sábado, 5 de janeiro de 2013

O DIA DE SÃO NUNCA


      Antes de entrar propriamente no meu texto, conforme a epígrafe acima, gostaria de fazer uma ligeira observação sobre o texto assinado por meu filho Carlos, "A caminho do inferno", em seu blog da Vida Eterna.
      Para começar, é preciso refletir um pouco nessa palavra "inferno". Nos originais gregos do Novo Testamento (eu os tenho na minha mesa de trabalho) ela não aparece nunca, mas  apenas quando  traduz a palavra grega "Hades", ou a hebraica "Sheol", em algumas edições em língua portuguesa. Mas o hades dos antigos gregos e a hebraica sheol não têm nada a ver com o que hoje entendemos por "inferno", na teologia cristã.
      Em segundo lugar,  gostaria de propor uma questão: segundo o que se entende por "inferno", trata-se de um castigo reservado aos que morrem impenitentes e, por isso, seriam merecedores das penas do inferno. Conforme o entendimento  que se tem por condenação ao inferno, esta condenação seria por toda a eternidade. 
      Ora, como conciliar a vontade salvífica universal de Deus com uma penalidade estendida por toda a "eternidade", por um pecado cometido no "tempo" em um momento de fraqueza ou inadvertência do pretenso pecador ou pecadora? Como conciliar um tempo, transitório, com uma eternidade, para sempre?
      Será que homens e mulheres são melhores que Deus? Na justiça dos homens, um criminoso, por mais terrível e cruel que seja, a justiça nunca  lhe imputará uma prisão absolutamente perpétua, pois existem mil e uma atenuantes na Lei que lhe possibilitarão recursos e atenuação da pena. Será a lei humana melhor que a lei atribuída a Deus?
      Se um pecado é cometido no "tempo", ele, ser for punido, a  eventual punição  deverá acontecer dentro do "tempo", e não dentro da "eternidade". É uma coisa lógica, mesmo para o pensador mais obtuso.
      Voltando ao "dia de São Nunca": apesar do peso às costas dos meus 76 anos (ainda neste mês chegarei aos 77),  não estou gagá e nem perdi um átimo de minha memória.  Lembro-me perfeitamente que nos meus dias de infância, na pequenina cidade de Caldas, perdida lá no sul de Minas, quando fazia um pedido a meu pai ou à minha mãe, se eles não pudessem atendê-lo, invariavelmente me respondiam: - Só no dia de São Nunca!
      O engraçado é que, ouvindo essas palavras, eu corria à "folhinha" para ver quando é que aconteceria tal dia... E sempre me via frustrado, porque nunca o encontrei.
      Por isso, gostaria de pedir aos pais e aos adultos de modo geral, que não falem mais em São Nunca. Não liguem a idéia de Religião a obstáculos intransponíveis. Nossa gente tem uma inata tendência para o fatalismo...
      Botem na cabeça, crianças do Brasil: não existe São Nunca. O impossível não nos deve assombrar, nem causar-nos desilusão.
      Meu velho pai, já falecido, tinha uma frase que até hoje gosto carinhosamente de recordar. Dizia ele:
      - Possível é o que se faz brincando. Impossível é o que custa um pouco mais."  
      Os pessimistas diziam: - Nunca nenhum Homem dobrará o Cabo das Tormentas, ali na ponta inferiorr  da  África. Pois é: os heróicos navegadores portugueses o ultrapassaram, e ele virou Cabo da Boa Esperança.
      Oa pessimistas de carteirinha ainda agouravam: - Nunca o Homem conseguirá elevar-se no ar, pois ele nunca será um pássaro.   O nosso brasileiríssimo Santos Dumont deu asas ao Homem e hoje, ultrapassamos, rindo e com a maior facilidade, a barreira do som, em aeronaves de todos os tipos.
      E continuam os pessimistas a sua arenga: - Nunca será possível se fazer ouvir de uma Cidade à outra, e ainda menos de um a outro Continente. Engano total. Hoje, o telégrafo, o rádio e a TV levam com a maior facilidade, a voz humana, a imagem e os sons em geral aos mais distantes pontos da Terra.
      Mas os pessimistas nunca desistiam: - Jamais o Homem se arrancará da Terra para atingiar a Lua ou qualquer outro corpo sideral... E milhões de espectadores, em todo o mundo, viram o Homem caminhando tranquilamente na Lua...
      Ninguém mais duvida que seja questão de dias ou meses o desembarque pelos planetas afora, até aqueles que, por enquanto, nos parecem os últimos, os mais distantes do cosmos imenso.
      Depois de o Nunca,  tantas vezes, ter sido vencido, eu me ponho a rir diante da audácia com que muitas pessoas continuam descobrindo situações que parecem impossíveis e que rotulam de Nunca...
      É por isso que eu costumo sempre dizer e repetir aos pessimistas de todos os quilates:
      Vamos acabar com essa história de São Nunca. Longe de ser ligada ao fatalismo, a pretensos obstáculos intransponíveis, a barreiras impossíveis de ultrapassar, a Religião, bem entendida e vivida, será para todos nós uma força libertadora. Pelo poder recebido de Deus e pela Sua Graça, nada há impossível, nem Nunca para o Homem e para a Mulher de boa vontade!...

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