Permita-me o benévolo e eventual leitor iniciar o blog de hoje com os versos de pé quebrado, abaixo:
Quando Você passar pela minha rua
abrigado contra o frio
protegido contra a fina garoa curitibana
e descobrir na sua intuição
e na Pessoa de um pobre
Jesus Cristo todo molhado
de roupa colada ao corpo
de ossos gelados
de alma tiritando de frio
mesmo que não possas parar
mesmo que não haja lugar em seu carro
ou não lhe seja possível
levar para casa
o teu Senhor na pessoa do pobre
vai rezando
para que um dia
sem grande demora
haja lugar para Ele
em todos os carros
em todas as casas
em todos os corações
em todas as almas
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Deus me livre de querer afligir, inutilmente, a Vocês, irmãos e irmãs, que encontrarem pobres caídos nas calçadas, não raro em dias de chuva, sem agasalho, e que, no entanto, mesmo contra sua vontade, Você não tem nenhuma possibilidade de parar...
Sei por experiência própria o quanto é tão raro, é tão difícil a gente estar completamente livre para fazer tudo o que o coração me pede!... Talvez a culpa não seja totalmente minha.. Não vivo sozinho. Dependo de muitas situações, de muita gente! E mesmo que eu não dependesse de ninguém, que gesto nobre foi o de pensar que poderia levar comigo o Irmão caído na rua, em plena chuva! Talvez por que eu, instintivamente, pensasse então na narrativa bonita do bom Samaritano, nos Evangelhos...
Mesmo não sendo eu um "louco sagrado" como São Vicente de Paula ou São Francisco de Assis, logo uma trovoada de raciocínios rebentou em minha cabeça:
- "se eu levasse aquele pobre para minha casa hoje, pode ser que amanhã chegariam dez, e o número só tenderia a crescer, diante da triste situação social e econômica em que vivemos hoje..."
Horrível mesmo seria eu fazer de conta que nada vi. Aprendi que é antievangélico e falta de Caridade para com o próximo não parar um instante para examinar o que fazer, com a ajuda necessária, indispensável, de vizinhos ou de algum membro da paróquia a que pertenço...
O que sozinho, eu não conseguiria fazer, quem sabe, com outros, seria também impossível?!
Um abrigo, um cobertor, uma sopa quente, seriam preciosos neste caso. Mais importante ainda seria que não nos contentássemos com a ajuda necessária, indispensável, mas passageira e incapaz de solução mais profunda. O ideal, dentro de nossas possibilidades, seria completar a ajuda mais urgente com um emprego que permitisse a nosso irmão caminhar com os próprios pés.
Se eu deixasse de lado meu comodismo e meu egoísmo, poderia até ir mais longe, perguntando como ajudar a construir um bairro, uma cidade mais humana. Concretamente, se sou um cidadão que paga em dia seus impostos e demais obrigações para com Prefeitura e Estado, por que não exigir que todo e qualquer plano urbanístico resolva primeiro e de verdade o problema de habitação de quem tiver de ser deslocado pela construção de estradas, ou alargamentos de ruas, ou construção de trincheiras ou viadutos?...
Por que não exigir que a modernização das indústrias pense menos no industrial, pense menos na produção e no lucro da empresa, mas criando primeiro soluções realmente humanas para os trabalhadores que poderão sobrar e perder seus empregos?
Afinal de contas, mesmo que não sejamos pessoas religiosas, por acaso não temos o mesmo Pai e, portanto, somos todos Irmãos?...
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