segunda-feira, 7 de janeiro de 2013

SAUDADES DA RAQUEL - MEDITAÇÃO SOBRE A MORTE




       Entramos, neste janeiro, no terceiro ano desde que minha filha Raquel se despediu deste mundo e partiu para a Casa do Pai de todos os pais.
      Rememorando este fato, tenho a firme convicção de que no cerne da Fé cristã está a convicção de que, quando a morte é aceita em espírito de Fé, como foi o caso de minha filha, quando a vida inteira está orientada pelo dom de si  de maneira que no fim da vida ela é entregue de volta, pronta e livremente nas mãos de Deus Criador e Redentor, a morte se transforma em plenitude.
      A vitória sobre a morté é obra do amor. Não é fruto de nossa própria virtude heróica, e sim da participação no amor com que o Senhor Jesus aceitou a morte que Lhe foi imposta, na cruz. Isto não se torna patente à nossa razão imperfeita e falível. É precisamente do domínio da Fé.
      Mas o cristão é alguém que crê que, quando uniu sua vida e sua morte ao dom que Cristo fez de Si mesmo na cruz, encontrou não apenas uma resposta dogmática a um problema humano e uma série de gestos rituais que confortam e aliviam a angústia. Acima disso, foi-Lhe concedida a graça do Espírito Santo.
       Consciente dessta verdade, o cristão não vive mais sua existência de condenado e decaído, mas vive a vida eterna e imortal que lhe é dada, no Espírito, por Cristo. Vive em Cristo.
      O que vem depois da morte não se torna, ainda, claro, em termos de lugar de repouso (um cemitério celeste?) ou um paraíso de recompensas.
      O cristão não se preocupa, em realidade, com uma vida dividida entre este mundo e o outro. Preocupa-se com uma vida. A vida nova do homem (Adão = todos os homens) em Cristo e no Espírito, tanto agora como depois da morte. Não pede uma planta de sua mansão celestial. Procura a Face de Deus e a visão dAquele que é a vida eterna (Jo 17,3).
      Encontrei no livro do monge cisterciense norte-americano, Thomas Merton, um poema de Rumi, poeta persa do século XIII, que fala sobre a morte, mostrando que nossa atitude em face da morte é, na realidade, um reflexo de nossa atitude para conosco e para com a vida. Quem ama realmente a vida e a vive em plenitude pode aceitar amorte sem tristeza.
      Diz ele que a pessoa que considera a morte como um lobo voraz desvia-se do caminho da salvação. Para cada um, a morte é da mesma qualidade que essa própria pessoa, nem mais nem menos.
      Será uma consolação?!

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