quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

ME PERDOE, MINHA MÃO ESQUERDA!...



          Começo meu texto com um título que, nos meus trinta anos ensinando Português nas escolas de Barbosa Ferraz, interior do Paraná, em tempos já perdidos nas brumas do passado, eu sublinharia de vermelho sem perdão, pois no dizer dos gramáticos o título contém um erro grosseiro: - iniciar a frase com o pronome oblíquo...
          Corrigir?! Deixo ao benévolo leitor a tarefa da correção, pois já faz muito e muito tempo que deixei de preocupar-me com questiúnculas  gramaticais. Agora, como se diz em certas áreas, "sou moderno, e o que me interessa é o sentido da frase, e não sua inteireza gramatical..."  Isto li eu em certo tablóide semanal que me chegou às mãos, e passo para a frente pelo preço que me custou... Aliás, este "erro" que aparece no título reaparecerá mais abaixo, no "poemeto", para escarmento dos "puristas" da  Gramática...
          Mas, voltando à minha mão esquerda, não critique muito estes mal feitos versos dedicados a ela:

                                    Perdoa, mão esquerda 
                                    se, eternamente, és segunda...
                                    Me faz bem
                                    a simplicidade com que acorres
                                    ao menor aceno,
                                    da mão direita, tua irmã.
                                    E como estás distante
                                    de ressentimentos e mágoas,
                                    complicações e complexos!...

           Já passou pela sua cabeça, benévolo leitor, o fato de que muitíssimas pessoas neste nosso mundo de Deus vivem a sua a vida inteira no papel de mão esquerda?...
          Quem sempre aparece, nas ocasiões mais frequentes em nossa vida social? A mão direita. Quem toma a iniciativa? Quem faz mais força? A não ser no diminuto caso de pessoas canhotas, a mão direita é a rainha do pedaço ou do palácio, e a pobre mão esquerda é a gata borralheira...
           Às vezes, quem faz o papel de mão esquerda é uma "tia" solteirona que mora com a irmã, mãe de muitos filhos, e é mão na roda em casa, ajudando na criação da penca de filhos...
           Quem trabalha, quem se cansa, quem se mata no trabalho, muito mais que a mãe dos meninos, é a tia solteirona, sabe lá Deus por quê travessuras da vida!
           Na hora importante de decidir, não é ela quem fala ou quem decide... É a sempre  imperiosa mão direita que faz e acontece, na maioria das situações do dia-a-dia.
            E a história se repete... Às vezes, em repartições e escritórios, lá está o Chefe de Seção e o Diretor...  São mãos direitas...  Mais ai deles se não fosse um humilde funcionário ou uma cansada funcionária, que nem sabem porque trabalham tanto... É o primeiro ou a primeira que chegam, e são os últimos que saem...
           Quando se trata de qualquer missão mais espinhosa, grita-se por eles. Na hora de aparecer, na hora dos louvores, aparecem o Chefe de Seção, o Diretor, as mãos direitas...
           Não é fácil ser mão esquerda. Ajudar a mão direita, com entusiasmo, com calor, com alma, sem nem por sombra pensar em tomar o lugar da direita.
            Assim como o Senhor Jesus disse em certa ocasião, nos caminhos da Galiléia:  - "Não saiba tua mão esquerda o que fez a direita."
            A beleza do trabalho da mão esquerda é fazer sem reclamar, fazer não como quem faz um favor ou como quem pensa que é necessário e insubstituível...
            A autêntica mão esquerda é um prolongamento da direita, com quem trabalha em plena sintonia e no mesmo ritmo.
            Agora é com Você, meu benévolo leitor:
            Na sua vida, Você se considera mão direita ou mão esquerda? Ou sente-se mão direita? Tem função importante no lar ou na Repartição? Papel de Chefe, de Diretor?  Então, não se esqueça de valorizar sua mão esquerda! Saiba que, sem ela, Você não teria chegado onde chegou. Saiba que, sem ela, muito do que Você faz, não conseguiria fazer...
            Sente-se mão Esquerda? Ocupa trabalho humilde, em que os outros brilham à sua custa? Por acaso lhe dóem as ingratidões, as injustiças, talvez as perseguições?
            Deus me livre de aconselhar a mão esquerda a que assuma, em definitivo, a condição de escrava, papel de capacho, de saco de pancadas... Mas que ela, a querida mão esquerda, tenha bem presente sempre que o seu encanto é sua simplicidade, o seu desprendimento, sua falta de rancores e de suscetibilidades... Tanto maior quanto menos se preocupa em aparecer.
            Saúdo, com respeito e amizade, milhões de Seres Humanos que têm na vida a não menos sublime missão de Mão Esquerda.
            No século passado, em Barbosa Ferraz, por vinte e oito anos fui "mão esquerda" na Escola Estadual Machado de Assis. A seguir, por beneplácito do Governador do Estado, a pedido do Corpo Docente, passei ao status de "mão direita", e o usufruíí durante dois bons anos, até que ela foi "decepada". Então  retornei à condição de "mão esquerda" e, por via das dúvidas, decidi me aposentar por tempo de serviço...

                                                                   **************
    
      
                                    
  

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