terça-feira, 16 de setembro de 2014
"... e por que não pensar na morte?"
Rumi, um poeta persa do século XIII que andei lendo dias atrás, escreve sobre a morte, mostrando que nossa atitude em face da morte é, na realidade, um reflexo de nossa atitude para conosco e para com a vida. Quem ama realmente a vida e a vive para aceitar a morte sem tristeza.
O poema de Rumi trata da "Beleza da Morte". Transcrevo algumas linhas:
- "Aquele que tem a morte por encantadora entrega sua alma para adquiri-la. Quem a considera como um lobo, desvia-se do caminha da salvação."
- "Para cada um, a morte é da mesma qualidade que ele próprio, filho meu: para um inimigo de Deus, inimigo. Para o amigo de Deus, amigo..."
- "Teu medo da morte é, em realidade, medo de ti próprio: vê o que é aquilo de que foges."
- "O que estás vendo é a fealdade de teu próprio rosto, não a face da morte. Teu espírito é como a árvore, a morte como a folhas."
Lendo estas frases de Rumi, o poeta, penso que essa "amizade" pela morte não é o mesmo que um desejo patológico da morte. O desejo patológico da morte é mera recusa da vida. É um abdicar as dificuldades e tristezas da vida, um ressentimento em relação às suas alegrias.
O desejo patológico da morte nada mais é que incapacidade de viver.
Eu, como cristão que sou, creio que a verdadeira aceitação da morte em liberdade e espírito de Fé, exige também uma aceitação fecunda da vida.
Quem teme a morte e quem por ela anseia estão, ambos, na mesma condição: estão admitindo não terem vivido!
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Lido o texto acima, nada melhor que lembrar este inolvidável soneto do príncipe dos poetas de língua portuguesa, Luís Vaz de Camões:
O dia em que nasci morra e pereça,
Não o queira jamais o tempo dar;
Não torne mais ao mundo e, se tornar,
Eclipse nesse passo o Sol padeça.
A luz lhe falte, o Sol se lhe escureça,
Mostre o mundo sinais de se acabar;
Nasçam-lhe monstros, sangue chova o ar,
A mãe ao próprio filho não conheça.
As pessoas pasmadas, de ignorantes,
As lágrimas no rosto, a cor perdida,
Cuidem que o mundo já se destruiu.
Ó gente temerosa, não te espantes,
Que este dia deitou ao mundo a vida
Mais desgraçada que jamais se viu!
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