurreição dos corpos, na Parusia do Senhor.
Muitos se recolhem à "Fé confiança", à "Fé simplória", que não passa de um "fideísmo" condenável, mais espalhado do que se julga.
Sem dúvida, isso é mais preferível do que nada; uma Fé, porém, baseada quase unicamente no sentimento e no hábito, não conseguirá informar plenamente a vida de homem e mulher. Aí reside a falta de vigor de muitos cristãos.
Certo mal-estar de muitos cristãos diante da liberdade, da sobrenaturalidade e do caráter racional da Fé provém, na maioria deles, de uma diminuição do fervor religioso.
Na verdade, há muitíssimas pessoas que são cristãos "do domingo...".
O que é uma lástima!
O que é uma lástima!
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Aroldo Teixeira de Almeida
Bacharel em Teologia Sistemática, pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção - da PUC - em São Paulo.
profatalmeida@gmail.com
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