Nos meus tempos de estudante de Teologia, na Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, na Capital paulista, aprendi que Deus possui inúmeras maneiras de distribuir, a homens e mulheres, os Seus dons, Sua Graça santificadora.
Se Deus fosse um tímido, se se prendesse a julgamentos precipitados e sem base, repartiria Seus dons em doses rigorosamente iguais para todos. Ninguém se poderia queixar: ninguém teria nada a mais, nada a menos. Tudo numerado, etiquetado, registrado, certinho...
Esta atitude seria indigna da imaginação criadora do Pai de todos os pais. Seria de incrível monotonia, como se todas as criaturas humanas tivessem o mesmo rosto ou todas as flores tivessem a mesma forma, a mesma cor, o mesmo perfume.
Aprendi também que Deus aceita o risco de parecer injusto. A verdade é que ninguém deixa de receber, de Suas mãos divinas, pelo menos, o indispensável. Mas há quem receba com largueza estonteante. No caso, eu me refiro às verdadeiras riquezas: às riquezas interiores. E lembro também que existem os ricos de dons divinos, os privilegiados da Graça. Os santos.
Muitíssimas vezes temos a impressão de que Deus é injusto. Mas Deus não é injusto. Deus pede mais de quem recebe mais. E quem recebe mais, recebe em função dos outros. Não é maior, nem melhor: é mais responsável. Deve servir mais. Viver para servir.
Há muitas pessoas que se julgam preteridas, esquecidas por Deus, que o seu caso pessoal é o de quem recebeu e, se recebeu, foi apenas o mínimo, o essencial.
Mas tenho a convicção de que o importante não é pesar, medir, contar os dons recebidos. Não é o caso de ter recebido muito ou pouco. O importante mesmo é a firme decisão interior de responder ao máximo, e de servir aos irmãos.
Deus, Pai de todos os pais, pensa em todos e, pensando em todos, chama de modo particular, alguns. Parece que os faz pular no escuro, a partir, caminhar. Submete-os a duras provas, através de sacrifícios terríveis. Mas os sustenta, dá-lhes coragem, ao chamá-los para a missão de serem instrumentos da Vontade Divina. Encarrega-os de ser presença discreta na hora decisiva das opções. Deus os faz animadores das caminhadas de outros, e muitos outros.
Quem ouve o chamado de Deus e atende a este chamado, torna-se sinal visível da Providência Divina, no serviço e na entrega ao serviço dos irmãos.
A Bíblia Sagrada traz-nos um exemplo eloquente desta verdade:
Abraão foi chamado por Deus. Não vacilou um instante. Partiu. Caminhou. Enfrentou provações dificílimas. Aprendeu, à própria custa, a despertar irmãos, em nome de Deus. A chamar, a encorajar. A pôr em marcha.
Os Judeus, os Cristãos, os Muçulmanos, conhecem-lhe a história.
Abraão recebeu muito? Sim, e respondeu muito. Respondeu ao máximo. Serviu. Por isso é chamado de "pai dos crentes".
E nós, que fomos batizados, que recebemos os dons do Espírito Santo, será que respondemos ao chamado de Deus, como o fez Abraão?
Não é difícil, parece-me relativamente fácil escutar o chamado de Deus, através dos acontecimentos do nosso tempo, do nosso meio, do nosso dia-a-dia. Difícil é não parar em atitudes emotivas de compaixão e de pesar.
Difícil é arrancar-nos do comodismo; quebrar estruturas interiores (as mais duras e penosas de quebrar). Difícil mesmo é deixar-nos penetrar pela Graça de Deus, decidir-nos a mudar de vida.
Precisamos converter-nos! Eis aí a questão fundamental.Estamos dispostos a enfrentá-la?
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