domingo, 15 de novembro de 2015

O SEGREDO DA ETERNA JUVENTUDE



            Estou para completar oitenta anos de idade, numa existência iniciada na então pequenina cidade de Caldas, em Minas Gerais, passando depois por Poços de Caldas, São João da Boa Vista, Ribeirão Preto, Brodosqui, Aparecida, Campinas, São Paulo, Barbosa Ferraz, e agora em Curitiba, onde espero sejam sepultados os meus cansados ossos, após findar minha peregrinação por este mundo de Deus.
           Sinto-me velho por quase um século de vida? De maneira nenhuma. Creio que o segredo de ser sempre jovem  -  mesmo quando os anos passam deixando marcas visíveis no corpo  - o segredo da perene juventude de alma é ter tido uma causa a que dedicar a vida.
             Tenho plena convicção de que cumpri a missão a mim dada por Deus. Casei-me com a mulher de meus sonhos, tive quatro filhos maravilhosos (infelizmente dois deles, a Raquel e o Júlio, já partiram para a Caso do Pai de Todos os Pais),  uma infinidade de netos, sendo que uma deles, a Isabela, órfã, de minha falecida filha Raquel, mora conosco.  Em sua radiosa adolescência, a Isabela é o consolo e a alegria de seus já avelhentados avós, a "dona Cida" e eu...
           Com vinte anos, sem sombra de rugas no rosto ou de cabelos brancos, é sempre possível, para muitos, ser um vencido na vida, um amargo pessimista, um velho...
           Quem pergunta a si mesmo, sem encontrar resposta válida, o que é afinal a vida e que motivos podem ser invocados para enfrentá-la com decisão, está com a juventude correndo sério risco...
         Quando se fala em causa a que dedicar a vida, é óbvio que é preciso distinguir entre causa e causa.
           Abraçar uma grande causa, ser-lhe fiel, sacrificar-se por ela, é tão importante como  acertar na escolha da vocação.
        Nestes meus oitenta anos de vida fui testemunha e ator de grandes causas no decorrer dos tempos que, de uma ou de outra maneira, tiveram profunda influência em meu modo de ser e de pensar
           Em Poços de Caldas, fui engraxate nas ruas da cidade, mais tarde charreteiro, alugava um belo cavalo  aos turistas do Pálace Hotel.
           Em São João da Boa Vista meu pai arrumou duas carrocinhas, adaptou-as com uma vitrine para a venda de pés-de-moleques, amendoim torrado, paçoquinhas e outros comestíveis, e ao cair da tarde meu irmão e eu as estacionávamos na maior praça da cidade, e ali ficávamos até alta noite, atendendo eventuais fregueses.
       

           - quando, em países como o Brasil, houve durante séculos a vergonha da escravidão africana e, em dado momento, rebentou o Movimento Abolicionista, é fácil entender a vibração dos jovens que corriam, alegremente,  sérios riscos, ajudando escravos a escapar para a liberdade e promovendo um grande e belo movimento de opinião pública para derrubar a estrutura da escravidão.
           Poetas, jornalistas, escritores, tribunos, sacerdotes  -  homens e mulheres, profissões diferentes - confraternizavam-se na luta sagrada de querer livres todos os filhos de Deus!
          - quando, em países como os da América Latina (no século XX), surgiu o movimento anticolonialista, no sentido de obter a independência política para todos os povos, o Mundo percebeu que seria inglório e inútil pretender manter a estrutura colonialista.
          E com isso cada país liberto conheceu os seus heróis, seus poetas, romancistas, polemistas, seus mártires, seus santos.
          Sem prejuízo de outras numerosas causas dignas de dedicação total e de sacrifícios, muitas vezes da própria vida, todos nós podemos com razão dizer que existe a causa do século: completar a libertação dos escravos sem nome e que são, hoje, dois terços da Humanidade vivendo na miséria; completar a independência política dos países da América Latina, da Ásia, da África e do Oriente Médio, que vão conquistando, a trancos e barrancos, a própria soberania, encorajando-os a obter a independência econômica, sem a qual de pouco adiantaria o próprio ingresso nos países do primeiro mundo e  na Organização das Nações Unidas..
          No meu modesto entender, o que há de apaixonante é que, desta vez, ao contrário de outros tempos idos e vividos, o esforço tem sido de todos, por todos e para todos.
          Neste sentido, faço minha a prece de Francisco de Assis, e que seja ideal de minha vida concretizá-la em todos os meus atos:

                                          Senhor, fazei de mim um instrumento de Vossa paz!
                                          Para onde houver ódio, que eu leve o amor
                                          Para onde houver ofensa, que eu leve o perdão
                                          Para onde houver discórdia, que eu leve a união
                                          Para onde houver erro, que eu leve a verdade
                                          Para onde houver dúvida, que eu leve a fé
                                          Para onde houver desespero, que eu leve a esperança
                                          Para onde houver trevas, que eu leve a luz
                                          Para onde houver tristeza, que eu leve a alegria
                                          Ó Mestre
                                          Possa eu preferir
                                          Consolar do que ser consolado
                                          Compreender do que ser compreendido
                                          Amar do que ser amado
                                          Pois eu bem sei
                                          Que é dando que se recebe
                                          É no auto-esquecimento que se pode encontrar
                                          É perdoando que se é perdoado
                                          É morrendo que se ressuscita para a Vida Eterna


            Entrando no meu octogésimo ano de existência, e se nos dias de vida que me restam, a misericórdia divina me conceder a graça de realizar mesmo que seja em parte o que o poema de São Francisco de Assis propõe, creio que me considerarei plenamente recompensado e imensamente feliz!


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