quinta-feira, 9 de janeiro de 2014

"...E por falar em Karl Barth..."



          -"Todos os que têm de lutar com a incredulidade deveriam ser aconselhados a não levar demasiadamente a sério sua própria incredulidade. Somente a Fé deve ser levada a sério. E se nossa Fé é do tamanho de um grão de mostarda, isso basta, pois o Diabo perdeu o jogo."
                                                                                                 (Karl Barth, em "Dogmatics in Outiline")

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          Essa é uma das grandes intuições do protestantismo de Karl Barth. E, é claro, do meu ponto de vista criticamente católico, que se pode achar um erro aí nessa frase. Em que sentido?
          Explico: dizer "só a Fé deve ser levada a sério" pode ser compreendido à luz daquela humildade cristã  -  e católica  -  que põe toda a sua confiança em Deus. Nossas "boas obras" são necessárias; não devem, porém, "ser levadas muito a sério".
          O dogma católico da Justificação nunca disse, em parte alguma, que "as boas obras" devessem ser levadas a sério, no sentido de confiar inteiramente em sua própria "justiça":  levar demasiadamente a sério  suas boas obras é ser fariseu. Só a Fé deve ser levada a sério, porque somente a Misericórdia de Deus é algo de sério.
          Se colocamos demasiada ênfase na seriedade daquilo que fazemos, não só tornamos o Juízo de Deus a mais séria realidade em nossa vida, mas estamos, de fato, julgados. Somos homens e mulheres julgados que tomamos com seriedade algo que não é a infinita Misericórdia de Deus. Com efeito, aquele ou aquela que levem a sério a Misericórdia não poderão quase pecar seriamente. Aquele ou aquela que levam a sério suas próprias obras não serão preservados, por esta seriedade, de pecar. É uma pseudo-seriedade. Não basta.
          Que dizer, então, da incredulidade?
          Se a Fé deve ser levada a sério, segue-se que a incredulidade é também algo de sério?
          Não, porque levar a sério a Fé, é a Deus que levo a sério, não a mim, nem à minha Fé.
          Com efeito: eu não levo minha Fé a sério  como sendo alguma coisa que possuo definitivamente, mas levo a sério Deus, que me dá o dom da Fé e renova esse dom, por Sua Misericórdia, a todo momento, apesar de minha incredulidade.
          Esta é, me parece, uma das intuições centrais dos meus irmãos "evangélicos" e é algo que todos nós, católicos ou não, devemos aprender. Mas é algo, também, de que muitos "protestantes" se esqueceram.
Tornaram-se eles obcecados com a Fé tal como está presente neles. Vigiam-se constantemente para ver se a Fé ainda está ali.
         No meu modesto entender, isto significa transformar a Fé numa "boa obra"  e ser, em consequência, justificado pelas obras, o quê para os protestantes é algo inadmissível.
         "Crer é ser livre para confiar nEle somente e só nEle", e é ser livre em relação a toda outra forma de dependência e apoio. Essa é a verdadeira liberdade como eu a entendo, e dela brota a capacidade de toda boa obra, pois remove de meu coração todos os obstáculos ao Amor.

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          Lendo os sermões de Barth, tenho encontrado neles muitos outros pontos que considero dignos de uma boa análise, mas isto fica para uma ocasião mais oportuna para mim.

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Em tempo:
         Karl Barth, nascido em Basiléia - 10-5 1886 e morto em 10-12-1968, foi importante teólogo e pastor da Igreja Reformada e um dos líderes mais conhecidos da assim dita Teologia Dialética, do século XX.
         Pároco da Igreja Reformada Alemã em Genebra, e pastor em Safenwil, Suíça, sua obra, constituída principalmente pelos seus sermões, constitui um vigoroso protesto contra o chamado "néo-protestantismo", que prevaleceu até a até a segunda guerra mundial.
      
      

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