quarta-feira, 9 de maio de 2012

A PARÁBOLA DO MACACO

      Folheando um caderno antigo, de anotações, encontrei nele recortes de jornais onde se dizia que   os americanos conseguiram colocar um macaco no espaço. E eu fiquei matutando, com os meus botões: qual a finalidade de um macaco no espaço? O que o pobre animal iria fazer nas alturas a que o enviaram? Será que  conseguiram trazê-lo de volta são e salvo?
      Diziam ainda os recortes que o macaco voou ( ? )  pelo espaço a uma velocidade fabulosa, apertando botões, puxando alavancas, comendo  pílulas com sabor de banana. E ainda mais: o bicho enviava sinais com regularidade impecável,  tal como fora ensinado pelos treinadores.
      Certamente o macaco não se queixou do espaço, lá em cima. Não se queixou nem da terra nem do céu. Com toda certeza, também, não foi importunado por nenhum problema metafísico, nem se sentiu culpado, para ter sido castigado com essa viagem tão inesperada. Pelo menos os jornais nada noticiaram se ele sentiu ou não sentiu alguma culpa.
      E eu ainda me perguntava a mim mesmo: por que haveria um macaco no espaço de sentir-se culpado por alguma coisa? O espaço, me disseram na escola, é o lugar onde não há nem peso nem culpabilidade. E, aliás, um macaco nunca se sente culpado mesmo quando está na Terra. E eu me questiono, com ou sem razão: quem dera que nós, humanos, não tivéssemos também nenhum sentimento de culpabilidade!
      Talvez, se pudéssemos todos, homens e mulheres, subir ao espaço, não nos sentiremos mais culpados de nada. Só faríamos como o macaco: puxaríamos alavancas, apertaríamos uma fileira de botões, comeríamos pílulas com sabor de banana. Ora bolas... me perdoe o eventual leitor: ainda não somos exatamente macacos!
      Aliás, não nos sentiremos culpados no espaço. Se um dia chegarmos à Lua, lá também não nos sentiremos culpados. Talvez nos sintamos um pouco culpados em Marte, lembrando-nos que entre os antigos ele era o senhor da guerra, coisa que nós humanos gostamos de fazer de vez em quando.
      Da Lua ou de Marte, seríamos capazes, talvez, de explodir o mundo, e por isso nos sentiríamos um tanto culpados. Se fizermos a explosão quando estivermos em Marte, estaríamos em terreno conhecido, e por isso não teremos nenhuim sentimento de culpa. Nenhuma culpa. Faríamos explodir o mundo sem culpa nenhuma. Tra-lá-lá-lá. Apertar botões, puxar alavancas! Logo que tivermos em Marte uma fábrica para macacos cor de banana, não haverá mais para nós nenhuma culpa.
      Pois é, tudo isto aconteceu no dia em que fiz quarenta e seis anos. Vamos ser pessoas perfeitamente sérias. A Civilização Moderna se dignou agraciar meu quadragésimo sexto ano com este feito maravilhoso - colocar um macaco no espaço - e eu ficaria magoado com isso? Deixe-me aprender alguma coisa a mais com esse macaco. Ele apertou botões. Puxou alavancas. Foi atirado demasiadamente longe.
      Não faz mal. Ele sentiu-se animalescamente feliz. Pois foi pescado são e salvo no Oceano Atlântico. E em agradecimento apertou as mãos do pessoal da Marinha Americana que o salvou!...
       

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