quarta-feira, 6 de março de 2013

A VOZ DE DEUS AQUI E AGORA!


          De Abraão e de outros Pais de crentes e Condutores de multidões se diz que ouviram o chamado de Deus.
      Podemos nós, também, escutar a voz do Senhor? Não será pretensão descabida, uma vaidade perigosa?
         Quem vive em áreas onde milhões de criaturas humanas vivem de modo sub-humano,   praticamente em condições de escravidão, se não tiver surdez de alma e coração, conseguirá ouvir o clamor dos oprimidos. E tenho para mim, com muita convicção, que o clamor dos oprimidos é a voz de Deus.
      Quem vive em países desenvolvidos e ricos (EUA, Inglaterra...) mas ainda com eventuais zonas cinzentas de subdesenvolvimento e de miséria, se tiver antenas espirituais, poderá ouvir o clamor silencioso das minorias sem-vez e sem-voz. E o clamor dos sem-vez e sem-voz indubitavelmente é a voz de Deus.
         Quem é despertado para as injustiças geradas pela má distribuição das rendas, se tiver grandeza de alma, captará os protestos silenciosos ou violentos dos pobres. E "o protesto dos pobres é a voz de Deus"
(Dom Hélder Câmara).
           Quem acorda para as injustiças nas relações entre países pobres e impérios capitalistas ou socialistas nota que, em nossos tempos, as injustiças sociais já não acontecem apenas entre pessoas e pessoas, ou entre grupos e grupos, mas entre países e países. E "a voz dos países injustiçados é a voz de Deus" - outra vez Dom Hélder Câmara, em seu livro que estou lendo, "O Deserto é Fértil".
         Para despertar-nos do nosso sono, creio que Deus se serve até dos atos de radicalização e de violência, como acontece em nossos dias em várias partes do mundo. Ele sabe tirar o bem do próprio mal.
          Como não sentir a urgência de agir, se temos olhos capazes de ver que muitíssimos jovens, cheios de entusiasmo e de ardor, diante de certas situações de injustiça social, demonstram uma fibra e uma repulsa que causam admiração aos que permaneciam indiferentes e apáticos até então?
          Quem tem olhos de ver e ouvidos de ouvir, sente-se interpelado:  como ser medíocres, quando temos nossa mensagem religiosa para manter-nos e encorajar-nos à ação?
          Seremos tão surdos, a ponto de não perceber que o Deus de amor nos alerta para o perigo real de o nosso próximo, de o nosso irmão estar caminhando para o sofrimento e a solidão?
          Seremos tão egoisticamente fechados de modo a não notar que o Deus da Justiça a nós revelado por Jesus de Nazaré exige que nos movamos e tentemos um esforço concreto e sincero para que certas injustiças que nos rodeiam sejam detectadas e combatidas sem reservas?
         Seremos tão alienados, tão distantes e tão frios, de maneira a dar-nos o luxo de procurar Deus, em horas cômodas de lazer, em templos luxuosos, através de liturgias pomposas e, não raro, vazias de calor humano, sem pressentir a presença de Deus no humilhado, no pobre, no oprimido, no injustiçado, sendo nós, muitas vezes, pela nossa omissão, coniventes com esta situação em que vivem muitos de nossos irmãos?  
        Afirma Dom Hélder Câmara, no seu impressionante livro "O Deserto é Fértil", que é relativamente fácil escutar o chamado de Deus através dos acontecimentos do nosso tempo, do nosso meio e ambiente.                                            Difícil mesmo é não parar em atitudes emotivas de compaixão e de pesar, passageiras.                           Difícil é arrancar-nos do comodismo, quebrar resistências interiores (as mais duras e penosas de quebrar); deixar-nos revolver-nos pela Graça de Deus; decidir-nos a mudar de vida.
          Numa palavra, de converter-nos!



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