sábado, 19 de janeiro de 2013

O SINAL DOS TEMPOS


      - "Vivemos num tempo em que numerosas pessoas estão sem esperança", - afirmava tempos atrás o Conselho Ecumênico das Igrejas. Muitos cristãos, por seu lado, fizeram da sua esperança uma caricatura, uma espécie de álibi disfarçando a sua deserção perante os encargos da vida comunitária.
      Não sabemos mais o que significam as palavras: nos velhos bons tempos, quando a esperança era esperança de alguma coisa, aspiração para uma enseada, um porto, o que indicavam os olhos, claros faróis, da doce amada, aquele que atraía os esforços do náufrago.
      Sabemos que a esperança era árdua, que reclamava e exigia esforços, mas "a esperança faz viver", dizia-se, porque um dia ou outro se alcançaria o porto.
      Milhares de homens e de mulheres, neste nosso mundo, aguardam pelo menos um mínimo de felicidade; e têm razão, devemos ter a coragem de dizer. Que pensariam eles da capa de uma revista de circulação internacional mostrando em primeiro plano soldados com fuzis e metralhadoras, e em segundo plano a fumaça de incêndios devorando cidades? E no entanto seres humanos ousaram chamar essa operação de ofensiva esperança...
      - "Nosso tempo é um tempo de esperança!"  - proclamava a moção final do Congresso pela Paz e pela Civilização Cristã, reunido em Florença, na Itália.
      Para compreendê-lo é preciso decifrar o sentido dos acontecimentos. Os cristãos necessitam convencer-se da ambiguidade de todas as situações históricas nas quais devem encarnar a sua esperança teologal.  Aliás, uma das maiores razões da propagação da esperança marxista, não faz muito tempo, está justamente nesta alienação da cristandade em face do momento histórico que vivemos.
      Sei de um escritor francês que num rasgo admirável de autocrítica percebeu claramente a omissão e as consequências dessa omissão cristã diante dos caminhos do mundo. E o fez com estas palavras:
      - "O sofrimento e a derrota são a intervenção de Deus para que o homem não se instale numa condição que não é a beatitude, sua vocação. Na história de Israel bem como na história da Igreja, os inimigos e os adversários têm uma função providencial. Cada vez que a Igreja deixa perder ou negligencia uma partícula da verdade de que é depositária e que tem a obrigação de fazer frutificar, um adversário se levanta - ironia da História! - Justamente em nome desse fragmento de verdade que a Igreja abandonou, e ataca os cristãos em nome dessa verdade parcial. Pense-se na utilidade da Renascença, que salvou a Igreja da tentação do governo temporal e da tirania intelectual. Pense-se em Nietzsche, que nos ajudou a não fazer do Cristianismo uma ética mórbida; em Freud, em Marx. Cada adversário se tornou indispensável por uma fraqueza dos cristãos. Se os cristãos nada mais anunciam aos pobres, outros anunciarão aos pobres a justiça; mas em troca investirão contra a Cristandade para a despedaçar, como outrora o assírio e o egípcio atacavam Israel e o devastavam, quando ele se mostrava infiel ao Deus da Aliança". (Claude Tresmontant).
      A verdade não pode mais estar ausente da Terra. Quando a verdade deixa de ser guardada e servida com energia suficiente pelo Corpo que tem o encargo de guardá-la, emigra e suscita um homem ou um movimento que se tornam campeões justamente dessa parcela de verdade abandonada pelos cristãos.
      Mais do que qualquer outra coisa, os cristãos devem tomar a seu cargo a esperança de homens e mulheres deste nosso mundo. É necessário dar à esperança todas as suas dimensões, porque sei também de um cristão, e dos bons, que lançou, na Semana de Intelectuais Católicos, da França, uma frase verdadeiramente aterradora: - "Nós raptamos o Senhor, e o resto do mundo não sabe onde O pusemos... Talvez a grandeza do século a que pertencemos esteja em tornar Cristo acessível, se assim me posso exprimir, ao resto do mundo." (François Mauriac).
      Para quantos milhões de seres humanos o Cristianismo não passa de uma religião exclusivamente ocupada com a salvação da alma, quando não é identificada com uma evasão mórbida, diante do mundo, por uma obsessão da carne, um medo de tudo que é humano?
      Nós vivemos numa época espiritualmente incomparável e grandiosa, porque rica em possibilidades e em perigos. Mas se ninguém for capaz de se colocar à altura das suas exigências, ela poderá converter-se na era mais miserável da História, marcando o retrocesso da humanidade.
      Entretanto, a criação inteira espera; NOS espera!
      E estaremos nós prontos para apostar tudo pela salvação dos homens e das mulheres do mundo inteiro?

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