segunda-feira, 29 de setembro de 2014
A DIFICÍLIMA ARTE DE FALAR
Certa vez, visitando uma família amiga em Barbosa Ferraz, interior do Estado, na entrada da casa encontrei, em moldura de muito bom gosto, esta mensagem:
"Falem! - Alegres, rindo
mas sem ferir a Caridade,
nem a Humildade,
nem a discrição.
Confesso que me agradou o convite a ser espontâneo, natural, o convite a falar e a rir... mas sem esquecer também o convite a ser discreto...
Quando me sinto à vontade, costumo falar pelos cotovelos, como se diz por aí...
Quando tenho qualquer problema com alguém - o que graças a Deus é muito raro - ou quando me sinto meio amolado, que dificuldade para falar! Normalmente fico nos monossílabos:
- "Sim", "Não" "Talvez"...
As palavras ficam-me amarradas, querendo ser arrancadas a saca-rolha!
Seria bom conselho o de não deixar que os outros paguem pelas minhas contrariedades e meus inúmeros problemas pessoais!
Daí: falar sem ferir a Caridade!
Você por acaso já reparou como rara é a conversa em que alguém não seja tesourado?!... E às vezes e muitas vezes, a tesoura desce sem dó nem piedade, rasgando fundo, rasgando forte! Não raro a reputação alheia é estraçalhada, com a maior leviandade, sem que haja nenhuma certeza do que está sendo dito...
E mesmo que seja verdade plena, quem me autorizaria a despir as criaturas diante dos outros!...
Costumo julgar, condenar, atacar, - por escrito ou falando - como se eu mesmo fosse um poço de virtudes, sem sombra de alguma falha!
No entanto, aprecio quem é capaz de conversar animada e alegremente, sem alfinetadas, sem tesouradas e, claro, sem golpes de foice!
Aliás, nem é menos difícil falar sem ferir a Humildade. A conversa vai se animando e não raramente, cada um e cada uma vai cantando suas vantagens, vai cantando os seus feitos heróicos...
Ah! se me passasse pela cabeça a gozação a que sou levado quando vivo trombeteando meus próprios feitos e vantagens!
Quando me rio dos outros e das outras que se espalham, se exibem como pavões que abrem a cauda e ficam rodando, seria ingenuidade pensar que ao me retirar do grupo em que me achava, não seria tesourado também, como fiz com outros...
Aí fico parafusando comigo mesmo: seria mais fácil falar e não ferir a discrição, do que falar sem ferir a Caridade e a Humildade?... Qual nada... Não é fácil para mim guardar segredo de verdade... Às vezes, até o que me é confiado com a garantia de não ser passado adiante, não tem mesmo jeito: o próprio sigilo profissional aqui e ali é sempre arranhado!...
E os três avisos na porta daquela casa que visitei, por mais importantes que sejam, ainda são avisos para evitar falar contra a Discrição, contra a Humildade, contra a Caridade...
Mas sei também que é perfeitamente possível usar o dom divino da palavra para unir e aproximar irmãos, para alegrar a todos sem a ninguém ferir, para sustentar a animação da palestra dando hora e vez aos mais humildes, aos mais tímidos...
Lembro-me de um texto do Novo Testamento - Carta de São Tiago - texto este que vale a pena ler e reler, ler e meditar o que ele escreve sobre a nossa língua faladeira...
Lá na minha terra, a longínqua Minas Gerais, o povo diz que há certas pessoas que vão precisar, quando falecerem, de dois caixões: um para o corpo e outro, maior ainda, para acomodar a língua!...
Ô povo sabido, o da minha velha terra natal!... E eu digo que é feliz quem merecesse escutar do Senhor Jesus, no Juízo Final:
- "Usaste tua língua de modo correto. Nem falaste a mais, nem a menos. Louvaste teu Criador e Pai. Fizeste de tua língua um eficiente instrumento de paz e de amor.!"
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Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério Paranaense, e bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, SP.
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