O monge cisterciense norte-americano Thomas Merton, no seu livro "Reflexões de um espectador culpado," narra um fato interessante. Diz ele que um jovem sacerdote foi enviado pelo seu bispo para pregar numa paróquia de "brancos" em Nova Orleans, cidade onde predominava uma séria intolerância para com os negros.
O sacerdote, no seu sermão, inspirou-se naquele texto do Evangelho no qual Jesus de Nazaré fala no duplo mandamento do amor de Deus e do amor ao próximo, essência da moral cristã.
O padre aproveitou a oportunidade do sermão para lembrar que esse mandamento se aplicava perfeitamente bem ao problema da segregação racial que imperava na região, onde os negros eram considerados pessoas de segunda classe e desprezados acintosamente pelos brancos.
Explicava o sacerdote que o mandamento do amor ao próximo exigia que brancos e negros deveriam realmente amar-se a ponto de se aceitarem mutuamente numa sociedade integrada e cristã.
O jovem sacerdote já pronunciara metade de sua homilia, e o sentido de suas reflexões se tornava suficientemente claro, quando um homem, levantando-se, gritou raivosamente: - "Não vim aqui para ouvir essa espécie de coisa que não presta. Vim para assistir à Missa!"
O padre calou-se e esperou em silêncio e, outro homem apoiado por um murmúrio de aprovação, levantou-se também protestando contra aquela doutrina do amor a todos, que ele achou conveniente classificar de "desprezível".
Como o padre continuasse calado, os dois homens retiraram-se da igreja, seguidos por alguns outros que se consideravam sólidos cristãos dessa comunidade. Ao saírem, o primeiro que protestou, virando-se para o padre, gritou bem alto: - "Se eu falto ao preceito dominical hoje, a culpa é sua!"
No meu entender, incidentes como este narrado por Merton têm sentido. Um sentido simples e objetivo. A provável sinceridade das consciências mal formadas confirma o fato de que alguém pode considerar-se "bom católico" ou "bom evangélico" e ser assim louvado por seus vizinhos, quando, na realidade, é um apóstata da Fé cristã.
Refletindo sobre o fato destes homens se recusarem a ouvir a explicação clara da palavra de Deus pregada por um ministro da Igreja, falando em nome de Deus, concluo também que houve uma completa insensibilidade moral e espiritual em relação ao sentido da Missa como ágape cristão, a união dos irmãos em Cristo, união da qual nenhum crente pode ser excluído.
Estou convicto de que excluir um irmão em Cristo desta união é grave falha em "distinguir o Corpo de Cristo" e, portanto, "comer e beber a própria condenação", nos termos da I Cor 11,28).
Desculpar inteiramente tais pessoas me parece que seria participar dessa transgressão clara da lei da Caridade. Esse pecado deve ser claramente apontado e declarado como tal. A pseudocaridade que se encolhe diante desta verdade torna-se responsável pela proliferação da injustiça e da mentira, sob o disfarce de Cristianismo.
O melhor que se pode dizer dessas pobres pessoas é, repetindo as palavras de Jesus de Nazaré:
- "Não sabem o que fazem".
Contudo, puni-las, descarregar sobre elas nossa própria agressividade em nome da justiça, não nos é permitido, por esta mesma lei da Caridade Cristã.
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