sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

A PARÁBOLA DA ESPERANÇA


      - "Vivemos num tempo em que  numerosas pessoas estão sem esperança!" - afirmava tempos atrás o Conselho Ecumênico das Igrejas. Muitos cristãos, por seu lado, fizeram da sua esperança uma caricatura, uma espécie de álibi disfarçando a sua deserção perante os encargos da vida.
      Não sabemos mais o que significam as palavras nos velhos tempos, quando a esperança era esperança de alguma coisa, aspiração para um porto, uma praia, o que indicavam os olhos, claros faróis, da doce terra amada, aquela que atraía os esforços do náufrago.
      Sabemos que a esperança era árdua, que reclamava esforços, mas "a esperança faz viver", -  dizia-se, porque um dia ou outro se alcançaria o porto.
      Milhares de homens e mulheres, neste nosso mundo, aguardam um mínimo de felicidade; e têm razão, devemos ter a coragem de dizer. Que pensariam eles da capa de uma revista de circulação mundial mostrando, em primeiro plano, soldados com fuzis e metralhadoras, e sem segundo plano, a fumaça de incêndios devorando cidades? E no entanto seres humanos ousaram chamar essa operação de "ofensiva esperança".
      - "Nosso tempo é um tempo de esperança", - proclamava a moção final do Congresso pela Paz e pela Civilização Cristã, reunido em Florença, na Itália.
      Para compreendê-lo é preciso decifrar o sentido dos acontecimentos. Os cristãos necessitam convencer-se da ambiguidade de todas as situações concretas nas quais devem encarnar a sua esperança teologal. Aliás, uma das maiores razões da propagação da esperança marxista, tempos atrás, estava justamente nesta alienação dos cristãos de todas as denominações em face do nebuloso momento histórico em que viviam.
      Sei de um escritor francês que num rasgo admirável de autocrítica percebeu claramente a omissão e as consequências dessa omissão cristã diante dos caminhos do mundo. E o fez com estas palavras:
      - "O sofrimento e a derrota são a intervenção de Deus para que homem e mulher não se instalem numa condição que não é a beatitude, sua vocação. Na história de Israel bem como na história da Igreja, os inimigos e os adversários têm uma função providencial. Cada vez que a Igreja deixa perder ou negligencia uma partícula da verdade de que é depositária e que tem a obrigação de fazer frutificar, um adversário se levanta - ironia da história! - justamente em nome desse fragmento de verdade que a Igreja abandonou, e ataca os cristãos em nome dessa verdade parcial."  (Claude Tresmontant).
      Pense-se na utilidade da Renascença, que salvou a Igreja da tentação do poder temporal e da tirania intelectual do clero. Pense-se em Nietzsche, que nos ajudou a não fazer do Cristianismo uma ética mórbida; em Marx, em Freud. Cada adversário se tornou indispensável por uma fraqueza dos cristãos. Se os cristãos nada mais anunciam aos pobres, outros anunciarão aos pobres a justiça; mas em troca investirão contra a cristandade para a destroçar, como outrora o assírio e o egípcio atacavam Israel e o devastavam, quando ele se mostrava infiel ao Deus da Aliança.
      Mais do que qualquer outra coisa, os cristãos devem tomar a seu cargo a esperança de homens e mulheres. É necessário dar à esperança todas as suas dimensões, porque sei também de um cristão, e dos bons, que lançou, na Semana de Intelectuais Católicos, da França, uma frase verdadeiramente aterradora: - "Nós raptamos o Senhor Jesus, e o resto do mundo não sabe onde O pusemos. Talvez a grandeza do século a que pertencemos esteja em tornar Cristo acessível, se assim me posso exprimir, ao resto do mundo." (Mauriac).
      Para quantos milhões de seres humanos o Cristianismo não passa de uma religião exclusivamente ocupada da salvação da alma, quando não é identificado com uma evasão mórbida, diante do mundo, uma obsessão da carne, um medo de tudo que é humano?
      Nós vivemos numa época espiritualmente incomparável e grandiosa, porque rica em possibilidades e em perigos. Mas se ninguém for capaz de se colocar à altura das suas exigências, ela poderá converter-se na era mais miserável da História, marcando o retrocesso da humanidade.
      Entretanto, a criação inteira espera; NOS espera.
      E estaremos nós prontos para apostar tudo pela salvação dos homens e mulheres do mundo inteiro?

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