domingo, 10 de novembro de 2013
A MACACA LAIKA E EU
No dia em que completei 21 anos, os americanos colocaram um macaco no espaço. Enviaram-no mais longe do que pretendiam. Conseguiram recuperá-lo vivo. O animal voou pelo espaço a uma velocidade fabulosa, apertando botões, puxando alavancas, comendo pílulas com sabor de banana. Enviou sinais com regularidade impecável tal como fora treinado. Não se queixou do espaço. Não se queixou do tempo. Não se queixou nem da Terra nem do Céu.
Nenhum problema metafísico ou religioso o importunou. Não se sentiu culpado de nada. Pelo menos, não declarou a viva voz ter sentido alguma culpa por afrontar as alturas pertencentes a Deus.
Por que haveria um mísero macaco no espaço de sentir-se culpado por estar naquelas alturas, inacessíveis a qualquer macaco deste ou do outro mundo? O espaço é o lugar em que não há mais peso nem nenhum resquício de peso ou de culpabilidade.
Aliás, um macaco nunca se sente culpado nem mesmo quando está sobre esta Terra que Deus nos destinou. Quem dera que nós, pecadores inveterados sobre a Terra, não tivéssemos nenhum sentimento de culpabilidade. Talvez, se pudermos todos subir ao espaço como Laika, a macaca americana, não nos sentiremos mais culpados de nada. Apenas puxaremos alavancas, apertaremos botões, comeremos pílulas com sabor de banana. Não, peço-lhes que me perdoem. Ainda não sou exatamente um macaco.
Nunca me sentirei culpado no espaço. Aliás, nem terei sentimentos de culpa quando chegar à Lua. Talvez eu me sinta apenas um pouco culpado na Lua, nosso satélite, mas se conseguir chegar a Marte, não me sentirei culpado de nada.
É claro que, na situação alarmantemente militarista em que vivemos, talvez eu conseguiria explodir o mundo. Se da Lua eu conseguir explodir o mundo, talvez me sentisse um pouco culpado, pelos familiares que lá deixei. Mas, se eu estiver em Marte, por todos considerado como o deus da morte e da guerra, com certeza não teria nenhum sentimento de culpa. Nenhuma culpa. Faria explodir o mundo como um legítimo representante da América: sem culpa nenhuma.
Trá-lá-lá, trá-lá-lá. Apertar botões, puxar alavancas! Assim que eu estivesse em Marte e conseguisse instalar ali uma fábrica para macacos cor de banana. não haveria mais nenhuma culpa para mim.
Estou com setenta e sete anos, caminhando para setenta e oito em três meses. Vou ser perfeitamente sério, como mandam as convenções sociais. A Civilização dignou-se agraciar meu aniversário com este feito maravilhoso, como foi a colocação de um macaco no espaço, e eu iria ficar cínico com isso?
Deixe-me aprender as lições aprendidas por este macaco bem-aventurado. Apertar botões. Puxar alavancas. Os gringos o atiraram demasiadamente longe, espaço sideral a fora. Não faz mal. Eles conseguiram pescá-lo no Atlântico e ele, como um macaco civilizado, apertou a mão do pessoal da Marinha Americana que o pescou...
Civilização é isso! E por que é que eu me sentiria culpado por esse fato tão banal?
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