Na vida de qualquer homem e mulher nesta terra, cada instante que vivemos, cada acontecimento de que participamos, toda vivência de cada dia semeia sempre alguma coisa nova em nossa vida. Assim como o vento leva pelos ares incontáveis sementes aladas, visíveis aos nossos olhos, como invisíveis, também o decorrer do tempo traz consigo, tenhamos ou não conhecimento disso, incontáveis níveis de experiências que vêm pousar indelevelmente em nosso espírito e em nossa vontade.
Muitíssimas dessas sementes, por incúria e inadvertência nossa, definham e morrem, porque talvez não estivéssemos bastante preparados para recebê-las. Na verdade, tais sementes só podem germinar no fértil e fecundo solo da liberdade e do desejo.
Se nosso espírito estiver prisioneiro do seu próprio e transitório poder, e se nossa vontade estiver também voltada para a posse de realidades passageiras e volúveis, este solo pedregoso e seco não poderá acolher as sementes de vida que a providência de Deus nos envia.
Como podemos nós acolher essas sementes de vida se estamos apaixonados pela escravidão do pecado, do egoísmo e do alheamento diante de nossos irmãos que sofrem e pedem o socorro de nossas mãos?
Deus não consegue semear em nós a Sua santidade, uma vez que estamos prisioneiros de nossos vãos desejos e não queremos deles ser libertados.
Se procurássemos realmente a Deus, principalmente no acolhimento de todos quantos nos rodeiam, certamente Ele depositaria em nossa alma as sementes de vida que um dia haveriam de germinar em prodigiosa e abundante colheita.
Não tenhamos dúvida sobre esta verdade porque, segundo o que aprendemos das Sagradas Escrituras, é o amor de Deus que nos aquece ao sol, é o amor de Deus que nos envia a chuva refrigerante e fecundadora.
Será que temos consciência viva de que é o amor de Deus que nos alimenta com o pão que comemos e com a água benfazeja que nos mata a sede?
É o amor de Deus que nos manda os dias de inverno, em que tiritamos de frio; mas é também o amor de Deus que no causticante verão nos refrigera com o vento leve que vem das montanhas e com as brisas saudáveis que encontramos nas avenidas e nos parques.
É o amor de Deus que nos fala no canto dos pássaros e na barulheira inocente das crianças ali na escola defronte de nosso lar.
Se tais sementes de vida se enraizassem em nossa liberdade, e se a Sua vontade dominasse nossa fugaz independência, nós seríamos dignos de Seu amor, e a nossa colheita viria a ser a Sua glória e a nossa perene alegria.
Se em todas as coisas apenas reclamássemos do calor e do frio, da saciedade ou da fome, da doença ou do cansaço, do êxito ou dos prejuízos, do bem ou do mal que porventura nos rodeiem, encontraremos apenas o vácuo, e não a felicidade. Porque, na verdade, o nosso alimento, o sal de nossa vida, é somente a vontade de Deus que nos criou por amor, e criou também todas as coisas, a fim de Se dar a todos nós por intermédio delas.
Se assim o reconhecêssemos, a nossa principal preocupação não deveria ser procurar vitórias, êxito nos negócios, saúde, vida, dinheiro, - ou lamentar os seus contrários, como o sofrimento, a dor, o insucesso, a doença, a morte inevitável.
Mas em todas as caminhadas da vida, o nosso único desejo deveria provir da certeza de que tudo que nos acontece é a vontade de Deus que o quis para nós. E recebendo com júbilo a Sua vontade e vivendo-a no dia a dia com gratidão, acolhemos as Suas sementes de vida em nosso coração e em nossa alma, não porque tais sementes são o que são, mas porque só Deus é verdadeiramente quem é, e o Seu amor, através delas, dará frutos cem por um, na seara de nossa existência.
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