Passaram-se mais de dois mil anos, igrejas das mais variadas confissões, mesmo divergentes entre si, todas se dizem professar a mesma crença em Jesus de Nazaré, tendo-O por Filho de Deus, que deu Sua vida para a salvação da humanidade.
E o questionamento, apesar dos dois mil anos, continua ainda a ecoar através dos séculos e das gerações: afinal, quem é Jesus?
Sabemos, pelos quatro evangelistas, que nas estradas da Galiléia Jesus atraía multidões. O povo vibrava com Ele. Entretanto, depois de um período de pregação, de milagres, de entusiasmo do povo, talvez atraído ainda pela lembrança da multiplicação dos pães, em abundância, Jesus termina sua peregrinação praticamente só. Seu último discurso não tem mais do que quatro ouvintes. Como entender este fracasso? E é de fato um fracasso?
Pelo seu modo de ser, de agir, de ensinar, de cobrar os poderosos da época, Jesus incomodava, levantava questionamentos, principalmente por parte do estamento religioso. As pessoas procuravam compreendê-Lo a partir das coisas que elas mesmas já conheciam e acreditavam.
Tentavam situá-Lo e enquadrá-Lo dentro dos critérios que lhes eram familiares: o Antigo Testamento e a Tradição dos Antigos. Mas estes critérios não eram suficientes. Jesus não cabia dentro deles. Ele era muito maior do que esses critérios.
E o questionamento continuava: afinal, quem era este Jesus para eles? Qual a idéia que as multidões que O seguiam chegaram a formar a respeito dEle?
Começo a análise pelo povo. Na verdade, o povo "estava espantado com o Seu ensinamento, pois Ele ensinava como quem tem autoridade, e não como os escribas e fariseus". O povo percebia o novo que apareceu em Jesus, percebia nitidamente a diferença entre Ele e os escribas e sacerdotes do templo, e manifestava a sua perplexidade e admiração: - "Que é isto? Um novo ensinamento dado com autoridade? Ele manda até nos espíritos impuros, e eles Lhe obedecem!"
Fizéssemos um levantamento da opinião pública da época, chegaríamos à conclusão de que, apesar da preferência e da admiração, o povo não chegou a descobrir a verdadeira identidade de Jesus. Dizem-nos os evangelistas que Jesus, para muitos, era João Batista; para outros, Elias ou algum dos profetas.
Nem os parentes sabiam bem o que pensar a respeito de Jesus. Achavam até que Ele tivesse ficado doido. E os habitantes de Nazaré não eram melhores que os parentes. Estes, conheciam Jesus desde pequeno, e não aceitavam Ele ter escapado dos critérios deles. Eles reagiam, dizendo uns aos outros: - "Que sabedoria é esta? Não é Ele o filho de Maria? O carpinteiro?" E ainda questionavam: - "Donde lhe vem tal poder?"
As autoridades do templo, ameaçadas na sua liderança pela popularidade de Jesus, O condenavam em nome da Tradição dos Antigos e da Lei de Moisés, e diziam: - "Ele blasfema! Pois só Deus pode perdoar pecados!" Em outra ocasião: - "Como é que Ele come com pecadores e publicanos? E ainda censuravam: - "Por que os teus discípulos não jejuam?" Também: -"Por que teus discípulos fazem o que não é permitido em dia de sábado? Por que eles não se comportam conforme a Tradição dos Antigos?"
Diante da liberdade de Jesus e dos discípulos, eles pediam de Jesus um sinal do céu. Mas Jesus não dava. Ele não se submetia ao julgamento das autoridades nem dependia da licença deles. Por essa e outras, decidiram levá-Lo à morte. As normas e as leis em vigor declaravam Jesus como transgressor delas. Assim, em nome da Tradição e da Lei, Ele foi preso e declarado réu de morte.
As autoridades locais, principalmente as religiosas, não podiam permitir que Jesus, um carpinteiro lá do interior da Galiléia, provocasse desordem em Jerusalém. Condenado à morte, agora vai realizar-se com Jesus o que Ele mesmo tinha já anunciado aos discípulos: - "O Filho do Homem vai ser entregue e morto".
Este é o pano de fundo da história da paixão, que a nossa Paróquia São Pedro e São Paulo, cá na Vila São João, bairro do Tingui, começa já a colocar para a nossa meditação, a partir de amanhã, no chamado "Domingo de Ramos", em que se comemora a chegada de Jesus a Jerusalém.
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