domingo, 31 de março de 2013

CAMINHAMOS NA ESTRADA DE JESUS


          Um dos títulos mais bonitos que os primeiros cristãos, em Antioquia e Roma, encontraram para descrever a missão de Jesus foi o de "Defensor". Nos meus tempos de estudante de Teologia, na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, em São Paulo, nas aulas de hebraico ministradas pelo saudoso Professor Schivinsky, aprendi que a palavra "Defensor" é tradução do vocábulo hebraico "Go Êl".
        Este termo designava o parente mais próximo que deveria resgatar seus irmãos e suas irmãs, ameaçados de perder seus bens, por uma ou outra razão. No Novo Testamento, o mesmo termo recebe traduções variadas: salvador, redentor, libertador, advogado, irmão mais velho, consolador e outras semelhantes.
            Jesus, dentro deste contexto, seria o irmão mais velho que assumiria a defesa e o resgate da família e do Seu povo. Ele viria ajudar seus irmãos e suas irmãs, para que pudessem viver novamente em espírito de fraternidade. Foi este o serviço que Ele prestou aos seus e a todos nós, dando cumprimento à profecia de Isaías que anunciava a vinda do Messias Servo.
          O próprio profeta dizia: - "O Filho do Homem não veio para ser servido, mas para servir e dar a Sua vida em resgate por muitos."
          Paulo Apóstolo expressou esta descoberta na seguinte frase em carta aos gálatas: - "Ele me amou e Se entregou por mim."
          E nós, curiosos que somos em tudo que diz respeito a Jesus, poderíamos perguntar: - "O que levou Jesus a fazer a entrega de Si para resgatar seus irmãos?"
          A resposta só pode ser esta: foi a experiência que Ele tinha de Deus como Pai. Se Deus é Pai, então todos nós temos que viver como irmãos e irmãs. Esta é a Estrada Real que Jesus abriu, de novo, na vida de Seu povo. Lendo o Evangelho de Marcos, somos convidados a caminhar nesta Estrada, desde a Galiléia, onde tudo começou à beira do Lago de Genezaré, até o alto do Calvário, em Jerusalém, onde tudo termina e  recomeça na Ressurreição.
        Bem no final de seu Evangelho, como um último recado de amigo, Marcos nos dá esta certeza: -"Jesus vai na frente de vocês!"
       No momento em que tivermos compreendido e experimentado que Seguir Jesus é segui-Lo no caminho da cruz, da doação e do serviço aos irmãos, firmados na Fé de que Ele mesmo vai na nossa frente, então já vencemos o fracasso. Então já ressuscitamos com Ele! 
        Ressuscitados com Ele, porque Caminhamos na Estrada de Jesus!
       E neste Domingo de Páscoa, recitemos com alegria a palavra grandiosa da Liturgia: - "Aleluia! Aleluia, Senhor Jesus, nosso caminho e nossa vida!"

                                              *************************

      Peço licença ao eventual e compreensivo leitor para esta prece que faço diariamente:

                                             Se eu pudesse
                                             na hora mais dolorosa
                                             do sepultamento de minha filha Raquel
                                             quando a sua urna funerária
                                             era colocada túmulo a dentro
                                             eu faria
                                             com que pairasse sobre os presentes
                                             uma revoada de andorinhas
                                             testemunhando 
                                             a sua ressurreição NA morte
                                             que é a Fé
                                             que me anima e me mantém vivo
                                             até hoje
                                             Oh! como seria bom
                                             Se eu pudesse!...

                                         ****************************










       


                                        
















sexta-feira, 29 de março de 2013

SEXTA-FEIRA SANTA - PAUSA PARA MEDITAÇÃO


          A leitura da Paixão do Senhor, segundo o evangelista João, constitui o modo privilegiado de acesso ao mistério pascal, que nesta sexta-feira santa revivemos, sobretudo como morte do Senhor Jesus.
       Jesus morre no momento em que, no templo de Jerusalém, se imolam os cordeiros destinados à celebração da páscoa. Esta imolação é "real", um sacrifício realizado uma vez por todas, porque a vítima "espiritual" torna inúteis as vítimas materiais. Outros pormenores completam o quadro no Calvário: a Jesus não são quebradas as pernas, em conformidade com as prescrições rituais; do Seu lado traspassado jorra o sangue, com o qual são misteriosamente assinalados os que pertencem ao novo povo, aqueles que Deus salva.
      Cristo crucificado é, pois, o "verdadeiro Cordeiro pascal": Ele é a "nossa Páscoa" imolada. "Verdadeiro", porque é a realidade daquilo que os sacrifícios antigos exprimiam, mas de maneira incompleta: a salvação recebida e esperada, a aliança com Deus e a inserção em Seu desígnio, que agora, com o sacrifício de Jesus de Nazaré, chega à sua plenitude.
         Esta descrição não é uma novidade; os profetas, especialmente Isaías, descrevem o Servo de Javé no momento em que realiza Sua missão de libertar o povo dos pecados e de torná-lo agradável a Deus, como um cordeiro inocente, carregado dos delitos de seu povo, e que, em silêncio, se deixa conduzir ao matadouro. E é de sua morte, aceita livremente, que provém a justificação "para todos". 
        O dramático diálogo com Pilatos, testificam-nos os Evangelistas, mostra Jesus silencioso, enquanto a autoridade romana, neste momento a serviço do pecado do mundo que deixa cego o povo, decide Sua morte e O condena.
     Não nos seria completa a compreensão do mistério de Jesus se não contemplássemos também,  meditando o Livro do Apocalipse, o Cordeiro glorioso que está diante de Deus com os sinais de Suas chagas, dominador do mundo e da História. O Cordeiro que se imolou por amor de Seu povo, que constituirá a Igreja e para O qual a Igreja sempre tende, cheia de amor e devoção.
     Na cruz se iniciaram as núpcias do Cordeiro, que terão sua plenitude na festa do Céu, quando pelo Cordeiro, esperamos ser recebidos.
       É nesta Fé que minha esposa Cleusa, minha neta Isabela, e eu, rezamos diariamente esta prece, que nos conforta e nos anima, diante da dolorosa ausência de minha filha Raquel, falecida há pouco tempo:

                                        Se nós pudéssemos
                                        na hora mais dolorosa do sepultamento da Raquel
                                        quando a sua urna funerária
                                        era colocada túmulo a dentro
                                        nós faríamos com que
                                        uma revoada de andorinhas
                                        pairasse sobre os presentes
                                        testemunhando
                                        a sua ressurreição NA morte
                                       como é a Fé 
                                       que nos anima e nos conforta
                                       e nos mantém vivos até hoje...
                                       Oh! como seria bom
                                       se nós pudéssemos!...

                            ************************************

Hoje, 29 de março de 2013, depois de 48 anos, perdido nos tortuosos caminhos deste mundo," o filho pródigo", compelido pela Graça de Deus, pelo incentivo do Papa emérito Bento XVI, e pela imperiosa voz de sua consciência, nesta sexta-feira Santa, na solene Ação Litúrgica, retorna à Casa Paterna, a Igreja, e prouvera a Deus que ele nunca mais se torne, outra vez, infiel a Ela! Louvado seja Jesus de Nazaré, o Bom Pastor, que não deixa que nenhuma de Suas ovelhas se perca, conforme Sua promessa compendiada nos Evangelhos!...
Louvado seja Deus!

                           ************************************






                                        










terça-feira, 26 de março de 2013

NOSSA PRECE NA SEMANA SANTA


         Nossa prece, na Semana Santa, não pode ser uma palavra que divide, pois se há quem nela creia e nela se apóie, há muita gente que considera a prece um capítulo superado!
        Todos nós fazemos nossas preces, no sentido de manifestarmos a Deus nossos desejos mais íntimos e mais profundos.
       Que prece poderemos fazer nesta Semana Santa, para além das divisões egoísticas que nos separam dos irmãos e irmãs no lar, no trabalho, na vida social, com que convivemos no dia-a-dia?
         Antes de fazermos nossa prece, é preciso que nossos olhos se abram e comecemos pela urgência de superar o próprio egoísmo, sair de nós mesmos e nos dedicarmos, à custa de muito esforço , a procurar que o mundo ao nosso redor, no lar, no trabalho e na vida social, seja um mundo mais justo e mais humano!
     Que não deixemos para amanhã: comecemos hoje, agora, sem entusiasmos passageiros; com decisão, firmeza e perseverança!
      Que olhemos em volta para descobrir irmãos e irmãs, marcados pela mesma vocação de dizer adeus ao comodismo, à preguiça, e de marcar encontro com todos os que têm fome da verdade, e juraram dedicar a própria vida tentando abrir, através da justiça e do amor, caminhos para a paz no lar, no trabalho, na vida social!
      Que o importante para nós seja unir-nos e caminhar, firmes, para o nosso objetivo, lembrando sempre que o tempo corre contra nós!
      Façamos, como se fosse nossa, a prece de Francisco de Assis (que, aliás, é também o nome de nosso chefe, na comunidade católica, o Papa Francisco), e seja esta prece o ideal de nossa vida, ao concretizá-la na prática do dia-a-dia:

                                 Senhor, fazei de mim um instrumento de vossa paz!
                                 Para onde há ódio, que eu traga o amor
                                Para onde há ofensa, que eu traga o perdão
                                Para onde há discórdia, que eu traga a união
                                Para onde há erro, que eu traga a verdade
                                Para onde há dúvida, que eu traga a Fé
                               Para onde há desespero, que eu traga a esperança
                               Para onde há trevas, que eu traga a luz
                               Para onde há tristeza, que eu traga a alegria
                               Ó Mestre, possa eu preferir
                               Consolar, que ser consolado
                              Compreender, que ser compreendido
                              Amar, que ser amado
                              Porque:
                              É dando, que se recebe
                             É esquecendo, que se pode encontrar
                             É perdoando, que se é perdoado
                             É morrendo, que se ressuscita para a Vida Eterna!

                                                 ******************

       E a minha prece especial, de todo dia, enquanto eu for vivo:

                            Se eu pudesse,
                            na hora mais dolorosa
                            do sepultamento de minha filha Raquel
                            quando a sua urna funerária
                            era colocada túmulo a dentro
                            eu faria com que pairasse sobre os presentes
                            uma revoada de andorinhas
                            lembrando a sua ressurreição NA morte
                            como é a Fé
                            que me anima e me mantém vivo até hoje...
                            Oh! como seria bom
                            Se eu pudesse!...

                                            ********************

                             

                              
            

domingo, 24 de março de 2013

OS "POBRES" DE JAVÉ


           A oferta de sacrifícios a Deus entre os judeus antigos, como lemos no Antigo Testamento, parece constituir, como em em todos os povos, a expressão mais significativa  do senso religioso de homem e de mulher. Despojando-se de tudo o que lhes pertence por conquista ou pelo trabalho, homem e mulher reconhecem que tudo pertence a Deus e Lho restitui em agradecimento. E quando uma parte do que foi sacrificada é comida no templo pelos ofertantes, então se estabelece uma comunhão simbólica entre Deus e os comensais, uma participação da mesma vida.
        Na Bíblia, as tradições sacerdotais do Antigo Testamento nos dão a conhecer uma legislação complexa, que poderia facilmente assumir valor autônomo e, portanto, formalista, esquecendo o significado da ação cultual em relação à salvação integral do homem e da mulher.
       Os profetas nos lembram frequentemente que Deus só aceita as ofertas e sacrifícios se são acompanhados de uma atitude interior de humildade, de oferta espiritual de si mesmo, de reconhecimento da própria e radical pobreza e da necessidade de uma libertação que nós sozinhos não podemos obter, mas que podemos invocar e esperar de Deus.
            A pobreza é, pois, o sacrifício espiritual, isto é, a realidade profunda de toda oferta e imolação de animais e de coisas em honra de Deus. Esta é a atitude dos "pobres de Javé", e especialmente do "Servo de Javé", como apresentado pelo profeta Isaías. Este, tanto no sentido individual como no corporativo. Enviado para salvar Seu povo, a humanidade inteira, este Servo de Javé é obrigado a suportar perseguições e ultrajes. Aceita-os, entretanto, com paciência e mansidão, sabendo que Deus o salvará.
          Cumpre Sua missão oferecendo-se a Si mesmo como vítima inocente, para expiar os pecados do povo. Por Sua obediência e amor, Deus O exaltará e glorificará. Com os irmãos, salvos, Ele louvará o Senhor num sacrifício de ação de graças aberto a todos.
           Na encarnação, Jesus fez Sua a pobreza radical de homem e mulher perante Deus. Coerente com esta opção, apoiou-se na palavra do Pai, que nas Escrituras e nos acontecimentos Lhe indica o caminho para cumprir Sua missão, não se subtraindo à condição do homem pecador, ao sofrimento que provém do egoísmo, nem aos limites da natureza humana, entre os quais, antes de tudo, a morte.
        Um homem como todos, um pobre em poder de todos. Assim Ele Se mostra no sucinto e  objetivo relato dos Evangelhos. E nós O vemos como uma vítima da intolerância e da injustiça, um amotinador do povo e, quando muito, um sacrificado pelos seus por um falso cálculo político por parte dos fariseus.
          Mas isto não bastaria para fazer dEle um salvador. O que resgata a Sua morte, o que a transfigura - para Ele e para nós - é o imenso peso de amor com que faz dom da vida, para libertar-nos da violência e do ódio, do fanatismo e do medo, do orgulho e da auto-suficiência. Para tornar-nos - como Ele - disponíveis a Deus e aos outros, capazes de amar e perdoar, de ter confiança e reconstruir, de crer no homem e na mulher, ultrapassando as aparências e as deformações.
     Só assim nossa Igreja oferece hoje em dia o sacrifício espiritual agradável ao Pai, quando, reconhecendo-se pecadora e sempre necessitada de salvação, apresenta a Deus não os próprios méritos e sucessos, mas a lembrança viva de Sua Cabeça crucificada, do Filho bem-amado, de cuja morte e ressurreição recebe luz e força para ser fiel à sua missão.
          E pode fazê-lo com tanto mais verdade, quanto mais houver escolhido não os caminhos do poder, do sucesso e do bem-estar, mas o da coragem para repelir a injustiça e compartilhar plenamente da sorte dos pobres e dos humildes, como parece ser o lema do nosso Papa Francisco, recém-eleito.
         Sob a inspiração e a Graça de Deus, e a chancela de seu pastor visível, o Papa, a Igreja celebra hoje a entrada de Jesus em Jerusalém, a caminho da plenitude de Sua missão redentora da humanidade pelo Seu sacrifício na cruz. Este domingo, chamado "Domingo de Ramos" marca, pela bênção dos ramos em todas as missas do dia,  o início da "Semana Santa", com todas as suas imponentes cerimônias litúrgicas, celebrando a nossa redenção levada a efeito pela paixão e morte de Nosso Senhor Jesus Cristo, na sexta-feira, culminando com a Sua gloriosa ressurreição no assim dito Domingo da Páscoa.
      É uma semana de grande importância para todas as comunidades cristãs, notadamente para os católicos, que nas suas igrejas se reúnem para louvar e agradecer a Cristo o sacrifício de Sua vida, entregue por amor a Deus Pai, em benefício da redenção de toda a humanidade.
  

                                                    ************************************

                                                    Se eu pudesse
                                                    na hora mais dolorosa
                                                    do sepultamento de minha filha Raquel
                                                    quando a sua urna funerária
                                                    era colocada túmulo a dentro
                                                    eu faria com que voasse 
                                                    sobre os presentes
                                                    uma revoada de andorinhas
                                                    lembrando a sua ressurreição NA morte
                                                    como é a Fé
                                                    que me anima e me mantém vivo até hoje
                                                    Oh! como seria bom
                                                    Se eu pudesse!...

                                                  *************************************
             
           



              
    

sábado, 23 de março de 2013

SAUDADES DA RAQUEL


         Neste mês de março de 2013, se minha filha Raquel ainda vivesse, estaria completando 46 anos muito bem vividos, tanto na família, quanto no trabalho, numa das gerências da Caixa Econômica Federal.
        Não pudemos celebrar seu aniversário natalício, apenas chorar, desconsolados, a sua ausência física entre nós. A morte inexorável, destino final de todos os viventes, a levou para a Casa do Pai/Mãe de todos os pais e mães que ainda peregrinam pelos caminhos deste mundo.
          Ela se separou fisicamente de  nós, mas passou a viver mais intensamente do que nunca com sua filha Isabela, com seus irmãos Carlos, Júlio e Aroldo Júnior, e com seus chorosos pais, após seu falecimento em 21 de agosto de 2010 no Hospital Erasto Gaertner de Curitiba, vitimada por um insidioso câncer.
     Numa união misteriosa e singular no Espírito Santo, comunicada às coisas que deixou e aos acontecimentos do dia-a-dia em que viveu conosco por tão curto tempo, a verdade é que ela partiu para a Casa do Pai de todos os pais na eternidade, mas continua a viver conosco pela dor sem remédio da saudade.
       Sua morte faz com que a revivamos nos objetos em que tocou, nas vestes que deixou e que nós conservamos com carinho, na lembrança das palavras que com ela trocávamos, nos fatos alegres ou tristes que juntos partilhamos, e agora até mesmo nos fatos que se seguiram à sua partida, e que nós lhe comunicamos na prece silenciosa de todos os dias, e com ela conversamos como se estivesse ainda viva em nosso hoje solitário lar.
          A morte, destino de todos os agora ainda viventes, a levou, mas a devolveu de novo a nós, banhada pela luz da eternidade e pela gloriosa certeza de sua ressurreição NA morte, que é a Fé que anima e conforta seus pais, e que os mantém ainda vivos para cultuarem a sua memória.
        Continua viva entre nós, por essa invisível e misteriosa presença de cada dia, de cada hora, de cada momento, com que impregnamos de esperança a nossa saudade, como também, paradoxalmente, na imensa alegria de que ela, na Casa do Pai, na eternidade, passou a velar por nós, agora na plenitude de sua vida com Deus.
        Nesta certeza, nós a temos sempre a nosso lado, em nossa vida de cada dia, velando por sua filha Isabela, por seus irmãos, por seus chorosos pais.
        Presença permanente na vivência do dia-a-dia, no silêncio e na solidão das noites, quando ela vem, misericordiamente, para enxugar-nos as lágrimas da saudade imorredoura.

                                                                                                    Seu pai.


                                                         *************************************

                                                          Se eu pudesse,
                                                          na hora mais dolorosa
                                                          do sepultamento de minha filha Raquel
                                                          quando sua urna funerária 
                                                          era colocada túmulo a dentro
                                                          eu faria
                                                          com que pairasse sobre os presentes
                                                          uma revoada de andorinhas
                                                          lembrando
                                                          a sua ressurreição NA morte
                                                          que é a Fé
                                                          que me anima e me mantém vivo
                                                          até os dias de hoje
                                                          Oh! como seria bom
                                                          Se eu pudesse!...
                                                    
                                                      ***************************************



                                              

sexta-feira, 22 de março de 2013

AFINAl, QUEM É JESUS?


          Passaram-se mais de dois mil anos, igrejas das mais variadas confissões, mesmo divergentes entre si, todas se dizem professar a mesma crença em Jesus de Nazaré, tendo-O por Filho de Deus, que deu Sua vida para a salvação da humanidade.
       E o questionamento, apesar dos dois mil anos, continua ainda a ecoar através dos séculos e das gerações: afinal, quem é Jesus?
       Sabemos, pelos quatro evangelistas, que nas estradas da Galiléia Jesus atraía multidões. O povo vibrava com Ele. Entretanto, depois de um período de pregação, de milagres, de entusiasmo do povo, talvez atraído ainda pela lembrança da multiplicação dos pães, em abundância, Jesus termina sua peregrinação praticamente só. Seu último discurso não tem mais do que quatro ouvintes. Como entender este fracasso? E é de fato um fracasso?
           Pelo seu modo de ser, de agir, de ensinar, de cobrar os poderosos da época, Jesus incomodava, levantava questionamentos, principalmente por parte do estamento religioso. As pessoas procuravam compreendê-Lo a partir das coisas que elas mesmas já conheciam e acreditavam.
           Tentavam situá-Lo e enquadrá-Lo dentro dos critérios que lhes eram familiares: o Antigo Testamento e a Tradição dos Antigos. Mas estes critérios não eram suficientes. Jesus não cabia dentro deles. Ele era muito maior do que esses critérios.
            E o questionamento continuava: afinal, quem era este Jesus para eles? Qual a idéia que as multidões que O seguiam chegaram a formar a respeito dEle?
           Começo a análise pelo povo. Na verdade, o povo "estava espantado com o Seu ensinamento, pois Ele ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas e fariseus". O povo percebia o novo que apareceu em Jesus, percebia nitidamente a diferença entre Ele e os escribas e sacerdotes do templo, e manifestava a sua perplexidade e admiração: - "Que é isto? Um novo ensinamento dado com autoridade? Ele manda até nos espíritos impuros, e eles Lhe obedecem!"
            Fizéssemos um levantamento da opinião pública da época, chegaríamos à conclusão de que, apesar da preferência e da admiração, o povo não chegou a descobrir a verdadeira identidade de Jesus. Dizem-nos os evangelistas que Jesus, para muitos, era João Batista; para outros, Elias ou algum dos profetas.
            Nem os parentes sabiam bem o que pensar a respeito de Jesus. Achavam até que Ele tivesse ficado doido. E os habitantes de Nazaré não eram melhores que os parentes. Estes, conheciam Jesus desde pequeno, e não aceitavam Ele ter escapado dos critérios deles. Eles reagiam, dizendo uns aos outros: - "Que sabedoria é esta? Não é Ele o filho de Maria? O carpinteiro?"   E ainda questionavam:  - "Donde lhe vem tal poder?"
          As autoridades do templo, ameaçadas na sua liderança pela popularidade de Jesus, O condenavam  em nome da Tradição dos Antigos e da Lei de Moisés, e diziam: - "Ele blasfema! Pois só Deus pode perdoar pecados!" Em outra ocasião: - "Como é que Ele come com pecadores e publicanos? E ainda censuravam: - "Por que os teus discípulos não jejuam?" Também: -"Por que teus discípulos fazem o que não é permitido em dia de sábado? Por que eles não se comportam conforme a Tradição dos Antigos?"
          Diante da liberdade de Jesus e dos discípulos, eles pediam de Jesus um sinal do céu. Mas Jesus não dava. Ele não se submetia ao julgamento das autoridades nem dependia da licença deles. Por essa e outras, decidiram levá-Lo à morte. As normas e as leis em vigor declaravam Jesus como transgressor delas. Assim, em nome da Tradição e da Lei, Ele foi preso e declarado réu de morte.
        As autoridades locais, principalmente as religiosas, não podiam permitir que Jesus, um carpinteiro lá do interior da Galiléia, provocasse desordem em Jerusalém.  Condenado à morte, agora vai realizar-se com Jesus o que Ele mesmo tinha já anunciado aos discípulos: - "O Filho do Homem vai ser entregue e morto".
        Este é o pano de fundo da história da paixão, que a nossa Paróquia São Pedro e São Paulo, cá na Vila São João, bairro do Tingui, começa já a colocar para a nossa meditação, a  partir de amanhã, no chamado "Domingo de Ramos", em que se comemora a chegada de Jesus a Jerusalém.
         .
  

             

sexta-feira, 15 de março de 2013

AINDA OS DESENCONTROS


            Dizem-nos os Evangelhos que certo dias Jesus contou às multidões que O seguiam a parábola do semeador. A multidão não entendeu e pediu-Lhe explicações. Jesus então lhes disse: - "Não compreenderam esta parábola? Então, como é que podem entender todas as parábolas?"
           A partir deste ensino das parábolas o desencontro de Jesus com os que O seguem começa a crescer. Jesus percebe a situação e lhes diz: - "Prestem atenção no que vocês ouvem! Com a mesma medida com que medirem, vocês também serão medidos. Para aqueles que têm alguma coisa lhes será dado mais ainda. Para aqueles que não têm, será tirado até mesmo o que não têm."
          Frase misteriosa! Ela pode significar o seguinte: O critério ou a idéia com que recebemos o ensinamento de Jesus vai determinar quem é Jesus para nós. Se o critério for bom, todo ensinamento recebido fará crescer o conhecimento que já temos de Jesus. Se o critério não for bom, perceberemos que o Jesus como nós O entendemos não combina com o Jesus verdadeiro, com quem estamos caminhando pelas estradas da Galiléia. 
            Explicando melhor: enquanto não mudarmos a idéia errada que temos de Jesus, toda a informação que recebemos sobre Ele nos fará errarmos mais ainda, e nos fará perdermos até o pouco de conhecimento verdadeiro que tínhamos a respeito dEle. "Será tirado de nós até mesmo o que já tínhamos."
             É como se o evangelista dissesse às suas comunidades e a todos nós: - "Prestem bem atenção nas idéias com que vocês olham para Jesus!"
            Claro! Pois se a cor dos óculos é verde, tudo nos parecerá verde. Se for azul, tudo será azul! É a vasilha que dá forma ao pão, e não o contrário! Mas o aviso de Jesus, ao que parece, não ajudou muito. Dentro da mente dos discípulos existia alguma coisa que não se ajustava e que se manifestava sobretudo em certos momentos críticos. Por exemplo, durante a tempestade, no mar. Diante das ondas que balançavam o barco, o medo deles foi tão grande que chegaram a acordar Jesus, que dormia (ou fingia dormir...).: - "Não te importas que perecemos?"
            Jesus estranhou a reação deles. Acalmou o mar e disse: - "Então, vocês não têm fé?"
            Eles não sabiam o que responder, e perguntavam a si mesmos: - "Quem é este que até o mar e o vento Lhe obedecem?"
             A  verdade é que Jesus parecia um estranho para eles. Apesar da convivência amiga do dia-a-dia, não sabiam direito quem Ele era.
           Os Evangelhos retratam outros desencontros: na ida de Jesus e os discípulos quando iam à casa de Jairo; quando a multidão O procurou no deserto; no episódio da segunda multiplicação dos pães; ainda, quando Jesus chegou até eles andando por cima das águas.
          Diante destes fatos, o evangelista Marcos comenta: - "Eles não tinham entendido nada, e o seu coração estava endurecido."
           Esta afirmação: "coração endurecido", relembra o coração endurecido do povo no deserto, que não queria ouvir Moisés, e só pensava em voltar para o Egito, onde havia cebolas e panelas cheias.
            Intuímos da leitura atenta dos Evangelhos que os discípulos pareciam com os fariseus e os escribas que já tinham mostrado que não entendiam nada das novidades trazidas por Jesus. Agora, os discípulos são iguais a eles! A ignorância ou a má vontade dos inimigos, nós entendemos! Mas dos discípulos, é difícil entender! Tanto é verdade, que se poderia dizer a respeito deles: - "Então, nem vocês têm inteligência para compreender as palavras de Jesus, com Quem vocês convivem e seguem?"
            Por incrível que pareça, os discípulos chegaram num ponto em que já não se diferenciavam dos inimigos de Jesus. Não entendiam mais nada, porque "tem olhos e não enxergam, têm ouvidos e não escutam."
             A impressão desses desencontros que nos saltam aos olhos é que os discípulos, convivendo com Jesus, em vez de melhorar, pioravam. Pareciam até perder o pouco que tinham. Quanto mais Jesus explicava, tanto menos eles entendiam! Por quê? Qual a causa deste desencontro?
              É o que veremos numa próxima postagem.

                                             **********************************

                                             Se eu pudesse,
                                             na hora mais dolorosa do sepultamento
                                             da minha filha Raquel
                                             quando a sua urna funerária
                                             era colocada túmulo a dentro
                                             eu faria com que
                                             uma revoada de andorinhas
                                             voasse sobre os presentes
                                             lembrando a sua ressurreição NA morte
                                             que é a Fé que me mantém vivo até hoje
                                             Oh! como seria bom
                                             se eu pudesse!...
                                   
                                             *********************************

             Domingo próximo, 17 de março, se a Raquel estivesse viva estaria também aniversariando, fazendo 46 anos de idade!
            Choramos, com sua filha adolescente, Isabela, a sua ausência física entre nós. Mas, paradoxalmente, também nos alegramos, na certeza de que ela descansa em paz na Casa do Pai/Mãe de todos os pais e mães desta terra, por onde peregrinamos, em direção a essa mesma Casa do Pai.
             Requiescat in pace, filiola mea Raquel, et lux perpetua Domini Nostri Jesus Christi luceat tibi in domo Patris aeterni. Amen.

                                         ************************************
















              

             

             



terça-feira, 12 de março de 2013

DESENCONTROS E QUESTIONAMENTOS


    Lendo o Evangelho de Marcos, vemos que os discípulos seguem Jesus com entusiasmo; no fundo, porém, não sabem ainda, com certeza, a quem estão seguindo. Eles imaginam uma coisa; mas, na realidade, Jesus é outra! Eles seguem Jesus, atraídos pela bondade da pessoa dEle e empurrados pelas suas próprias expectativas sobre o Reino e sobre o Messias.
      Aos poucos, vão percebendo que em Jesus existe algo que não bate bem com aquilo que eles pensavam e esperavam. No meio daquele entusiasmo inicial, aparece o desencontro, a crise, a dúvida.
    Refletindo sobre este fato, verificamos que com a gente sucede o mesmo. Depois que entramos na comunidade, num círculo bíblico, num sindicato, num partido político ou num movimento popular, depois do entusiasmo inicial que faz parecer tudo tão bonito e promissor, começamos a perceber que nem tudo é como imaginávamos que seria. 
      Descobrimos que nem todos pensam como nós. Verificamos que existem outros movimentos com idéias bem diferentes a respeito de Jesus: comunidades eclesiais de base, grupos de oração, carismáticos, neocatecúmanos, focolares, crentes sinceros ou fundamentalistas, tantos e tantos! 
     Todos são unânimes em dizer: - "Nós seguimos Jesus!" Mas que Jesus? Então Cristo está dividido? O Jesus dos outros nem sempre nos agrada. Às vezes nos vem até o pensamento: - "Coitado desse aí! Um dia ele vai perceber seu erro!"
     Sem darmos conta, já partimos do princípio de que o outro está errado. Quem tem que mudar é ele, e não eu! E de repente surge a dúvida no fundo de nossa alma: - "E se porventura o Jesus do outro for o verdadeiro Jesus, e o meu é falso? O que vou fazer?"
     Dúvidas e questionamentos vão entrando pela porta dos fundos. Como os Evangelhos nos testemunham com João Batista. Ele anunciava Jesus com grande entusiasmo. Mas depois, na prisão de Maqueronte, descobriu que Jesus era diferente do que ele tinha anunciado. Daí, a pergunta feita por ele: - "O Messias é o senhor, ou devemos esperar outro?"
     Como sempre acontece, no meio dos desencontros vão aparecendo nossos limites, defeitos e pecados. Mas por baixo de tudo permanece a pergunta: - "Quem é Jesus? Quem tem a imagem correta de Jesus? Como ser discípulo de Jesus?
    Algo semelhante estava acontecendo nas comunidades do tempo em que Marcos escrevia o seu Evangelho, como também já acontecera com os discípulos e multidões que acompanhavam Jesus pelas estradas da Palestina. Os primeiros sinais desse desencontro já aparecem logo no início, e vão aumentando na mesma medida em que Jesus se revela a eles.
     É o que vamos refletir na próxima postagem.

                                            ***************************************

                                                 Se eu pudesse
                                                 na hora mais dolorosa
                                                 do sepultamento de minha filha Raquel
                                                 quando a sua urna funerária
                                                era colocada túmulo a dentro
                                                eu faria com que
                                                voasse sobre os presentes
                                                uma revoada de andorinhas
                                                lembrando a sua ressurreição NA morte
                                               - como é a Fé que me mantém vivo até hoje -
                                               Oh! como seria bom
                                               Se eu pudesse!...

                                        *****************************************

                                               
                                                
                                    

     


domingo, 10 de março de 2013

BUSCAR O QUE ESTAVA PERDIDO

              (Uma meditação sobre a parábola do "filho pródigo").

          A vinda de Jesus ao mundo dá início a uma nova e singular história de perdão: Deus que perdoa homem e mulher com a encarnação do Filho. O Batista, às margens do Jordão, anuncia Sua vinda, com o convite à conversão em previsão do severo juízo que está para cair sobre toda a humanidade pecadora. Mas quando Jesus vem, declara não ter vindo "para condenar o mundo, e sim para salvá-lo."
            Jesus declara ter vindo não para os que se creem justos, mas para os pecadores que se arrependam de seus pecados.
           Procura-os como o pastor que vai atrás da ovelha desgarrada, ou como a mulher que revira a casa em busca da moeda perdida. Os privilegiados da misericórdia, os preferidos de Jesus, são os pobres, as mulheres abandonadas, as viúvas, os estrangeiros, isto é, os marcados por uma interdição e repelidos pela sociedade. 
           Para Jesus, o filho pródigo é sempre esperado. Essa atitude provoca o espanto e a indignação dos fariseus e de certos "justos fundamentalistas"  incapazes de ultrapassar a justiça, semelhantes ao filho mais velho do Evangelho, invejando a bondade do pai para com o irmão mais moço que abandonou o lar mas que um dia retorna, arrependido. 
          Toda a vida de Jesus Cristo, especialmente Sua morte na cruz, foi expressão de uma misericórdia sem limites. A história do perdão, começada com Jesus, continua na Igreja, que é "sacramento de salvação."  O perdão divino continua a exercer-se por iniciativa e vontade de Deus e pelo poder que lhe deu Cristo: perdoar é assim ajudar a humanidade a encontrar-se com Deus.
         Não basta ter permanecido sempre na casa do pai para participar do banquete: é preciso saber perdoar. Não basta nada ter feito de reprovável; é necessário também esperar e desejar a vinda daquele que se afastara de casa. Não basta ter observado as leis da Igreja e do Estado, ter trabalhado sempre por um mundo mais justo; não basta ainda que os países ricos peçam (justamente) perdão às populações subdesenvolvidas, por estarem, talvez inconscientemente, exploradas pelas nações assim ditas do primeiro mundo.
            Devemos ser capazes de perdoar a quem caiu. Infelizmente, ao contrário, expulsamos de casa a filha que se comportou mal, guardamos rancor com o filho que se casou contra a nossa vontade, alimentamos aversão pelo esposo que gasta no bar, em cervejada com os amigos, o que era absolutamente necessário para sua esposa e filhos.
      Consideramo-nos justos, ou queremos ser justos, mas talvez invejemos os que erram e nos aborreçamos por ficar sempre em casa. E quando percebemos que o Pai de todos os pais sempre fica do lado daquele que caiu, que o tem sempre no coração, que o espera e, quando ele volta, prepara-lhe uma festa, parece-nos que isto é demais, e perguntamos: onde está a justiça do pai?
         Então ficamos com raiva e não queremos participar do banquete do qual, aliás, já nos havíamos excluído. A Igreja não é a comunidade dos que não erram, dos que caem, mas dos pecadores que querem voltar ao Pai, sem pretensões. A comunidade dos que compreendem o outro e, se este cai, o ajuda, juntos, a retomar o caminho que o levará ao seu destino.
             Não se pode ir ao encontro do Pai comum se não se está disposto a retornar à casa e perdoar.












     
                 
              

            




           

sexta-feira, 8 de março de 2013

Avisos na estrada: "TEM CRUZ DEPOIS DA CURVA'


         Lendo o Evangelho de Marcos, vejo que os discípulos seguem Jesus. Pensam que já O conhecem, mas, aos poucos, vão descobrindo que na verdade não O conhecem como deveriam. Em Jesus, para eles, havia um mistério maior. Ele fala, aconselha e decide diferentemente do que eles esperavam ou imaginavam.
          Refletindo sobre este fato, descubro que o mesmo acontece com a gente. Pensamos que conhecemos muito bem uma pessoa e, de repente, damos conta de que não a conhecemos suficientemente. E quanto maior for a vontade de conhecer, de controlar e de dominar a vida do outro, tanto maior será o risco que corremos de estarmos errados e frustrados.
        E quantas vezes não acontece que pensamos até em conhecer as reações de Deus e tudo o que Ele pede e espera receber de nós. E depois nos damos conta de que Deus é totalmente diferente daquilo que nós imaginávamos, e de que na realidade estávamos apenas manipulando Deus a nosso favor.
         Mesmo assim, apesar do desencontro crescente, apesar de os discípulos terem chegado a uma atitude igual à dos adversários, Jesus não rompe nem desiste de acolhê-los. Pelo contrário! Em vez de romper, começa a instruí-los, para que vençam a cegueira e percebam a causa do eventual desencontro. Ele começa a falar abertamente sobre a Cruz que O espera e sobre o Messias-Servo que vai sofrer e morrer, conforme já previra o profeta Isaías.
         Estas instruções são os novos avisos na Estrada de Jesus para o viajante não errar o caminho! Já que estamos lendo o Evangelho de Marcos, o problema da Cruz não era só a Cruz de Jesus de Nazaré. Era também a cruz que o povo das nascentes comunidades cristãs carregava por causa da sua fé em Jesus. A cruz da perseguição, a cruz dos desentendimentos com os conterrâneos judeus, a cruz da incerteza, a cruz dos conflitos internos da comunidade. 
        Carregar esta cruz era o mesmo que assumir a caminhada com Jesus, desde a Galiléia até Jerusalém. E as cruzes de hoje? A cruz da fome em largas fatias da comunidade, a cruz do desemprego, da falta de saúde, da exclusão, do analfabetismo, da pobreza extrema, da falta de justiça. Tantas e tantas cruzes!
       A leitura dos Evangelhos procura nos iluminar a estrada, para todos os que os lêem e os meditam no dia-a-dia de sua vida. A partir de certo momento da caminhada de Jesus, o ambiente muda. Não aparece mais o entusiasmo das multidões. Vão desaparecendo os milagres; só três agora, a cura de dois cegos e uma expulsão de demônio. Quase não há mais multidões ansiosas por nova multiplicação dos pães, só Jesus e os discípulos.
     Saem da Galiléia e começam a longa jornada até Jerusalém, onde o Mestre será crucificado. Os discípulos "seguem Jesus", vão com ele, sem preocupação maior com o futuro. Enquanto vão caminhando, recebem de Jesus a notícia sobre a cruz. Jesus lhes fala da Sua paixão, morte e ressurreição como sendo parte do projeto de Deus. - "O Filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e, depois de três dias, ressuscitar." 
        Cada vez de novo, desde o começo até o fim da longa instrução de Jesus aos discípulos, o Evangelho de Marcos informa que Jesus está a caminho. "a caminho para Jerusalém" , onde a cruz O espera.
      O caminho para Jerusalém é o caminho da entrega, do abandono, do serviço, da disponibilidade, da aceitação do conflito, antevendo que haverá ressurreição. A cruz faz parte deste caminho. Pois num mundo organizado (ou desorganizado) a partir do egoísmo, o amor e o serviço só podem existir crucificados! Quem faz da sua vida um serviço aos outros, ao próximo, incomoda os que vivem agarrados aos privilégios.
    A compreensão plena do seguimento de Jesus não se obtém pela instrução teórica, mas sim pelo compromisso prático, caminhando com Ele no caminho do serviço, desde a Galiléia até Jerusalém. Quem insiste em manter a idéia de Pedro, isto é, do Messias glorioso sem a cruz, nada vai entender e nunca chegará a tomar a atitude do verdadeiro discípulo.
      Sem a cruz, é impossível entender quem é Jesus e o que significa seguir Jesus.
      Mas, quem souber caminhar e fazer a "entrega de si", quem aceitar "ser o último", quem assume "beber o cálice e carregar sua cruz", este, como Bartimeu, mesmo tendo idéias não inteiramente corretas, conseguirá enxergar e "seguirá Jesus no caminho".
      



   

         


          

quarta-feira, 6 de março de 2013

A VOZ DE DEUS AQUI E AGORA!


          De Abraão e de outros Pais de crentes e Condutores de multidões se diz que ouviram o chamado de Deus.
      Podemos nós, também, escutar a voz do Senhor? Não será pretensão descabida, uma vaidade perigosa?
         Quem vive em áreas onde milhões de criaturas humanas vivem de modo sub-humano,   praticamente em condições de escravidão, se não tiver surdez de alma e coração, conseguirá ouvir o clamor dos oprimidos. E tenho para mim, com muita convicção, que o clamor dos oprimidos é a voz de Deus.
      Quem vive em países desenvolvidos e ricos (EUA, Inglaterra...) mas ainda com eventuais zonas cinzentas de subdesenvolvimento e de miséria, se tiver antenas espirituais, poderá ouvir o clamor silencioso das minorias sem-vez e sem-voz. E o clamor dos sem-vez e sem-voz indubitavelmente é a voz de Deus.
         Quem é despertado para as injustiças geradas pela má distribuição das rendas, se tiver grandeza de alma, captará os protestos silenciosos ou violentos dos pobres. E "o protesto dos pobres é a voz de Deus"
(Dom Hélder Câmara).
           Quem acorda para as injustiças nas relações entre países pobres e impérios capitalistas ou socialistas nota que, em nossos tempos, as injustiças sociais já não acontecem apenas entre pessoas e pessoas, ou entre grupos e grupos, mas entre países e países. E "a voz dos países injustiçados é a voz de Deus" - outra vez Dom Hélder Câmara, em seu livro que estou lendo, "O Deserto é Fértil".
         Para despertar-nos do nosso sono, creio que Deus se serve até dos atos de radicalização e de violência, como acontece em nossos dias em várias partes do mundo. Ele sabe tirar o bem do próprio mal.
          Como não sentir a urgência de agir, se temos olhos capazes de ver que muitíssimos jovens, cheios de entusiasmo e de ardor, diante de certas situações de injustiça social, demonstram uma fibra e uma repulsa que causam admiração aos que permaneciam indiferentes e apáticos até então?
          Quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, sente-se interpelado:  como ser medíocres, quando temos nossa mensagem religiosa para manter-nos e encorajar-nos à ação?
          Seremos tão surdos, a ponto de não perceber que o Deus de amor nos alerta para o perigo real de o nosso próximo, de o nosso irmão estar caminhando para o sofrimento e a solidão?
          Seremos tão egoisticamente fechados de modo a não notar que o Deus da Justiça a nós revelado por Jesus de Nazaré exige que nos movamos e tentemos um esforço concreto e sincero para que certas injustiças que nos rodeiam sejam detectadas e combatidas sem reservas?
         Seremos tão alienados, tão distantes e tão frios, de maneira a dar-nos o luxo de procurar Deus, em horas cômodas de lazer, em templos luxuosos, através de liturgias pomposas e, não raro, vazias de calor humano, sem pressentir a presença de Deus no humilhado, no pobre, no oprimido, no injustiçado, sendo nós, muitas vezes, pela nossa omissão, coniventes com esta situação em que vivem muitos de nossos irmãos?  
        Afirma Dom Hélder Câmara, no seu impressionante livro "O Deserto é Fértil", que é relativamente fácil escutar o chamado de Deus através dos acontecimentos do nosso tempo, do nosso meio e ambiente.                                            Difícil mesmo é não parar em atitudes emotivas de compaixão e de pesar, passageiras.                           Difícil é arrancar-nos do comodismo, quebrar resistências interiores (as mais duras e penosas de quebrar); deixar-nos revolver-nos pela Graça de Deus; decidir-nos a mudar de vida.
          Numa palavra, de converter-nos!



segunda-feira, 4 de março de 2013

PENSAMENTOS VADIOS...



        Tive um susto hoje, quando acordei... Notei que tinha os olhos cheios de lágrima. Creio que sonhei com a Raquel, chorei no sonho, e que por isso acordei com lágrimas nos olhos. Que minha querida e saudosa filha descanse na paz do Senhor  Deus, Pai de todos os pais que sofrem, porque também Ele com certeza sofreu, com a morte na Cruz de Seu Filho, Nosso Senhor Jesus Cristo.

                                                         *****************

          Tenho muita pena de minha neta adolescente, a Isabela. Órfã de mãe a quem muito amava, a Raquel, que morreu vitimada por um câncer. A Isabela está viajando com meu filho Júlio. Esteve no Mato Grosso do Sul. Está voltando hoje, e houve problemas com o ônibus em que viaja.. Telefonou para a vó, dando notícias do fato, dizendo que estavam parados num quase deserto, com muito sol e calor.
          Fiquei muito magoado quando a vó disse: É bom mesmo que ela sofra, para aprender!
          Será essa frase digna de uma pessoa que se diz cristã e frequentadora de igreja?
         Tenho mesmo muita pena da Isabela. Sem a mãe, sem convivência com o pai, que vive longe, vivendo ela com um casal de velhos, os avós maternos ( minha esposa e eu),  creio que ela não se sente uma menina feliz. Tem bons amigos no colégio, tento de tudo para fazê-la feliz, promessa que fiz à sua mãe, a Raquel, num leito de hospital, antes de seu falecimento. Mas a  menina encontra certa incompreensão em casa, coisa que lamento e procuro corrigir, mas a tarefa não é fácil.
       Tento ser um para-raio entre ela e a avó, mesmo sabendo que não há muito êxito na tentativa... Hoje ela retorna do passeio ao Mato Grosso do Sul, mas  antes de chegar, já foi admoestada por telefone, porque está perdendo três dias de aula... (que podem ser facilmente recuperados).
         A verdade é que gosto desesperadamente de minha netinha, Isabela, e não admito que ela sofra, nem que seja pelo menor de todos os males...

                                                  ***********************

         Um pica-pau com grito agudo, afiado como um punhal, apavora os pássaros menores numa grande e copada árvore aqui na frente de minha casa. Mas ele mesmo é benévolo e inofensivo. A bela ave, num vôo refulgente, faz o ruído de uma ave de mau agouro. Assim é que eu temo a beleza!

                                                 ***********************

         Aqueles a quem Deus pede a mais perfeita esperança devem olhar de perto seus pecados. Isso quer dizer que devem deixar o Senhor focalizar Sua luz repentinamente sobre os mais escuros recantos da própria alma - não que eles devam fazer caça aos que não compreendem. Procurar demasiadamente esconder aquilo que, precisamente, deveríamos de fato encontrar.
          Nem é certo que tenhamos qualquer obrigação urgente de encontrar o pecado em nós. Quanto pecado nos é ocultado por Deus, em Sua misericórdia! Mesmo porque Ele o esconde a Seus próprios olhos!
                                               ************************

          Nossa glória e nossa esperança: somos o Corpo de Cristo. Cristo nos ama e se une a nós em Sua própria carne. Não nos basta isso? Mas, em realidade, não cremos nisso. Não! Contentemo-nos, contentemo-nos. Somos o Corpo de Cristo! Nós O encontramos porque Ele nos procurou. Deus veio para fazer Sua morada em nós, que somos seres pecadores. 
           Nada mais há a procurar, só podemos voltar-nos para Ele inteiramente, ali onde Ele já está presente. Aquietar-se e ver que Ele é Deus. E que nós somos nada!...

                                              *************************

            FILHO DE REI

Senhor,
não há esbanjamento na criação?
Os frutos não compensam
o desperdício das sementes. 
As fontes espalham 
excessos de água.
O sol derrama
dilúvios de luz.
Que a tua magnanimidade 
me ensine grandeza de alma.
Que a tua magnificência
me livre de ser pequenino.
Que te vendo pródigo
- generoso e bom -
eu dê sem contar,
saem medir,
como filho de Rei,
como filho de Deus!

                                           ********************************








                                        









    


                               


      
          

sábado, 2 de março de 2013

AS SEMENTES DO REINO NO MEIO DO POVO


          Jesus de Nazaré anuncia o Reino para todos. Não exclui ninguém. Mas o anuncia a partir dos excluídos, dos marginalizados pela sociedade. Ele recebe como irmãos e irmãs todos aqueles a quem o governo local e a religião desprezavam e excluíam: mulheres, crianças e doentes; prostitutas e pecadores; pagãos e samaritanos; leprosos e possessos; publicanos e soldados do colonizador romano; os pobres, o povo da terra sem poder.
             Assim, aos poucos, a pregação por assim dizer revolucionária de Jesus,  tendo por lema a vinda do Reino, a semente deste Reino crescia e desabrochava em novas formas de vida comunitária, para todos aqueles que a recebiam e acolhiam  com coração sincero.
             Esta ação de Jesus a partir e em favor dos excluídos não era uma ação isolada só dEle. Havia muita gente que não concordava com a exclusão e que vinha resistindo desde muito tempo. Jesus se insere neste movimento de resistência popular e lhe dá continuidade e orientação. Um palpitante exemplo desta Sua atitude é a Sua maneira de tratar e acolher a mulher.
        Na época do Novo Testamento, a marginalização da mulher, que intuímos de uma leitura atenta dos Evangelhos, era um dos fatores principais a causar a exclusão dos pequenos. A mulher vivia marginalizada pelo simples fato de ser mulher. Na sinagoga ela não participava; na vida pública não podia ser arrolada como testemunha. A verdade, porém, é que muitas mulheres não aceitavam a exclusão, e resistiam a ela.
          Já desde os tempos de Esdras, no período depois do exílio, quando a marginalização da mulher era mais pesada, sua resistência vai crescendo, como transparece nas estórias de Judite, Ester, Rute, Noemi, Suzana, da sulamita e outras. Esta resistência encontrou eco e acolhida por parte de Jesus. Os Evangelhos nos trazem alguns episódios em que transparecem o inconformismo e a resistência das mulheres no dia-a-dia de sua vida e o acolhimento que Jesus lhes dava. 
           A mulher que era tida como prostituta tem coragem de desafiar as normas da sociedade e da religião. Ela entra na casa de um fariseu para encontrar-se com Jesus. Encontrando-O, encontra também amor e perdão, e recebe defesa contra as alegações do fariseu. A mulher encurvada não se importa com os gritos do dirigente da sinagoga. Busca a cura, mesmo em dia de sábado.  Jesus a acolhe como filha e a defende contra o dirigente da sinagoga.
         Noutro episódio narrado por Marcos, a mulher considerada impura por causa do fluxo de sangue tem a coragem de meter-se no meio da multidão e de pensar exatamente o contrário da doutrina oficial. A doutrina, tirada do Antigo Testamento, dizia: - "Se eu tocar nEle, Ele ficará impuro." No seu íntimo, porém, ela dizia: - "Se eu tocar nEle, ficarei curada."
         Ela é acolhida sem censura e curada. Jesus declara que a cura é fruto da Fé. A samaritana, desprezada pela religiosidade oficial como herética, tem a ousadia de interpelar Jesus e de mudar o rumo da conversa por Ele iniciada. Ela é a primeira a receber o segredo de que Jesus é o Messias.
           A mulher estrangeira da região de Tiro e Sidônia não aceita a sua exclusão e sabe argumentar de tal maneira, que consegue mudar a atitude de Jesus e ser atendida por Ele. As mães com filhos pequenos enfrentam os discípulos e são acolhidas e abençoadas por Jesus.
         As mulheres, que desafiaram o poder militar e ficaram perto da cruz de Jesus, foram as primeiras a experimentar a presença de Jesus ressuscitado. Entre elas estava Maria Madalena, considerada pecadora, mas curada por Jesus. Ela recebeu a ordem  de transmitir a Boa Nova da ressurreição aos apóstolos, conforme o evangelista João.
         Oxalá nos dias de hoje, com a eleição do novo Papa, que acontecerá nos próximos dias, a Igreja deixe de lado aquilo que ela chama de tradição, e passe a acolher a mulher também no ministério sacerdotal, porque a sua atual exclusão vai contra os exemplos de acolhimento dado a elas por Jesus.
          Se o Papa Bento XVI, renunciando ao pontificado e pedindo ao sair, reformas na Igreja,  eu creio que o seu apelo deveria ser ouvido pela Hierarquia, e que se parta efetivamente em direção às muitas reformas de que a Igreja necessita e que a comunidade católica espera, sem mais demora.

                                                      
                                                         *************************************

                                                        - "Se eu pudesse,
                                                           na hora mais dolorosa
                                                           do sepultamento de minha filha Raquel,
                                                           quando a sua urna funerária
                                                           era colocada túmulo a dentro
                                                           eu faria com que voasse sobre os presentes
                                                           uma revoada de andorinhas
                                                           lembrando a sua ressurreição NA morte
                                                           que é a Fé
                                                           que me mantém vivo até hoje...
                                                           Oh! como seria bom
                                                           Se eu pudesse!...

                                                        *************************************
































       

E