sexta-feira, 8 de março de 2013

Avisos na estrada: "TEM CRUZ DEPOIS DA CURVA'


         Lendo o Evangelho de Marcos, vejo que os discípulos seguem Jesus. Pensam que já O conhecem, mas, aos poucos, vão descobrindo que na verdade não O conhecem como deveriam. Em Jesus, para eles, havia um mistério maior. Ele fala, aconselha e decide diferentemente do que eles esperavam ou imaginavam.
          Refletindo sobre este fato, descubro que o mesmo acontece com a gente. Pensamos que conhecemos muito bem uma pessoa e, de repente, damos conta de que não a conhecemos suficientemente. E quanto maior for a vontade de conhecer, de controlar e de dominar a vida do outro, tanto maior será o risco que corremos de estarmos errados e frustrados.
        E quantas vezes não acontece que pensamos até em conhecer as reações de Deus e tudo o que Ele pede e espera receber de nós. E depois nos damos conta de que Deus é totalmente diferente daquilo que nós imaginávamos, e de que na realidade estávamos apenas manipulando Deus a nosso favor.
         Mesmo assim, apesar do desencontro crescente, apesar de os discípulos terem chegado a uma atitude igual à dos adversários, Jesus não rompe nem desiste de acolhê-los. Pelo contrário! Em vez de romper, começa a instruí-los, para que vençam a cegueira e percebam a causa do eventual desencontro. Ele começa a falar abertamente sobre a Cruz que O espera e sobre o Messias-Servo que vai sofrer e morrer, conforme já previra o profeta Isaías.
         Estas instruções são os novos avisos na Estrada de Jesus para o viajante não errar o caminho! Já que estamos lendo o Evangelho de Marcos, o problema da Cruz não era só a Cruz de Jesus de Nazaré. Era também a cruz que o povo das nascentes comunidades cristãs carregava por causa da sua fé em Jesus. A cruz da perseguição, a cruz dos desentendimentos com os conterrâneos judeus, a cruz da incerteza, a cruz dos conflitos internos da comunidade. 
        Carregar esta cruz era o mesmo que assumir a caminhada com Jesus, desde a Galiléia até Jerusalém. E as cruzes de hoje? A cruz da fome em largas fatias da comunidade, a cruz do desemprego, da falta de saúde, da exclusão, do analfabetismo, da pobreza extrema, da falta de justiça. Tantas e tantas cruzes!
       A leitura dos Evangelhos procura nos iluminar a estrada, para todos os que os lêem e os meditam no dia-a-dia de sua vida. A partir de certo momento da caminhada de Jesus, o ambiente muda. Não aparece mais o entusiasmo das multidões. Vão desaparecendo os milagres; só três agora, a cura de dois cegos e uma expulsão de demônio. Quase não há mais multidões ansiosas por nova multiplicação dos pães, só Jesus e os discípulos.
     Saem da Galiléia e começam a longa jornada até Jerusalém, onde o Mestre será crucificado. Os discípulos "seguem Jesus", vão com ele, sem preocupação maior com o futuro. Enquanto vão caminhando, recebem de Jesus a notícia sobre a cruz. Jesus lhes fala da Sua paixão, morte e ressurreição como sendo parte do projeto de Deus. - "O Filho do homem deve sofrer muito, ser rejeitado pelos anciãos, pelos sacerdotes e pelos escribas, ser morto e, depois de três dias, ressuscitar." 
        Cada vez de novo, desde o começo até o fim da longa instrução de Jesus aos discípulos, o Evangelho de Marcos informa que Jesus está a caminho. "a caminho para Jerusalém" , onde a cruz O espera.
      O caminho para Jerusalém é o caminho da entrega, do abandono, do serviço, da disponibilidade, da aceitação do conflito, antevendo que haverá ressurreição. A cruz faz parte deste caminho. Pois num mundo organizado (ou desorganizado) a partir do egoísmo, o amor e o serviço só podem existir crucificados! Quem faz da sua vida um serviço aos outros, ao próximo, incomoda os que vivem agarrados aos privilégios.
    A compreensão plena do seguimento de Jesus não se obtém pela instrução teórica, mas sim pelo compromisso prático, caminhando com Ele no caminho do serviço, desde a Galiléia até Jerusalém. Quem insiste em manter a idéia de Pedro, isto é, do Messias glorioso sem a cruz, nada vai entender e nunca chegará a tomar a atitude do verdadeiro discípulo.
      Sem a cruz, é impossível entender quem é Jesus e o que significa seguir Jesus.
      Mas, quem souber caminhar e fazer a "entrega de si", quem aceitar "ser o último", quem assume "beber o cálice e carregar sua cruz", este, como Bartimeu, mesmo tendo idéias não inteiramente corretas, conseguirá enxergar e "seguirá Jesus no caminho".
      



   

         


          

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