- "Venha a nós o Vosso Reino!"
Parusia: palavra de origem grega significando "presença" ou "chegada". Termo empregado em sentido técnico para designar, segundo o Novo Testamento, a vinda escatológica de Jesus nos "últimos tempos".
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Diz-nos o monge trapista norte-americano Thomas Merton, em "Reflexões de um Espectador Culpado", que o problema da Parusia permanece o grande problema do Cristianismo. Modéstia à parte, creio eu que não se trata, absolutamente, de um problema em si. O Reino de Deus já está estabelecido, apenas não foi definitivamente manifestado, pois permanecemos ainda num tempo de desenvolvimento, de opção, de preparação.
Em outras palavras: a verdade é que permanecemos ainda num "tempo de decisão". O cristão é alguém que "se decidiu" pela Parusia, pela vinda, no fim dos tempos, do Reino de Deus. Assim, a vida do cristão é, ou deveria ser, orientada por esta decisão; e minha existência só terá sentido na medida em que a Parusia seja, para mim, de importância plenamente crucial.
No entanto, para uma infinidade de cristãos, e principalmente para mim, a Parusia, parece-me, acha-se indefinidamente adiada.
Também isto não é um mero acaso. Deve ser tomado como fazendo parte do problema, no entendimento de Merton.
Com efeito, a Parusia, em si mesma, não é problema. A demora da Parusia não é todo o problema. Essa demora faz parte integrante do problema. Penso que uma solução seria a seguinte:
Como homem, e cristão consciente, coloco toda a minha esperança no Reino de Cristo a ser definitivamente manifestado pela vitória final na vinda da Parusia - que será a vitória final da vida sobre a morte.
Pelo fato de a Parusia ter sido "adiada", foi-nos deixada a tarefa de construir para todos nós, neste mundo em que vivemos, uma espécie de reino provisório, uma cristandade cultural, político-religiosa que, admito, não é tudo quanto deveríamos esperar, mas que tem lá as suas vantagens.
Parece-me que a questão seria esta: se a Parusia de fato significa o fim e a destruição dessa nossa estrutura provisória e mesmo seu julgamento, devemos realmente desejar tal Parusia? Não seria melhor para nós rezar para que essa Parusia seja adiada indefinidamente? Se uma vida de oração, - diz-nos a Bíblia Sagrada - nos dá todo o poder de mover a vontade de Deus, não deveríamos nós, antes de tudo, tentar mudar Seu plano e não nos preocuparmos mais com o assunto "Parusia"?
Não deveríamos, talvez, considerar nosso dever pedir a Deus que Ele nos permita construir o Reino ao nosso modo, um Reino de Deus ao mesmo tempo sagrado mas encravado no mundo, e também colaborando em todos os sentidos com o nosso triunfo social, cultural, religioso e político, como já foi tentado por nós na assim dita Idade Média?
Foi, naquela época, uma boa tentativa, porém alguns pontos importantes foram por nós descuidados. Não poderíamos agora assumir uma posição que nos permitisse uma melhor tentativa? E para desta vez sermos bem sucedidos?
- "Venha a nós o Vosso Reino" - não, porém, agora, mas no tempo e da maneira que nos convier!... Pois precisamos de tempo! Tempo para tentar o que queremos sempre e sempre de novo.
Até posso sugerir um remendo na oração que Cristo nos ensinou = eliminar o "Venha a nós o Vosso Reino", e substituí-lo, suplicando, ao Senhor, por este outro: - "Dai-nos tempo, Senhor!"
E então: o que faríamos com esse "tempo", a nós dado pelo Senhor?
Eis aí a questão de que depende nosso ingresso ou não ingresso no Reino de Deus, quando formos confrontados com a "Parusia" do Senhor Jesus!
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