segunda-feira, 28 de setembro de 2015

A PROPÓSITO DE KARL BARTH



            A semana passada eu a aproveitei lendo a biografia de Karl Barth, que foi um dos maiores pensadores protestantes do século XX, dentro da linha teológica chamada "Teologia Dialética" ou "da crise".  
            Pois na sua biografia, Karl Barth teve um sonho. Sonhou com Mozart.
            Na verdade, Barth sempre se sentiu melindrado pelo Catolicismo de Mozart e pelo fato dele rejeitar o Protestantismo.  É de Mozart a célebre frase:
            - "O Protestantismo está todo na cabeça".
            E em outro texto:               
            - "Os Protestantes nunca conheceram o sentido do "Agnus Dei qui tollis peccata mundi" (Cordeiro de Deus que tiras os pecados do mundo).
            Em seu sonho, Barth foi indicado para examinar Mozart em Teologia. Desejava tornar o resultado do exame tão favorável quanto possível. Assim, em suas perguntas aludia expressamente às célebres "Missas" do compositor.
             Mozart, porém, questionado, não respondeu palavra.
             Fiquei profundamente comovido com a descrição deste sonho por Barth, pois foi um sonho que tinha tudo a ver com sua salvação, e Bart talvez estivesse se esforçando por admitir que ele seria salvo mais pelo Mozart que nele existe do que por sua própria Teologia.
             Cada dia, durante anos, diz-me a biografia que Barth tocava Mozart todas as manhãs antes de iniciar seu trabalho sobre o Dogma. Procurava, talvez inconscientemente, despertar o Mozart "sapiens" nele oculto, a sabedoria interna que se harmoniza com a música divina e o cósmico, e é salva pelo amor, sim, mesmo pelo "eros". Enquanto o outro ser, o teológico, aparentemente mais preocupado com o amor, abraça um "ágape" mais severo, mais cerebral: um amor que, afinal, não está em nosso próprio coração, mas somente em Deus, e é revelado apenas à nossa cabeça.
            Barth dizia também, com muito sentido, que "é uma criança, mesmo uma criança "divina" que nos fala na música de Mozart. Alguns, declara Barth, sempre consideraram Mozart uma criança em relação às coisas práticas da vida. Ao mesmo tempo, ao menino-prodígio Mozart nunca foi permitido ser criança no sentido literal da palavra. Tinha apenas seis anos quando deu seu primeiro concerto. Contudo, foi sempre uma criança "no sentido mais elementar do termo."
            Terminando de ler sua biografia, tive a inaudita vontade de dizer, em espírito, ao notável Barth:
            - "Não temas, Karl Barth! Confia na misericórdia divina. Sei muito bem que cresceste e te tornaste um dos grandes teólogos do século XX, e Cristo sempre permaneceu em ti uma criança. Teus livros, que eu muito desejaria ler, talvez valham menos do que poderias pensar! Mas saibas que há em ti, como também em mim, um Mozart que será a nossa salvação."

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Um comentário:

  1. Bom texto.
    O Mozart que habita no catolicismo, sempre confrontará aquele protestantismo a ser bem mais suave ao admitir que nem tudo pode ser entendido, e que as vezes devemos simplesmente crer... ...

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