O Apóstolo Paulo chamava o homem ressuscitado de corpo espiritual. Com isso, entendia o homem todo inteiro - alma/corpo - mas totalmente realizado e repleto de Deus.
E eu, como chamaria ao homem ressuscitado?
Utilizando-me de uma categoria própria da antropologia baseada no "princípio esperança", talvez pudesse dizer: "homo revelatus".
É preciso fazer, daqui em diante, um pouco de Teologia, para o que peço ao eventual leitor certa dose de paciência: com a ressurreição, se revelou realizado o verdadeiro homem que estava crescendo dentro da situação terrestre, aquele homem que Deus realmente quis quando o colocou dentro do processo evolutivo. O homem verdadeiro, em sua radical "patência"(do Latim "pathein" = suportar, sofrer, ser passivo), é só o homem escatológico. Pela ressurreição o "poder ser" do homem se realiza exaustivamente: ele sai totalmente de sua latência, pois nele se revela o desígnio de Deus sobre a natureza humana, o desígnio de fazê-la participar de Sua divindade em toda a realidade dela, "corpo-espírito-aberta-para-a-totalidade".
O "homo revelatus" participa da ubiquidade cósmica de Deus e de Cristo, pois possui uma presença total no mundo por Ele criado; assim nasce o homem que chamo de "homo cosmicus".
Agora, em nossa presente condição espácio-temporal, existe o "homo revelatus", mas ainda na sua latência, porque preso às realidades deste mundo, vivendo na condição de simultaneamente justo e pecador. Somente a morte o libertará e lhe possibilitará uma penetração mais profunda no coração do mundo.
Acredito, com meu mestre em Teologia, Leonardo Boff, que a ressurreição acontece no próprio momento da morte e, pela ressurreição NA morte, homem e mulher participam do Cristo ressuscitado e cósmico.
Na consumação do mundo-universo, eles mesmos, homem e mulher, se potencializarão ainda mais, porque o cosmos lhes pertencerá essencialmente.
No termo da vida terrestre, homem e mulher deixarão atrás de si um cadáver. É como um casulo que possibilitou o emergir radiante da crisálida e da borboleta, agora não mais presa pelos limites do casulo, mas aberta ao horizonte vasto de toda a realidade.
Neste ponto, poderá surgir a pergunta fundamental de toda a antropologia: que será do homem e da mulher? Que é que eles poderão esperar no evento da eternidade?
Minha Fé lhes responderá, jubilosa: vida eterna do homem e da mulher- corpo- espírito em comunhão íntima com Deus, com os outros e com todo o cosmos.
Lembro aqui o ensinamento do Concílio Vaticano II:
- "Certamente passa a figura deste mundo, deformada pelo pecado, mas aprendemos que Deus nos prepara nova morada e nova terra. Nela habitará a Justiça, e sua felicidade irá satisfazer e superar todos os desejos da paz que brotam nos corações de homem e de mulher. Então, vencida a morte, os filhos de Deus ressuscitarão em Cristo..."
Seria muito bom para nós tomarmos consciência das consoladoras palavras do prefácio da Santa Missa consagrada aos mortos, e que resumem toda a Teologia que fundamentou este texto:
- "Em Cristo brilhou para nós a esperança da feliz ressurreição. E aos que a certeza da morte os deixa tristes, a promessa da imortalidade consola. Ó Pai, para os que creem em Vós, a vida não é tirada, mas transformada, e desfeito o nosso corpo mortal, nos é dado, no Céu, um corpo imperecível."
Assim seja. Amém.
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