sexta-feira, 26 de junho de 2015

ALGUNS QUESTIONAMENTOS NO VASTO MUNDO DA TEOLOGIA



          Gandhi, o indiano de fama internacional, certa vez nos deixou a seguinte pergunta, como acabo de ler na sua biografia:
          - "Como pode aquele que pensa possuir a verdade absoluta  ser uma pessoa fraternal?"
          É preciso que sejamos francos sobre  este questionamento, porque na história do Cristianismo tal  pergunta é repetida inúmeras vezes.
          Daí, o problema: Deus revelou-Se a nós, humanos, na Pessoa de Jesus, o Messias, mas revelou-Se primeiramente como Amor. A verdade absoluta, portanto, só pode ser abraçada como Amor. Logo, abraçada não de maneira a excluir o Amor em certas circunstâncias limitadas pela nossa contingência de seres finitos e pecadores.
           Só quem ama verdadeiramente pode estar seguro de se manter em contato com a verdade que é, de fato, demasiadamente absoluta para ser abraçada por nossa mente. Em consequência, parece-me que aquela pessoa que se apega à verdade do Evangelho de Nosso Senhor Jesus Cristo teme perder a verdade por falta de Amor, não por falta de conhecimento. Nesse caso, é uma pessoa humilde e, portanto, sábia.
           Mas, muito cuidado: diz-me a experiência de meus setenta e nove anos de vida, e das aulas de meu professor de Ética nos tempos de Faculdade de Teologia, que "scientia inflat".  (Que saudade do Professor Araújo, nordestino de boa cepa importado de Alagoas pela Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, de São Paulo, para a cátedra de Introdução à Teologia, na longínqua década de 1960...).
            A ciência incha homem e mulher como um balão,  e lhes dá uma plenitude precária, fazendo-os pensar ter em si próprios todas as dimensões de uma verdade cuja totalidade é negada a outros.
Creem, então, que é seu dever, em virtude do presumido conhecimento superior que possui, punir os que não participam da verdade que é a sua.
           E eu pergunto: como pode "amar" os outros, pensam eles, senão impondo-lhes a verdade que, sem ela, haveriam de insultar ou negligenciar? Essa é a perigosa tentação...
           Estou lendo um livro tendencioso sobre o comunismo da União Soviética dos anos sessenta. Na verdade, o comunismo também foi insidioso. Se realmente devêssemos, à época, odiar tudo que é  insidioso, como foi o comunismo, poderíamos estar seguros de que nós próprios, ocidentais,  seríamos e permaneceríamos pessoas corretas, livres, sinceras, honestas, abertas, como queria a doutrina do presidente Kennedy...
           Hoje em dia ainda se diz em certos círculos ultramontanos e saudosistas que o ódio ao comunismo é o teste do bom cristão. A garantia de toda a verdade seria  odiar Fidel Castro, odiar Kruschew, odiar  o soviético Putin,  no mesmo fôlego que entrevemos  no "amor misericordioso de Deus" e nas "pulsações do Sagrado Coração de Jesus". Tudo isso ainda presente em certa literatura rançosa distribuída em várias igrejas tradicionalistas do Brasil...
            Lendo outro dia a homilia de São João Crisóstomo sobre o evangelista Mateus, encontrei ali belas coisas a dizer sobre cordeiros e lobos:
           - "Enquanto permanecermos cordeiros, dominaremos. Ainda que possamos estar rodeados por uma alcateia de mil lobos, dominaremos  e seremos vitoriosos. Logo, porém, que nos tornarmos lobos, seremos derrotados, pois então perderemos o apoio do Pastor que alimenta não lobos, mas somente a nós que somos cordeiros..."
              "...et sic transit gloria mundi").
          
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Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia Sistemática pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.



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domingo, 21 de junho de 2015

SE EU PUDESSE...


             Já publiquei este texto tempos atrás, mas ele me parece tão pleno de atualidade, que  me atrevo a publicá-lo novamente, na esperança de que ele seja útil a algum eventual leitor.
           Se eu pudesse... Tal é o título do texto. É uma frase, como aprendi na escola, de sentido condicional. Realizar-se-ia se se desse tal ou qual condição. É o que tenciono explorar em seguida, se os fados me presentearem com pachorra e inspiração!...
                Se eu pudesse...
             contrataria barcos que deslizassem suavemente nos mares do Paraná, na hora em que a grande Cidade, ao cair da tarde, volta em disparada para casa, depois de uma profícua jornada de trabalho...
              Se eu pudesse, à noite, perambulando pelas avenidas de Curitiba, e encontrando no meu caminho pessoas desanimadas, pessimistas, amargas, revoltadas contra o Governo, contra a alta generalizada dos preços, contra a corrupção que lavra desvairada em todos os setores da Nação, contra o frio inclemente que me obriga a um exagero de agasalhos, numa palavra, se eu pudesse de verdade, arranjaria rodas de crianças cá no Tingui, meu bairro, que brincassem à luz dos postes da Copel, cantando as modinhas que me tocam o coração envelhecido:

                                                   "...sozinho eu não fico
                                                     nem hei de ficar
                                                     pois uma dama destas
                                                     tem de ser o meu par..."

            Se eu pudesse:
            na hora triste e dolorosa dolorosa em que o caixão mortuário de meus filhos queridos, a Raquel e o Júlio, eram conduzidos e colocados terra a dentro, eu faria que uma revoada de andorinhas voasse sobre a cabeça dos presentes, anunciando-lhes que a morte não é o fim de tudo, pois eu creio firmemente  na Ressurreição dos mortos...
            Se eu pudesse:
            pertinho das casas em que houvesse pessoas se sentindo sós e abandonadas por parentes e amigos, eu faria ouvir uma voz bonita cantando belas canções, dessas que não morrem nunca, são sempre belas e vão diretas ao coração que sofre:

                                                 "...sempre em meu coração


                                                  Eu sei e Você sabe...

                                                  Faz tanto tempo que perdi minha felicidade
                                                  com a morte dos filhos amados
                                                  a Raquel e o Júlio...
                                                  Faz tanto tempo, e eu ainda me lembro
                                                  como se fosse hoje..."


            Se eu pudesse:

            essa voz solitária
            seria acompanhada por algum instrumento bem tocado,
            bem bonito, bem saudoso:
            um violão, um bandolim, uma flauta,
            uma clarineta...

           Aqui no meu bairro, o Tingui, a meio quarteirão, tenho uma vizinha viúva e sexagenária, que possui o dom sagrado de adivinhar quando estou triste, pensando em meus mortos, e de repente ouço o toque de seu piano, cantando músicas de sempre, numa mensagem de harmonia, de beleza, que afastam de mim a tristeza, me trazem beleza e paz..
           Se eu pudesse:
        nas minhas  caminhadas à tarde,  por vezes trôpegas de quem enfrentasse estradas sem fim, sem luz, sem companhia, eu faria surgir vagalumes alumiando o caminho, e desejaria  nem que fosse o canto estridente de  uma cigarra, para quebrar-me a solidão...
           Se eu pudesse:
          ao cair da noite, quando o sol se esconde por trás das nuvens, eu pediria que todas as igrejas, principalmente aquela mais perto de mim, a de São Pedro e São Paulo, tocassem o "Ângelus", convidando-me a pensar em Deus, induzindo-me a rezar... É, para mim, uma hora diferente, tocada pela Graça divina..
           No cair da noite, até as pedras do calçamento perdem aquela desagradável aspereza. Os enormes edifícios de cimento armado não esmagam tanto a gente: quase se harmonizam com a magia do entardecer, perdendo de todo a agressividade...
           Se eu pudesse:
           a banda de música da Polícia Militar de vez em quando marcharia pelo bairro, tocando aqueles "dobrados" que foram a alegria de minha infância despreocupada... Lembro que alguns deles ficaram para sempre no ouvido da gente...
            Se eu pudesse:
        , pediria sempre ao Pai de todos os pais que estendesse no céu o arco-íris, se possível, até durante as minhas noites endormidas...
             Se eu pudesse:
            pediria  também ao arco-íris, como fez nos tempos dos profetas e patriarcas, que aparecesse de novo no céu deste nosso Paraná, com a sua força mágica de desfazer ódios, intrigas, corrupções de todo gênero, de modo que ele valesse, de fato, como sinal de entendimento, de amizade e de paz...
            Ah! Se eu pudesse!...
            E Você, benévolo leitor, se Você também pudesse, o que aconteceria?!...

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Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado do sofrido Quadro Próprio do Magistério Paranaense, que pede ao Governo maior apoio na sua nobre missão de ensinar as novas gerações!


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quarta-feira, 17 de junho de 2015

SEJAMOS JUDEUS, COM TODA A CONSCIÊNCIA...



                     Temos de ser judeus, ou então deixar de ler a Bíblia.
                     A Bíblia não pode ter sentido para quem não for "espiritualmente semita". O sentido espiritual do Antigo Testamento não é e não pode ser um simples esvaziar do seu conteúdo israelita. Muito pelo contrário! O Novo Testamento é a realização deste conteúdo espiritual, é a realização da promessa feita a Abraão, a promessa na qual ele acreditou.
                     Portanto, jamais será negação do judaísmo, mas sua afirmação. Os que o consideram uma negação não o compreenderam.  Não há nenhum espírito de gueto no Catolicismo. É essa a coisa maravilhosa dos Evangelhos: a frescura, a liberdade de espírito, o bom-senso, a largueza, a atmosfera sadia da vida em união com Cristo.
                     Sabemos que o ar do mundo profano nem sempre é ar fresco. A solução não está simplesmente em sair e andar pelas ruas à sua busca. O ar fresco de que necessitamos é o sopro puro do Espírito Santo, que chega como o vento, soprando onde quer. Assim, pois, a janela deve estar aberta ou deve poder ser aberta em qualquer direção. O erro está em trancar as janelas e portas, de maneira a conservar o Espírito Santo preso dentro de nossas igrejas. A simples ação de trancar portas e janelas nessa intenção pode ser-nos fatal.
                     A Bíblia Sagrada nunca disse que o católico nunca deveria sair de casa. nunca frequentar festas, nunca ir ao teatro ou ao cinema, nunca tomar uma taça de um bom vinho, e coisas semelhantes. O que a Bíblia prega é que o cristão saiba distinguir o inútil ou o prejudicial  do útil e salutar e, em tudo, saber amar e glorificar a Deus.
                    E o afastamento do mundo, que muito se ouve nas pregações? O cristão, queiramos ou não, vive neste mundo e, como cidadão deste mundo,   deve ver Cristo no seu próximo, no seu irmão de Fé, no estranho que encontra nas praças e avenidas, especialmente se são pobres, em todas as acepções da palavra.
                    Tal é o espírito e a letra da Bíblia Sagrada.
                     Hoje, nesta fria manhã curitibana, céu ainda bastante nebuloso, um teco-teco solitário sobrevoava o Tingui, fazendo muito ruído, sendo seguido por um bando de andorinhas... Será que ele queria lembrar-nos que nosso destino final está nas alturas, no Reino dos Céus, e não nesta terra carregada de pecados e quase sempre longe de Deus?

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Aroldo Teixeira de Almeida é professor aposentado do Quadro Próprio do Magistério Paranaense.
Um desabafo sofrido: acordei hoje de manhã chorando: sonhei com os meus mortos queridos, a Raquel e o Júlio, e choro ainda, digitando estas palavras.
Que eles descansem na paz do Senhor, e que a luz divina os ilumine lá no Reino de Deus, onde eu tenho plena certeza que eles fluem da bem-aventurança, pela misericórdia sem limites de Nosso Senhor Jesus Cristo!


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