terça-feira, 12 de agosto de 2014

"SOBRAR"?!



          Será que os versos abaixo, do saudoso Arcebispo de Olinda e Recife, Dom Hélder Câmara,
 seriam capazes de ajudar-me a pensar nas pessoas que sobram na vida?

                                                          Quando assistires
                                                          à retirada dos andaimes
                                                          contempla
                                                          - é claro -
                                                          o edifício que surge.
                                                                          Mas pede a Deus pelos andaimes
                                                                          pois é duro
                                                                          servir de suporte à construção,
                                                                          ser necessário à obra
                                                                          e na hora da festa de inauguração
                                                                          ser retirado como entulho...

          E não é isto que acontece todos os dias?
          Ninguém constrói um prédio sem andaimes. E quanto maior o edifício, mais andaimes são necessários. Aí vem a festa da cumeeira. Mas quando o prédio está acabado, os andaimes sobram. Ninguém mais pensa neles: são retirados como entulho e levados para longe.
          Até aqui usei duas vezes o verbo "sobrar". E além de ser um verbo nada fácil de conjugar, é ainda uma das realidades mais tristes de viver.
          Aquela Senhora ali da casa em frente era moça, forte, bonita, cheia de vida. Era o centro da casa. Cuidou dos filhos. Criou meninos e meninas, que viraram moças e rapazes. E eles foram se empregando, foram casando, e foram partindo. Todos. Hoje a dona da casa, já idosa, cansada, doente, está sobrando. Os filhos nem se lembram da trabalheira terrível, dos sacrifícios que ela teve com eles.
          Aquele Senhor era o chefe da família. Vendia saúde. Forte, sempre bem disposto, trabalhador, sustentava a casa inteira e ainda acudia a velha mãe e uns parentes pobres da esposa. Teve um derrame cerebral. Está agora meio entrevado. Recebe uma insignificante pensão da Previdência. Anda nervoso. Dá trabalho. Ninguém se lembra mais de que ele foi como os andaimes, sem os quais a casa não se faz, o edifício não sobe. Está vivendo a hora de os andaimes serem retirados como entulhos. O edifício não precisa mais dele.
         Para Você, benévolo leitor, deixo aqui dois apelos, como irmão mais velho que sou:
         - Se Você tiver em casa gente sobrando, gente que foi gente, hoje é sombra do que foi, e só lhe dá trabalho e despesa, além de preocupação;
         - Se Você tiver gente sobrando em casa, faça tudo para ter paciência, ser agradecido, não humilhar... Lembre-se de que seu dia também chegará. O tempo passa mais rápido do que a gente pensa. Não humilhe e não deixe que humilhem ninguém.
         E meu apelo a quem pensar que está sobrando:
         Não deixe esse travo entrar na sua vida. Não se entregue à amargura. Esqueça o verbo "sobrar".
         Um dia, sem falta, a própria vida lhe ensinará como, da sua sombra e da sua humilhação, Você poderá ser alguém que conseguiu ajudar o Mundo inteiro a ser um Mundo melhor...

                                                ***************************

Aroldo Teixeira de Almeida é bacharel em Teologia pela Pontifícia Faculdade de Teologia Nossa Senhora da Assunção, da Capital paulista.

   
         
   


                                                          

Nenhum comentário:

Postar um comentário