Noite passada tive um sonho muito estranho, que até agora não fui capaz de entender. A verdade é que ultimamente me acho cercado por uma aura de melancolia, de uma espécie de tristeza dolorida, e talvez esteja aí a causa do sonho.
Sonhei que fui convidado para uma festa. Nela, toda gente está vestida com roupas novas, muito bonitas. Andam nas margens de um grande lago, ao lado de um pequeno vilarejo composto por velhas casas de madeira. Os vestidos claros, alegres, das meninas, moças e mulheres mais velhas fazem contraste com a madeira escura das casas. Sou convidado para ir com eles à festa. Mas, de repente, somem todos, e a festa será muito mais longe dali. Tenho de ir até lá de canoa, coisa que me dá um certo arrepio. Estou sozinho. A canoa está amarrada a uma estaca, na margem do lago.
Um homem do vilarejo diz que por dez reais poderei atravessar o lago de barco. Tenho nos bolsos muito mais do que dez reais, quase uma centena deles. O homem leva-me até a canoa, que não é uma canoa, mas um barco de pesca, coisa que prefiro. No entanto o barco não se move da praia. É muito pesado. Tentamos empurrá-lo; mas ele permanece imóvel. Tentamos, de diversos modos, fazê-lo mover-se, e parece ter-se movido um pouco. Mas eis que de repente sinto dever atirar-me à água e nadar.
Agora estou nadando para frente na linda água mágica do lago. Das claras profundezas da água sobe uma vida maravilhosa à qual tenho direito; uma vida e um poder que, ao mesmo tempo, amo e temo. Sei que, mergulhando nestas águas, encontrarei maravilhas e alegrias, mas sei também que não devo mergulhar. O que devo fazer é nadar para o outro lado, e de fato estou nadando para o outro lado. O outro lado do lago ali está, bem perto. Está no fim esta minha natação.
A casa está perto das margens do lago. Ampla casa de verão, da qual me aproximo com a força que me vem da água. Sinto que a água é grande e vasta debaixo de meu corpo, à medida que me aproximo da margem. E cheguei. Estou fora da água. Sei agora tudo o que devo fazer na casa de verão. Sei que devo primeiro brincar com este cão que vem correndo, saindo de uma das salas.
Sei que a Criança virá, e ela vem. A Criança vem e sorri para mim. Tem o semblante e o sorriso de minha filha Raquel, falecida há um ano e meio. Ela sorri de novo e me dá, com simplicidade, duas fatias de pão com manteiga, a refeição ritual e hierárquica de todos os que vêm à casa para ficar.
Então o sonho se foi e, por mais que me esforçasse, não consegui entender o seu significado.
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