quinta-feira, 17 de setembro de 2015

UM TESTEMUNHO DE DOR



                Para a Isabela, minha neta querida:


                Hoje, lembrando-me da Raquel, confesso que chorei. Antes de ela ser sua mãe, é minha filha, e por isso, diante de seus sofrimentos e sabendo que ela estava definitivamente em estado terminal, chorei, não nego, e chorarei sempre que me lembrar dela.
                Para que Você saiba como foram as últimas horas dela neste mundo, deixo-lhe este breve relato, que escrevo com os olhos repletos de lágrimas.
                Seu fim, nós o pressentimos desta maneira:
                Certa manhã, estávamos na sala sua avó, eu e sua mãe. Num certo momento, a Raquel disse que ia subir para o seu quarto, levantou-se e dirigiu-se para a escada. Eu vi que ela tentou três vezes colocar o pé sobre o primeiro degrau, e não conseguiu. Senti um estalo na cabeça, imediatamente corri ao telefone e chamei o "Ecco Salva".
                Colocaram a Raquel em uma maca e a levaram para a ambulância. Eu fui junto. Chegando ao Hospital Erasto Gaertner, ela foi examinada, fizeram uma radiografia da cabeça e decidiram operá-la. Abriram seu crânio, e o médico apenas disse: - "Mega metástase!"  -  me informando que o câncer tinha tomado toda a extensão de seu crânio. Fecharam-lhe a cabeça, e a levaram para o quarto.
                Conversando com seu médico, ele me informou que a Raquel estava em estado terminal, e nada mais era possível p fazer  para reverter o quadro.
               Voltei para junto dela, e ela me pediu que sentasse na cama ao seu lado. Pegou em minha mão, apertou-a tanto até doer, e me disse:
                - "Pai, Você vai me fazer uma promessa."
              Estas  suas palavras fizeram-me compreender que ela já sabia de seu estado.   Respondi-lhe que faria a promessa que ela quisesse, e ela então me disse que me intimava a fazer Você feliz. E eu lhe prometi, chorando.
                Mais tarde o médico entrou de novo no quarto, chamou-me de lado e disse que ia aplicar-lhe uma injeção porque seu estado era terminal e sem retorno, ela estava sofrendo dores terríveis no crânio, que ela iria dormir e não sofreria mais. Assim foi feito. Ela dormiu, e o Carlão ficou com ela, pois sua mãe e eu precisávamos descansar um pouco.
                Fomos para casa. Algum tempo depois o Carlão ligou, e disse que se quiséssemos ver a Raquel ainda viva, era para irmos imediatamente para o hospital.
                Você, Isabela, era pequenininha, e achei que lhe proibiriam a entrada no hospital. Sua avó
foi com o Carlão, eu  abracei Você, nós dois sentados à beira da cama, chorando, e ali ficamos não sei quanto tempo. 
                De madrugada a Raquel morreu. Deixou este mundo de dor e sofrimento, e partiu para a Casa do Pai de todos os pais.
                Não sei onde foi o velório. Só sei que o sepultamento foi no "Memorial da Saudade", em São José dos Pinhais. Eu não fui à beira do túmulo, onde ela estava sendo sepultada. Fiquei à distância, sentado em um banco, chorando. Só me lembro que um amigo e vizinho, o Senhor João, hoje Ministro da Eucaristia na Paróquia, sem dizer nenhuma palavra, respeitando minha dor, sentou-se ao meu lado, silencioso, até terminar toda a cerimônia. (Dias depois mandei-lhe um bilhete agradecendo sua atitude caridosa, simplesmente sentando-se ao meu lado, dando-me apoio e conforto, mesmo sem palavras, pois elas de nada adiantariam, em vista das circunstâncias).
                Terminado o sepultamento, voltamos para a solidão de nossa casa, que continua solitária até os dias de hoje, apesar do valiosíssimo presente que a Raquel nos deixou, que é Você, minha querida neta Isabela!...

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