quinta-feira, 31 de maio de 2012

UMA BELA INTUIÇÃO PROTESTANTE


      - "Todos os que têm de lutar contra a incredulidade deveriam ser aconselhados a não levar a sério sua própria incredulidade. Somente a Fé deve ser levada a sério. E se nossa Fé é do tamanho de um grão de mostarda, isso basta, pois o Diabo perdeu o jogo."

      Esta frase do teólogo protestante  Karl Bath (1886-1968), que encontrei num de seus sermões é, no meu modesto entender, uma das grandes intuições do protestantismo, apesar de que, do meu ponto de vista criticamente católico, possa encontrar nela uma provável falha. Em que sentido?  Dizer que "somente a Fé deve ser levada a sério"  pode ser compreendido à luz daquela humildade cristã - e católica - que põe toda a sua confiança em Deus. Entretanto, como católico que sou, estou consciente  de que nossas boas obras, contrariando o pensamento de Barth, também  são necessárias, apesar de não deverem ser levadas muito a sério.
      Na verdade, a doutrina católica da justificação, que professo, nunca disse a ninguém que suas boas obras devessem ser levadas a sério, no sentido de confiar inteiramente em sua própria justiça porque, pela leitura dos Evangelhos, intuímos que confiar inteiramente em suas próprias obras faz do cristão um fariseu.
      Voltamos então à epígrafe que abre este texto: Só a Fé deve ser levada a sério porque somente a misericórdia de Deus é algo de realmente sério. E, se colocamos demasiada ênfase na seriedade daquilo que fazemos, não apenas tornamos o juízo de Deus a mais séria realidade em nossa vida, mas estamos, de fato, já previamente julgados.
     Seremos homens e mulheres já julgados, porque assumimos com seriedade  algo que não é a infinita misericórdia de Deus. Quem leva a sério a misericórdia divina com toda certeza quase nunca pecará seriamente. Quem, entretanto, leva muito a sério suas próprias obras, não será preservado, por esta sua própria seriedade, do pecado. Sua seriedade seria uma pseudo-seriedade. E isto não basta.
      Que dizer então da incredulidade, nos termos de Karl Barth?
      Se a Fé deve ser levada a sério, segue-se que a incredulidade é também algo de sério? Não é bem assim, explicaria Barth, porque levar a sério a Fé, é a Deus que levamos a sério, não nós, não a nossa Fé. Não levamos a Fé a sério como algo que possuímos definitivamente, mas levamos a sério Deus, que nos dá o dom da Fé e renova continuamente esse dom, por sua infinita misericórdia, apesar da nossa tão frequente incredulidade.
       Esta é a bela intuição do cristianismo protestante que assinalei no título destas reflexões. E é algo que todos nós, indistintamente, devemos aprender e apreender, lembrando ainda que muitos protestantes se esqueceram deste cuidado. Tornaram-se obcecados com a Fé tal qual existe neles. Vigiam constantemente para ver se esta Fé ainda está ali. 
      Isto significa transformar a Fé numa boa obra, o que significa também, consequentemente, ser justificado pelas obras. E isto contraria, praticamente, o que pregam em seus púlpitos.
      Como diria ainda Barth: - "Crer é ser livre para confiar nEle somente, e só nEle", e é ser livre em relação a toda outra forma de dependência e apoio.
      Esta é, tenho convicção, a verdadeira liberdade, e dela brota a capacidade para toda boa obra, pois remove de nossos corações todos os obstáculos ao Amor.  

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