No dia 6 de agosto último, pequena notícia perdida num canto de Jornal dava conta de que duas alarmantes esfinges nasceram abruptamente em Hiroshima e Nagasaqui, no Japão. A primeira, no dia 6 de agosto de 1945, às 8,15 da manhã. quando o piloto norte-americano Paul Tibbets, a bordo do bombardeiro Enola Gay, lança a bomba atômica sobre Hiroshima. Um cogumelo de fogo envolve toda a cidade. Em instantes, milhares e milhares de pessoas desaparecem, envolvidas pelo fogo atômico.
A segunda esfinge nasceu alguns dias depois, em Nagasaqui, no lançamento de outro artefato atômico. Novamente com destruição e milhares de mortos.
Novo tipo de morte que a sociedade moderna criou. Símbolo-morte de nossa civilização. Prolongando essa experiência de Hiroshima e Nagasaqui, escreve-se muito sobre a ameaça do "inverno atômico", que não liquidará simplesmente duas cidades japonesas, mas toda a vida do planeta.
Novo tipo de morte que a sociedade moderna criou. Símbolo-morte de nossa civilização. Prolongando essa experiência de Hiroshima e Nagasaqui, escreve-se muito sobre a ameaça do "inverno atômico", que não liquidará simplesmente duas cidades japonesas, mas toda a vida do planeta.
Duas esfinges. E essas esfinges acordaram e assustaram a humanidade. Fizeram-na ver que a ciência não só eferece perspectivas de felicidade e bem-estar, mas também de destruição e de desgraça. Depende do modo de ser concebida e empregada. Para o bem ou para o mal. Compete à acuidade e lucidez dos detentores do poder, sob a nossa estrita vigilância, a opção por uma destas alternativas.
Não há possibilidade de fugir deste convite sem opções. Ou seremos seres humanos até o heroísmo, ou então destruídos por nossa propria inépcia.
É uma ironia que as forças culturais, que celebramos desde o século XVII como libertadoras da História, isto é, a ciência e a técnica que, segundo se supunha, nos deviam libertar da fome, da pobreza, da tirania, da guerra e das fatalidades históricas, das epidemias e pandemias que assolam continentes inteiros com a perda de milhares de vidas, não apenas aumentaram hoje essas calamidades, como também constituem a maior ameaça ao futuro da humanidade.
Nosso pretenso domínio da natureza pulverizou princípios fundamentais de vida; nosso crescimento populacional desinibido e o consequente desequilíbrio econômico e financeiro em vários países ameaça nossa sobrevivência humana; a espiral do armamento nuclear e do terrorismo sem freios enrolam-se cada vez mais sobre nossas cabeças; o controle e a manipulação de estruturas genéticas e psíquicas nas maõs de cientistas desavisados suscitam imagens ameaçadoras, apesar de esses mesmos cientistas, certamente manipulados pelos seus financiadores militaristas, afirmarem à boca cheia que suas pesquisas visam unicamente o bem da humanidade...
Homem e mulher modernos, com a cabeça cheia de conhecimentos e de teorias mirabolantes, sacrificam o corpo e o espírito ao ídolo científico, e quase sempre mercantilista, de seu tempo. Fraternidade, solidariedade entre povos e nações, religião, valores éticos, tudo é trocado por uma existência turbulenta, trepidante, metálica, armamentista. Transformam suas fábricas, que poderiam estar a serviço das necessidades básicas da humanidade, em monstros gigantescos que arfam e estridulam no parto incessante de artefatos assassinos.
Eis, em resumo, o quadro. Hiroshima e Nagasaqui. Hoje, Síria e o terrorismo fanatizante, em nome de pretensos símbolos pseudoreligiosos. Duas esfinges. Urge decifrá-las, como fez o Édipo da lenda grega. Ou as deciframos, ou novas esfinges poderão brotar algures, ao simples toque de um botão, ou ao fanatismo de um terrorista suicida.
Ou homem e mulher deixam de lado sua tola pretensão de quererem competir com Deus, ou serão forçados a reconhecer a fragilidade de seu poderio material. Se a ciência não for regulada por uma força mais poderosa e transcendente, se queremos evitar que ela destrua nossa civilização, teremos de controlá-la por uma filosofia fundamentada em valores que reconheçam e respeitem a dignidade essencial da pessoa humana, e sempre nutrida pelas verdades de Deus contidas nas Escrituras Sagradas.
Os valores espirituais são mais necessários às nações, do que os silos subterrâneos ou plataformas espaciais carregados de armamento nuclear. Enquanto as ações humanas não forem regidas por esses valores, as paredes continuarão a ruir, homens, mulheres e crianças voltarão a morrer, indefesos, como morreram no Japão, na Alemanha, na Rússia e noutra infinidade de países na segunda guerra mundial. E continuam a morrer ainda hoje no Sinai, no Iraque, na Palestina, no Paquistão, na Síria.
Este assunto não interessa apenas às Nações Unidas, às assim ditas super-potências ou aos mais diferentes chefes de Estado. Interessa visceralmente a cada um de nós e aos nossos filhos. Em nossas mãos está a sua solução.
Se nos acordarmos, enquanto é tempo.
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