domingo, 19 de janeiro de 2014

A PROPÓSITO DE ALÇAPÕES E ANZÓIS...



          Este texto pretende trazer a público alguns pensamentos meus a respeito de certas situações na vida social, que continuamente vêm martelando a minha consciência, já um tanto quanto pesada pelas várias circunstâncias não muito favoráveis da vida.
          Na adolescência em Poços de Caldas, MG, sempre que podia dedicava pequena parte de meu tempo à "meritória" arte de armar alçapões para caçar inadvertidos passarinhos que rondavam nossa casa, mercê do frondoso arvoredo que a circundava.
           Hoje, nos meus bem ou mal vividos 78 anos, lembrando-me desse fato, me ponho melancolicamente a avaliá-los segundo os critérios de hoje, quando não caço mais os felizes voadores, e sou eu mesmo "caçado" pelo peso da idade, já um tanto quanto avançada...
           Quando, nessa época feliz de minha vida, eu conseguia tirar um pássaro do alçapão traiçoeiro, arrependido da maldade feita, me admirava vê-lo fugir espantado, assustadiço, mas incólume e feliz...
           Certa vez tive a pachorra de livrar, compadecido, um pequeno peixe que mordeu a isca e o vi rasgado pelo anzol. E daí, numa reflexão posterior, já passados os belicosos impulsos da adolescência, aprendi que há feridas mortais que todo ser humano é impotente para acudir...
           Alçapões! Anzóis!...
         Alçapão não existe só para pássaros. Há criaturas humanas que me passam a impressão viva de terem sido vítimas de alçapões armados pela vida para apanhá-las, desprevenidas...
          Anzol também não existe só para peixe. Há criaturas humanas que guardam a impressão de terem engolido iscas, que continham anzóis, ali colocados para rasgar-lhes a garganta...
          Quem guarda a impressão de ter sido vítima de alguma deslealdade  -  ter sido apanhado em alçapão, ou ter mordido a isca  -  custa a esquecer se o golpe veio de parente ou amigo, que abusaram da confiança...
          Por mais que haja um trabalho de "desenvenenamento" na vida familiar e social, a mágoa não é fácil de passar. Há exceções, claro, pois há também pessoas generosas por natureza. Nem precisam perdoar, porque não chegam jamais a guardar mágoa nenhuma.
          Há quem perdoe sempre, sabendo da necessidade que todos temos de merecer o perdão de Deus.
          Sei  -  por experiência própria  -  que há quem diga:  - "Perdoar eu perdôo. Até já perdoei. Mas não tenho culpa de ficar de orelha em pé... Não gosto de ser enganado duas vezes..."
          Aí me ponho a pensar lá com os meus botões:
          Seria tão bom que nós, criaturas de Deus, não vivêssemos nos enganando mutuamente!
          Seria tão bom que, pelo menos, não houvesse deslealdades entre irmãos, como alçapões e iscas!
          Me lembro do preceito evangélico:  - "Amar o próximo como a si mesmo!"
          Será mesmo que nós nos amamos? Será que apenas nos defendemos uns dos outros? Quando é que teremos o cuidado de pensar nos outros como pensamos em nós?...
          É perfeita a mensagem que Jesus nos deixou. Amar ao próximo como a si mesmo. O que quisermos para nós, queiramos de igual maneira para o próximo.
         O que não quisermos para nós, não queiramos para o nosso irmão!...
         Deixemos alçapões e anzóis apenas para as pescarias de fim de semana, às margens do rio!....
        
      

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