sábado, 11 de agosto de 2012

O CRISTÃO E A REALIDADE DA MORTE


       Neste mês de agosto faz dois anos que a Raquel, minha filha, deixou esta vida terrena e passageira e partiu para a Vida que não tem fim, a Vida Eterna. Permita-me então o eventual leitor deste blog que um pai choroso torne públicas as meditações que constantemente, no dia a dia, estão presentes em seu espírito sobre essa realidade inelutável que é a morte.
      No centro da Fé cristã está a convicção de que, quando a morte é aceita em espírito de fé, quando nossa vida inteira está orientada pelo dom de si, de maneira que no fim da vida a entregamos de volta, pronta e livremente, nas mãos de Deus Criador e Redentor, a morte se transforma em plenitude. Diz o monge cisterciense norte-americano Thomas Merton: - "A vitória sobre a morte é obra do amor. Não é fruto de nossa própria virtude heróica, e sim da participação no amor com que Cristo aceitou a morte na cruz."   
      Isto não se torna muito claramente à razão. É totalmente do domínio da Fé. Mas o cristão é alguém, o homem e a mulher, que creem com certeza que, quando uniram sua vida e sua morte ao dom que Jesus de Nazaré fez de Si mesmo na cruz, encontrou não apenas uma resposta dogmática a um problema humano e uma série de gestos rituais no culto, que confortam e aliviam a angústia diante da morte.
      Acima disso, foi concedida ao homem e à mulher, cristãos, a Graça do Espírito Santo. Assim não vivem eles uma existência de condenados e decaídos, mas vivem a vida eterna e imortal que lhes é dada, no Espírito, por Cristo. Vivem "em Cristo."
      O que "vem depois da morte" não se torna, ainda, muito claro, em termos de "lugar de repouso" - (uma espécie de cemitério celeste?), ou um paraíso de recompensas. 
       O cristão não se preocupa, em realidade, com uma vida dividida entre este mundo e o outro, além da morte. Preocupa-se com uma vida. A vida nova do novo Adão, em Cristo e no Espírito, tanto agora como depois da morte. Não pede antecipadamente uma planta ou um esboço de sua mansão celestial. Procura, isto sim, a Face de Deus como lhes foi desvelada por Jesus de Nazaré, e a visão dAquele que é a Vida Eterna, conforme lemos em Jo 17,3.
      Contudo, essa "amizade" pela morte não é a mesma coisa que um desejo doentio ou patológico da morte. O desejo patológico da morte é a total recusa da vida, dom de Deus. É um abdicar as dificuldades da vida, um como que ressentimento em relação às alegrias de viver.
      O desejo patológico da morte é incapacidade de viver. A verdadeira aceitação da morte em liberdade e espírito de Fé exige uma aceitação fecunda e madura da vida. Quem teme a morte e quem por ela anseia ou a procura  estão, ambos, na mesma condição: admitem não terem vivido.
      Minha filha Raquel morreu ainda jovem, mas esses anos de vida, ela os viveu intensamente, tanto na prática religiosa quanto no estudo e no trabalho, no amor e na dedicação total à sua filha Isabela, no carinho com os pais, na caridade para todos quantos a procuravam.
      Acometida por um câncer submeteu-se, como era seu dever, aos mais traumáticos tratamentos, porque amava a vida, mas não por temor à morte, porque ela, devota que era de São Francisco de Assis. tratava a morte como uma irmã, que um dia a conduziria à Casa do Pai, à Vida Eterna.

     

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