sábado, 7 de dezembro de 2013

O SILÊNCIO DE DEUS E NÓS



            Há entre nós, humanos, um certo mistério que nos espanta e nos obriga a muitas e frequentes  reflexões. É o mistério do "silêncio de Deus". É-nos dada uma resposta: o aparente silêncio de Deus foi exorcizado pelo dogma da Encarnação de Cristo, que Se fez Homem entre os homens, trazendo-lhes a redenção e a esperança da ressurreição definitiva no final dos tempos.
             É uma resposta sedutora, sem dúvida nenhuma. Entretanto,  essa resposta nos obriga a um outro questionamento:  o dogma da Encarnação é belo? Na verdade, porém, para nós tudo se passa como se se tratasse de um devaneio sem consistência. Nada mudou, aparentemente, neste mundo em que se desenrola o secular drama humano.
             Nas minhas frequentes pesquisas sobre o tema, principalmente na literatura, Graham Greene, escritor inglês que leio e aprecio, é talvez a testemunha mais emocionante dessa tentação de desesperar ante esse angustioso "silêncio de Deus", que nos  aperta e nos constrange por todos os lados.
             Os personagens de Graham Greene mostram-se tão acabrunhados pelos sofrimentos que vêem, que não lhes fica esperança bastante para acreditar que o Amor de Deus exista realmente. Dois outros escritores de minha predileção, Julien Green e Georges Bernanos, também já me disseram a que ponto é invisível o que acreditamos.
             A mesma fascinação diante do mundo sensível, os mesmos sofrimentos, dilaceram os Cristãos como também os que não vivem sob o Cristianismo. Parece-me até que - e assim o prova o testemunho de Green e Bernanos, - quanto mais se é Cristão, tanto mais se sofre neste mundo.
             Para mim, no meu modesto entender, o primeiro efeito visual do mistério do Amor Encarnado, naqueles que tentam vivê-lo no dia-a-dia da vida, é sem mais nem menos aumentar ainda mais o  paradoxo inquietante do silêncio de Deus.
             Pois é o que atesta a realidade:
             Julien Green, que leio frequentemente, convertido do Anglicanismo para o Catolicismo, é mais tentado que nunca na sua carne e na sua Fé. Outro escritor, também cristão, e dos bons, Georges Bernanos, conhece o desespero íntimo de uma alma colocada diante do inferno deste nosso século, em que tudo parece roubado, até a morte dos mártires modernos.
             Isto me faz entrever um fato, e este fato não é acidental: ele manifesta uma  espécie de lei vertiginosa que afeta o universo Cristão: homem e mulher batizados devem sofrer a agonia de Jesus Cristo no Calvário. Na verdade, nossa  fraqueza aparente é a força de Deus.
            Pois é aqui que se patenteia o lugar central das três virtudes teologais do Catecismo da Igreja Católica, que só pode ser vivido na Fé, na Esperança e na Caridade.
            Estas três virtudes engendram a alegria  através da diminuição aparente de todas as alegrias humanas. Acreditar no invisível,  a despeito de tudo, tal é a mensagem de Julien Green. É, enfim, amar, isto é, dar aos outros a própria alegria, livremente, para que os outros a conheçam, tal é a mensagem principal do grande escritor francês, Georges Bernanos, em toda a sua obra.
           As três virtudes teologais encarnam portanto, em nós, o universo do Amor Divino. Elas enxertam em nossas almas a humanidade santificante de Jesus Cristo, que é o coração do mundo.
          Viver de Fé, Esperança e Caridade outra coisa não é que viver com Cristo na Cruz, é ressuscitar em esperança, é entrever já os primeiros reflexos da transfiguração escatológica do mundo. Viver as três virtudes teologais é viver o próprio mistério do amor de Deus que se sujeitou à morte por nós. E morte de Cruz, insiste o apóstolo Paulo.
          Essas virtudes nós as temos pela Graça. E a Graça Santificante outra coisa não é que a unção do Espírito que nos modela à semelhança da Humanidade de Jesus Cristo.
        Assim pois, acreditando, esperando, sofrendo o martírio por amor de Deus e da humanidade, viveremos a vida mesma de Jesus Cristo, realmente. Salvamos realmente o mundo. Trazemos-lhe a Alegria!
          Lembro-me aqui, dos pobres, e o pobre não perecerá, porque o Pobre é Jesus Cristo, que "de rico" se fez "pobre", a fim de nos saciar com Suas riquezas.
          E então nós compreendemos que o "silêncio de Deus" é a Sua mesma palavra. Sua ausência É a Sua presença. Porque a ausência de Deus, o Seu silêncio, é a Cruz, o instrumento de morte E DE RESSURREIÇÃO, EM JESUS CRISTO. AMÉM.
  
    
            

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